domingo, 31 de janeiro de 2010

A ENCENAÇÃO

Antes que a dor me arrie,
Emulo um lance de sorte
E empano a extinta alegria
Eu a empunho como estandarte,
e a porto por toda parte...
(...rio só noites e dias!)
E a emprego de arma de marte
com artes de artilharia
E miro o motor da morte...

- Algoz com as minhas algias!!!



Altair de Oliveira
- In: O Lento Alento

foto retirada do blog de Graça Carpes,Pulsar Poético.

I'm a Clown

soul inocente



não existe veloz



nem



lento



apenas existe um



tempo



onde tudo



é



cada um em



seu



(



caminho



)



cada um em



seu



tempo



estou sempre



indo





lindo ver o



sol



nascer



.

- Graça Carpes -

http://www.pulsarpoetico.zip.net

SONETO DA DESPEDIDA

Foi necessário que chovesse tanto
para que tanto mais o sol voltasse
a refletir a luz que a dor do pranto
inundou de penumbra minha face.

Foi-me defeso ressentir do quanto
sob a cinza do amor em desenlace
ainda me encantaria o desencanto
se esse rio de mágoa não secasse.

Não refaças o curso dos meus rios
nem acenes ‘adeus’ para os navios
de sonhos idos do meu velho cais.

Não levo nada... Só a necessidade
que ainda tenho de sentir saudade
dos teus momentos lívidos de paz.

Afonso Estebanez
http://www.afonsoestebanez.blogspot.com

sábado, 30 de janeiro de 2010

devorei o sudario
dos mortos
gritei como porco
quando comem os porcos
o pronto desejo
esse traço sem força
entre dia e noite
carne flacida
agua contaminada
assim as horas
o inferno a espera
desertos maduros
insonia gravida
apodrecendo sonhos
Alberto Lins Caldas

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Informes aedos

sexta-feira às 19:30 na CPT(Pastoral da Terra) - Rua Paula Gomes, 703 - 1o Andar (próxima a praça 19 de dez. e Bar do Torto) uma reunião para a criação - se possível - de um comitê de solidariedade com o Haiti ou de ações conjuntas para ajudar os trabalhadores do país e contra a intervenção militar

Homens Pássaros

a cidade sempre se refundando

das formas que geram e abrigam a algumas estranhas

aves em fios elétricos-calçadas-parapeitos

garimpam entre postes-sapatos-pneus

migalhas-pepitas-farelos e sol nas regiões postais.

investem certeiramente

aberturas adentro embaixo das marquises

buracos com mesas engorduradas de plástico

onde se fartam de casquinhas de pastel-elemento-químico-tóxico

queimado de azeite e fumaça oriental.

olhar ligeiro e atento

em varredura detecta na multidão monstro ofegante

potênciais clientes predadores algozes concorrentes vítimas

rota de fuga e mais alimento.

certa da ausência de observadores arrulham celulares

contratos de licitação para abastecimento ilícito

bocas que moem pedras para argamassa de calçamento do opulento postal

orientando o tráfego

uniformes e civis armados e flexíveis até os dentes.

participação lucro e produto

vão as aves estruturar e obrar na permanente refundação da cidade

posicionando-se em vôos curtos no sistema nervoso central

em sinapses ligeiras de gatilho cerebral


Carlos Sousa
po&teias

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Pequenas Mortes

De tudo o que me resta e que não seja
amor,
seja
o portão de partida
despedida,
de pequenas causas diárias.
Eu sangro momentos,
derreto venenos
e morro nos cotidianos fins.
Ainda prefiro
a mortalha
envolvendo
afazeres não entranhados.
Quero a devastação
irreversível
de qualquer pequena vida
vã.


Samantha Abreu

Haute Intimitè: http://samanthaabreu.blogspot.com/
Mulheres sob Descontrole: http://mulheressobdescontrole.blogspot.com/
Versos de Falópio: http://versosdefalopio.blogspot.com/
"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.”
Charles Bukowski.


rs... é verdade.
é?

a mulher da vida está em cada esquina (sic), em cada quadrante da cidade, passou de bicicleta sem ser vista, não se virou a tempo de com borboletas surrá-lo, ou vive numa aldeia da lituânia e respira agora mesmo, talvez no século retrasado... só no japão, pelas minhas contas, há mais de 10.000 mulheres que viveriam felizes para sempre ao meu lado (e vice-versa)...
que importa?

