sábado, 28 de fevereiro de 2015

SINAL


Há por um lado
o universo,
recurvo, controverso,
e por outro
meu verso,
incapaz de penetrar
a névoa
e contemplar o sol
a olho nu,
verso cativo,
insignificante,
porém rebelde ao esquecimento.
Há também
uma lástima,
a lembrança de uma tarde,
um látego, uma bátega,
uma lágrima,
um abáculo
-- oráculo, báculo, cálculo? --
e no entanto
um canto
em qualquer canto,
um rumor de onda
significativo
guardado no interior
de
alguma
concha.

Otto Leopoldo Winck

Três poeminhas quase concretos



Explosão espermas
Coração e pernas
Tenras e ternas
Eternas
............
Meninos ricos
Meninos pobres
Uns coca
Uns cola
...........
nós
voz
Elis


Dori Carvalho

epitáfio concreto


amor
amar-te
ó morte

[olw]

SONETO DO INÚTIL AMOR


É a hora de cessar o gesto lídimo
da pena, do formão, da mão no arado,
pois toda lida ou arte encerra em si,
na própria essência de seu ser errático,
o seu destino de poeira e cinza.
É a hora de calar todas as árias,
silenciar o percutir dos tímpanos
e de parar a roca, a roda, a fábrica,
da boca extinta a voz da última fala.
Palavras não serão mais necessárias
em face do mistério a que se assiste,
cujo nome (talvez) amor será.
Pois quando os tempos estiverem findos
apenas ele – inútil – restará.

Otto Leopoldo Winck

MARINHEIRO NÁUFRAGO


Marinheiro náufrago,
teu corpo está todo
coberto de ostras,
mariscos, corais.
Teu hálito é sal,
na dor mais aguda
da noite oceânica
por ti refinado
à sós, em segredo.
Escuro é teu dorso,
teu ventre também,
como o mar obscuro
em noite sem lua,
sem sombra de estrela.
Teus braços, imóveis
ao longo do corpo,
não pedem socorro
nem podem pedir.
Tua boca estacou
– tentaste um grito? –
abalroada de algas,
calada de frio.
Teus pés são tentáculos
que tentam em vão
agarrar-se à areia
–inútil tarefa
de rarefeita âncora.
Só teus olhos brilham,
marinheiro náufrago,
brilham, brilham, brilham,
abertos na terra
mais densa da noite
como duas lâmpadas,
duas grandes pérolas
sobre um velo negro.
Por isso eu desejo:
dorme, marinheiro.

Otto Leopoldo Winck

(terceira poesia )


Sem titulo sem tradução
Vadia alma,
Esta minha.
Dança sorri rodopia.
Alma minha !
E assim...
Sem fazer nada, cria.
Sente graça da desgraça
que vê passar.
E mesmo assim...
Vive feliz dia após dia!


Arlete KLENS

SONETO DO INÚTIL LUAR


A tarde entoa o seu último canto
à espera do dobre do último sino.
Sino? Não os ouço desde menino.
E quanto tempo faz que não me espanto!
A cidade em brasa dá adeus ao sol.
Sirene, apito, zumbido, buzina...
Os arcanjos conspiram em surdina
enquanto estendem sombrio lençol.
A noite, porém, chegou de repente
sobre a criança que ainda nem almoçou
e o mendigo estatelado na rua.
Da fome do outro ninguém se ressente.
Do porre alheio culpado não sou.
Como é inútil o clarão da lua!


Otto Leopoldo Winck

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Os Significados


Não sei como tudo começou: suponho
que havia uma figura que depois
se estilhaçou para formar um puzzle.
Mas se juntarem todas as peças
talvez não haja nenhuma figura, e então
de que origem intacta partiu tudo
o que depois se quebrou? É impossível
fazer estilhaços de estilhaços sem uma
coerência primeira, agora ausente.
Quando todas as peças se juntam
estaremos reduzidos ainda a uma peça
de uma figura maior, ou essa figura
é uma utopia pragmática, instrumental,
que permite algum sentido ?
Ó significados, para vós, na infância,
tinha um caderno.


Pedro Mexia, in "Duplo Império"

Abrir um livro e arcar com as consequências



Eu não tinha mais que doze anos quando peguei gosto pelas palavras. Foi assim uma paixão infantil, que passou a juvenil, até chegar à fase balzaquiana. Quando a palavra adquiriu aquele status de elegância só apreensível aos deserdados de pudor. Hoje me vejo com ela nesta nova pueril idade, em que as coisas começam a ser revisitadas para adquirir mais sabor. Faço dela minha guia, faço dela meu laço. Cada palavra agora faz parte de um encalço, deste labirinto torto que quanto mais adentro, quase nunca me caibo.


[assis freitas]

in revista “entreVerbo” #11

nu

nu
na pele crua
a verdadeira face
face à carne
faz-se nua
farto
o homem
em descaminhos
revira o lixo da história
procura pétalas
__ asas escassas
na sorte da rua
colhendo migalhas
da própria amargura
sem lume
e nenhum perfume
volta ao beco
______ ainda oco
de tanto eco

cláudia gonçalves

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Guaxindiba


essa palavra índia
fosse mulher fosse menina
curuminha amaralina
pétala de luz em meu olhar
yemanjá espuma areia
em tua pele de sereia
água de sal água do mar
Artur Gomes

