domingo, 30 de outubro de 2011

Israel

Multiplural etnica e cultural anarquia


Babel de vozes que só se espelham

no verde oliva dos uniformes.

Laica e secular a olhar por sobre o

Muro das Lamentações aos religiosos

de ossos de aço e ocos corações.

Aqueles que modelam no barro os Golens

que perambulam nos sábados a assassinar os sonhos

vestidos de verde oliva e do vinho da vida de estranhos

estrangeiros. Religiosos envenenando a verdade nas suas

orações de ódio e rancor.

Cacofonia de angústias , medos e ódios aos gritos saltando dos olhos

para as mãos .

Israel minúscula nau dos insensatos a agarrarem no humor

a bóia da lucides com as pernas em sangue a atiçar os tubarões.

Oh Isra'El da estrela de Davi estilhaçada, não pise em seus cacos.

Rostos da diáspora de tantos sabores e olores, dores

e alegrias desesperadas à procurar tateando na diversidade,

no estranhamento a alteridade imperscrutável da unidade espinhosa.

A qual cobra o sangue e o sal de Israel.O sangue denso e doce de seus filhos.

Oh Israel, você se encontrará novamente?Caminhos estreitos no Oásis.

O humanismo judaico estará em extinção em Israel ?

O Guardião de D'us( Isra'El) ouvirá a D'us antes de ouvir a espada ?

Shalom.



Wilson Roberto Nogueira
(Para Cláudia )




Procuro não turvar o humor





com as pedras que invadem meus sapatos



quando caminho pela calçada da vida.



Made in brega,



letra de um samba bebado de amanheceres nublados.



O mar pra eu cantar é só um seu olhar.



Bom. Assisti a "Capitães da Areia" da neta do Amado e li o livro.



Então Cláudia,me perdoe em ser menino de areia diante desse seu sorriso



Minha jangada já se aninha na madrugada



e o mar , bebo num poema.



Wilson Roberto Nogueira
Não era para tanto "ma garçonne"(o cabelo curto acentuou a cor dos teus olhos).O Pavel low profile como sempre não esquentou,não queimou o radião,quedou-se tranquilo.O embroglio foi de outra ordem,não era propriamente quanto ao grupo,a discussão que se arrastou foi oportuna contudo,mas o curto-circuito teve suas faíscas exageradas.No que se refere ao texto de seu existir ,é uma questão de estilo apenas,não devemos levar tanto a ferro e fogo. Acredito na proposta de Deus e suas oficinas inter-cambiáveis,mas esta é uma outra história,

A tua obra lerei com mais vagar e te darei o retorno durante a semana.

Assinado : O Foiceiro.



Wilson Roberto Nogueira
A companhia custara apenas o preço de um cafezinho.Passavam horas que se diluíam no silêncio dos olhares.Um procurava encontrar no olhar do outro o próprio olhar.E juntos dançavam.

Hora de pagar a conta.As luzes se acenderam e só viram o mármore e as moedas caindo no chão.A dança acabou.Mais uma vez ela pagou a conta. E nunca mais voltou.
Agora ele gira moedas na mesa da cafeteria e só tem a sombra da lembrança a orar por ele.



Wilson Roberto Nogueira

sábado, 22 de outubro de 2011

Enfim

Enfim




Sereia cauda causa cada

Átomo de tudo que é

E deixou de ser

Tudo que me cala

Planta sem jardim

Ramas de peixes

Escama fina flor

Espinho espinha

Fibras de alecrim

Aroma veia amarga

Sangue que há em mim?

Meu pulso jaz

No fluxo atormentado

Que há no fim, ou

Onde os teus olhos olhem

Onde tudo inicia e acaba

Em luz azul.

Angela Gomes Brochier

domingo, 16 de outubro de 2011

Somália, na capital das araucárias

Noiada, a princesa derviche ou vulnerável azeviche, estende a mão como quem esmola mas ampara filete de mijo de rato e pomba e água que desce pela marquise; Agar, que vê brotar a misericórdia em pleno deserto de vidro e pedra britada.
Poucas quadras a separam de Ismael, deixado sob a mesa de plástico do bar, encoberto pelo fiapo de manta igual seu choro tão chorado e vão que não desperta menor atenção na platéia alcoolizada pelo futebol de quarta, na tela de catorze polegadas.


Ricardo Pozzo

Seleção Natural

De tantas filosofias a seleção natural,

de tantos corações o mais forte

não que o mais fraco não tenha

seus lapsos de felicidade.



Impressionante a competição

motivada pela sociedade do consumo

Eu sumo, e a emoção se torna depressão

condicionante no peito de cada um.



Estudos tantos para entender o indivíduo

e imersos estamos no meio deles que nos vomitam

coca-cola e novela

sempre ela

a nos guiar a estrela de Sião

a jóia rara que se esquiva

por proteger-se



Importante manter aquilo

que nos falta,

se falta o objeto,

falta o entendimento.



O arrependimento me assalta de repente

e vejo a minha punição por demais severa

a sincera e quimera das eras

se esvai



Estou protegido pelos selos

do Rei Salomão

do que me restaram algumas pedras

Não que o limo do mundo não grude

nas paredes do meu ser,

mas continuar é preciso

e a morte é certa

assim coma a razão é a mestra

do sentimento.
 
Anderson Carlos Maciel

sábado, 15 de outubro de 2011

Não era para tanto "ma garçonne"(o cabelo curto acentuou a cor dos teus olhos).O Pavel  low profile como sempre não esquentou,não queimou o radião,quedo-se tranquilo.O embroglio foi de outra ordem,não era propriamente quanto ao grupo,a discussão que se arrastou foi oportuna contudo,mas o curto-circuíto teve suas faíscas exageradas.No que se refere ao texto de seu existir ,é uma questão de estilo apenas,não devemos levar tanto a ferro e fogo. Acredito na proposta de Deus  e suas  oficinas intercambiaveis,mas esta é uma outra história,

A tua obra lerei com mais vagar e te darei o retorno durante a semana.

