sábado, 28 de setembro de 2013

A vida é um cão que nos devora começando pelos dedos

MEU CORPO lembra Frida Kahlo. A marca que impede uma alma livre de ser plena, correr ao encontro de tudo. O congelamento do corpo em uma cama, em um espaço cerzido. Ela _ Frida _ não aceitou e pintou sua realidade com traços de luz/fogo/alfazema/lágrima e amou de um amor irrepreensível e nunca aceitou que o mundo a taxasse de menor ou pequena... Frida sussurra no meu travesseiro a ladainha da rebeldia: Ergue este queixo bonito e pisa as flores da tua escolha, e ama e ama até forjar uma chuva de colibris acima dos abismos. Frida, Frida... Ainda estamos colhendo estas aves azuis com nossas mãos pequenas. Tua liberdade era estrela bastarda _ eterna fagulha no céu _ eu a agarro como quem monta uma égua dilacerada, pretendendo com ela atravessar a agonia do viver. E quando meu corpo esquece que é teu corpo eu contemplo este duplo meu e a minha voz interior diz claramente _ Sou Frida à medula.


Bárbara Lia _ do livro inédito "A vida é um cão que nos devora começando pelos dedos".

Passeando pela cidade!!!



Criança apanha um pão e corre..
Socorro pega ladrão...
Socorro pega ladrão!!!
Num instante a multidão...
Pega...pega....joga no chão..
a rasteira...gritos de lincha!!!
Mais alguns passos, criança a dormir no calçadão.
Socorro uma criança dormindo na rua..
Socorro outra a pedir comida...
Socorro olha o homem remexendo o latão.
SOCORRO!!! não há só ratos remexendo o lixão!!!
Silêncio....nenhuma resposta.....
nenhuma mobilização....APATIA dói...OMISSÃO mata...
Assim caminha a humanidade...
A isso chamam civilização.......
Estamos surdos para a voz do CORAÇÃO!!!

www.joaobellomaravilha.blogspot.com

Os incontáveis dias no alto da montanha



Queria boca
entre areia e fermentação
de longe era só uma escultura
bem acabada em um dia de sol
orei ao tempo inexistente
sacrifiquei o ego
era aquela canção antiga
sobre bombas e corações.

Redson Vitorino 

Declaração de amor



Ao vê-la ali na sala, deu-se conta que nunca fora um homem romântico nos gestos, menos ainda com as palavras. Saiu discretamente, andou algumas quadras, encontrou uma floricultura. Comprou uma rosa vermelha. Voltou para casa. Entrou timidamente. Chegou perto de sua esposa de longos anos se declarando: “Eu te amo” colocou a flor entre as mãos da amada, debruçou e chorou sobre o caixão.
JDamasio

Déia Motta



EX-NADA



sou letrado no que não serve para nada
pós-graduado com vírgulas impressionantes
mestre em anatomia de vogais, consoantes,
doutor dos bons em ritmo, som e batucada

com um marca-passo original no coração
estrebuchei de dor nas notas imaturas
e em vez de ir em frente, quebrando estruturas
me fiz PHD nas contas da oração

rezei por rima rara ao deus dos meus versinhos
e quando dei por mim, mendigo do impossível,
caí de joelhos e a humanidade, impassível,
querendo um outro céu, nem viu os meus carinhos

brandindo ao léu as folhas mil de minha lavra
como uma larva que se arrasta em podridão
senti na alma a mais completa solidão
e, feliz, vi que era minha a última palavra!


antonio thadeu wojciechowski

SINTOMAS





- DOUTOR, ESTOU SENTINDO UMA RIMA TERRÍVEL.

- Onde é que dói?

- Às vezes, é bem aqui no peito. Às vezes, é uma pontada, aqui na cabeça.

- O que é que o senhor faz, quando dói muito?

- Quando eu não agüento mais, eu faço um poema.

- Um o quê?

- Um poema. É uma espécie de mancha que dá bem no meio da página. Tem umas apavorantes. Mas também tem manchas lindas.

- E desde quando lhe acontecem esses poemas?