é que o amor não é o potencial de amar e ser amado. é muito muito menos, muito mais: o amor (essa mentira), o exercício egoísta e abnegado, transcendente e mundano -pois, dispensável, o amor é também a roupa que os amantes jogam fora -de amar, contra os mais consagrados hábitos de lucidez e higiene.

o homem, afinal, consiste no que ele aplica (no nojo e no afeto, na caridade e na azia),
consiste no que transforma em carne viva e perecível.

"tantum homo habet de scientia quantum operatur" (francisco de assis).

Rodrigo Madeira
a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome


Paulo Leminski
A gagueira quase palavra
Quase aborta
A palavra quase silêncio
Quase transborda
O silêncio quase eco

A gagueira agora
O século eco


Arnaldo Antunes
você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo

nem fale em amor
que amor é isto


Paulo Leminski

Hipótese

e se eu te amasse
como um pássaro
ama a gaiola que o prende?


Linaldo Guedes

Barulho

palavra
por palavra
minha úlcera
de verbos
tece aos poucos
a membrana
do silêncio


Lau Siqueira

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Haiti.Port-au-Prince

FLAUTIM

FLAUTM

Guardaremos juntos
os acertos, breves,
os enganos, fundos,

e aquele remoto
amparar de parcos,
altivos escolhos.

Cairão o signo
e a secreta cinza
desse ardente enigma.

Não lamentaremos
mais que o desencontro
dos humanos termos,

a rápida marca
que o passado imprime
na face, na máscara,

e os puros despojos
que às vezes são versos
e sempre são ossos.

Não diremos nada
dos velhos desejos
que a memória abraça,

sem qualquer palavra
não recordaremos
o que nos pesava,

mas apenas isso
que nos pese ainda:
ter vindo, ter sido.

Bruno Tolentino

domingo, 24 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

me alimenta o azul
dessa chama
essa vida secreta

sumarenta beleza
q palavras
transfiguram

agonia escura
q o corpo gera
o corpo ateia
sobre a vida

agora é sangue
depois vinagre

e o leite da carne
se inflama

Alberto Lins Caldas .

Coisas in comuns

Dois seres
um: corte transversal no outro.
Pronto, hemorragia poética.

Sem ensaios,
são o que vibra
numa camada além, tênue e fina
de abstrações ininteligíveis.

Dois perdidos
que esperam longe
desencontrarem-se juntos.

Rodolpho Saraiva

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Apelo da natureza

Lamento de gaya
A natureza se mostra,
Doa beleza, flores, e frutos.
Fauna abundante,
Água farta, límpida, transparente...
Montanhas com belezas inigualáveis,
Mostrando sua exuberância
Em luminosos raios de luz.
Cede-se. Integramente
Para proveito do homem
Que lamentavelmente
Usam maquinas,queimam,agridem
Jogando detritos e explorando. Sangrando durante tanto tempo
A natureza trata suas feridas aberta
Como uma fênix, ergue-se forte
Resgatando-se do descaso humano.
Mostra sua força, ao se recompor,
Arrasta sem piedade, e na fúria da reconstrução
Faz seus filhos gemer,
A terra chora e lamenta pelo homem,
No dia do basta, a própria terra chora.

Dora Dimolitsas

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Dor

tenho uma dor
não importa como
tenho um amor
que também se esconde
mas como toda dor,
não vejo...- apenas sinto!
tenho um oásis
feito [para] brisa
de sons
tenho um dom
que me acaba ou me vive
procuro-me
estranha erva
mais uma cerva
a dor mau
ainda incomoda feito faca
esmiúça cutucando doida
a anti dor
Felicidade.



Lúcia Gönczy

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Narciso (1594-1596), óleo s/tela


Revista Viver Cidades
http//reflexoeseculturas.blogspot.com.

O HOMEM E A SUA PAISAGEM

Toda paisagem tem um ar de sonho.
Vejo o tempo parado, inutilmente.
Tudo é menos real do que suponho.

Interrompi teu sonho, natureza.
Diante de um ser humano, de repente
Apareces tomada de surpresa.

No espaço que me cerca estou suspenso.
Em redor um olhar pasmado e mudo
E no ar a ameaça do silêncio denso.

Em todo sonho existe um extasiado
Olhar adormecido que vê tudo...
Senhor, eu sou o objeto contemplado.