Assinado : O Foiceiro.

Wilson Roberto Nogueira


Semi-adestrado

Quase madrugada. Quase. Numa benevolência magistral extraio o nulo de mim. O que resta é de todo um vazio; estou para sofredora e estou para não estar. Venho restringindo-me ao imaginado, este, que se torna um milagroso veneno - e prepotente. Tão tudo, tão cheio de tudo e a única coisa que consigo perceber é o eco que acontece dentro de mim. Daqueles vazios de alma sem alma, ou pura alma e puro ser em essência. Apresento-te o vazio das palavras: estou cá, indexada à mim. Pregada aos horrores do que se é em nervo e turbilhão. Perversão do sonho e o indicador, para o lado de trás, qualquer um. Ando aos trancos, reagindo ao vento qualquer e sem som, estou, está. E falo, num imaculado silêncio o que sinto. Paredes mucosas e o ruído final de uma pluma última que cai. E caio aos poucos, num lento e retilíneo desespero. Estou desesperada? vou tateando, corroendo o que não há e a tristeza me comove um pouco mais, como de quem não quer e projeto toda a vontade.

Nevoeiro e surge o que se é, sou. De horror e cheia de felicidade, emociono-me em um breve momento e paro. Vacilo e penso: quase outro dia, estou só. Não digo frustrada, estou somente só. Eis que refaço cheia de medo o meu novo dia em poucos minutos, estará. Contudo estou livre e de olhos abertos. Sinto lenta a solidão que se encaixa perfeitamente em meu vazio cerebral, no meu senil respiro. Balbucio movimentos; há palavras que não ouso dizer, e sendo memorável, estou no meio e vazia. Com todo o vazio, com toda a liberdade de se estar livre e com toda a angústia de se procurar eternamente. Sou eterna em procura e sobrevivo. Por alto estou nula, desagregada de um passado, e num presente-movimento que arranha meus segundos de felicidade; um segundo sim outro não. Transformo diante de qualquer reflexo, já não me sou tão com autoridade, me perdi no tempo vago das memórias e me confundo diante de todos os reflexos; faço um movimento para que eu me perceba como gente. Sou o quê? o que me restar, e é essa mesmo a pergunta? sou o que resta quando não se quer restar; quero a totalidade de tudo, a soma, o resultado de todas as metades e unidades perdidas. Meu corpo parece expelir por vontade minha alma e estou a vagar de corpo presente e trépido.

Encarno num momento inexistente; não o vivi. E uma pessoa, qualquer que me chame atenção prende-me, passo a tê-la como se eu me tivesse nela. Vivo então. Num espectro exorbitante de serenidade; estou viva e me coloco diante da platéia. Quero sacolejos - e sacolejo-me - e gritos, quaisquer que possam me estontear, pois estou viva e tenho vontades urgentíssimas. Agora quero lhe contar como é a soma de toda a loucura de beirada, como é que se vive nesses deslizes que matariam qualquer um: não se vive, deixa-se viver. E de repente vem a foice junto à face e rasga-me em um único golpe. Fui traída pela minha própria vontade e estou à representar, sempre que vivi, representei. E represento minha dor como senão existisse. E nas vezes que choro, estou à representar. E agora, enjaulo-me na minha real verdade. Estou só como nunca estive e o meu gerador é montante de vazios. Como se descreve o vazio? Difícil tarefa, estou entrando nessa perigosa realidade para lhe contar como tudo é tão vazio. E me dói, faz eco e grita, sinto um vazio quase demente. Entro no sossego que retroage para o começo, é a eternidade. O oco, o eco, o começo, o desespero, o começo que não tem fim. É assim quando se sente o vazio; existir sem existir, começar sem começar. E acaba por acreditar na eternidade, sentindo-a, pois ainda não começou, e a espera é cruelmente eterna.



Juliana Vallim





Dr

Grande demais, todas as coisas tornam-se grandes demais. Logo após, pequenas, contraindo e se expandindo numa medida incalculável de sensatez. Veste o mundo de razão, numa qualquer razão destrambelhada e assim, respira, enxerga, como de dentro para fora; noutras vezes, de fora para dentro. Uma batida de coração, um ar mais profundo vindo de um lugar além, uma dor que doía quando não sabíamos de nada. E sabíamos? Doía tão vagarosamente, naquele compasso manso, como uma longa espera na saleta do consultório médico... e doía tanto, de uma coisa infundada mas um pouco real, um medo além e no entanto, terreno.

Como pupilas na escuridão e as pálpebras que não se fecham. E tudo o que não se move. Vasculantes e tudo o que paira no ar de maneira amena, - estou nos segundos de ontem, que esperavam pela mesma coisa de hoje, e provavelmente nos segundos de amanhã que ainda estarão esperando por nada ou além - como se acontecesse, suspiro aliviada, porque a dor não chegou como nas outras manhãs. Não foi tão dor, mas também, não veio como pouca dor. Foi dosagem e medida, numa dessas tempestuosas sensações e... a dor! Não afirmo que essa dor seja a mesma de todos os dias, nem que a de todos os dias se repita exaustivamente, mas na somatória, no indivisível, dor colando em dor, em alguns dias, dor se anula com dor, noutros, o nulo se faz presente e adiciona um pouco mais de ruído, e doía como antes.

Se visse eu, como me vejo aqui, no passado, não iria doer. E no mesmo passado, não iria existir. Sou nascida de sensações irrisórias e claustrofóbicas, vindo de mim mesma, e nasço há cada dia, num canto diferente e num lugar qualquer. Se quisesse eu mesma, contraída numa razão sobre a existência; nada seria, e eu não existiria. Existo por instinto, e penso por conveniência, por tudo que sinto, há um primeiro passo antecessor que me faz aguilhão e coragem. E justamente nesses pedaços de tempos que não voltam nunca mais, me faço. Para refazer o que fiz no outro dia tem de haver um novo aguilhão e uma nova coragem, se demorar, fico aqui, estagnada - se vier depressa demais, não acompanho o desprendimento com totalidade. É que estou na busca da terrível aceitação e quando tudo passa, pareço um outro qualquer, já não sou quem eu era e nem imagino quem eu seja. Estou em um lado que não quis estar e estou, também, aqui; com o tempo que há de passar.