- Desde sempre. Desde quando, antes do ventre da minha mãe, eu fui pensado em alguma galáxia distante, por um planeta boiando na luz de um sol azul-amarelo-vermelho-verde-prata...

- Deixe-me ver sua língua.

- O senhor não leve a mal, mas é uma língua apenas portuguesa. Pouca gente no mundo já viu uma língua como essa.

- É, está feia sua língua. Mas não se incomode, que língua portuguesa ninguém presta atenção.

- Não é só a língua, doutor. Às vezes, tenho visões.

- Visões?

- É, vejo círculos, quadrados, triângulos inscritos em hexágonos, e linhas, linhas, linhas...

- O senhor conhece matemática?

- Só de nome.

- É, é mais grave do que eu pensava.

- Vou morrer?

- Um dia vai. Mas antes vais ser pior. O senhor pode ficar famoso.

- Pra sempre?

- Não, quando é para sempre a gente chama glória. A fama passa.

- Ainda bem.

- Mas incomoda muito. Não tem horas em que o senhor sente que tem um estádio inteiro lhe aplaudindo de pé?

- Onde, doutor?

- Dentro da sua cabeça, é claro. Onde mais?

- Que alívio o senhor me contar isso. Pensei que estava ficando louco.

- Quem sabe? Quem sabe o que é loucura?

- Vá saber.

- Deixa eu completar os exames. Tem sentido muitos sintomas de concretismo gástrico ultimamente?

- Só quando eu vejo uma folha de letraset.

- Perfeito. Tem sentindo algum soneto?

- Só de manhã, quando eu vou dormir de estômago vazio.

- Impulsos marginais?

- Depois que fui editado pela Brasiliense, meus sintomas marginais desapareceram. Deviam ser conseqüência do abuso da solidão e do provincialismo paroquial.

- Nada de pornô, espero.

- Um filho-da-puta aqui. Um caralho ali. Porra. Cabaço. Gozar. Só essas coisinhas corriqueiras, que vovó não deixava dizer, mas estão no Aurélio.

- Entendo. Não admira que o senhor tenha tido tantos poemas recentemente. Mas vou receitar uma dieta que vai lhe deixar tão bom quanto qualquer subgerente de vendas.

- Antes disso, será que o senhor não me deixava cantar alguma coisa?

- Cantar? Mas eu não tenho nada aqui para o senhor cantar.

- Pode deixar que eu trouxe umas canções comigo.

- Cuidado. Cantar demais faz mal.

- Não se preocupe, doutor. Eu só vou cantar um pouquinho.

- Está bem. Pode começar.

- Desafinar um pouquinho, não ligue. É assim mesmo:

"Se houver céu depois da terra

e nessa estrela

a eterna primavera

pudera, tomara, que a vida quisera

que a gente se encontrara.

Proutra vida fica,

nosso amor mais louco,

fica tudo muito mais bonito,

fica a dita que faltou pro pouco,

se houver céu...

Se houver céu,

como nessa vida não há,

a gente se achou bichinha

a gente se encontrará,

a gente se encontrará..."

- Letra e música suas?

- Letra e música.

- I see. Deixa-me ver. O senhor tem algum vício?

- Eu amo uma mulher chamada Alice.

- Há muito tempo?

- A vida toda.

- O senhor é o caso mais grave de poesia que eu já vi até agora. Preciso consultar uns colegas.

- O que é que eu faço, doutor?

- Tome duas estrofes e me telefone amanhã cedo, sem falta.

Paulo Leminski - Gozo Fabuloso


a dança

Isto é um teatro
isto é um vale de lírios
de lírios de plástico isto
é um vale de lírios eu acho
que isto não é real, mas o que é isto?
isto não é um teatro
e todos correm
todos brincam
porque isto não é a hóstia
do senhor consagrado
isto é um pacto ou
o vácuo do trem que se aproxima
é o terceiro ato
e ninguém mergulhou na piscina
ninguém atravessou o pátio
isto é alimento mas
está fora do prazo
é ainda um lugar vago
porquê isto é lamento
é um vale de lírios ou um quase
porque isto será sempre
um poema inacabado


js. | 

minas, 1, fragmento

minas tem o sentido
da carne comida crua
na ponta do ferro azedo

a culpa presa no olho
o amargo preso no dente
uma montanha de medo

os panos todos de escuro
as bocas santas, promessas
as caras de arremedo

quem de minas vai rancar
a dor montada em segredo?"