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Marina Tadeu



Mais um dia ganho. Dei hoje com a palavra palonço.
Queridos vóis únicos juntos com piada
xerôdios, desmiolados,
palonços, burgessos, saloios
e deseducados grossos extraviados
do clube subtil & alturas ao tom ingénuo
pretensioso pedinte pedante piroso
de linhagem a pedir endireita
e um grama de coragem que se gramem
queridos úncios com piada em Portugal
que tratam o escuro por tu & Deus minúsculo
trovejando baixezas senhorias
até por causa da reverbe
fedendo vossas bocas desnaturadas
a peixes por torpedeiro fendidos
queridos mastronços a meio mastro
de neurose a render pouco quero saber
que velhinha cria osso em vossas carnes inchadas
de gratuita petulância em delírio normal
como a loicura
mas muito concentradinhos no vinagre
quando se trata de farfalhar
contra quem cala e vive
essa coisa do círculo
fino até que grosso enfarta
anda muito à volta
reboleira ao chispe
mas não atonta
aliás já nem se nota

apareceu a conta

Cor-respondência


Remeta-me os dedos
em vez de cartas de amor
que nunca escreves
que nunca recebo.
Passeiam em mim estas tardes
que parecem repetir
o amor bem feito
que voce tinha mania de fazer comigo.
Não sei amigo
se era o seu jeito
ou de propósito
mas era bom, sempre bom
e assanhava as tardes.
Refaça o verso
que mantinha sempre tesa
a minha rima
firme
confirme
o ardor dessas jorradas
de versos que nos bolinaram os dois
a dois.
Pense em mim
e me visite no correio
de pombos onde a gente se confunde
Repito:
Se meta na minha vida
outra vez meta
Remeta.

[Elisa Lucinda]

Fonte Jornal de Poesia

Elisa Lucinda dos Campos Gomes (Cariacica, 2 de fevereiro de 1958) é uma poetisa, jornalista, cantora e atriz brasileira. A artista foi um dos galardoados com o Troféu Raça Negra 2010 em sua oitava edição, na categoria Teatro.2 Também foi premiada no cinema pelo filme A última Estação, de Marcio Curi, no qual protagoniza o personagem Cissa. A estreia do filme foi no Festival de Brasília de 2012.
Além de conhecida pelos seus inúmeros espetáculos e recitais em empresas, teatros e escolas de todo o Brasil, Lucinda é admirada pela marca inconfundível de seu trabalho como atriz de telenovelas na Rede Globo, como Mulheres Apaixonadas, Páginas da Vida, Insensato Coração e Aquele Beijo, essa última no começo de 2012.

Fonte Wikipédia

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Luiz Felipe Leprevost


uma espécie de nudez no hálito. o sangue latejando qual lama. fazia com a língua a barba da minha boceta. gostava de gozar nele. depois ele deitava a cabeça na minha boceta. colava o ouvido na minha boceta. fechava os olhos. o pulso relaxado depois de saciados. me tocava e eu era tocada por um oceano desabado. era tocada feito um violão pelas mãos de um negro muito velho e experiente. entre a mesa e o sofá, garrafas de veneno vazias de respirar nossas bocas. despia meu vestido, minha pele, meu cheiro. tirava brincos, a tornozeleira. colocava com calma e precisão meus tornozelos deitados. se escorava onda de praia braba em minhas costas. beijava as omoplatas abertas ao voo. eu não voava, ele segurava com força as rédeas dos cabelos. ele era uma quilha num ritual de navegação, penetrava, rasgava dentro. o desejo é um tubarão com trinta mil mandíbulas de vidro estilhaçado. ele cavou a terra que envolvia meus olhos, arrancou as raízes. me vendou com a tarja espinhosa da treva. comeu meus olhos. um cafuné e fui devastada. aprendi que não adianta arremessar pássaros no abismo. agora é areia o rosto dele, as sardas perdidas no vento, a ferocidade do contorno da sua boca. um sorriso desamparado, águas duras arrebentando no coral dos dentes. a noite chove lâminas. sombras se infiltram. jorram urubus de um fogo engordurado de serração. o fogo oculta o que devora. sei de uma paralisia estilhaçada a morrer dentro de tramas e trapaças. o chão, o pó dos móveis, têm pena de mim. o fuzilamento das vísceras desesperam na inércia. tudo é o inverno do soluço. é mais que passada a hora de recolher brincos, tornozeleira, roupas, pele, odor, camisinha estourada, o saco de lixo do banheiro. jogar tudo na rua pro lixeiro levar pra junto dos urubus de outros amores estragados, essas coisas que não são recicláveis mas tem gente que come
Luiz Felipe Leprevost



sou antigo na dor mas nunca poderei me cansar. dessa vez nenhum pavor por dentro, nem aquilo dela ficar dando voltas em torno dos sins. não me dê a mão, não temos braços tão longos. na rua as poças engolem homens parecidos com o que eu fui até dez dias antes de trocar de pele. calados, como que por meios telepáticos, conversamos. ela se move como o veleiro que deixasse o porto na direção de uma viagem longa de retorno, trazendo a si e trazendo alguém em si até chegarem com a rotação da Terra nesta sala. as paredes não estão sangrando dessa vez. o vinho que ela toma, e assisto seus olhos molharem de tesão. sorrio um sorriso que não sentia no rosto há mais de seis anos: ele é um testemunho. enquanto estivermos vivos, penso, enquanto estivermos vivos estaremos, de algum modo, em contato. sei que nem tudo é um acerto. o quarto, ainda desconhecido, está paciente mas geme. nem minha Garota, nem minha Senhora ela é. invento que ela diz: a chuva existe pra nos mostrar a solidão do mundo. depois sua boca me dá de beber e diz: este beijo é pra mostrar que ainda estou aqui

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Lina Faria no carnaval curitibano


un monólogo entrecortado de pura rutina. desde luego no és fácil renunciar a reflexos y caligramas condicionados,corpulentos y castaños... ni reconocer palabras de la arcilla blanca... pero en el trópico azul-tinta-brillante la noche cae bruscamente. y las rachas de viento, en el pozo de la granja-amarula, nunca hablan de las cosas clausuradas, ni las últimas babas, de la noche y ni acerca de un hijo bastardo en vestigios zoológicos , son zoogramas inhóspitas y ....en el rastro, el collar de perro blanco, huesos, en zanja de la desgracia.