Juliana Vallim





domingo, 9 de outubro de 2011

A VERDADE E O PÁSSARO

O pássaro na gaiola

É a melhor figuração da verdade

Que enquanto está voando,

Ainda não é a verdade

E quando está na jaula,

Já não é o pássaro.





Igor Buys

MÉTODO

Estou a engendrar um método

Que é como um alçapão quebrado:

Deixa adentrar o pássaro,

Depois, sem perfídia,

O vê fugir a salvo.





Igor Buys

DA VERDADE COMO APROXIMAÇÃO E FUGA

Porque a verdade só pode ser flagrada

Enquanto se aproxima

E enquanto se esvoaça.

A verdade não tem meio:

Só princípio, e fim.





Igor Buys

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

"De que filho a senhora gosta mais?


- Do pequeno, até que cresça;

- Do ausente, até que volte;

- Do doente, até que sare."

(Provérbio Árabe)

Armadura Metálica

Eu tinha uma alma exposta

e todas as minhas fraquezas podiam ver.

Eu acreditei assim quem eu gostava

ia melhor me compreender.



Mas, se aproveitaram de mim

e MUDEI:



Vesti uma armadura metálica

e, ao meu redor, armei armadilhas

para me defender, pensando em me proteger.

Eu acreditei assim

que as feridas não iam me tocar,

não ver meu coração sangrar.



Então, pode vir! Não vai adiantar!

Há uma fortaleza para te impedir.

Pode vir! Você vai se ferrar!

Há armadilhas para te ferir.



E, lá, do alto da torre,

eu vi você se aproximar.

Eu avisei tantas vezes para não vir.

Eu avisei tantas vezes você vai se machucar,

não chegue tão perto assim!



Te esperei, vestido numa armadura metálica.

Você veio toda encoberta em sangue

e, de dedos tremidos, tocou sobre o frio metal

que cobria o meu rosto.



Sem palavras, olhou em meus olhos

e ENTÃO:



Veio a ruir, tudo modificar!

Caiu a fortaleza que construí.

Veio a ruir, tudo transformar!

Partiu-se a armadura que vesti.



Hoje, nós estamos juntos

com juras de não nos afastar.

Não preciso mais me armar,

você estará aqui, sempre aqui!



Zi

A LÓGICA DO LIBERALISMO COM LIMITES (HERM)ÉTICOS

Quem sabe que vale dez e vende por dez

é comunista.



Quem sabe que vale dez e vende por onze

é estúpido e bastardo.



Quem sabe que vale dez e vende por vinte

é competente: esse tem veia liberal.



Quem sabe que vale dez e vende por trinta

é igualitário, é a própria virtude capital!



Quem sabe que vale dez e vende por quarenta

é mais que gênio! é um símbolo sexual!



Quem sabe que vale dez e vende por cinqüenta:

— hippie, hippie, uha! é o novo Rockefeller!



Quem sabe que vale dez e vende por sessenta...

Espera, sessenta? Deixa conferir na tabela...



Ah, sim: quem vende por sessenta é criminoso.





Igor Buys
A Alfaiate




A minha alma estava

tentando sair do meu corpo,

mas haveria lugar melhor

do que aqui comigo?!



Eu não conseguia evitar.

Em vão, tentava me segurar!

A minha alma estava por um fio.

Prestes a ceder, escapar do meu ser.



Mas você deslizou os dedos por meu peito

e costurou as feridas que sangravam.

Mas você deslizou a língua por minha nuca

e selou meu espírito aqui dentro de novo.



Eu não conseguia evitar.

Em vão, tentava me segurar!

A minha alma estava por um fio.

Prestes a ceder, vazar do meu ser.



Mas você deslizou os olhos por minha mente

e costurou os pensamentos que sangravam.

Mas você deslizou os braços até minhas costas

e selou meu espírito aqui dentro de novo.



A minha alma estava

tentando sair do meu corpo.

Prestes a ceder, se livrar do meu ser.

Mas você lhe mostrou

que não há lugar melhor

do que aqui comigo,

do que aqui contigo!



Não há lugar melhor

do que aqui comigo,

do que aqui contigo!



by Zi
O Admirável Amor Novo




Traições, estupidez!!

Alguém me fez de tolo de novo!!!

Como um estúpido me passa pra trás,

me faz sentir ser grande idiota?!



Rosas fora do vaso, a aliança atirada,

a mão não retida, o bater da porta,

a casa solitária.



Rancores, insensatez.

Alguém me fez de tolo de novo!!!

Como um estúpido me passa pra trás,

me faz sentir ser grande idiota?!



O porta-retrato ao chão, a louça atirada,

a luz que pisca, o espelho que não reflete,

a alma em cacos.



Juras ao vento, já não sei o que fazer!!!

Pois o meu coração mesmo feito de bobo

ainda ama e bate feito louco

na chegada de um novo amor.

E o coração novamente se desprende

das correntes que o mantinham na dor.



Me ame, por favor!

Não me engane, por favor!

Me ame, por favor!

Não me engane, por favor!



Desesperos, morbidez.

Alguém me fez de tolo de novo!!!

Como um estúpido me passa pra trás,

me faz sentir ser grande idiota?!



O sangue já frio, a lágrima que escorre,

as mãos sobre a face, o corpo num canto,

um grito abafado.



Promessas em vão,

Ninguém mais brinca comigo,

jamais me entrego de novo,

não quero mais saber disso.



Juras ao vento, já não sei o que fazer!!!

Pois o meu coração mesmo feito de bobo

ainda ama e bate feito louco

na chegada de um novo amor.