(romério rômulo)

MULHER, Muito Prazer



Meu peito é o meu escudo
Minha força e o descanso roxo
Em que deitas a tua cabeça, amor
E eu te acalanto
É o alimento branco em flor de manacá
E com ele eu luto
Contra um mal que eu não escuto
Pois se
O bem que mora em mim
Tem pétalas estendidas em texturas de carmim:
Ecoa vida em meus jardins!!
Faz barulho sem ter fim!!
Qual espanto silencioso há de calar a voz
Dos meus internos tamborins?


(Adelaide N.)
Mãe não tem limite
é ser sem margem
imagem inicial
da água
no jorro de nascer
Rubens Jardim 

Altair de Oliveira


SALMO



Eu me orgulho, ó Deusa, profundamente,
Dos momentos em que sinto que preciso
E dependo de tua mão e teu consolo,
Pois nestes momentos, mais que nunca,
Eu me percebo feito para amar-Te e reconheço
Dentro de mim a melhor parte do que sou.

Sou feito para amar-Te e carecer de Ti
E nisto encontro escusa para ver-me por vezes
Tão confuso e aturdido diante das agruras
Deste mundo, oblíquo mundo, insano e torpe;
Mas se clamo o nome teu, Deusa minha,
Dentro do negro silêncio que me envolva,
Tua mão me chega à face e o seio teu me aquece
Na noite cega de meus surdos desenganos.

Quando estou fraco, então é que sou forte.*
Minha fraqueza soergue o escudo das montanhas,
O pranto meu desfralda a espada ignescente
Do relâmpago que estronda e rasga a terra;
Minha palavra caminha mais que o vento
E o golpe de meu braço é como o tombo
[de um carvalho,
Porque Tu estás em mim e o amor de Ti
Faz-me pequeno e grande como a chuva...

O amor de Ti, referve em mim, ó Deusa
Como o sangue de um leão dentro de humano corpo.

Eu, deveras, confesso que me orgulho,
Com soberba que rogo me perdoes,
Do amor de Ti que justifica a minha alma
E faz-me carecer de tua mão e teu consolo.
Não morra eu por orgulhar-me de tal sina
E haja perdão para a soberba de Te amar.

Igor Buys

______

*Quando estou fraco então é que sou forte; Paulo de Tarso, Segunda Carta aos Coríntios 12:10.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

sol negro e
seu avesso: a neve
que cobre
branca como a
lua

a folha voa
as cartas voam
a ventania varre
a rua
de leve


js.
Aquele que mora dentro dos seus poemas,
esbarra nas métricas,
se aconchega nas rimas
e pode engasgar com as metáforas.


Susan Blum Moura

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Estranho


Não entenderás o meu dialeto
nem compreenderás os meus costumes.
Mas ouvirei sempre as tuas canções
e todas as noites procurarás meu corpo.
Terei as carícias dos teus seios brancos.
Iremos amiúde ver o mar.
Muito te beijarei
e não me amarás como estrangeiro.


- Max Martins, em “O Estranho”. Belém: Revista de Veterinária, 1952.

Os últimos dias de paupéria

Andar andei
Não é o meu país
É uma sombra que pende
Concreta
Do meu nariz
Em linha reta
Não é minha cidade
É um sistema que invento
Me transforma
E que acrescento
À minha idade
Nem é o nosso amor
É a memória que suja
A história que enferruja
O que passou
Não é você
Nem sou mais eu
Adeus meu bem
( adeus adeus)
você mudou
mudei também
adeus amor
adeus e vem

- Torquato Neto, em "Os últimos dias de paupéria". [Organização Wally Salomão e Ana Maria Silva de Araújo Duarte]. São Paulo: Max Limonad, 1982. (musicado por Renato Piau).

