domingo, 28 de maio de 2017

AS RUÍNAS DE SÃO FRANCISCO

Não sabemos do flóreo lampadário
pendurado na abóboda alta e ignota.
Mas ao sonhar o esplêndido sacrário,
uma luz clara da agra abside brota,
arde e assusta. Ou da nave à sacristia,
não haveria as garras dessa grade
a guardar as ruínas da arcaria,
nem mesmo o suave enlevo que te evade.
Senão seria um muro de tijolos
que tombara ao primeiro pé de vento,
servindo a bêbados, mendigos, tolos...
ou tão só um admirável monumento
intérmino – e não mística jazida.
É preciso mudares tua vida.

Wagner Schadeck

(Curitiba) é poeta, ensaísta, tradutor e proprietário da editora Anticítera. Colabora para os periódicos Revista Brasileira (ABL), Jornal Rascunho, Jornal Cândido, Revista Amálgama e outros. Fan page da Anticítera: https://www.facebook.com/editoraanticitera/.

Curitiba, 25-05-17

CURITIBA

Dispensa essas velhas estampas
recortadas de uma revista:
Petrópolis, Paris. Os pampas,
Paulista.
Quero antes a simetria
dos teus quarteirões sem barroco.
Poucas curvas. Teu mais-seria,
teu pouco
sobrando nas pedras da XV,
no muito do céu de teus parques.
Não falta mar. Faltara fuligem
e charques?
A vida é um ajardinado
sobre os despojos de um rio:
perfeito, ó bela! Só cuidado
com o vazio
que os arquitetos cultivam
em tua possibilidade.
Atenta pro Olho no ar,
cidade.
Já no caminho de Morretes
brincavas de abismo também.
(Domada Iguaçu nos dormentes
do trem.)
A vida, o ajardinado,
eles pensam que o sonhamos.
Mais um café lá no Mercado;
já vamos
ser de novo o que te preliba
na viagem a planejar:
Curitiba! E Curitiba
ao voltar –
saudade menina que lembra
um velho exercício de crase:
venho e vou. Jamais se desmembra
teu quase.

Wladimir Saldanha

(Salvador, BA) é autor de quatro livros de poesia e tradutor. Semifinalista do prêmio Oceanos 2016 por "Cacau inventado" (Mondrongo, 2016). Colabora para o Jornal Opção e Mallarmargens. Blog do autor: http://wladimirsaldanha.blogspot.com.br/.

Salvador, 22-12-2015

Ato falho


Delação contra si próprio
por frações de segundos
tira inocentemente a máscara
e errando acerta se contrariando
Pra quem não sabe do Sigmund
que ainda anda explicando
diz desculpa...rsr
foi engano!

Silvana Conterno

domingo, 21 de maio de 2017

Móbile: para Max e Max

Peixes de madeira
do Max menino
flutuando livre
sobre a balança:

Libra, o destino
lavrando justiça
em nome do amigo
do Risco, dois
emes que se buscam
e abraçam reunidos
no fim, sempre
início do livrado
círculo.

Age de Carvalho
poema do livro "Caveira 41 "

O que não é


Discussão não é briga.Dom não é mania.Obsessão não é estilo.Arte não é diversão. Trabalho não é salário. salário não é dinheiro.Dinheiro não é luxo.Interesse não é preocupação.Sexo não é penetração.Penetração não é introdução.Cuidado não é desculpa.Desculpa não é perdão.Perdão não é o fim.O fim não é diferente.Diferença não é oposição.Agenda não é organização.Ordem não é progresso.Progresso não é evolução.Sogra não é mãe.Namorado não é marido.Cunhado nem é parente.Amnésia não é insônia. Pesadelo não é sonho.Sonho não é doce.Gordura não é carne.Carne não é espírito .Espírito não é assombração. Assombração não é encosto.Encosto não é apoio.Brasileiro não é gente.

Fernando Bonassi.
Da Rua.Mais ! FSP.15/09/01

A arte de conhecer tigres

Não é necessário conhecer o tigre.
Seu bafo quente
Sua respiração pausada
Seus olhos de mel...assassinos.

A forma aguda de seus caninos
A aspereza de sua língua
O azedo ácido da saliva.
Não é preciso conhecer o tigre.