Dante Milano

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Perda(Delicadeza)

Deve ser a densa insinuação de tua ausência que me tateia neste inverno de céu limpíssimo. Como eu estivesse numa interminável cena de chuva e, olhar baixo, tentasse desesperadamente descobrir no fundo dos bolsos desta velha calça de veludo (sob um dilúvio) o toque de tuas mãos. Com desespero e o pé direito tento desenhar uma pequena cordilheira com as lágrimas que se misturam, sobre os azulejos brancos, à poeira desta casa. "E se eu colocar o número três à frente do quatro, as coisas mudam, pai?" Curioso que, estriada por lágrimas, esta camisa, que era tua, parece querer comunicar algo à altura do coração. Dormes, ainda menino, abraçado a imensas orquídeas – cujas pétalas tento, em vão, tocar por entre o módulo de azuis maciços desta noite. Uma cidade devastada, outra morta. Uma a dor da outra. Toda a forma de nitidez retirou-se, deixando em nós a tortura de pensar sob a lama suja do não ter estado lá. Escavo a caixa torácica na tentativa de descobrir onde está guardada a escadaria de lajotas vermelhas, o sapo de pano, a tempestade que entrou pela janela e inundou a sala. "Pegue esse abraço aqui e se cuide, é na noite escura que tudo se torna ainda mais amargo". Quando ateei fogo à casa, não percebi a parábola que estava criando para tentar domar meus medos. Levanto-me, caminho de um lado a outro. São livros, discos, copos vazios, tênis jogados, uma cortina encardida. "É... como nos desenhos animados, você sempre aparecia para salvar o dia". Quando eu não quis mais ser feliz, entendeste perfeitamente. As declarações de amor são silenciosas e é dessa maneira que nos devolvem ao útero de nossa irremediável catástrofe. É que as declarações de amor moram com as prímulas, bem no início da primavera. Tornamos-nos o coração morto de uma galáxia perdida dentro de uma bola de sabão. E, perplexos, notamos que não há remédio. Jamais haverá. "Vá lá, filho, faça as coisas que devem ser feitas. Mas não se esqueça de algumas outras coisas que você já sabe muito bem, não é mesmo?" Estamos doendo num jardim aleijado, meu pai. Há uma montanha ao norte, um repuxo de céu. E há um balcão, garrafas e uma cafeteira em algum lugar. Sinto-me cada vez mais longe de casa como um aroma que se perde em si mesmo. Nada aconteceu, meu pai. And I don’t fucking care! Com este sorriso tímido, sempre de luto, na beirada desse crepúsculo recortado pela janela deste vagão, miro um livro aberto e outro fechado, ou uma xícara de café ornada com dedos brancos e olhos baixos sob um chapéu coco e uma cadeira vazia à frente. É uma natureza desolada, inescapável pesadelo. "Você não tem muita escolha, filho. Você retalha ou não suas virtudes, suas vítimas". É que de repente todas as saudades foram criadas de uma só vez. Impossível dizer adeus do perto desse distante. Há uma pedra que guardamos conosco, no interstício entre a lua e nossos pulmões. Pedra que pavimenta o caminho que não é música, que não é poro, não é papel, que não é. Matéria de insônia, apenas. Saudade, velho, saudade. É nesta imaginária alameda de tílias que passeio meu corpo de filho prendado na espera. Alvejado, dia após dia, vejo, ao contemplar o céu da memória, que não há cura. É que a saudade brinca fora da morte, como as estrelas.

Fabiano Calixto

Publicado originalmente no n.2 da revista MODO DE USAR& CO., editada por Angélica Freitas, Fabiano Calixto, Marília Garcia e Ricardo Domeneck.

magnum photos

domingo, 17 de janeiro de 2010

(In)crível

Essa estranha beleza
em racionalizar.
Ser dolorido,
mas ser
verdadeiramente.
Tocar tua carne nua,
e saber-te
onde, saber-te
quando.

Não me parece mais encantado
nosso mundo.
Não tenho mais aquelas
fantasias.

Talvez, a realidade não seja assim
tão boa
para amores insólitos.