Adriana Zapparoli

Theresienstadt

Por mais de 15 anos, o autor, curador e historiador de arte Jürgen Kaumkötter se dedicou à arte dos perseguidos entre 1933 e 1945. Para isso, não considerou apenas quadros que surgiram nessa época, mas também aqueles que tematizaram os acontecimentos em retrospecto. Leo Haas executou esta gravura sobre Theresienstadt em 1947. Mas há também obras feitas no campo de concentração

Fonte : Deutsche Welle
Todas as coisas sozinhas
Um cinzeiro
Um prato
Um copo
Um corpo
São uma tragédia.
Não aquela, dos gregos:
Ésquilo, Eurípedes, Sofócles.
Mas quando um cinzeiro
Não é limpo, quando um
Prato não é lavado,
Quando um copo é abandonado
E um corpo não é celebrado
Indícios da tragédia são mostrados.
E é por isso que os deuses fecham suas bocas
e são silenciosos como um quadro.
Por acaso, você já viu
Ou sentiu em uma casa abandonada
A manifestação do pó?
Já passaste a mão em uma colher
No dia seguinte? Já tiveste a emoção
De lavar os talheres de uma noite
De celebração?
E tudo isso é noite. Tudo isso é névoa.
Tudo isso é neblina.
E se elas ficam ali é para
mostrar isso: a boca fechada dos deuses.
Intocáveis ou intocadas
Todas as coisas testemunham
O esquecimento:
Esse cimento que não constrói
Nenhum berço, nenhuma casa
Nenhuma partilha.
E lembrar é muito mais do que trazer
É muito mais do que atravessar
Ou ser atravessado
Lembrar é construir de novo
O ovo
O nascimento
As perdidas asas
a rua da infância
e um deus que fala com a gente.

Rubens jardim

O vestido


Ela saía sempre no raiar do sol
Suas pestanas queimavam de alegria
Entre flores mortas e absurdas
Deixara pra trás o seu único vestido
Roto amassado em cima da mesa
O vestido escrevera mais histórias desbotadas que a canção de um poeta sem lágrima
No dia em que anunciaram uma tempestade
Sumira
Vestígios foram encontrados no rastro de suas rosas
Aquelas ali, embotadas num pano carmesim
que deixei expostas no meio da sala


Por Wagner Bezerra Pontes

TAMBOR


Perdido num labirinto
de ruas & dias & pernas,
não sei se é por aqui ou por aí a saída
ou a entrada. Sei que nada é tudo
e o tudo é nada, que o tempo
é ouro, mas curto, muito curto,
e a felicidade uma gema deveras rara.
E enquanto a última noite
não vier fechar meus olhos lassos,
(cheios de ironias e cansaços)
quero sentir na pele nua do peito
teu coração pulsar
– como um tambor descompassado –
detrás dos teus seios.

Otto Leopoldo Winck

Professora Protestando na Assembléia


                                                                  
A professora protestando na assembléia
Parece uma suave e resistente azaléia...
No meio do gelo, do frio e da neve
No seu grito protetor de greve!          

A professora protestando na assembléia
Não tem alma fútil e indecisa de camélia!
Pois ela conhece muito bem o sofrimento
De passar fome e ficar sem pagamento!

A professora protestando na assembléia
Tem forças para lutar contra a alcatéia
E não tem medo de enfrentar a cavalaria
Pois sua fé é mistura de esforço com poesia

A professora protestando na assembléia
Possui a luz de Jesus na Galiléia
Pois na sala de aula sempre tem uma nova idéia

Para ensinar seus ávidos estudantes
Que transformam-se em estrelas cintilantes
Por causa de seus ensinamentos brilhantes.

Luciana do Rocio Mallon

Sonhos e Bombas



Todos os seres vivos têm sonhos
Dos mais alegres aos mais tristonhos
Uns lutam tanto, mas não conseguem alcançar
Alguns apenas vão à padaria comprar !

Quando o carro do homem do sonho passa
A rua inteira se enche de graça!
Até o Martin Luter King tinha um sonho
Mas, dos meus, eu me envergonho!

A realidade acabou com meus sonhos e fantasias
Só me restou a síndrome do pânico com agonias

Agora vivo somente o resto do meu martírio
Afinal, o real segredo da tristeza descobri:
Sonho que se sonha só é apenas um frenesi
Já , sonho que se sonha junto é delírio
Por isto me perfumei com patchuli
Por toda minha pele macia de lírio!

Roubaram meus sonhos, porém fui a outra padaria
 Não tinha este doce lá também, mas agi com sabedoria
Porque escolhi uma bomba repleta a estourar
Com surpresa, toda a sua magia pelo ar!

Provei uma bomba de chocolate com doce-de-leite
Somente para o meu grandioso deleite!
Por isto, se não conseguir seu sonho, experimente uma bomba
Para estourar na cara da realidade e deixá-la tonta.

Luciana do Rocio Mallon

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, o meu coração está com todos os sonhadores do mundo.

 Otto Leopoldo Winck
Afagos, afetos, efeitos...
Mais um trago, garçom,
que o estrago está feito.

[olw]

domingo, 8 de fevereiro de 2015

nel mezzo del camin
meia lua
meia vida
meia boca
mea culpa

[olw]
Otto Leopoldo Winck


Não são poucos os que confundem felicidade com satisfação. Satisfação é epidérmica, superficial. Felicidade é profunda, desce até as vísceras -- e tem horas que dói. Um poeta até pode gozar instantes de felicidade. Mas nunca deve se sentir satisfeito. Sob pena de morrer como poeta.

ocaso


o sol se põe
como quem se põe
no lugar de um amigo
breve instante
em que a noite
não se opõe ao dia
o ir do sol supõe
antecipar estrelas
solapar trevas
e conspirar silêncios
naquilo que tudo
em tempo se torna
tanta ausência
nem a luz explica
onde eu estava

quando você não veio?