Melhor seria ocupar o tempo
Com mais fáceis e agradáveis afazeres.
Talvez, fazer poemas sobre tigres ,
metáforas que louvem sua agilidade,
belas aquarelas de suas formas e
cores...

Metafisicamente assim pensava,
quando...
Sobre mim: bafos , olhos e garras
Saltam sobre meu desespero e caninos
dilaceram
Minha carne inocente.

PS ( Tarde demais ) :
Para saber que os tigres tem dentes
Não é necessário entrar em sua boca.

Mauro Iasi

Praça do Patriarca e Rua da Quitanda

No centro, apesar das explosões de espaço os prédios estão em continuidade, próximos uns dos outros . Se houvesse um turista a tirar fotos, da calçada poderia enquadrar muitos prédios numa imagem só. Num espaço construído para os carros, como a Paulista, as distâncias são dilatadas e só entrariam poucos edifícios num único clique.

Vicenzo Scarpellini. FSP. Cotidiano. 25/10/00

Nessa paródia preste atenção eu vou falar

Nessa paródia preste atenção eu vou falar
Sobre a realidade e o que vamos passar
Nesse ambiente escolar e o que vai mudar ?
O " Novo Ensino Médio " só vai piorar !
Se você ainda não sabe deixa eu te informar
São medidas absurdas para estragar
O ensino médio e as gerações que estão por vir
Este é nosso futuro, devemos agir

Sem filosofia, sociologia e artes também,
Para alienar e o povo parar de protestar
O governo não quer que aprendam a pensar
Por que assim eles podem roubar, manipular
O povo que não questiona pois só sabe aceitar

Então vai
Tudo desmoronar
Se o
Congresso aceitar
Esse
Retrocesso geral
não vai
Ter  ponto final

Contrata professores com notável saber
E aí eu te pergunto o que é que vai fazer?
Sem licenciatura dando aula por dinheiro
Qual vai ser a qualidade desse curso por inteiro ?
E o investimento na educação, onde está ?
Pra ter horário integral disso vai precisar
Mas como vai realizar se vai ser congelado
Pela PEC 241 tudo vai ser arruinado
E essa tal proposta foi aprovada
Por mais de 300 deputados que elegemos para nada
Esses aí que eram para nos representar
Prometeram pela educação
E agora querem ela nos tirar !

Notável saber, professores sem saber o que fazer
Ensino integral, e investimento pode esquecer
O governo não quer que aprendam a pensar
Por que assim eles podem roubar, manipular
O povo que não questiona pois só sabe aceitar

Então vai
Tudo desmoronar
Se o
Congresso aceitar
Esse
Retrocesso geral
Não vai
Ter ponto final

Agora que tal a gente falar para valer?
Falar na moral pra que consiga entender
Sem todo esse discurso
que eles sempre usam
Palavras difíceis pra você não fazer barulho
Mas bem na real, é isso que eles querem
Que o povo não se envolva  e depois sinta na pele
Decidem o que é melhor pra eles
Se o povo não protestar o poder tá na mão deles
E pra solucionar a crise o que é que vão fazer
Congelar investimentos  na saúde e na educação
Mas tem outras maneiras e olhe só o que eu vou dizer
Tirar cargos comissionados, divulgação de mandato,
diminuir os salários , pra que 100 mil por mês
se você fica sentado e nem presta atenção no que está sendo votado
verba de gabinete sem mesmo estar presente
e os secretários decidem
o que é certo ou errado
e contatam o deputado
pra ser privilegiado
E o deputado só vota
sem saber do que se trata
Por que tem dinheiro de sobra
Enquanto eles ganham de monte
A desigualdade só aumenta
1 bilhão gasto por ano com deputados
Confirma a concentração de renda

Então vai
Tudo desmoronar
Se o
Congresso aceitar
Esse
Retrocesso geral
Não vai
Ter ponto final

Então vai
Tudo desmoronar
Se o
Congresso aceitar
Esse
Retrocesso geral
Não vai
Ter ponto final

O governo não quer que aprendam a pensar
O governo não quer que aprendam a pensar
O governo não quer que aprendam a pensar
(yeah, todos unidos )
O governo não quer que aprendam a pensar
 (Contra a reforma do Ensino Médio e a PEC  241)

Autor Dickson Ternoski.
aluno do 2B
Colégio Estadual Guaíra. Curitiba - Paraná
14/10/2016

Favelas do Brasil

(...)Cada favela tem seu bamba
Sua rodinha de umbanda
Que todos vão saravá, Ogum e Oxalá
As favelas sejam dez ou sejam mil
são favelas do Brasil

j.piedade/o.grazzaneo e j.mascarenhas

1961

Favela amarela

Favela amarela !
Ironia da vida !
Pintem a favela
Façam aquarela
Da miséria colorida
Favela amarela (...)

