terça-feira, 31 de agosto de 2010

A CARGA

Uma rua me conduzia até o porto.

E eu era a rua com as suas janelas dilaceradas

e o sol despositado na areia materna.

Eu levava para a beira do mar tudo o que surgia

à minha passagem: portas, rostos, vozes, colônias de cupim

e réstias de cebola que amadureciam na sombra

dos armazéns próvidos. E sacos de açúcar. E as chuvas

que haviam enegrecido os telhados das casas.

Era um dia de dádivas. Nada estava perdido.

As ondas celebravam a beleza do mundo.

A terra ostentava a promessa da vida.

E eu despositava a minha leve carga

nos porões dos navios enferrujados.


© 2000, Lêdo Ivo

From: O rumor da noite

Publisher: Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2000

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

sábado, 28 de agosto de 2010

Pompéia-eternizados pelas cinzas

Una donna a quindici anni

Una donna a quindici anni

Dèe saper ogni gran moda,

Dove il diavolo ha la coda,

Cosa è bene e mal cos’è.

Dèe saper le maliziette

Che innamorano gli amanti,

Finger riso, finger pianti,

Inventar i bei perché.

Dèe in un momento

Dar retta a cento;

Colle pupille

Parlar con mille;

Dar speme a tutti,

Sien belli o brutti;

Saper nascondersi

Senza confondersi;

Senza arrossire

Saper mentire;

E, qual regina

Dall’alto soglio,

Col «posso e voglio»

Farsi ubbidir.

(fra sé)

Par ch’abbian gusto

Di tal dottrina.

Viva Despina

Che sa servir!

Cosi Fan Tutte Una donna a 15 anni

Narciso Yepes - Recuerdos de la Alhambra

Relatividade

Se você não está por perto,

enfurece o próprio tempo

e o relógio, em protesto,

entra em greve: gira

l e n t o

Allan Vidigal

http://allanvidigal.blogspot.com/
"em toda parte o dia deixa seus restos


mas eu não tenho mais pulsos

para tantas giletes"

Geraldo de Barros

http://semcatraca.blogspot.com/

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Toque-me

Toque baião, toque frevo,

toque rock, toque rumba,

mas não toque nesse assunto

toque tudo sempre assim

só não toque nesse assunto

e nunca toque no fim

toque paixão, toque samba,

toque funk, toque mambo

toque só porque eu mando

toque o mundo, toque fundo

eu quero que você se toque

em cada parte de mim.

Alice Ruiz

domingo, 22 de agosto de 2010

Elegia ao relojoeiro

(a meu pai)






Pontuou alfas



em contrapontos



do ômega









e das mãos



se condestinavam



sinais da memória



(interlúdios de alguém)









Tormentos e



legendas



tocaram



salvara a expectativa



ressalvara talvez



um sonhador.









Não vingava o intento,



artíficie da hora e



do momento.



Milionésimo, centésimo ou segundo



préstimos de algum anseio,



cantara em fornituras:



a solitude



e coligia o ponto



de um próximo amanhã,



compasso do ontem a circular



o átimo de ânsias e pendores



filigranas de minuto a minuto



arrematara o segundo.









Os cilindros enxergavam,



o labor



aprisionava...



mas o tempo lhe foi súdito,



ao menos na tua mesa.









Espiral de arcanos que se anseiam



destros olhos em miríades



n'algum presto acontecimento



esteve assim a perfilhar



legendas do que se espera



por isso,



te chamaram de relojoeiro.


Tullio Stefano
http://www.poeteias.blogspot.com/

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Russian Animation - Alter Ego (Based on Rembrandt's works)

ora, não me querias distante?


pois toma, agora,

mais um trago de ausência

já que, da minha permanência,

nada valeu, nem foi o bastante.

Lúcia Gönczy

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Nina Simone - Evr'y time we say goodbye

Informes Aedos

aproveito para divulgar um trabalho premiado, aqui de Curitiba, no qual eu tive o prazer de trabalhar na produção.