E o coração novamente se desprende

das correntes que o mantinham na dor.



Me ame, por favor!

Não me engane, por favor!

Me ame, por favor!

Não me engane, por favor!



by Zi
Id




(Uma pessoa)

Não desejo nada de você

além da atenção de seus olhos.

Por isso, te sorrio tão indecente.

Por isso, me visto tão provocante.

E, por eles, entrar nos seus pensamentos

até chegar na parte mais profunda, obscura!!!

Estar na sua mente, no seu lado mais escuro...



(Outra pessoa)

É tão louco e tão insano!!

Meus olhos saltam do meu rosto

e vão até você.



E me vejo deslizando, indo fundo.

Com o meu olhar profundo,

faz tudo parecer tão... tão real.



Agora, nem consigo dormir.

Só de imaginar que posso

te ter no meu sono,

me sobe um caor.

Me incendeia um calor

que nem sei de onde vem.

Com tanto fogo, aqui, dentro de mim,

pregar os olhos eu nem consigo...



(Uma pessoa)

Não desejo nada de você

além da atenção de seus olhos.

Por isso, te pisco tão obscenamente.

Por isso, me movo tão imoralmente.

E, por eles, estar dentro da sua mente,

no seu lado mais escuro e ascender uma chama!!!

Ser o incendiário dos seus pensamentos.



(outra pessoa)

É tão estranho e enlouquecedor!!

Meus olhos saltam do meu rosto

e vão até você.



E me vejo descendo e subindo.

Com o meu olhar profundo,

faz tudo parecer tão... tão real.



Agora, nem consigo dormir.

Só de imaginar que posso

te ter no meu sono,

me sobe um caor.

Me incendeia um calor

que nem sei de onde vem.

Com tanto fogo, aqui, dentro de mim,

pregar os olhos eu nem consigo...



(Outra pessoa)

Eu desejo estar no seu lado mais escuro

e ser na sua mente um incendiário,

aquele que incendeia os seus pensamentos.



 Zi

sábado, 1 de outubro de 2011

ISTO É A TARDE:

LUZ

que um Anjo azul executa

num violoncelo amarelo



CHOQUE

do olfato contra um perfume

lírio gramado eucalipto



FUGA

desta rotina de estudo

ou do afã do trabalho

à carruagem de nuvens

longa



lenta

lilás



Adriano Wintter
fonte: Alias




Adriano Wintter nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foi um dos vencedores do Festival de Música, Poesia e Conto de Paranavaí (Femup 2010), com o poema "Os átilas". Permanece inédito em livro. Edita o blogue Ars Poetica - AW (http://adrianowintter.wordpress.com/)
.

SÍSIFO

tenho pena das belezas sem poetas

que jamais conhecerão a poesia



por isso rolo essa pedra da manhã, da árvore

do jardim e do lago ainda sem verso

neste poema ambicioso, generoso, repleto

(e no entanto – ainda e sempre – incompleto)

forço alma, fêmur, bíceps – ofego!

empurro, literalmente

o globo glorioso

de todo universo

(mais

o que almejo e imagino)

pela encosta vertical, quilométrica

até o cimo

mas lá, força acabada

tão logo ergo minha mão contusa

para enxugar-me das rimas sanguíneas

contemplo a forma cair de seu clímax

ofício nulo, de volta ao nada!

volto: e na planície

novamente comovido

retomo meu estético destino


Adriano Wintter
fonte: Alias
FLUXOS RUBROS




primeiro foi a manhã

ruiva leoa:

patas de tulipas

e rugidos de papoulas



depois o fogo

artéria de hélio

glóbulos celsius

irrigando a terra



por fim: o crepúsculo

portal de rubis

entre astros que nascem

e azuis

que desintegram


Adriano Wintter
fonte: Alias
REVELAÇÃO




a natureza ao sol

ou após

a chuva

BRILHA

e o olho

lírico

a fotografa

então

o poeta

começa

na câmara secreta

do alfabeto

o químico

processo

de revelá-la

em verso

algo

que pode

ser breve

ou

ocupá-lo

por décadas

BUSCANDO

a

forma pela qual

a

beleza natural

se faça

clara

também nas palavras

às vezes

consegue

- momento

alegre -

e na celulose

da página

(branca metáfora

da ALMA)

para sempre

a inscreve



Adriano Wintter
fonte: Alias

Por que fuzis e canhões, metralhadoras ou explosões?

Tire-se o homem do abismo

de seu bélico tropismo.

Mude-se o ódio na fala

que, envergonhada, se cala.

Que o crime não aconteça

e a causa desapareça.

Que a mão não pegue na arma.

Não passe a ira do alarma.

Não se plante sofrimento

onde, do amor, não é o momento.

Cantem os pássaros na alma

de quem sua fúria acalma.

Brotem fontes na erma terra

em que a solidão se encerra.

Que o choro e o ranger de dentes

sejam, da paz, as sementes.

E a noite envolva em seu manto,

do amor, o gesto e o canto.

Reynaldo Valinho Alvarez

Carioca, escritor, autor de Corta a noite um gemido.
DA COR DA CANELA


"O que é que a baiana tem?"

Ah! Tem desejos inconfessos

bem temperados com molho e remelexo,

como as contas no pescoço

que balançam como a renda da saia.

A vida passa

entremeada de sonhos e Bem-Amados.

Em sua terra apimentada

ou no batuque do Olodum

traz a África sem tristezas ou carências.

Embaladas pela beleza da morena cor de canela,

que deixa que a lavagem do Bonfim

limpe sua alma,

alimente seu sorriso

e leve para bem longe

o preconceito,

a luta,

a vida de puta.

Ave Maria

Sarava Oxum

Juçara Valverde

Gaúcha, artista plástica, médica, autora de

Brechas da vida em linguagem cifrada.
fonte: poesia viva 44

DA POESIA

o canto do pássaro

à procura do vento

não

a promessa de amor

nas faces da lua

não

o medo do mundo

em cima do muro

não

o malabarista

na corda-bamba

não

o olho do tigre

exato certeiro

preciso

o olho do tigre

sim

Tanussi Cardoso

Carioca, poeta, autor de

Do aprendizado do ar

(Del aprendizaje del aire).