Jota Jr e O. Magalhães
1959

sábado, 20 de maio de 2017

PRAIAS DE SAGRES

Um poema para meus amigos d' Além Mar.



O melancólico Tejo
não é o único porto
do lusitano mar.
Também o são
as Praias de Sagres
onde no passado
confiantes nos deuses
chorosas mulheres
levavam a seus amados
antes de se lançarem
aos tenebrosos mares
aquele que poderia ser
o último beijo. . .

josé luiz santos


- por JL Semeador de Poesias –

domingo, 14 de maio de 2017

Hoje, que já beijei minha mãe, beijei e ao menos falei com outras das minhas muitas mães, pela primeira vez falta uma delas, a minha avó Amélia, com quem tentei aprender muito da arte do silêncio, da palavra de corte.
Encantada no último natal, cada filho ficou com uma orquídea, depois de deixarem flor e talo no caixão. Foi um adeus de beleza, digno de tudo que ela foi conosco, foi também essa chance de elo material com o que se perde na perda dela. No dia seguinte, eu plantei algumas daquelas orquídeas para todos que pediram e não sabiam bem como replantar esse dom, hesitante se conseguiria vê-las de novo em flor, como sei que não verei a flor da Amélia.

Assim pensei, mas esta semana floriram algumas daquelas orquídeas, floriram fora do próprio tempo, porque só costumam dar botão uma vez ao ano, então só deveriam voltar daqui a seis meses. Vieram antes, em flor, pra eu ver agora que levo eu também uma flor de Amélia comigo, que sonho medrar comigo, em mim, fora dos tempos, quando menos espero. Eu fiquei sem a orquídea, que é dos filhos (a da foto é de Sergio Flores, meu pai e também uma das minhas mães), mas levo meu florir de neto. Evoé, Amélia, Dona Menininha!

Guilherme Gontijo Flores

Neste perder de mim

Neste perder de mim,
O mar e o céu.
Um pardo límpido azul nanquim
E esta gaivota de papel presa em minha boca
Num silêncio de me saber quase sã e quase louca.
É dia sobre o Arpoador
A gente densa já passou carregando a vida pouca
e toda a possível intolerável noturna dor
Mas ninguém viveu deste silêncio o dissabor
Nem prendeu gaivotas à língua como se fisgasse flor
Ninguém, meu amor, vacilou entre o abismo e o céu
E nem viu as corredeiras que deslizam sobre o escarpado do depois!

Lázara Papandrea


sábado, 13 de maio de 2017

Sim: escreverei algo

Sim: escreverei algo:
venha pra mim agora, cristianismo, e ouça o que este seu observador pagão tem a dizer...
Sim, você mesmo: posso chamá-lo (ou chamar você -- já é norma falada) de calendário?
Eu não tenho escolha, não é mesmo?
Você é (também) o calendário.
E portanto deveria significar alguma coisa, não?
Você deveria significar o perdão.
E fazem você significar a salvação pelo pagamento de um dízimo. E fazem você significar tudo: menos o amor que é o perdão de tolerar as piores ofensas, o estupro diário de um imaginário que poeta nenhum se arrogaria a imaginar: isso é comido com farinha diariamente: e afinal, cristianismo: você significa o perdão?
Minha falta de humildade é suficiente pra te perdoar. E até te aceito: como se eu tivesse escolha: você é o calendário.
Mas ainda estou para conferir se esta ficha está caindo: perdoar os inimigos, oferecer a outra face após a bofetada, amar o próximo da mesma forma que se ama a si...
São mensagens que parece que só os pobres de espírito compreendem realmente: e eu sou pagão, mas também sou pobre de espírito, portanto me arrogo a compreender.
E assim, a reprovar essa (autoproclamada) civilização. Mas como só posso fazer isso graças à existência de tal civilização (e da correspondente tecnologia que faz com que você esteja lendo isso agora), então empatamos.
Melhor sorte da próxima vez, cristianismo... Nota 4,75 para sua civilização.

IJS