um poema do meu livro
NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA
virginia percebeu a
loucura voltando, vincent percebeu a loucura voltando, as rosas perceberam a
verdade. as horas perceberam a loucura das rosas, ouvir a verdade. os quadros
sabiam a verdade, desde o início os quadros ouviam e gritavam a verdade – a
beleza está por toda parte. todos os outros estavam surdos à verdade. esta
surdez, a forma mais compreensível de mediocridade, não apenas uma aceitável
forma de ausência de coragem, mas a mais segura e confortável forma de ser –
inútil paisagem. loucura é ouvir o que me grita beleza por toda parte. virginia
viu, vincent escreveu, que inútil era amar a arte. pois a vida é surda a esse
amor. há dias em que a vida é surda a todos os amores. a vida jamais saberá nos
amar como nos ama a arte. loucura é apenas ouvir o que me grita beleza por toda
parte, é ouvir o que me grita luas por todos os lagos, o que me grita luas e
lagos por todos os lados, o que me grita virginias e vincents por todos os
quadros. os outros estão surdos, e pensam que estão certos, pensam que sabem o
que sentem os pianos, o que os pianos perderam, tudo o que os pianos não
perdoaram. apenas porque estão surdos, eles pensam que podem ser beethovens. e
assim desperdiçam pianos a qualquer hora, a qualquer rosa, a qualquer quadro.
vincent, virginia: tanto viver que para eles era imperdoável: tanto amar que
para eles era insuportável. pois tudo era belo. no fim tudo tinha sido belo,
mas os outros diziam que não. eles diziam que toda aquela beleza era maligna e
não magnólias, decidiram que tal beleza era culpada. e eu, ao falar dela, mais
um cúmplice de suas incandescências; sobretudo para as rosas, um réu confesso
de todo o seu arder, aquecer e aclarar.
virginia percebeu a
loucura voltando, ela percebeu que as coisas belas eram as culpadas. a beleza
era a única culpada por nós não amarmos todas as coisas.
vincent percebeu a
loucura voltando, ele percebeu que as coisas feias eram inocentes. as coisas
feias não eram feias, elas sempre foram inocentes de toda a nossa falta de
amor.
FERNANDO KOPROSKI
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