Abraços,



Celeste Fernandez



De: contato - Parabolé [mailto:contato@parabole.com.br]

Enviada em: quarta-feira, 18 de agosto de 2010 11:04

Para: 'Parabolé Educação e Cultura'

Assunto: Documentário Brincantes - Menção Honrosa Prêmio Pierre Verger 2010



Caros,



É um orgulho comunicar que o filme Brincantes foi agraciado com a Menção Honrosa pela Associação Brasileira de Antropologia.

O filme Brincantes (Nélio Spréa e Elisandro Dalcin 25’, 2010) participou do VIII Concurso Pierre Verger de Vídeo Etnográfico de 2010, realizado em Belém-PA, durante a 27ª Reunião Brasileira de Antropologia, com o tema geral “Brasil Plural: Conhecimentos, Saberes Tradicionais e Direitos à Diversidade”.



O DVD + Livro pode ser adquirido pelo telefone +55 (41)30 27 58 21 e através do e-mail: contato@parabole.com.br



O filme Brincantes pode ser visualizado aqui http://www.vimeo.com/8441960 (senha: chocopito).

Saudações,

Equipe Parabolé

http://www.parabole.com.br/

+55 (41)30 27 58 21



A pesquisa que deu origem ao Filme e livreto foi financiada pelo Fundo Municipal da Cultura, através do Edital nº 053/08 – Identificação e Registro do Patrimônio Imaterial - Fundação Cultural de Curitiba.

Informes Aedos

Convite


Lançamento do livro - Constelação de Ossos

Quando? - Qua, 1º de Setembro, 19:00 –

Onde? - Palavraria - Livros & Cafés - Rua Vasco da Gama, 165 - Porto Alegre

Quem? - Bárbara Lia



"Estrutura ficcional elaborada, em que os capítulos se sucedem em corrente límpida,

revelando com simplicidade e magia a história de vida da personagem, desdobrando-

se em uma continuidade fluida provocadora de uma leitura ávida e prazerosa.

Prosa poética plena de sonoridades e metáforas ora líricas e encantadoras,

ora duras e valorosas.

Bárbara Lia disseca um feminino sofrido - ótica da narradora – que permeia o texto,

de sensibilidades e delicadezas, violências e mágoas."

Constelação de Ossos

Bárbara Lia

(livro que abre a coleção Anáguas da ed. Vidráguas

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Canto Inflado

Amor é noite que te canto

Mas o que é noite?

É quando afoito treme na

Janela: não ser teu corpo.





Amor já te pensei estrela

Nuvem, roçar de terra

Amo-te muito e pouco

E o que me tem absorto

É olhar-te ao não ver-te

Sendo o dito o pensado

E o sentir o do abandono.





Não queria amor cantar

Nem adeus nem saudade

Nem nada





O entreabrir de tua voz

Aveludada ao beijar-me

É o sonho dessa tarde.





Como sonho, como adianto,

Um relógio que não anda.

Vivo tudo e nada

Esse suar tua falta tenta estancar.





O alarido das nuvens áridas

São flores perfumes só das tuas

Maçãs do rosto e olhares

Naufragar em ti é levitar.





Julio Almada
do Livro Hora Tenaz

De Cores e Flores

São de raízes que transbordam de um espaço ao outro, tramadas.


Como se fosse flor, como se fosse dor.

Do pé à planta, cores que coram segredos.



Como são as flores da sua rua?

E como se o tempo fosse inércia, as flores se abrem em direção ao sol, em direção à lua e à todos os astros.

São flores de todas as suas cores – ele sussurra.



Caminhar por essas ruas é pisar em orvalho, o suor do êxtase.

Primavera: explosão

assim como um sonho seu em cada tom da paleta.



Samantha Abreu
http://www.samanthaabreu.blogspot.com/
"sem que isso


te diga nada"

o que transpiro

já não é suor nem mágoa

é só água salgada

gotejando do meu peito

Lúcia Gönczy

http://luciagonczy.blogspot.com/

domingo, 8 de agosto de 2010

Piegas como le gusta

deixou-se envolver


pela prenda mais faceira



agora é tarde...



não adianta querer

tapar o sul com a peneira





RAUL POUGH
já não conto.


há tempo que horas

são segundos

meses - dias

também não falo alegrias

minhas tolices são

todas pueris

ainda gosto de brincar

com a boneca que

existe em mim

mesmo que

deslizem as pedras

e a vida

nem sempre tenha

as matizes que colori



ainda assim

eu cuido de ser feliz

Versos Levianos

Sou o teu rio de mágoas
De lua cheia me inundo
E morro nas águas rasas
De um oceano profundo.


