domingo, 10 de agosto de 2014

Tereza.


Tereza, teu prato em cima da mesa:
Ainda cheio de arroz, feijão e tristeza.
Não comestes nada desde manhã;
Pra que isso, Tereza? Pra que tanta incerteza?
Teu mundo virou de cabeça,
E não teves pra onde fugir.
Teu vestido comprido,
Tuas jóias de recordação,
Teu cheiro no guarda roupa,
Tua áspera solidão,
Teu jeito de sentar no sofá;
- O tédio da classe média.
Não irá almoçar, a pobre Tereza,
Nem tocou no arroz amarelo com feijão preto.
Tem fome de vida, de sexo, de música,
De pés no chão, de chuva, de sol, mas não de comida.
E os disparos do domingo com calibre 38
Na cabeça de Tereza que não come.
Tem nojo de si própria, a pobre Tereza.
Ela tem nojo da voz do Faustão, do tédio humano,
Das moscas civis, do chão sujo,
Das bitucas de cigarro... pobre Tereza de classe média.
Comerás a janta, Tereza?

M.f

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