 Marcelo De Angelis

publicado em Mallarmargens

Lenda da Cigana Manuela a Sevilhana



No século dezoito, um acampamento de ciganos armou tendas num campo em Sevilha. Então a cigana Cristal, que estava grávida, resolveu fazer uma caminhada e encontrou um roseiral. Mas naquele mesmo instante começou a sentir as dores do parto e passou a gritar. Assim outras mulheres vieram atende-la e o bebê nasceu no meio das rosas. Cristal batizou esta sua filha de Manuela.
Quando Manuela completou oito de anos de idade, ela ficou noiva do cigano Ivan, que tinha onze anos e seus pais até fizeram uma festa para isto. A garota apaixonou-se a primeira vista pelo seu futuro marido, mas Ivan não foi nada com a cara dela. Então os pais dos dois combinaram de realizar o casamento assim que a menina completasse dezoito anos.
Deste jeito, depois da comemoração, Ivan foi embora com sua caravana e Manuela com a dela.
Naquela mesma noite a shivani, uma espécie de “curandeira” do acampamento, deu uma ave para esta garota e disse:
- Este é um pombo-correio mágico que levará suas cartas para seu noivo onde ele estiver.
Desta maneira, Manuela passou a escrever cartas para o futuro marido. O problema era que ele só respondia de forma fria com palavras como: até logo e um abraço.
O tempo passou e Ivan tornou-se um jovem bonito. Porém, nada fiel. Pois paquerava as mulheres do seu próprio acampamento e se envolvia com as outras damas, que não eram ciganas, em toda a região onde acampava.
Até que chegou o dia do aniversário de dezoito anos de Manuela. Porém a família de Ivan não compareceu na festa. Assim esta cigana escreveu uma carta pedindo para que o noivo marcasse o matrimônio logo.
Ivan não quis responder a mensagem porque realmente não queria casar com esta donzela. Mas seu pai, que leu toda a mensagem, pediu para que ele escrevesse uma poesia ou criasse uma música para sua prometida. Desta forma, o rapaz concordou. Por isto pegou o violão e compôs uma música chamada Sevilhana Para Manuela, onde o refrão original era: “ Manuela, dos meus amores, quando tudo melhorar eu me caso com você.”
Desta maneira, ele mandou a letra da música junto com a partitura da canção, para que os músicos do acampamento da noiva pudessem tocar a melodia.
Quando a moça recebeu a surpresa, através do pombo-correio, ficou emocionada.
Uma vez, Manuela tomou chuva, pegou pneumonia e morreu três dias depois.
Reza a lenda que anos se passaram e uma certa noite, o compositor Manuel Pareja Obregón sonhou com esta história e com a música. Assim, naquele mesmo dia, ele compôs uma música chamada Sevillanas de Manuela. O problema foi que com o passar do tempo, a letra da canção foi sendo modificada. Porém o refrão original é: “Manuela, dos meus amores, quando tudo melhorar, eu me caso com você.”
A cigana Manuela da Sevilhana é uma entidade que ajuda nas questões de amor e saúde, principalmente, em problemas respiratórios. Ela usa saia alaranjada e uma blusa branca “bufante”. Manuela aceita oferendas como: doces, rosas de tons alaranjados, leques e castanholas.

Luciana do Rocio Mallon

Dois em Um


(Zé Miguel Wisnik, Alice Ruiz)

você quer me compreender
você quer me conhecer
reclama
diz que eu sou indiferente
de egoísta meio ausente
me chama
você diz que é pouco amor
que eu só sei te dar valor
na cama
e que as nossas diferenças
vão ficando tão imensas
exclama
sem a comunicação
não existe mais paixão
e dói
mas se você quer saber
o que eu tenho a lhe dizer
me diga
se você não quer quem sou
eu sou quem te conquistou
se liga
vê se existe amor bastante
que nos faça descobrir
as pistas
e seremos semelhantes
no abismo em que cair
a ficha
o que eu tenho a lhe dizer
só você pode entender
e só

na batida do pandeiro


.
disse ontem digo hoje
cabra ruim eu viro o bicho
quem quiser que faça pose
e se benza com Francisco
.
muita coisa vi rolar
mas não vi assombração
sou de paz e vou pro bar
quero encher o caveirão
.
se você que é meu amigo
paga a conta e vai embora
pela sombra eu não te sigo
mais feliz me sinto agora
.
passa a noite passa o dia
até passa o meu amor
se ela diz que não queria
dá licença, por favor
.
se disser que eu facilito
silabando só em sete
a peixeira puxo, agito
faço furo a canivete
.
ser poeta é bem maior
lá do céu que vem o dom
se me julgam o menor
eu insisto e fico bom
.
sou da turma dos contentes
na viola ou no verso
pra terror dos descontentes
sou um deus e sou perverso
.
quem quiser ouvir se abanque
pois o show vai começar
que ninguém a porta tranque
não é fim quando acabar
.
no meu verso não respeito
nem anel e nem nobreza
essa dor é do meu peito
e é também minha riqueza
.
deixo o dito por não dito
se vier conversa mole
quem disser que está escrito
vá embora e não me amole
.
se o verso vai e vem
olhe bem pro coração
ele é tudo que se tem
quando a gente tem razão
.
comecei e terminei
na batida do pandeiro
já cantei tudo que sei
se divido fico inteiro
.
se não sei quem são os meus
tanto fez ou tanto faz
pra quem fica digo adeus
pra quem vai que fique em paz
.