PELE DE CORDEIRO

O inimigo

não usa mais botinas

nem carrega nas mãos

longos cassetetes.

O inimigo

agora pede licença

escondido

na pele de cordeiro.

O inimigo

não tem mais patente

vive transparente

ruminando tramas.

Ele é sombra.

Ele é vulto.

Não tem mais nome.

E o armazém da vida

continua vendendo

quilos e mais quilos

de pedaços de fome.

Amigo, me responde?

Corro ou não corro perigo?

Quem é o nosso inimigo?

Julinho Terra

Carioca, escritor, autor de

Tenho em mim um candeeiro.

VOCAÇÃO

Sou o mago das coisas mínimas, rasteiras,

Tão dóceis e lindas em sua aparência inútil,

Como os restos sem valor ou função, besteiras,

– A real ligação do aparente inconsútil –.

Como o mistério do musgo à sombra entre os tacos,

Como as minúcias de algarismos e de letras,

Desvendo luz no que é considerado opaco,

Enxergo o que revela o lixo, o gueto, as gretas,

Herdo, solidário, o abandono a elas votado,

Cumpro a solitária função de me importar

Com as sobras, o que não deve ser amado

Porque seja sujo, feio, fraco ou sem lar.

Busco, suicida, o sublime no desprezado

Pois creio na ubiquidade do verbo amar.

Eduardo Tornaghi

Carioca, ator, autor de Matéria de rascunho.

VERÃO

o dia arcífero

com dardos canoros

tende o fio do horizonte

e fere o ar de amarelos

revoada de alvos: alvorecer

setas explodem nos pátios

no peito crespo dos pássaros

filetes lentos de chamas

atravessam venezianas

ruas são Romas

raios são Neros

com a carne em labaredas

debate-se a natureza

a vida, sob chagas centígradas

num ruivo uivo agoniza

e tomba no túmulo

noturno

para amanhã

fenixmente

ressurgir das cinzas

Adriano Wintter

Gaúcho, poeta, autor de poemas publicados em Antologias.

O VASO DE MURANO




Sobre a velha mesa, na sala de jantar, faísca o vaso de Murano.

Meu pai, orgulhoso da compra, fala do cristal em fusão, do forno em brasa, do sopro, do saber do artesão.

O brilho intenso me fascina. Mantenho meus irmãos à distância. (Tanto medo que quebrassem o vaso da minha infância. Tanto medo que se partisse o encanto.)

No cuidado de menino, soldadinhos de chumbo vigiam e marcham pelo piso de tábua corrida.

Hoje, antiga toalha de linho branco recobre em silêncio a mesa vazia.

Augusto Sérgio Bastos Carioca, escritor, autor de À luz da estante

NOITES LONGAS

O pranto explode alcalino

escorrendo como um

O vulcão que estala em lágrimas

, desabafa suas inquietudes

há tanto efervescentes

Em festa irrompe o dia

, cujo esplendor de luz

se apercebe pelo contraste da sombra

no caule da jaqueira

Da janela de onde tudo se vê

, ouve-se o gorjeio do pássaro

que hora parece o sibilar da serpente

atravessando o vidro

para nadar nas águas cujo mel

já se mistura com o suor da labuta

De resto é a vida que segue

E amanhã será outra noite.



Telma da Costa

Paulista, cantora, atriz, autora

de Além do horizonte.

APRENDIZAGEM

Luzidia a mão

que aprendia o gesto

e seus recôncavos.

O recôndito gesto que era passo,

passava sim na mão e ia

abrindo espaço na compreensão

daquele dito gesto que aprendia.

Apreendia o movimento dos sentidos

para sempre

força e afeto, aceno

e ira, cura e palavra,

seta e desenlace,

criação.



Sergio Fonta

Carioca, dramaturgo, ator, escritor,

autor de Rubens Corrêa (biografia).

Entrevista com Igor Fagundes (Poeta, professor, ensaísta, ator, jornalista)

POESIA VIVA Nº 44




Você vê, nos dias de hoje, a poesia digital concorrer com a poesia oral e escrita?

Vejo, nos dias de hoje e ontem, o ímpeto viciado da classificação a concorrer com a poesia, como se bastasse uma adjetivação, um atributo, para dar conta do que, substantivamente, segue na maioria das vezes impensado ou escamoteado por algum discurso retórico. Não basta falarmos em poesia digital, poesia oral, poesia escrita, se não houver, sempre e primeiramente, poesia. As classificações até podem importar sociológica e/ou antropologicamente; podem até conspirar em favor de alguma historiografia estética ou estilística, mas o pensamento substantivo, o pensamento do próprio da poesia, é sempre mais radical. A questão não me parece ter que seguir as modas e os modos tecnocráticos de produção poética, de tal maneira que pareça anacrônico o poeta que, no século XXI, ainda insista no poema, ignorando os bytes e pixels dos recursos atuais. O poeta não é obrigado a nada, a não ser a fazer poesia (ou, antes, ser feito por ela) Se, outrora, a forma fixa foi considerada ultrapassada pelo verso livre, em muitas discussões da moda parece pouco pop celebrar o verso: não só porque os hibridismos de toda espécie urgem atraentes (nas variações da prosa poética e do poema em prosa – novidade nenhuma na História, porque desde sempre existentes, embora sem a nomenclatura epistemológica). Difunde-se, muitas vezes, uma tendência à poesia performática, ao vídeo-poesia, ao poema-dança etc., como se alternativa e diversidade de produção significassem uma possível superação da poesia de papel e, principalmente, do livro impresso. Eu sei que, em tese, os palpiteiros alegam a não-superação e a importância da pluralidade, porque a praxe é, afinal, apelar para o discurso da democracia, da convivência harmoniosa. Mas isso me lembra o mito da cordialidade entre negros e brancos, no qual todo conflito e desequilíbrio se ocultariam na fala festiva da miscigenação.