Samantha Abreu

Blog Haute Intimitè
http://www.samanthaabreu.blogspot.com
Quando terminar não esqueça de inventar o sentido mesmo que ele não exista.
Imcompreendida segue ela qual mazela da tua decaída, fingida, magrela.
Esguia cinderela pela noite ole hélas nas catástrofes da filologia na janela.
Não olha pra trás pra te pegar raquítica, fedorenta, como aborto de ratos pelados.
Não passa a mão nos sebosos e imperfumados andrajos.
Não guiará pelas veredas da decadência.
Por esse motivo não fará referência a essa ciência.
Dai-me paciência e subserviência ao nível de decrescência malediência
que se faz a sua grafia medíocre de pestilência.
Dai-me tolerância aos arroubos de jactância por dotes de inversão da noite para o dia.
E do dia para a noite.
Para as bruxarias me tornai sacerdote de benfazeja
qual almeja a coordenada simbolizada no barroco
setecentista da convocada a se chamar feliz-arda.
Realmente não tenho notado:
-A intenção do teu fardo;
-A sujeição dos imediatos;
-A exatidão dos comentãorios;
-A guia de duas mãos do sorriso no rosto em retorno de alma serena.
Vais ainda por estas penas,
Comes da fruta que te envenena.
Comede os prantos a quem não engana.
Concede as dores aos ferrenhos anos da incerta,
Como setas de auto-complascência.
Entende amores como labirintos,
e sexo como praga.
Anderson Carlos Maciel

sábado, 16 de janeiro de 2010

Informes Aedos

Peço que por gentileza me ajudem a divulgar a vakinha:Sofri um acidente retornando de um evento na madrugada do dia 04/01 e passei por uma cirurgia do úmero fraturado em três partes:isso me impedirá de cumprir certos compomissos imediatos, causando dificuldades. Enviarei um livro poemas mal_ditos por e-mail para todos que contribuirem!
Um Grande Abraço, Julio Almada

Para Ler na Íntegra e Contribuir: www.beira-do-caminho.blogspot.com

Repare

O REALISMO É CADA VEZ MAIS FANTÁSTICO:
O capitalismo,
o neoliberlismo,
o seu apetite voraz
pelo direito exclusivo
de gozar o mundo,
gozar no mundo,
cria seus monstros
e suga e suga o peito de Agar

Repassando os custos
para debaixo do tapete
O crack de 29
é a droga de hoje
quebrando o indivíduo
com impostos, empresas fictícias
dominando a comunicação, a telefonia

O mundo é que está pagando,
passando
Crianças expostas aos ladrões de pirulitos,
recebem alfinetadas
nesse ritual
negro do mercado
Vejamos a listagem da Forbes,
as propostas da fantástica
fabrica
de chocolates

Mais e mais e mais e mais
e mais e mais e mais
para poucos o gás
o combustível para exploração
O pré sal e antes do sal
antes da força plenamente desenvolvida
explorar menores e mulheres
e água, e o vento
explorar, explorar para não distribuir
para ganhar, mais e mais e mais e mais e mais
e nós?
Maria José de Menezes
COLETÂNEA DE ESCRITOS
Mesmo depois de tantos conselhos,
dados por essa mágoa das estrelas que não saem de casa.
E se metem a dizer que tem nas asas os canissos
da longa estrada.
Não vou ser indelicado em passar as encantadas,
contraditas na psicanálise, pelo fato de rebuscar
a imtempérie quimera da tua espera
na noite da palavra.

Anderson Carlos Maciel

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Amputação dos Dias

Eu tento o assomo quando te olho daqui. Tento sair. Tenho comigo a ira, o desejo e o ardor da carne, mas os carrego suprimidos sob a pele do cordeiro. É tão dolorida essa amputação. A criança sente a ferida do tombo, mas não desiste de cair. Pois eu já deixei de me travestir desse atrevimento desmedido. As quedas, hoje, me doem demais.
Alcancei a segurança dos pés descalços, das roupas discretas e da aparência sensata. Alcancei o sossego do conformismo e do isolamento. Não sei mais onde começa o abismo dos meus pensamentos.
Sinto a anulação de mim.
E a impossibilidade é uma perene navalha em meu pulso.


Samantha Abreu

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O Poder Coercitivo

Nas duas últimas semanas a guerra esquentou
depois que um grupo de hackers capturou
mensagens de e-mails dos cientistas
do orgão principal sobre mudanças climáticas
trocadas nos últimos treze anos
entre manos pra derrubar outros manos

O alvo do ataque foi a Universidade de East Anglia'na Inglaterra
o principal centro climatológico do mundo
Os e-mail divulgados na internet pra toda a terra
revelaram combinações entre integrantes da Universidade, respeitados e profundos,
para manter o mais longe possível os cientistas céticos
das revistas especializadas,como a Nature e a Science,
de um jeito imperceptível, nada ético
Ao mesmo tempo, faziam crer a quem pense,
que o principal argumento contra os céticos
residia na escassez de artigos por eles publicados
assim, além de postos de lado, os céticos serviam no futuro
ao argumento de que não aproveitavam a oportunidade.