antonio thadeu wojciechowski

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Priscila Lopes

_ das esperas virtuais e outras urgências:
Repouso às teclas enquanto boceja à direita
um pássaro que não é meu - me espreita
à janela: não posso tocar nela, não posso
tocar nela, nela, nela... - ouço uma canção
que eu não sei de quem,
de onde vem,
e entardeço as esperas.
Eu leio o teu nome na tela.
Eu teço o teu corpo na teia.
- É um poema! É um poema!
A sede é gorda, e a recebo
em linhas, em letras, em literaturas
norte-americanas, latinas, anônimas.
Eu te desvendo o mundo:
- Agora que enxergas tudo, conti-
nua escrevendo em mim?
Um documento sem título confessa.
Uma folha sem timbre ecoa.
(ainda escreverei um livro teu)
E o meu silêncio é ébrio
como teus dois cálices

- adivinho.
Priscila Lopes


[não-ficção, talvez] sou dessas pessoas que vivem atrasadas; minha percepção do tempo me leva a crer, por exemplo, que nasci na época errada, e tomada dessa consciência - imagino, mas não posso me lembrar - me engasguei com água da placenta (ui!) ao vir ao mundo, e após uns tabefes, por fim estupefata de aqui ter chegado e ser só isso, me pus a chorar japonesa e rechonchuda (traços que fui deixando pelo tempo). dos motivos por que me atraso, ouso listar:
- esquecendo-me: celular, chaves, carteira, coisas - e me vendo forçada a voltar.
- tentando dormir mais cinco minutinhos, juro, não mais que isso, dez no máximo, eita!, vinte e cinco, tenho que correr...
- cantando nostálgica uma música (ruim) remota que se eu me mover, esqueço.
- reparando em como há tempos eu não reparava em alguma coisa.
- caminhando com a cabeça toda voltada pra trás pra checar minha noção de direção sem a visão dianteira - desculpa pra contemplar céu.
- salvando borboletas que pousam em lugares arriscados (uma delas já me retornou para agradecer; mas isso eu conto outro dia, se tiver coragem).
- cuidando um cão que vai atravessar a rua.
- colhendo folhas de outono que acho bonitas ou solitárias.
- desviando de uma trilha de formigas.
- batendo um papo inesperado com uma pessoa aleatória e pensando que daria um conto que geralmente não chego a escrever.
- segurando o portão para outro passante, e outro e outro, que não percebeu que estou ali há décadas.
- telefonando para alguém antes de pegar o elevador, e não podendo depois tomá-lo com receio de que caia a ligação.
- tentando ler enquanto caminho.
- contando as cores das coisas todas pelas ruas.
- contando os pombos. as pessoas no celular.
- tentando ajeitar uma lajota quebrada com o pé - e não me aguentando e metendo a mão.
- escrevendo no pensamento.
- gesticulando uma conversa que provavelmente não terei.
- fingindo que não vou entrar onde quero entrar pra não dar de cara com alguém com quem não posso falar naquela hora - na maioria das vezes por estar ocupada com um dos itens acima.
- pensando no banho sem me enxaguar.
- adiando a chegada pra terminar de ouvir a música que começou a tocar.
- esperando algo me acontecer pra que eu não tenha que ir.
- preparando um repertório musical, uma carta, um poema ou outro objeto sentimental para a pessoa com quem vou me encontrar.
- que pássaro é esse cantando?!
- aquela pessoa acenou pra mim? conheço? quem será que era...

ou simplesmente parada naquele meu olhar de água parada.
Hirondina Joshua

9 de novembro de 2014 ·

Quando a noite começa a roer o estômago da insânia.
Sigo devagar, o caminho da distância que me inquieta.

Desassossego todo o bárbaro exercício: vou por entre voz e medo gravando silêncios.

NEIGHBORHOODS



se o mundo não fosse
esse aterro de
máquinas
barbas
pilhas
débitos
prazos
e canetas
marca-texto
medos
dúvidas
e embalagens
tetrapak
se o mundo não fosse
um aterro de babacas
ou se o mundo não fosse
um abrangente
e resumido
aterro de sinônimos
e se essa rua
se essa rua
fosse tua
eu ia me mudar pra lá.

(poema de BRUNA BEBER , poeta carioca, nascida em Duque de Caxias e morando em São João do Meriti, sempre afastada dos centros do Rio. Desde 2007 vive em São Paulo. Publicou quatro livros de poemas: A fila sem fim dos demônios descontentes (2006), Balés(2009) , Rapapés & apupos (2010) e Rua da Padaria(2013). BRUNA BEBER está na última postagem da série AS MULHERES POETAS...Se quiser ler mais, clique no link http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=43684


Reticências

Hirondina Joshua




Pediram-me para que explicasse um poema. Ora, ora coisas destas me fazem anoitecer no silêncio. Gelam congelam a subtileza da harmonia pacífica que trago entre os dedos, os pés das mãos, as alças do olhar; muito antes de qualquer letra que forma a palavra decifrada pela retina rítmica da íris, pupila: anatomia do olho; física da visão. Existe uma outra palavra sem voz; muda distante dos ouvidos dos seres audíveis, minúscula na cólera do tempo, sem sílabas; nem pauta para solfejo. E esta me faz em eternos instantes dona do céu.
Insisto nesta pena legítima mais uma vez; de não saber se digo ou se me calo.
A escrita poética é para mim uma verdadeira extensão dos mundos.
Não estes galáticos mas aqueles que têm força de lei na razão primordial da existência cladestina que se rouba dia após dia.
Explicar um poema é escandalizar a existência singular: o destino plural da Vida.
Pode-se dizer: “Ave na língua, fogo nos sentidos”. De vários modos isto pode ser olhado. A poesia é um gênero onde uma realidade pode tomar inúmeros sentidos, onde os sentidos podem ter uma realidade diversa. Esta característica amorfa, este mistério, ministério consagrado pela poesia traz-nos dentro outros Orgãos de Sentido. Outras formas, outros mundos em viagens sem ida nem regresso.
Explicar um poema é traçar distâncias, fronteiras abstractas. Vandalizar a língua própria do Ser.
Deixem a poesia respirar na casa de cada sensibilidade; na sensibilidade das suas casas.