O que significa a poesia em sua vida?

Para responder, eu precisaria saber o que vida significa. Como não sei, escrevo. E descubro, de repente, que vida faz sentido.





A experiência de publicar poesia é prazerosa?

Se eu disser que não é, mentirei, porque fomos e somos educados a valorizar o ego e este, se não quiser o rótulo do sado-masoquismo, terá de esforçar-se para ser feliz. No entanto, felicidade não é prazer: o hedonismo me parece um tanto circunstancial, parcial, frívolo e, uma vez mais, egoico. É pouco para justificar a publicação (mas, como nos agrada lançar mão do pouco, vale como justificativa, mesmo que seja uma justificativa vagabunda, e mesmo que sejamos nós os vagabundos sem vergonha de publicar qualquer vagabundagem). A felicidade é mais radical: perfaz-se no pleno, na completude, na doação e, como tal, não prescinde da experiência da morte, agora mesmo, aqui mesmo: já. Não houvesse o morrer, não faríamos da felicidade o sentido de toda uma vida, porque ser feliz é, de fato, se fazer infinito enquanto finito. Publicar tem muito que ver com essa promessa não cumprida de felicidade, com essa espera ou esperança, e logo, essa procura pela eternidade prenhe de despedidas que é o instante, ou seja, pelo memorável, pelo memorar, pelo comemorar disto que, vindo a ser (presente), imediatamente deixa de ser (torna-se esquecimento). Na publicação, o ego não é tudo: é quase nada. Fosse realmente tudo, já teria deixado de ser ego. Mas, publicada, a poesia nos dá a sensação de que ela é tudo para a gente, não é mesmo? Imensa, sem-limites, ainda que nos limites de um livro. Ou seja: a poesia se torna de todos e de ninguém. A poesia aparece anônima. E deixa o silêncio aparecer. É ele que comemoramos. Só alguém ou algo pode ser prazeroso ou não-prazeroso. O silêncio, para aquém e para além do dito e do que se diz, não se predica. Está em aberto. Chama-se: o aberto. E o aberto também tem este nome: abismo.

Como você se descobriu poeta?

Não alfabetizado, desenhava bonecos e lhes concedia histórias, contando-as à minha mãe. Mais tarde, a brincadeira virou novela. Todo dia, no mesmo horário, reunia-me com eles para mais um capítulo. Criava, inclusive, trilha sonora para cada personagem. De repente, dei para brincar de canto, dança, teatro. Ficava na calçada de casa, exibindo-me. Arrisquei os primeiros versos por volta dos nove anos e, ironicamente, escrevia-os no verso das provas da escola primária. Dois anos depois, após assistir a um filme, e ainda sem máquina datilográfica nem computador, parti a tecer enredos à mão. A partir daí, fizeram-se compulsivos os manuscritos. Antes de poeta, pensei-me novelista, roteirista, dramaturgo e romancista. Tive pouquíssimas aulas de literatura no colégio, porque, por razões adversas, migrei ao ensino técnico em Química, com uma grade curricular eminentemente tecnológica. Ali, nas ligações de carbonos e hidrogênios, estava o poético. Muito antes de tornado refém dos formalismos textuais e estilos de época ensinados pela teoria literária. E eu fui descobrindo aos poucos a poesia do ácido, da base, do sal.





Impregnar-se de experiências ou, ainda, ser continuamente alimentado pelos próprios poetas. Para que lado você mais se inclina?

Alimentar-se dos poetas é impregnar-se de experiência. Senão, terão sido só livros, dentro dos quais não nos teremos feito livres para ser o que lemos. Não teremos sentido seu gosto, nem aproveitado seus nutrientes, nem sentido as náuseas da má digestão, nem jogado fora os excessos. Por sinal, sabor e saber participam da mesma raiz etimológica. Mas conhecimento e sabedoria não dizem a mesma coisa. Saber é ser o que se conhece! Quando não culminam em experiência, em saber, as obras dos poetas são, no máximo, conhecimento. Permanecem objetos na estante ou na extensa lista das referências bibliográficas, sem que, contudo, se tenham misturado conosco, culminando no que nós mesmos somos após a metabolização. Assim também acontece na vida fora dos livros: se algo ou alguém for capaz de mexer conosco, de transformar-nos, de fazer-nos nascer, de criar-nos, terá sido um poeta na gente, um poeta da gente. Daí que me alimento dos poetas da feira, dos poetas que há dentro do fruto, da verdura, do legume; dos poetas do supermercado, dos poetas-jornaleiros e daqueles não-vistos ou invisíveis dentro das revistas. Participam de mim os poetas da praia, os poetas da serra, os poetas do hospital, quartel e igreja. Participam de mim até os falsos poetas: os que ensinam a escrita que eu não devo cometer. Tudo são livros à espera de leitura, escuta e fala. O átomo, em si, é a grande obra poética que a ciência não acabou nem acabará de ler. A poesia – um dos nomes para a Vida da vida – só acontece mesmo na experiência: seja do que for, com o que for, com quem for, quando, onde e como for.





No trabalho poético você se refere à poesia como construção. Seria um modo de perceber o processo criativo ?

