sexta-feira, 26 de setembro de 2008

lua

Rasgando os véus dos olhos da noite
a lua se mostra nua e irreverente;
artista ordinária tirando os lençóis da cama,
deitando-se em brandas nuvens.

joga fora os travesseiros,
incendeia uma estrela cadente,
atropela os transeuntes,
seduz meu homem que se faz seu amante.

Ah,lua !
Se te pego na esquina !

Thais da Cunha Marcondes


(Menção honrosa do 15 concurso nacional de poesia Helena Kolody...2005 )

terça-feira, 23 de setembro de 2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Mormaço

Mormaço

Pálpebra pesada
Da janela sonolenta
pende a fuligem preta

O castelo de nuvens
tornou-se borrão
na vista cinzenta

Mormacenta e embaçada,
atmosfera lúgubre
precede a tormenta

Opaca letargia
vai escorrer
da vidraça

Eu choro
sempre que preciso
de luzes

Iriene Borges

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

gêneses incessantes

Gêneses Incessantes


O espírito se reconstitui nessa caligrafia.
As vontades se manifestam livremente.
A mesma arte que me instrui, me desafia
a criar discursos mais eloqüentes.

A mente presa a um vórtice criativo
desenvolve idéias mirabolantes.
O coração demonstra estar vivo
na vibração de gêneses incessantes.

Dando ao abstrato formas perceptíveis,
produzo na brevidade dos instantes
eternidade para as coisas perecíveis.


E extraio de expressões extravagantes
os diversos aspectos irascíveis
da emoção e da poesia predominantes.



Iriene Borges

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Metrópolis(1916-1917)



http://www3.hi.is/~gylfason/painting.htm

Existencial

Se num sopro de pó surjo no mundo,
Folha virgem expelida na estrada,
Que eu redija em mim um ente fecundo
Tracejando meu destino entre o Nada.

Que ao existir eu confira meu valor
E neste plano erga minha essência,
Se não vim do ventre dum Criador,
Que em Terra abrace eu a transcendência!

E se ao morrer, findar em cois’alguma,
Poeira consumida... caos do Universo,
Orvalho amanhecido em fria escuma,

Desfeito nos vãos do tempo perverso,
De todas as coisas, quero só uma:
Que eu dilua... mas que fique meu verso.
Alessandra Bertazzo

Abraço de adeus

Abraço do adeus

Lerás porém algum dia
Meus versos d’alma arrancados,
De amargo pranto banhados,
Com sangue escritos.
(Ainda uma vez, adeus! – Gonçalves Dias)

Aquela noite sob a bruma fria
Em que até a Lua s’entristecia
Quando de mi, já tarde, te despedias
Em minh’alma uma sombra caía
E no peito uma sensação tão vazia!
Pois que naquele singelo abraço
Dizias-me, tu – “Adeus” -, Amigo e não sabias!
Alessandra Bertazzo

adormecido

Para A. de Azevedo

Sereno, ao calor da Cheia ele dormia
Sobre alcova de rosas derramado
Em sono respirava incenso e poesia
No véu da noite, negro e perfumado

Era um anjo do céu na bruma sombria
Pelo braço de Morpheu acalentado
Que de sonhos s’afogava e se nutria
Em nuvens d’algodão, o meu amado!

Muito belo! O corpo descansando...
Doce boca os lábios entreabrindo...
Formas másculas o leito revirando...

Não censures a mim, amante lindo!
Em ti – às escuras eu rio chorando
Em ti – às claras eu choro sorrindo!
Alessandra Bertazzo

Outono n´alma

Outono n'alma

Se tu viesses [...] / A essa hora dos mágicos cansaços / Quando a noite de manso se avizinha, / E me prendesses toda nos teus braços... (Florbela Espanca)

Se tu viesses amar-me agora à noitinha
À hora em que Vênus no céu resplandece
Quando a monotonia do outono adivinha
Este silêncio imemorial que o peito aborrece

Oh, que tamanha felicidade esta minha!
A esperar-te num leito d’estrelas celestes
Abraçar em ti o universo em água marinha
Desnudando mistérios e prazeres terrestres!

Se viesses amar-me, meu bem, à hora vadia
Quando no peito esta dor mais s’enterra
Revestida em nuances e tons de nostalgia

Como as sombras que caem sobre a Terra...
A hora em que a noite voraz abraça o dia
E uma lágrima de saudade o olhar dilacera...

Ah, se viesses, meu bem...

Alessandra Bertazzo

Quase Morte...

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.
Não ouço mais! Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
Um frêmito me abala... Eu quase morro... Eu tremo!
(Safo)


Quando teu membro em transe me recebe,
Sugando meus vãos numa ânsia louca...
Sinto em meu corpo tua intensa febre
E a esse fervor me penso um tanto pouca...

Teu falo em fogo, em fúria, firme e forte,
Flamejando em meus flancos, frenesi.
Sou-te efeito túnel e quase morte,
Frêmito ardente, a fremitar por si.


Duas almas nucleadas em etéreo
Perfazem num instante um ano-luz,
Vagando sob as valas do Mistério...


Esquecem na Terra seus corpos nus
E desfraldando-se em mil planisférios
Espasmamos num Céu que em nós reluz...
Alessandra Bertazzo

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A chuva baila cinza na vidraça
que abre a cidade e as cicatrizes de concreto.
No mundo não há quem leve,
como eu, este crepitar na alma.

Bárbara Lia
(in.A Última Chuva )

Revelação

De Búzios ao Rio de Janeiro
no açoite do vento
ao som de um pandeiro
embevecimento nas carícias do mar.

Rendo-me às areias finas
ao samba de roda no quintal.
Esqueço das chacinas
expostas no jornal.

Amo-te assim,
lírica delinqüente
seja qual for o instante
rendo-me aos (en )cantos

das tuas calçadas
em preto e branco
fetiche caricata
provocante

ecos desta cidadã
sem nome e sobrenome
à sombra dum flamboiant.

Andrea Motta
(Pó&Teias.p112)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

dias gigantescos 1928




http://www.blogdofavre.ig.com.br/wp-content

Metamorfose

Sob a casca descascada
a lagarta da seda
arredonda a redoma
e sonha asas

a sombra do luxo
anuncia:
breve , aqui ,
mais um fruto
da metamorfose.

Marília kubota
(tsé-tsé 7/8 )
"e o grito que, com a boca retor-
cida, este ser , em vão ?quer fa-
zer ouvir é um imenso aleluia
perdido no silêncio sem fim. "
Georges Bataille



http://www.asuartmuseum.asu.edu/american

Imensidão

Escalar montanhas
que só o silêncio influencia
reencontrar nas primeiras cavernas
vestígios de eternidades antigas
descobrir novos sentido e limite
além de sombras conhecidas
buscar sonhos que,um dia,
foram mais que vento :
alimento que a boca queria.
Marília Kubota


(tsé-tsé. 7/8 )