Maria José de Menezes
COLETÂNEA DE ESCRITOS

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Notas de Viaje

en este cuarto oscuro y cerrado
donde el único río
es la posibilidad
de un grifo abierto

cada palabra tuya
desnuda como piernas
casi indistinta
es breve y fresca brisa
de las ramblas de tus labios

montevideo, 02/01/2010

Rodrigo Madeira
po&teias
Tens uma máscara, amor, violenta e lívida, te olhar é adentrar-se na vertigem do nada"
Hilda Hilst

domingo, 10 de janeiro de 2010

sábado, 9 de janeiro de 2010

DESACÔRDO

A sala escura
a mesa vazia
a imagem apagada
a cama fria,
a toalha estendida
a roupa guardada,
falta você...
Teu cabelo em desalinho
o andar inquieto
o sorriso maroto,
a voz melodiosa
entoando a canção
que ressoa no ar.
Cadê você?
Que embala os passos
abraça as estrêlas
ri com o sol
alegra a vida.
Entramos em desacôrdo.

AMARILIS PAZINI AIRES

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A Folhinha

Primeiro emprego, primeiro dia e a primeira ordem do chefe lembro-me bem, foi simples e ouvida com ouvidos bem abertos, postura solene e calma aparente.

- Você faz um favor, pega a folhinha que está encima de sua mesa e traz aqui pra mim?

As pernas saem de imediato em busca da missão, sem saber ao certo o que vão fazer, afinal, não dá pra dar bobeira, é preciso fingir que se sabe onde vai e o que quer, mas a ordem principal está na mente: Folhinha, folhinha, folhinha...

Meu Deus, além do vaso de flor com suas inúmeras folhinhas verdes, haviam uma multiciplidade de folhas de papel, de várias cores e tamanhos encima da mesa... Mil interrogações e a insegurança de perguntar ao colega ao lado, compenetrado nas suas próprias folhinhas... Bom, o jeito era agir com jeito e encarar a fera:

- Com licença, como exatamente é a folhinha que o senhor deseja? É que tem várias na minha mesa e...

- Várias? Não, traz qualquer uma delas...

A resposta foi tão seca e rápida, quase óbvia, que a reação foi uma só:

- Sim senhor.

As pernas me levam novamente com sua fingida segurança e leveza de quem entendeu tudo e não carrega mais interrogações na cabeça.

Lá estava a mesa, repleta de folhinhas... Encarei todas elas, e como em uma prova de multipla escolha, por eliminação ignorei as folhinhas verdes do vaso de flor, escolhi uma com mais conteúdo, outra que serve para anotações e uma dessas amarelinhas de grudar recadinhos ... Assim ele poderá escolher a que mais condiz com o seu objetivo não revelado. Imagina... quem sou para querer saber por que ele quer uma folhinha?

- Com licença, trouxe estas...

O olhar dele me gelou a coluna:

- O que é isso?

-Bom, eu... eu não sei ao certo qual folhinha o senhor se refere e eu trouxe estas...

- Não, não!! Eu quero a folhinha... Aquela folhinha, oras, aquela que é quadrada assim, que fica na mesa...

Minha cara não era mais de interrogação, mas de espanto comunal... Meu Deus, vou perder o emprego por causa de uma maldita folhinha!

- Você não sabe o que é uma folhinha? É aquilo que a gente consulta, que faz a agenda...

Eu fiquei na mesma posição e mil formatos e aspectos de folhas passaram pela minha mente.

- Aquela que a gente consulta o dia, o mês e o ano!!

Por fim, captei:

- Ah, o calendário!!!!

E ele confirmou:

-Isso! A folhinha!!!

O alívio veio junto com as risadas, da minha parte por compreender o que ele queria, e da parte dele por perceber que o problema não era de retardamento mental, mas de incompatibilidade vocabulística entre o Sudeste e o Sul do país. Foi assim, a duras penas que descobri que em São Paulo o calendário é folhinha, o semáforo é farol e o empadão é torta... Mas isso fica para outras histórias.