Colho flores numerosas
Da pedra da minha vida
E sei das tolas mimosas
De alguma rosa suicida.



No escombro da poesia
Há ninhos e andorinhas
E o chão da erva esguia
Por onde nua caminhas.


No jardim de sepulturas
Há as juras que nem fiz
Dos afetos e as ternuras
Que me deixaram feliz.



Afonso Estebanez

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Consume Hasta Morir

Se ferve a alma do poeta


pranteado lhe é o riso

um calhamaço se apinha no arauto

da voz que quer te ouvir

e de ti não se basta

lavras a dor com prazer

pois a musa é a música

menestrel na curva ou no embate

ao semáforo semeadura

outros que o chamam

poeta

e tu se reconheces,

não és autor de livros e sim de poesia,

e a vida que te foge

é livro que já começa

eu, tu e nós

a página persona

que dobramos

sujamos

rasgamos

e assim

reeditamos

um livro

e atravessa aqui a palavra

derrubada, desdita reerguida.

Tullio Stefano
Onde está esse grito?


Em qual deserto de palavras?

Em qual oceano de pranto?

Estará, difuso em espasmos,

Embalando um sonho morto?

Ou embargado pelo suspiro

Aliviado da última esperança

Fero, ata-me a garganta?

Onde está esse grito,

Liberdade e aflição,

Que eu evito?

O débil impulso

Que ruma à garganta

Mas desvia o curso

Minuto após minuto









Onde está esse grito,

Liberdade e aflição,

Que eu evito?



Em qual abismo-

O de árido silêncio

Ou de enfático cinismo-

Abafo meu grito?



Sempre este rito

De hábil dissimulação

E prático comodismo

Ata meu grito.



Impróprio e proscrito

Dissipa-se na garganta

Propaga-se no infinito!

Iriene Borges

menina do Brasil

Era uma menina linda


Olhos cheios de esperança

Queria pouco da vida

Apenas uma criança

Era uma menina sapeca

Revestida de alegria

Só desejava uma boneca

Pra lhe fazer companhia

Era uma menina pura

Sonhava os contos de fadas

Alma cheia de ternura

Ainda brincava de mãos dadas

Era menina faceira

Coração doce e apaixonado

Só pensava em brincadeira

Vivia num mundo encantado

Era menina tão bela

Sorriso cheio de amor

Sonhava ser cinderela

Desabrochava em flor

Era menina da favela

Pés no chão, sonhos na lua

Triste sorte da bela

Só queria sair da rua

Era menina de tantos brasis

Filha do sertão e da cidade

Só queria ser feliz

Num lar sem frio e maldade

Era menina brasileira

Filha da desigualdade

Sonhava pra vida inteira

Apenas a felicidade

Era menina inocente

Acreditava nos homens

E tudo que tinha na mente

Era matar sua fome

Era menina esperança

Continuava a sonhar

Só queria ser criança

Sem fome poder brincar

Era menina do noticiário

Vendida por algum dinheiro

Por mais um salafrário

A um gringo estrangeiro

Era, agora, uma menina triste...

Sirlei L. Passolongo

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Exterior

Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
- carpe diem! -
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?



Waly Salomão

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Victor Jara Pensamiento

Informes Aedos- Café Parangolé

    
Vertentes" de Túlio Andrade

Programação da semana no Café Parangolé



De segunda a quarta-feira tem double chopp Klein até às 21 horas.
Quinta-feira, dia 05 de agosto teremos a abertura da exposição:


Mais detalhes bo blog: cafeparangole.blogspot.com



O Café Parangolé abre todas as noites a partir das 18 horas.
Entrada livre.


Endereço: Rua Banjamin Constant, 400, Centro - Curitiba.
Quase esquina com Rua Dr. Faivre.

Fone: 41 3092 1171



Siga o parangolé no Twitter: https://twitter.com/cafeparangole

Informes Aedos


Élisson de Souza e Silva

Orientador de Atividades


Paço da Liberdade/SESC Paraná

041-3234-4207