ÁRVORE



cego
de ser raiz

imóvel
de me ascender caule

múltiplo
de ser folha

aprendo
a ser árvore
enquanto
iludo a morte
na folha tombada do tempo

© MIA COUTO

In Raiz de Orvalho e outros poemas

O enterro do lobo branco

"O cão branco-cinzento gania embaixo do caixão me olhava de viés e ela estava lúcida nunca a vi tão lúcida e calada senti um certo conforto não precisaria mais atar sua boca nem prender seus pulsos nem ameaçá-la com a arma e o estrondo de festim tentei chegar mais perto queria abrir sua blusa e soprar seus seios passar os dedos em suas auréolas roxas mas o cão gania então me afastei e um cheiro de cânfora tapou minhas narinas" 
Márcia Barbieri

Volante Verde

A verdade é semelhante a uma adolescente
vibrante, flexível, em radiosa sombra.
Quando fala é a noite translúcida no mar
e a esfera germinal e os anéis da água.
Um apelo suave obstinado se adivinha.

Ela dorme tão perfeitamente despertada
que em si a verdade é o vazio. Ela aspira
à cegueira, ao eclipse, à travessia
dos espelhos até ao último astro. Ela sabe
que o muro está em si. Ela é a sede

e o sopro, a falha e a sombra fascinante.
Ela funda uma arquitectura volante
em suspensas superfícies ondulantes.
Ela é a que solicita e separa, delimita
e dissemina as sílabas solidárias.


António Ramos Rosa
Não tenho mais
medo das palavras.
Por medo, a carnadura da fuga.
Não mais que um modelo vivo
franqueando o traço,
na transpiração do neutro,
desconstituindo o branco.

O que não seja possível
irremediavelmente
num cinzel, no meu corpo,
na chuva. Encontrando
palavras que esvaem.
Névoas de lascas
esperam.

Dos meus dentes,
as marcas.
Sorrindo, a raiva.
Ainda o nada
parado à porta de nós.
Despido, o medo entre
mim e mim.

(abril/2013)

Roberta Tostes Daniel



O silêncio que devora a noite
é o mesmo que me come o coração,
sem preliminares.

Feito de estocadas,
golpes,
galopes surdos.

O silêncio
é um homem bruto
cuja fome esqueceu de gemer.

Vara pelas horas,
equídeo e solitário,
desmembrando-me.

Arranca, a pancadas,
um uivo negro, abortado
de caminhos que ele mutilou.

(2012)

Roberta Tostes Daniel 

das estranhezas



às vezes
estranhas tempestades
transbordam dias azuis

entre o audito e o antídoto
___ jaz o preterido

Cláudia Gonçalves 

DISTÂNCIA


eu em casa
tu na rua

tu de gala
eu tão nua

eu na cama
tu na lua

tu em outra
eu na tua

(poema de Denizis Trindade, poeta bissexta e atriz. É integrante da Gang (o bando poético-performático que segurava o pornô-poema e hoje se apresenta em eventos especiais) e da Dupla do Prazer. Têm 2 livros publicados, Sessão Cabacinho e Book New Look .Denizis está na serie AS MULHERES POETAS...Se quiser ler mais, clique no link

MADEIRA


há rumores de que o tempo
devastou paredes e cercas

que a película da noite
não esconde a palidez
das roupas e dos fios

há rumores de que as vidraças
não contêm os motores
tampouco os silêncios

que a madeira cansada
contrai, range, geme
estende aflita os seus nós

há rumores de que os pés
não pesam mais que as partidas

(poema de DANIELA DELIAS, poeta gaúcha, psicóloga e professora universitária. Tem poemas publicados no Livro da Tribo, em revistas literárias e no blog de poesia Do Lado de Cá. Publicou seu primeiro livro de poesia, Boneca Russa em Casa de Silêncios, em 2012. DANIELA DELIAS está na série AS MULHERES POETAS...Se quiser ler mais, clique no link http://www.rubensjardim.com/blog.php?idb=39125