Nanci Kirinus
Http://www.nanciaki.zip.net

Mulher na árvore

Minha mãe nunca se masturbou.
Chovia.
A porta aberta.
Segui em direção a quem me é mais íntimo: São Judas Tadeu. A agulha da bússola do meu coração sabe onde é o norte por aqui. Canto direito primeira fila de bancos.
Escrevo no bloco azul, encharcada de chuva. Nem me benzi. Sentei ali como sento nos cafés: Aqui só tem pão e vinho tinto. A ratazana de sacristia me espia. Convocaria a Inquisição caso lesse os rabiscos – cena de masturbação.
Estou pura.
A cena é pura. Nenhuma imagem levanta o dedo em riste para mim, São Judas nem ao menos espia com o canto do olho. Dane-se a cantora de altar. Olhos de juiz pra cima de mim. Dane-se! Nunca mudam os hinos? Nunca mudam. Ainda é o mesmo. Sei-o letra a letra há décadas. Vai ser o mesmo quando eu sentar em outro banco outro lugar outra chuva daqui uma década. Começa a missa e a minha cena se adensa. O Padre diz uma poesia de São João e mexe no mais fundo daquela lagoa de lágrimas, uma salta assim ao final da poesia.


Deus é Amor
Quem permanece no Amor
Permanece em Deus
E Deus nele

Simples assim. Gota a gota absolvo-me.
A cantora ratazana arregala os olhos. Não sou feita de grifes pneus peças de computador porra e crack. Encaro-a. Quer um beijo de batom roxo para deixar seus lábios pura sexta-feira santa? O maior susto do dia dela, a mulher estranha molhada de chuva chora. Chorar – deplorar prantear arrepender-se derramar lágrimas lastimar-se exprimir dor tristeza ETCETERA
Sou o etcetera. Risco de não definição. O espanto coletivo me coloca na árvore gravetos e gravetos o canto das harpias no canto esperando. Alguém por favor, um voluntário é só ir até ali com a tocha, rápido, um voluntário. Harpias? Harpias apenas gralham não tem mãos de acender a chama nem para aniquilar o inimigo. Harpias declamam opus de escarro e odes de amianto, mas ficam estancadas em suas árvores. Covardes. Um voluntário, por favor, antes da chuva antes da chuva.
Chove. Fim de missa. Abraços incenso tremor de pavios amarelos. A cena, a cena e o bloco azul borrado. Lágrimas santas na cena maculada.
“Sempre me interrompe
Sempre
Tem um radar
Sempre me interrompe no ápice
(respira fundo olhos cerrados a dança sob os lençóis dedos ágeis olhos cerrados respiração suspensa goza)”
O céu tem cheiro de rio podre. Tietê ao amanhecer.
Minha mãe nunca se masturbou.
É matemática pura.
Lógica.
Minha mãe nunca se masturbou.
Zero chance.
Zero caloria na tabela do pecado.
A cena está modesta.
Escrevo ao final do bloco:
Reescrever a cena da masturbação
Luz.
Nossa Senhora é magnética.
Nunca olhei para ela ali, a leste do éden. Culpa de São Judas que me abduz. Meu outro eu somos das causas impossíveis.
Aqui está o livro da vida.
Procurem pela palavra – Impossível.
Não tem.
Não vou dizer nunca que escrevi a cena da masturbação no primeiro banco à direita - Catedral em dia de chuva.
Permaneço no amor.


Por Bárbara Lia


*Menção Honrosa no Concurso Nacional de Contos Newton Sampaio – 2009 da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná.


Bárbara Lia é uma escritora brasileira. Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Em 2004, debutou no mercado editorial com o livro de poesias O Sorriso de Leonardo (Kafka edições baratas). Dois anos depois, publica outro livro de poemas, Noir. Em 2007, saíram outros dois livros de poesia, O Sal das Rosas (Lumme editor) e A Última Chuva (Mulheres Emergentes). Estreou na prosa com Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná - 2008)
Blog: http://chaparaasborboletas.blogspot.com e-mail: barbaralia@gmail.com


fonte Http://www.cronópios.com.br

Galapagos


http://www.amazonasimages.com
jamais um lar
esse e outros
so lugares
de mortos
garra crua
desde dentro
terra impropria
poder estranho
aos ossos
?q carne então
agora é corpo
?de quem são
esses fantasmas
bebados de treva
.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Praha

É CORPO

a carne grita
estremece embaixo d’água
é corpo - corpo no meu corpo -
a queda ergue templos & minutos sem medo
peso - meu peso - corpo
a memória é o abajur da sua carne