Inédito in “Reengenharias”


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
DO TRABALHADOR
tudo o que não tenho é seu
DO BANQUEIRO
tudo o que tenho é seu
DO LADRÃO
tudo o que terei é seu
DO ESCRITOR
de tudo o que é seu algo é meu.


Ademir Demarchi, em “Pirão de Sereia”, Realejo, Santos.

PIRÃO DE SEREIA


Navegando ao léu
ouvi [ ] límpido
o canto sibilino da sereia
vislumbrei no desmedido meu destino
e enveredei então pelas brumas
como se entranhasse pelos céus
encantado, já não era eu, mas deus
entreguei-ma à cegueira de todos os sentidos
apaixonado extasiado entesado
pela umidade brilhante das escamas
pelos olhos azuis por onde se mergulhava no oceano
pelos volteios voluptuosos e serpenteantes do seu corpo
pela gosma marinha que me siderava
pelas mãos boca narinas
ávido busquei com a lábia língua
uma ostra nela e inteiramente
humano não achei sua vagina
estanquei no descaminho
diante do interdito para o abismo sonhado
e frustrado com o irredutível mas ávido de amor
comi a sereia e a roí inteira até as brânquias
e brânqueos ossos que me restaram às mãos fosforescentes
para iluminar a noite de meu caminho de retorno até aqui:


Ademir Demarchi, in Pirão de Sereia, Realejo, Santos, 2012.
profundissimamente hipocondríaco
só bebo rivotril pelo gargalo.
a minha mão esclerosada, em calo
não se retrata em verso elegíaco
ao me mostrar a vida pelo talo:
eu, filho do carvão e do amoníaco."

RR

O Ciclone de Théophile


[a.d.]

O ciclone embora Théophile lhe seja surdo
Também ameaça-me os camafeus
Assim mesmo porém o amo
Terrificante e belo a espiralar-me o
peito
Em sua sina de profícuo signo
Lar agradável, oásis da pira arte
A anular todas as coisas vis

Apesar das quais a palavra arde.

A BOTIJA


[a.d.]

de uma botija seca
já ornada pelo tempo
quando nada mais dela se espera
um líquido bocejo a anima
e se derrama com a brisa
que sopra e nela penetra e canta


Inveja


Hoje fiquei com inveja de um senhor que aparentava ser mais velho que eu, fiquei com inveja do seu sorriso de poucos dentes, da musica qualquer que cantava de letras trocadas, fiquei com inveja de um homem que revira lixo atrás de latinhas vazias, inveja da sua alegria. Ah! Se o dinheiro do meu bolso pudesse comprar aquela felicidade!
Pobre infeliz sou eu, que não sorrio, não canto e nem mesmo me contento, achando que tudo que tenho é pouco, por isso, acabo não tendo nada! JDamasio

Rascunho de uma mini crônica de um catador que vi passando e parecia louco por afrontar a sociedade demonstrando sua felicidade.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

a escolha da estrada certa
temos tudo pra dar certo
temos tudo para não dar
o caminho, meu amigo
somente nós decidimos trilhar
os atalhos , perigosos
a distância não importa
mesmo andando descalço
prefiro a exaustão do que convém
a facilidade de uma estrada torta...
Airton Polak Júnior


MAUDITS


Mallarmé na cabeça
Rimbaud no coração
eu vou
quebrando a cara
nas quebradas do mundo
o alvo
uma nova constelação
no branco da folha
ou então
obscuros negócios
na Abissínia
o que vale
é virar a última página
do livro burguês
e cair na esbórnia
de signos e sentidos
da comuna de todos os vates
(ó sociedade:
aqui pra vocês)
assim
enquanto eu puder
beberei até a última gota
do doce absinto
do mestre de todos
Charles Baudelaire
Otto Leopoldo Winck

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

a poesia
da barra
ainda esbarra
no centro imponderável
que o tempo
ainda me traz


Artur Gomes
não sou bispo padre madre
da hóstia não sou compadre
nem sou frade franciscano
capuchinho de convento
nem sou cristão e não me engano
não tenho papas na língua
minha pátria é minha míngua
minha Arte é o que invento

Artur Gomes


não sou apenas o que ama
sou também o que odeia
na roda viva do planeta
para os donos do poder
sou pior que o capeta
com os fios da navalha
lâmina acesa entre os dentes
cada palavra CarNavalha
e no revólver meu gatilho
mira o olho do canalha

Artur Gomes


formas de dizer que amo
são múltiplas
se ainda não disse
estou em busca
da melhor forma de dizer
que não assunta
amar-te não tem preço
te amar não custa

Artur Gomes


não sei se clara
pode entender claramente
como amo
claro que nem tudo
ainda foi dito
escrito falado pensado
nem clara mesmo
imagina o quanto quero
e pode até se assustar
com tanta fala
mas clara ainda
não sabe que na sala
a vela acesa
em noite escura
ainda é clara

