sábado, 9 de agosto de 2014

● nem com os olhos ●
● nem com a velha boca torta ●
● agora nem as cercas desabando ●
● deitado mastigava a lingua ●
● sempre venenosa e quase dura ●
● sem contar os pombais famintos ●
● é certo q ao longe latejam alegrias ●
● iluminadas por esse sol doente ●
● nas horas vermelhas e brancas ●
● jamais paris e aqueles corvos ●
● q inda murmuram e latem ●
● a coisa idiota dos mercados ●
● “quão cega é a morte” ●
● ouviamos desde la de fora ●
● “tão dolorosa quanto a vida” ●
● o choro das muitas marés ●
● “so aquele idiota do diderot ●
● e o sobrinho q não morre" ●
● depois dormia e babava ●
● como a vaca velha no feno ●
● apos o dia largo e suarento ●
● abria os olhos abria a boca ●
● “depois não venham falar e rir ●
● como pascal e rousseau e mais ●
● basta esses cavalos e a merda ●
● desses cavalos q invade a pele ●
● invade a carne e os sonhos” ●
● era assim ate quase ontem ●
● quase um dia desses como eterno ●
● são todos os dias sem deus ●
dois
● o sr d’alembert sempre disse ●
● “é um palhaço q não sabe ●
● não tem certeza nem dos gases ●
● q solta como se ninguem ●
● escutasse como se ninguem ●
● sentisse com horror e inda ri” ●
● o sr d’alembert tava certo ●
● era um porco q não ouvia ●
● q não via ninguem ao redor ●
● antes de tudo aquilo havia ●
● e ha o preço dos pães o preço ●
● dos vinhos massas e fungos ●
● o sr d’alembert sempre disse ●
● q o sr voltaire não podia morder ●
● uma fatia de torta de maçã ●
● o sr d’alembert era perverso ●
● mas o sr d’alembert sentia ●
● quem era o velho javali ●
● não isso de não ter dentes ●
● mas isso de não morder ●
● isso de so dizer q mordia ●
● o sr d’alembert tava certo ●
● como tudo q o sr d’alember ●
● fez ou deu seus palpites ●
● o sr d’alembert não viveu ●
● com o sr voltaire como eu ●
● o sr d’alembert se mataria ●
● o sr d’alembert não mentia ●
● ele sempre disse q o sr voltaire ●
● tinha todos os dias sem deus ●
tres
● aquele velho babaca e mofado ●
● aquele cheiro de merda e mijo ●
● aquele bafo de cachorro molhado ●
● nenhum sonho nenhum desejo ●
● so aquilo caindo aos pedaços ●
● peidando pelos cantos e rindo ●
● nenhuma musica vindo de cima ●
● nenhuma moeda de ouro ou prata ●
● nenhuma volta completa no tempo ●
● o sr voltaire era uma coisa morta ●
● uma coisa muito doente e morta ●
● uma coisa sem volta e muito morta ●
● aquilo q mastigava os olhos ●
● de quem olhava pra ele e mastigava ●
● a lingua de quem falava com ele ●
● aquilo q rosnava quando dormia ●
● como se roesse um osso duro ●
● um musculo q não rasgava ●
● o sr voltaire meu caro irmão ●
● era como animal grande acuado ●
● desses q não resta nem a raiva ●
● parava diante do espelho ●
● e com o dedo duro riscava ●
● como se desenhasse o horror ●
● era como se o sr voltaire soubesse ●
● uma coisa q não sabemos mais ●
● como se o sr voltaire desabasse ●
● sempre sozinho sem conseguir
● dizer o q sentia e pensava e doia ●
● nesses longos dias sem deus ●
quatro
● não ha mais esperma ●
● nenhum grão nenhum campo ●
● a colheita agora pode sossegar ●
● a colheita q não houve ●
● a q morreu antes de madurar ●
● a q não foi sonho ou desejo ●
● não ha mais esperma ●
● nem as palavras duras do esperma ●
● dessa loucura q so se alucina ●
● se torna musica se torna torno ●
● devorando argila devorando terra ●
● devorando carne osso e a lingua ●
● não ha mais esperma ●
● não ha mais a espada a lança ●
● a adarga antiga e tudo enferrujou ●
● nem os caminhos os lagos as fomes ●
● nem as cavernas e seus morcegos ●
● nem a pele o peito e aqueles olhos ●
● não ha mais esperma ●
● assim termina o mar os rios a floresta ●
● tudo q ha alem da pele e mais ●
● não ha troia nem atenas ●
● nenhuma guerra nenhuma hora ●
● depois q veio a nova morte ●
● nem o sono se dorme mais ●
● nem os gazes do velho doente ●
● nem as chamas da revolução ●
● nem os reis nem os servos ●
● o mundo é outro meu irmão ●

● agora são os dias sem deus ●

Alberto Lins Caldas

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