José Geraldo Neres
in Outros Silêncios


“em você todas as noites cantam de uma só vez”

(versos do poema RAÍZES DA TERRA SONOLENTA)
José Geraldo Neres in Outros Silêncios

Agropsico fenomenologia

Por quanto o ar é alimento
saudável do fogo

E o equilíbrio tem seu devido
valor no transtorno

Côlho o fruto da árvore
a qual sou fértil solo e aguardo

Inesperamente insólito

Ricardo Pozzo

Brasov

Carpindo o Dia

O Tempo, a quarta dimensão segundo a teoria de Einstein, é fluído que lubrifica as engrenagens da existência. Já cantava Caetano no Cinema Transcendental "existir, a que será que se destina?" Pois descubramos ou não a significação á questão da Esfinge, saibamos: o nome da Esfinge é Tempo.

A cada um cabe, crono(s) metro (pois espaço-tempo) funcionando, saber o quanto queremos alcançar de honestidade na resposta. Não há desculpa! Há responsabilidade! Mas esta conclusão é posterior!

Estes dias, esquecido de que Curitiba é Londres, distraído com a Musa enaltecedora, sofrí contato íntimo com o automóvel branco da Alice. Por poucos centímetros (olha a questão do espaço de novo) ele não me adiantava deveras ao encontro ao qual um dia não poderei fugir.

É inequívoco que, para saber ouvir deve-se aprender a calar! E diante disso calo-me para ouvir o que o Universo tem a me dizer.




Ricardo Pozzo

Poesia Marginal nº 6

Vivemos no panóptico
Vigiados dia e noite
Exilados em nossos lares
Acorrentados pelo medo
De sermos devorados pelos vampiros
Senhores da guerra
Inimigos da paz.

Nonato Nogueira

O Desbunde

Somos brasileiros

Filhos diletos da pátria

Mãe gentil.

Somos artistas

Palhaços

Poetas

Geração da cola

Vítimas da coca

Eternos rebeldes

Do desbunde

Da coca

Da cola

Da negra coca cola

Sem pátria

Sem lógica

Sem coca

Sem cola sem nada.

Somos apenas vítimas

Da repressão

Da televisão

Da massificação

Da coca

Da cola

Eterna coca-cola.

O que somos, afinal?


Nonato Nogueira

Poeta, escritor e professor de Filosofia, Sociologia e História. Membro da ACE e do Grupo Chocalho. Organizador do livro "Educação em Revista" Ed. Premius, 2006. Autor do Livro "Da Belle Époque à formação do Bairro Vermelho", Ed. Realce, 2007. Autor da Coleção de Filosofia "Um Novo Olhar Filosófico" - 4 Vols. Ed. Edjovem, 2007.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O HOMEM QUE OBSERVAVA O HORIZONTE

O homem que observava o horizonte
trazia consigo um sorriso,
meio assim sem juízo,
dizia ser apadrinhado dos ventos
e que ao amanhecer gostava
de caminhar pelas margens de um rio,
e de conversar com as águas que iam
desaguar nos intestinos daquela cidade.

O homem que observava o horizonte
cantava o canto dos pássaros,
que de tão assemelhado se dizia
que ele voava e ninguém via,
juravam até terem lhe visto as penas
que ao anoitecer brilhavam,
quando a lua surgia do ventre
de um vale que por lá existia.

O homem que observava o horizonte,
quando a noite ia alta,
sossegava no canto de uma tapera
lá pras bandas da cidade velha,
e então cantava o canto dos loucos
que diziam morrer de saudades,
e ensinava a escrever poesia
nas pedras que por lá existiam...
Cantos de amor e de dor.
Naldovelho

sábado, 2 de janeiro de 2010

lost world

Aeh,dos Curitibanos

Existem coexistem
BÍBLIA
Biblioteca
Bibliotecas
Dicionário
Dicionários
Enciclopédia
Machado
Instrumentos e Jorges em rima

Aedos, poetas da antiga Grécia
resistente ao tempo
da História Universal

As palavras são mutantes também
como Arnaldo, Lee, Edson, Jackson,
Pedro, Chico, Emanuel,
Pera, etecétera e etc e ect e cet e tec.