Artur Gomes


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Lenda da Cigana do Bambolê



Há três mil anos existia uma escrava egípcia chamada Adjena, que vivia com dores no corpo, mas que mesmo assim precisava trabalhar. Um certo dia esta moça estava trabalhando na lavoura, quando começou a sentir dores horríveis, por isto, ajoelhou-se e orou para o céu:
- Sol, Lua e estrelas, por favor, curem minhas dores!
De repente, apareceu uma deusa, que pegou um pouco da luz do Sol, um pouco da poeira da Lua, um pouco do brilho das estrelas e assim formou um aro luminoso. Após isto, ela disse:
- Eu sou a deusa Nut e posso atender ao seu pedido. Este arco é um bambolê, que ajudará a acabar com suas dores. Basta fazer este objeto girar em torno da sua cintura. Mas, em troca, seu corpo ficará preso nesta fazenda, mesmo depois da sua morte. Afinal seu espírito só poderá descansar, após seu falecimento, quando você entregar este aro mágico a outra pessoa que passe por este solo e precise muito de ajuda.
Assim Adjena pegou a argola gigante e colocou em volta do seu corpo. Porém, naquele mesmo instante, o bambolê tornou-se feito de fios secos de parreira. Porém apesar disto, permaneceu com o mesmo formato. Deste jeito, a donzela fez com que ele girasse em torno do próprio corpo e sentiu-se melhor. A partir daquele dia sempre que esta jovem sentia dor, ela usava este aro e o problema passava.
Um certo dia Adjena estava trabalhando na lavoura quando, de repente, outra escrava invejosa bateu com a enxada na cabeça da pobre, que faleceu. Desta maneira, a assassina enterrou a rival debaixo do solo daquele sítio. Alguns anos após este crime, aquela fazenda foi abandonada e ninguém descobriu o corpo da vítima.
Séculos depois, uma caravana de ciganos resolveu acampar naquele mesmo local. Deste jeito, a cigana Amaleia decidiu dar uma volta no local. Quando de repente, fez a seguinte queixa em voz alta:
- Se minhas costas não doessem tanto...
Como um raio apareceu uma dama com um bambolê nas mãos, que disse:
- Boa tarde!
- Sou Adjena e tenho a solução para as suas dores: basta girar esta argola gigante em torno do seu corpo que ele ficará curado.
Então Amaleia pegou o bambolê, girou o objeto em torno do seu corpo e notou que a dor sumiu.
De repente, ela olhou em direção à Adjena e percebeu que ela criou asas e voou para o céu.
Quase não acreditando no que aconteceu, a cigana decidiu mostrar a nova dança com a argola gigante para o acampamento. De repente, sua avó exclamou:
- Ah, que dor nos braços!
Assim Amaleia comentou:
- Experimentarei algo: colocarei este bambolê para girar em torno do seu braço.
A garota fez o prometido e a dor da idosa passou. Ela tomou atitudes semelhantes com pessoas que tinham dores em diversas partes do corpo: pescoço, pernas e cinturas. Desta forma, o resultado era sempre positivo.
Como passatempo, Amaleia passou a rebolar junto com o bambolê. Então, as ciganas passaram a confeccionar este instrumento com fios secos de parreira e criaram coreografias de dança com estas argolas gigantes.
Quando chegou a Idade Média, os bambolês foram proibidos devido à sensualidade. Mas, em alguns circos de origem cigana, as bailarinas continuaram a se apresentar com estas argolas gigantes.
O bambolê, de plástico colorido, como conhecemos atualmente surgiu nos Estados Unidos em 1958.
Reza a lenda que Amaleia, a Cigana do Bambolê, é uma entidade amistosa que costuma atender as pessoas que possuem dores pelo corpo. Ela usa saias estampadas e sua música predileta é Bamboleo da banda Gipsy Kings.

Luciana do Rocio Mallon

mensagem de despedida ou boa nova

conheci uma garota que não é da cidade e muda de cor e produz minúsculas chamas saídas pelos poros quando faz amor. ela me disse que todas as mulheres lá de onde ela vem são assim. já encarei como algo problemático em mim isso de ter uma índole científico investigativa. digo, de querer mesmo tirar a prova dos nove de tudo que existe (e até do que não). nesse caso é diferente, porque até que estou curtindo a idéia bem mais do que sempre curti as minhas, digamos, obrigações de cientista. veja bem, precisarei ir a fundo pra confirmar se isso é um fenômeno isolado ou algo da biologia daquela região do país, tão distante daqui. infelizmente, durante o tempo da pesquisa ficarei incomunicável. quero dizer, não poderei sequer enviar notícias, abrir e-mails, facebook, tuiter, nada. peço desde já que os familiares e amigos não se preocupem e sejam fortes. sei que a saudade vai apertar, mas também, diz a verdade aí, minha ausência não será nenhum fim de mundo e, tampouco, definitiva, espero (tô brincando). perdoem a pressa, mas, bem, até a volta. desejem-me boa sorte. se bem que, acredito, não vou precisar. é, não me desejem nada. ter conhecido uma garota como essa já faz de mim, parece-me, um afortunado. então é isso. obrigado por tudo (mesmo). fiquem bem. e até um dia.
ps. por gentileza, tentem manter os invejosos desinformados da boa nova


Luiz Felipe Leprevost

POLÍTICA BRASILEIRA


Mais a esquerda temos o partido dos que roubam e deixam roubar, socializa o desvio de verbas de forma transparente. Quase todos tem o direito de participar das falcatruas, desde que sindicalizados. Mais a direita temos a opção de um partido que não permite o roubo generalizado. Não é para qualquer um! Somente aos que tem méritos, meritocracia. É um desvio elitizado, mascara a ladroagem com privatizações. São políticos mais bem preparados para crime organizado. Por fim ao centro o partido tradicional que rouba em qualquer situação. Sua bandeira pende ora para direita, ora para a esquerda, soprada pelo vento da conveniência dos cargos de poder. As demais siglas são pequenas milícias locais, são números que engrossam a espoliação nacional.