O enterro do lobo branco

"Depois veio o desmaio o segundo se não me engano em pouco tempo era uma espécie de convulsão sem a baba branca sem o tremor e sem o esquecimento total a minha memória ainda funcionava pelo menos era o que eu acreditava não poderia deixá-la mofando ali e ela mofaria com facilidade naquele caixão de madeira barata nem envernizado era e as alças bem não vi alças nenhuma o que me levava a crer que ela passaria a eternidade a ser velada por aquele cachorro branco e sarnento fiz o que deveria ser feito todos me olhavam atônitos Maria Joaquim Amâncio Rubra Amadeo eu nem sabia que ela tinha parentes ela era tão independente e em seus traços nunca descobri ninguém talvez uma semelhança minúscula com um sagüi nada mais a agarrei pela cintura forcei seus braços a segurarem em volta do meu pescoço ela era mais pesada do que imaginava ela era mais leve há anos atrás antes do homicídio" 
Márcia Barbieri
pankrac te espera
com a terceira lingua
conspirando sem saber

é preciso q se dispersem
q não destruam nada
q se calem totalmente

“se vc não voltar
é possivel q seja o fim
e não se resista de vergonha”

depois dessa moralidade
sempre fria e ridicula
nem vinho nem vinagre

cabelos arrepiados de pavor
como esses viralatas
e ninguem da um pio

“não me interessa nada
nada de nada e a cerveja
é sempre pouca e cara”

a policia rasga e bate
ate a carne se arrepender
ate as palavras menstruarem

todos se cagam de medo
tudo continua igual igual
e começa a festa bruta

“se o tempo é grave
a ponto de se ter q matar
tanto melhor se somos muitos”

somos muitos e nos divertimos
nos aquecemos nessa noite
e as noites são todas frias

ou então faremos macarrão
fuzilamos esses idiotas comendo
fatias de anchovas em conserva

“é porisso q é preciso o terror
pra q a carne o desejo e tudo
teja bem a altura da pena”

o circulo não passa de merda
essas moscas emporcalham
a vida as horas o riso e o rio

“grande cagada a de vcs todos
jamais perdoarei essas moscas
se acharem no direito de voar”

agora é ate proibido cuspir
pensar nem se fala assim
como essa rigida nudez

com essa cara de burocrata
coturnos e balas de borracha
e não se faça de idiota


*
Alberto Lins Caldas

para António Ramos Rosa

quem sabe morrer é tanto
que nenhum poeta morre
sem saber da morte certa
na busca do que é seu.

morrer pode ser um sono:
em delírio cabe tudo.
o poeta sabe bem
a morte, um puro ajuste."

( romério rômulo)
Para costurar a mortalha
agulha sombra e silêncio
ir do fim ao princípio
e alinhavar cada parte
cantar sobre o velho corpo
unindo o algodão branco
ao visgo do barro negro
à sombra do verso torto


js.

SER UM



das coisas que me doem, a hipocrisia
é a número um da lista enorme
a dois, o consumismo de hoje em dia
tirando o sono até de quem não dorme

a permissividade é outra cria
desse hedonismo ególatra biforme
que faz do Ser o Ter em agonia
levando o amor embora do Eu disforme

este vazio moral que a tudo assola
e sobre a alma faz carnificina
no Inferno dá nome à fome ugolina

pois quem de si não faz caminho e escola
nega ao Espírito a expressão mais pura:
ser Um pelo Amor, Trabalho e Cultura!

antonio thadeu wojciechowski


um riso que medisse
350 milímetros cúbicos
quando doesse
como a chuva
desproporcional -
vem alagando tudo
ri pro mês inteiro


Roberta Tostes Daniel 
nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase
rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos
nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha.


paulo leminski

bicho, 1

quantas idades temos
quando amamos?
que bicho nasce em nós
quando acordados?

somos dezembro,
bicho no final?"


( romério rômulo)

domingo, 22 de setembro de 2013

o tempo não apenas abre covas
meio dia existe com a fronteira clara
e simplifica na manhã o absurdo

posso ser daqui de minha saudade
a vida recomeça

no agora das praças dos beijos
das duas meninas
desafiando lobos mais feios
que nas fábulas

o que se conhece do tempo derruído
importa conceber
ao modo de fazer caminhos

leio fervorosamente nesta manhã
eu poderia estar em bali
em qualquer praia

no desfiladeiros das montanhas
ser o chile inteiro
andina

o que sou nesta manhã
não importa mais
do que ser nesta manhã


Roberta Tostes Daniel