A técnica não é tudo, mas, sem ela, não há nada. Só não devemos permitir que se reduza a um meio para chegar a um lugar já sabido desde o ponto de partida. A palavra grega para arte, techné, antes das apropriações retóricas e das sistematizações filosóficas, queria dizer um caminho de desabrochamento, de desvelo. Não um caminho sempre igual, mas o mesmo se desdobrando em vários, diferentes, irrepetíveis. Originariamente, a techné compreende a travessia do, no, pelo, entre e com o poético da physis, ou seja, da vida originária de tudo. Só depois, com a sobreposição do pensamento epistemológico sobre o ontológico, a tornar a poesia e o mito objetos de um sujeito, chegamos à acepção operativa e instrumental – a techné como travessia da, na, pela, entre e com a razão. Quando falo em "pensamento ontológico", refiro-me ao que a caminhada poética tem de consumação do ser no humano. Techné é, sempre e primeiramente, a peregrinação e/ou procura deste humano no ser. É por conta disso que o programa de mestrado e doutorado em Poética, na UFRJ, do qual provenho, tem por interesse não a poesia como forma ou gênero literário e, sim, como a dinâmica originária de humanização do homem, desdobrável em diversas possibilidades de manifestação e pensamento. Referir-se à poesia como construção significa, assim, não restringi-la ao texto, a menos que, na palavra "texto", se leia tecido, trama, pele, corpo – a nossa casa, o nosso habitat imediato, a partir do qual vida-poesia se constrói e se desconstrói a todo momento. A palavra ética vem daí. Ethos, em grego, quer dizer "morada". Desse modo, não é por moralidade ou imoralidade literárias – e, sim, por uma ética da poesia de cada poema, por uma ecologia de cada um ("eco" vem de oika: casa), por uma aprendizagem de sua habitação e construção – que opto ora pela forma fixa, ora pelo verso livre, ora pelo livre de verso. Há uma terceira margem entre tradição e traição, entre inspiração e transpiração, entre vigor e rigor, que me interessa mais. É na encruzilhada que os caminhos se abrem. É na encruzilhada que nos abrimos aos caminhos.

As vozes de ator, de jornalista, de poeta seguem linguagens diferentes?

Confesso-me atualmente surdo à voz do jornalista, na verdade emudecida em 2008, quando "me aposentei" precocemente como repórter. Ainda que publique resenhas em jornais, meus artigos não obedecem a nenhuma "regra" do jornalismo. Defendo uma escrita em que – seja reportando, seja resenhando – a palavra não seja instrumental. Se, ao comentar um livro, este não me permitir o desenvolvimento de uma crítica realmente literária (feita pelo literário), não emitirei juízo. Tenho que ser pego pela poesia na hora de ensaiar uma resenha; do contrário, serei só retórico. E mentiroso. O poema pode ser ajuizável, mas a poesia acontece ou não acontece. Se não aconteceu, como comentar o que sequer foi vivido? Acabarei comentando apenas de que forma determinado livro se adéqua ou não às formas e às fôrmas de alguma verdade teórica. Assim, abstenho-me de qualquer crítica que só se ocupe de – sadicamente – derrubar um pobre coitado que jamais esteve, algum dia, de pé. Quanto ao ator, este se encontra sempre por perto, por dentro. De fato, escrever é uma experiência corporal. Sentado no computador, meu corpo se contrai, sente dor, goza: é real. Dizer o poema oralmente é também atravessar a poesia em toda sua inteireza. Mesmo cotidianamente, quando penso e falo, transpiro, expiro, inspiro, suspiro, sorrio, suspendo as sobrancelhas, arregalo os olhos, arrepio-me com coisas que me descobrem na hora em que penso descobri-las. Ao lecionar, esse pensamento-corpoemoção faz acontecer o professor-poeta como aluno-ator.





Que tempo pesa mais em sua obra: ontem foi Sete mil tijolos e uma parede inacabada, hoje Zero ponto zero. E amanhã?

Embora publicado em 2010, zero ponto zero foi escrito em 2007 e, cronologicamente, também pertenceria ao "ontem" caso não perfizesse, junto com Sete mil tijolos e uma parede inacabada, de 2004, o meu presente. Eu sou todos esses anos e mais aqueles que, não vividos ainda, já se cumprem como possibilidade. O que pouca gente sabe é que escrevo mais ensaio e filosofia, sendo bastante bissexto na escrita de poemas. Mas, quando começo a arriscar algum, vem uma porção, um atrás do outro, como costura de um livro que nasce de uma ideia regente, de um lead para cada texto-tecido. Processo semelhante está a ocorrer agora, quando começo um poemário novo, dentro da mesma motivação: um tema se desdobra em vários fios e cada linha, afiada e desafiante, corresponderá ao mesmo apelo dos vãos, das aberturas da rede. Enquanto essa trama não se arremata, editam-se duas outras com data de publicação prevista para o segundo semestre de 2011. Dois livros ensaísticos, de cunho filosófico e que articulam as questões da arte, da religião, do mito e da ciência como experiências do sagrado. Detenho-me numa revisão das interpretações das narrativas bíblicas, dos mitos gregos e principalmente dos iorubanos, buscando, na leitura, uma libertação dos paradigmas tendenciosos da metafísica ocidental, nos quais – mesmo sem saber (e é isso que pretendo mostrar) – a própria antropologia e sociologia ainda se baseariam. Trata-se de um encaminhamento acerca da identidade e diferença pouco visitado pelo culturalismo.





O poeta, ora rodeado de muitos amigos, ora muito solitário. Essa oscilação é a própria vida?

Quer queiramos, quer não, o lançamento radical nas questões do homem nos obriga a um recolhimento. O falatório, a tagarelice, a gagueira da pressa impede uma intimidade maior com o silêncio dos pedestres, dos passageiros de ônibus, dos motoristas. Sem a escuta desse silêncio, saturamo-nos de clichês e turvamos os olhos do pensamento. Sozinhos, temos a chance de – no distanciamento– aproximarmo-nos mais e melhor do que nos espanta e de viver o espanto. Temos a chance de caminhar pelos nossos asfaltos, esquinas, cruzamentos, sinais de trânsito, atropelamentos, buzinas e revelarmo-nos construídos por infindas pessoas, lugares, vazios. Meus amigos, meus parentes, meus conhecidos e meus desconhecidos rodeiam-me a memória enquanto penso e escrevo. Por outro lado, quando supostamente junto deles, em mesa de bar, em festa, ou no trabalho, (a)parecemos todos, não raro, tão sós. Não atentamos para o elo que nos consagra amantes e amados pelo mistério que nos une. Não atentamos para a solidão do instante, este que nos pega no colo para que comunguemos com tudo. Se atentamos, corremos para o sozinho e algo escrevemos, nem que seja na mente-coração, nem que seja lavando as mãos na pia. Mas, deixada de lado a largura de um já, não nos estreitamos para agradecer o agora, para agradecer ao agora. O pensamento autêntico habita esses (hi)atos. Nele, não há antagonismo entre comunhão e solidão.

