domingo, 1 de junho de 2014

Elucubrações de Manuel.

 De Mara Paulina Arruda.


Manuel sentou-se ao lado de Neiva. Os dois esperavam o ônibus, no fim da tarde. Pessoas apressadas...a noite vinham chegando, o jantar por fazer, pardais voando em direção às suas árvores. Manuel puxou conversa com Neiva por conhecê-la do mesmo bairro onde morava. Sua esposa e ele já tinham almoçado juntos numa festa da comunidade. Manuel desandou a contar de uma menina, vizinha deles, que tinha sido abandonada pelo pai. No meio da conversa lembrou-se de sua primeira professora. Uma mulher gorda, ele disse, mais gorda do que eu. Durante dias ela insistiu que eu aprendesse o a, o b e o c. Quando chegou no c é que foi o complicado da coisa. Não conseguia entender que o c era o desenho das ondas do mar. Mas que difícil isso! Eu, Manuel da Silva, até hoje nem conheço o mar! E a professora insistia. Passou para o d. Essa letra foi mais fácil por lembrar que uma pessoa sem crença é uma pessoa vazia e com isso, essa união do meu pensamento com a letra fez com que eu entendesse e começasse a junta-las para ler. Descobri o queria dizer as letras. Descobri o que elas queriam dizer do mundo. Neiva, estupefata com o relato de Manuel não sabia o que falar e perguntou da menina, aquela que ele tinha iniciado o causo. Manuel levantou-se do banco e disse que ela estava bem, estava segura e que tinham encontrado uma alma boa para cuidar dela e apontou para o ônibus que vinha chegando. No trajeto nem uma palavra mais ele disse.

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