JDamasio

Lenda da Cigana Gótica e o Louco do Parque

                                         
Dona Zuzu, uma cigana de 98 anos de idade, contou –me este causo e deu autorização para que eu escrevesse uma versão para ser postada na Internet:
Em 1998, uma caravana de ciganos armou acampamento num bairro, de periferia, da cidade de São Paulo. Dentre eles estava Ruth, uma adolescente rebelde que só se vestia de preto e dizia ser gótica, pois não gostava de sua vida cigana. Ela já tinha tentado escapar do seu povo várias vezes. Mas seus irmãos sempre deram um jeito de trazer esta garota de volta.
Ruth vivia gritando palavras como:
- Não gosto de acampar a cada mês numa cidade diferente!
- Odeio esta vida!
- Não quero me casar com o homem que foi escolhido pela minha família!
- Eu só sonho em morar num lugar fixo e freqüentar uma escola normalmente!
Enquanto as outras ciganas faziam artesanatos coloridos, Ruth confeccionava morcegos de brinquedo e xales negros. Esta jovem gostava de dançar com lenços gigantes e escuros, que combinavam com suas pretas saias rodadas, nas noites de Lua cheia.
Um certo dia, Ruth teve mais uma de suas inúmeras discussões com a família e foi até o parque da cidade. Lá sentou-se numa rocha e começou a chorar. De repente, um homem apareceu, consolou a garota, fez com que ela contasse sobre sua aflição e prometeu que se ela fizesse fotos ecológicas, dentro da mata fechada daquela floresta, ela poderia virar uma modelo famosa e deixar aquela vida cigana de vez. Assim Ruth subiu na moto do rapaz. Mas, ao chegar à floresta, o homem atacou, matou a pobre e a enterrou debaixo de uma macieira.
Quando chegou à noite, os ciganos deram falta de Ruth e procuraram a adolescente em todos os lugares. Porém não acharam a pobre.
Em 1999, surgiram relatos de pessoas que viram o fantasma de uma cigana gótica perambulando pelo parque. Deste jeito, leremos alguns causos, sobre isto, abaixo:
Célia era uma garota de cinco anos de idade, que estava brincando de esconde-esconde com os seus irmãos no parque. De repente ela foi para o fundo da floresta, notou que estava perdida e começou a chorar. Como um raio, apareceu uma cigana gótica que disse-lhe:
- Eu sei que você se perdeu dos seus irmãos. Por isto pegue na minha mão e eu guiarei sua pessoa até eles.
Deste jeito Célia chegou até os seus familiares. Porém, quando olhou para trás, viu que a cigana se evaporou.
Uma vez, perto do parque da cidade, uma menina estava sendo perseguida por um homem em uma moto. Quando, de repente, a cigana gótica apareceu na frente do rapaz e fez com que este bandido caísse, com seu veículo, no chão. Desta maneira Ruth aproximou-se e comentou:
- Nunca mais persiga nenhuma mulher. Pois da próxima vez você poderá se dar muito mal. Afinal, eu também fui morta por um motoboy.
Após falar estas palavras, a moça desapareceu na frente do marginal.
Até hoje muitas pessoas afirmam ver uma cigana gótica que costuma dançar com um xale negro de crochê, na região do parque da cidade, nas noites de Lua cheia.
Quanto ao louco do parque, do começo da história, ele foi preso em 1998 e afirmou, em entrevistas para a mídia, ter matado mais de quinze mulheres naquele mesmo local. Porém apenas seis assassinatos foram comprovados. Hoje ele está preso e diz ter se convertido à religião evangélica.

Luciana do Rocio Mallon             

Lenda da Rosa Canina


Reza a lenda que na Idade Antiga, num certo reino localizado na Ásia, havia uma aldeia onde os deuses tinham formas de animais e o cão era o deus principal. Lá, os cachorros de estimação tinham um cemitério exclusivo para eles e os seus donos levavam rosas, todos os anos, nestes túmulos.
Um certo dia, subiu ao trono uma rainha que desejava acabar com o politeísmo e fazer com que o povo adorasse um só deus que não tivesse forma de bicho. Então ela destruiu o cemitério de cães e proibiu que seus donos levassem rosas lá. Por isto baniu a plantação desta flor no reino. Assim os guardas da corte levaram os restos dos animais, que estavam enterrados no campo-santo, até um deserto. Mas um dos soldados espalhou para o povo onde os bichos foram colocados.
Quando os donos chegaram ao local, notaram que o deserto não existia mais e que um jardim cheio flores, jamais vistas, tinha tomado conta daquele lugar.
De repente surgiu um anjo, no meio do jardim, que disse:
- Eu sou o querubim guardião dos cães de estimação, posso garantir que todos eles estão no céu e que esta flor foi feita, pela natureza, especialmente para homenagear estes animais. O nome dela é rosa canina e ela tem poderes mágicos. Deste jeito o dono de um cão que morreu, quando sentir vontade de escutar o latido do bicho que desencarnou, basta encostar o ouvido nesta flor que ouvirá o tão desejado som.
Desta maneira surgiu a rosa canina, uma flor medicinal capaz de curar resfriados e problemas de pele.
Alguns espanhóis quando visitaram a Ásia deram de cara com este jardim e pegaram as mudas desta planta. Anos mais tarde, eles trouxeram a rosa canina para o Chile e hoje ela cresce na encosta dos Andes.
Alguns místicos aconselham as pessoas que tiveram um cachorro de estimação, que morreu, a cultivarem este tipo de flor. Pois, segundo o esoterismo, se elas colocarem seus ouvidos nela poderão escutar o latido dos seus bichos que já partiram. Segundo certos magos a flor canina representa a ligação do céu dos cães com a Terra.

Luciana do Rocio Mallon