O Que é Que Mora em Tua Boca Bia?

um deus um anjo

ou muitos dentes claros

como os olhos do diabo

e uma estrela como guia?



arturgomes

http://goytacity.blogspot.com/
Jura Secreta 92




quero tudo que em teu corpo grita

silêncio onde a palavra é gozo

a lua em tua pele espelha

aquilo que tu’alma aflita

reclama por inda não ter repouso



Artur Gomes

http://poeticasfulinaimicas.blogspot.com/

Fulinaimagem

o que trago embaixo as solas dos sapatos

é fato

bagana acesa sobra do cigarro

é sarro

dentro do carro ainda ouço Jimmi Hendrix

quando quero

dancei bolero

sampleAndo rock and roll

pra colher lírios há que se por o pé na lama

a seda pura é foto síntese do papel

tem flor de lótus nos bordéis Copacabana

procuro um mix da guitarra de Santanna

com os espinhos da Rosa de Noel



Artur Gomes

http://goytacity.blogspot.com/
o amor não é apenas um nome


que anda por sobre a pele

um dia falo letra por letra

no outro calo fome por fome

é que a flor da tua pele

consome a pele do meu nome



Artur Gomes

http://artur-gomes.blogspot.com/

LIQUIDEZ DA PALAVRA MIGA

ELÉTRONSNA DANÇA INQUIETA

DO ESPAÇO

ALTERAM

A SUBSTÂNCIA

ENCANTADA

DO SUBSTANTIVO

AMIGA



ÁTOMOS DE ARESTAS IMPRECISAS

PROCURAM

ESSÊNCIA DE HUMUS

NOS PLEXOS

HUMANOS

DA PALAVRA

M I G A





DESATINO

DE PARTÍCULAS

DECANTAM

ANEXOS DE VIDA

NAS MARGENS

ÁRIDAS

DA PALAVRA

INIMIGA

NO CENTRO E NOS

EXTREMOS

DA PRÓPRIA

LIRA

M I G A



NÂO SABE

SE RIMA MILAGRE

DE PRECES

OU APARECE NOVA

COMO PEDRA

LAVADA

NA CORRENTEZA

VIVA

QUE DIGAM EM VERDADE

- SÁBIOS E POETAS -

OU MESMO

DIGAM EM MENTIRA

NEUTRONS DE

TODOS OS DIAS



MIGA

PODE SER

AMIGA?

OU PODE VIRAR



INIMIGA?





IMPERMANENTE

IG

FLUINDO

NO CENTRO DO

ENIGMA



INSEPARÁVEISFOTONS

ILUMINANDO

CANTOS DE PREFIXOS

E OUTROS ANEXOS



QUE EM CASO DE

CIRCUNSTÂNCIA

IMPREVISTAPELO SIM,

PELO NÃO,

PELO QUASE, PELO ENTANTO

SEJAM GUARDADOS

CONTORNOS DA PALAVRA

MIGA



ENQUANTO NAVEGO

ONDAS DE PESCA

OU DE PESQUISA

NO MIRANTE DOS

MARADIGMAS.



Gloria Kirinus

antônimos

Fazia muito tempo. Muito tempo eu não desesperava com o silêncio. Com o ranger da sola comida do All Star. Com o telefone mudo e meu sacrifício de levantar da cama e estacar diante da janela. Era inexpressivo o barulho daquele buraco que crescia em mim e eu ainda sentia medo dessas coisas que crescem no meio do deserto. Ainda me preocupava, mesmo que despretensiosamente, se meu gosto te agradaria e fazia muito mais tempo que a insegurança me fazia escolher o casco, as ranhuras, o perigo e quem sabe, o pior de todas as coisas. Agia mesmo assim, com um nó no peito, escorregadia pelas escadas dos butecos, caindo pelas tamancas, de esquina em esquina, ainda criando coragem pra balbuciar a vontade do querer.

Se você me ligasse – pensava – não atenderia. Não queria. Não quero. Planejava fuga observando aqueles telhados em horas de ausência extrema. Porque havia um limite, alguma coisa que era feita de fluxo-refluxo, e nesse ameno amargo alguma coisa ficava do lado de fora, palavras, expressões, interiores, conchas, cobertas, cama, tudo que nunca habitei. Não ligava.

Sorria toda irônica. Vagava pela cidade imunda, feito zumbi. Lembrava da síntese daquelas palavras malditas, do cheiro das tralhas na despedida, e mesa posta, tomava um gole de café. Concluía que toda frivolidade era uma ameaça e desconfiava, fazendo caras e bocas, da sua exclamação. Das tuas exclamações que eu não sabia (mesmo) se pendiam pra moça dali ou pra moça daqui.

Alguma coisa não sabida, doía. Minha vergonha ricocheteava miseravelmente toda vez que voltava pra casa. Percebia que possuía uma grande dificuldade de estabelecer um clima estável entre nós, que não existimos. Nós. E enquanto você expandia, tudo em mim só tinha a covardia de contrair. Corria atrás de uma aspirina e toda vez que voltava: você me seduzia. Caia, sentia preguiça, sentia vontade de exercer minha vontade, me iludia, desistia e gargalhava mesmo rolando barranco abaixo.

Conformada com a ideia de nunca entender, aceitava. Pensava em nunca mais atirar pratos nas paredes ou colocar tudo em pratos limpos. Puro mau gosto. Por puro desgosto eu inventava de racionalizar e racionar minha paixão por simples incapacidade de lidar com. Que não é O Outro.

Juliana Vallim