O Aeh é
o E Aê!
dos curitibanos
amigos
que insistentemente
convidam a sair do círculo
pra entrar no seu quadrado
Mas, da espiral ascendente
posso passar
com pares de asas
pelo sul e pelo norte
Por isso, vim
dizer
E aeh!
Foram me chamar
estou aqui,
que que há?!
Maria José de Menezes
COLETÂNEA DE ESCRITOS
Postagens mais antigas Assinar: Postagens (Atom)

Art et Desire

Feriado

Mais que um terno aviso

Mais que um só terno amassado

Pois que infindo abrigo

Teu eu em mim abrigado



Calo em tua boca minha fala

Falo em lábios, sons e alquimia

Tatos tatuagem

Línguas famintas, revitalizam digitais



Roupas espalhadas

Estrelas por teto

Nós no chão.


Beatrice Simon

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Breviário das Moscas

monomanácas,
lindas como rouxinóis:

as moscas.

inquebrantáveis,
inuportáveis,

abertas às febres
todas, toos os modos( e cheiros, sabores)
de vida e morte.

benditas
as moscas!

mais vivem do que
pousam,
mais vivem o que
voam.
essa teimosia feroz!

as filigranas de saliva
são os únicos filamentos
do brio.

voltar sempre,como
uma alma penada,
um cão com fome,

um homem,
transtornado inseto
em redor do sol.

um homem
ue, afogando-se
no ar,

quer porque quer

viver
por viver.

Rodrigo Madeira.
in Pássaro Ruim.ed Medusa.2009.Curitiba.

Realidade

mergulhar no mundo

ver-se ali
envolto nele
e bebê-lo

arriscar-se

para quem ama
e sonha
não há medo

ir além

renascer

cada dia
aventura

ser feliz
é a meta

todo resto
loucura

Luis Fernando Prôa

Haicais

XVIII

pipocas no cinema
a menina contente
rumina fotogramas.


XXIV

dobras de tecido
sob o ferro de passar
lembranças aquecidas.

Jiddu Saldanha

Bebida Nobre

Da pura uva o vinho é cura
quando se toma em poucas doses
Mas a vida quer, às vezes,
a desmedida:
pede um porre
Sábio será quem desta mistura
fizer bebida nobre.

Delayne Brasil

Rio da Vida

Dentro de mim corre um rio
sem início e sem desfecho.
Se rle é largo ou se é fio,
não o sei, pois o desconheço.

Dentro de mim corre um rio.
Se ele aí sempre correu
ou se jamais existiu,
nunca o percebera eu.

Só sei que dentro de mim
serpeia este rio submerso,
não contido por confim,
que vem à tona em meu verso.

Rio de luas, rio de lendas,
de amazonas e sereias;
são oníricas as prendas
que me trazem suas cheias.

Meu passado e seus presentes,
meu tormento (na tormenta),
se me assomam nas correntes
que o seu dorso me apresenta.

Dorso negro aonde a lua
fincou esporas de prata
e qual linda índia nua
cavalga no seio da mata .

Rio de botos, jacarés
medos, mortos, anacondas,
que inunda os igarapés
engolindo-os com sua ondas.

Rio de iaras e de loucos,
de piranhas e de antas,
que me sorve, mas aos poucos,
por suas múltiplas gargantas.

Rio de grotas, pororocas,
banzos, sanhas, fêmeas prenhas,
que entre coxas, xotas, bocas,
me ensina em cifras e em senhas.

Quisera eu estancá-lo,
mesmo secá-lo.Não posso.
pois ao tentar aplacá-lo,
seu leito torna-se um fosso

no meio do qual me afundo,
em pânio me revolvo,
arrastado para o fundo
onde aos poucos me dissolvo.

Eu agora sou o rio:
baldo rio (longe o oceano)
e que tem por desafio
um jorrar não mais humano.

Rio escuro, tuvo rio,
de onde vens, para onde vais?
quando choro,quano rio,
para onde vão rios e ais?

Rio sem fonte , rio sem foz,
sem margens ou horizontes,
quando cessa, onde a voz,
se sobre o vão não há pontes?

Rio oculto, onde me levas?
se eu sou tu, se tu sou eu,
por que não sei (em tuas trevas
foi que outrora aconteceu

meu tortuoso despertar),
no âmago desse breu
de teu curso milenar,
qual meu nome, quem sou eu?

Otto Leopoldo Winck

Contorno

Existe na foto
Um osso exposto
O osso do beijo
Que inda tem gosto.

Julio Almada

Sinuca

a falta de fé
no teu taco

fez do adeus
a bola da vez.

Raul Pough

Amnésia

anotava suas memórias
com lápis de esquecimento

Raul Pough