sábado, 31 de março de 2012

Hoje

Hoje
não quero ligar o rádio
ouvir notícias
do tempo
dos povos,

Hoje
não quero ligar a tv
pra ver cenas
de violência,

não quero
folhear jornais
pra ler manchetaes
de trajédias,

não quero entrar na internet
para teclar, pesquisar,
blogar, twittar...

Hoje vou fazer o contrário
de todos os dias

sintonizar o silêncio
nada a dizer
nada a pensar
economizar termos
nada a escrever
nada a olhar

hoje
não vou me matar.

Vladimir Cunha Santos.RS

quinta-feira, 29 de março de 2012

O Mi(n)to nas escolas.

É mais ou menos assim que as escolas hoje fingem que ensinam. O aluno não deve aprender, basta decorar. Assim, ele finge que aprende.
Dessa maneira, o mundo que estamos vendo, participando e não gostando, segue atrelado a 'Cangas' pesadas, colocadas numa horda de incompetentes cultos, com anel no dedo, diplomas na parede, 'Especialistas' nisso ou naquilo, que se recusam a ...abordar outro tema que não o da 'Pós', com 'Mestrados' em que a 'Dissertação', mas parece uma redação de curso primário, (aquele dos bons tempos escolares, porque as redações do ensino fundamental de hoje, são no mínimo caóticas), e 'Doutorados' que atrelam um par de antolhos aos supostos doutos, que de nada mais sabem falar ou discutir, além daquilo para o quê, se prepararam.
Criatividade..., não mais existe. Percepção..., muito menos. Se o Homem, hoje, menos 'Sapi-ens', com toda tecnologia que dispõe, tivesse que 'Inventar A Roda', passaria a eternidade, empurrando coisas quadradas, ou pela tecnologia aplicada, coisas..., 'Poliédricas'. Se precisasse descobrir o fogo, morreria queimado sem entender o que teria acontecido.
Enfim, sabendo que 'Existem Exceções Às Regras', me atenho não só a imagem da foto atual, mas, a Aldous Huxley, no maravilhoso 'Alerta' de 1931, "Admirável mundo Novo", que na-quela época já falava de uma sociedade de castas científicas, onde a vida parecia não existir. E ainda no pensamento do autor, gosto de uma frase dele que frisa:
"A pessoa inteligente, escolhe a experiência que gostaria de realizar".
Triste. É muito triste ver no quê, a humanidade está se transformando.
Assino, por entender importante e responsável cada palavra que, coloquei.



Olinto Simões

terça-feira, 27 de março de 2012

REVOLTA

O náufrago social que andeja ao léu,

suplicando socorro a cada esquina,

é fruto de omissão torpe e assassina,

assoberbando o sofrer do povo incréu.



Não dá para entender que seja sina

nascer e renascer no carrossel

das desgraças atrozes, negro véu,

diante do que a existência nos ensina.



Sob a promessa vil da camarilha,

eleita pelo voto dos plebeus,

vão-se outros miseráveis às calçadas.



O discurso farsante que enrodilha

ao comando de astutos fariseus

gera revolta assaz encarniçada!

Antonio Kleber

Anthropocetáceo

Igual a
personagem
desconfia
do ator
que é,
em voz
e carne,
ao remover
a primeira
camada
de maquilagem,
anthropocetáceo
emerjo,
do frívolo
mar
espesso
das
convenções
sociais.

Ricardo Pozzo

domingo, 25 de março de 2012

Poesia engarrafada

Meus sonhos em fuga
se recolhem a gavetas
ou papéis
(poesia engarrafada
em porres que não tomei).
Sonhos se agasalham
em abraços que não te dei.
Sonhos nascem
sem grandes esforços.
E eu quero deixar te amar
E sinto que não posso...

Caco Maciel. RS

terça-feira, 20 de março de 2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

Versos de dor


Enquanto você dormia...
Escrevi esses versos de adeus
Rasguei suas recordações
Rasguei minhas ilusões
Enquanto você dormia...
Vi que seus beijos não
eram só meus.

Enquanto você dormia
Dilacerei meu peito
Chorei um amor desfeito
E esses versos num
Papel molhado
São lágrimas de um
coração despedaçado.

Enquanto você dormia
Meu sonho desmoronou
Revirei seu mundo
O meu foi ao fundo
Enquanto você dormia...
Sorriu e outro nome chamou.

Sirlei Passolongo

Gosto de gente


Gente
Que sente
Que chore
sorria
Reclame
Ame

Gente que fala
Que rala
Que grita
Agita
Bonita
Na alma
E no coração

Gente
Que ajude
Que grude
acompanhe
Que ouça
Louca
que
Tenha amor
Pelo amigo
Seja abrigo
Nas horas de dor

Gente
Que sente
E mesmo distante
seja consciente
Gentilmente presente
Na vida da gente.
Gente como VOCÊ!

Sirlei L. Passolongo

sábado, 3 de março de 2012

O ano da morte de Ricardo Reis


Não cante o desprezo dos deuses, Ricardo
Não colha as flores mortas ao lado do Tejo
Os fardos humanos são apenas isto — Fardos
E os beijos sensuais são apenas isto — Beijos

Sou toda verão na alcova, acesa, à tua espera
Estonteante mulher que levas a ver as flores
Enquanto os pássaros trinam alto — Neera!
Nada nos falta, mas, em ti brotam mil dores

Quando a morte te buscar, aquela que conheces
Voltarei aos prados colhendo as flores vivas
Tocarei a pele do planeta murmurando preces

Banquetearei na relva, as flores como convivas
Dói, Ricardo, saber que todos os campos serão meus
Ainda orvalhados de lágrimas dos belos olhos teus

Bárbara Lia



Ausência de Pessoa

O balcão feliz, o chão da Leitaria do Trindade
O fatal silêncio ocre escuro de folha outonal
O ar se altera — ventania, mistério e divindade
Prenúncio da chegada do poeta lusitano genial

Nas manhãs um copo de vinho, gesto costumeiro
— Bom dia, Trindade! O copo de vinho estendido
Nas noites escrevia com a luz da rua — candeeiro
Mil vozes e mil rostos em seu rosto, escondidos

Esta epopéia diária das paredes a abrigar a figura
Roupa escura, chapéu e óculos, passo que levita
Esta contumácia de pedra que abarca a água pura

Esta rotina de lírio e fogo que segue e nada evita
Quebrada em um novembro com a morte do poeta
Médico pastor escrivão engenheiro místico esteta

 Bárbara Lia


Sonetos publicados na edição de Março/2012 #143 - Jornal Rascunho

Paisagem de chuva para Bernardo Soares



Há qualquer coisa do meu desassossego no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra.

Bernardo Soares

As árvores fogosas escolhem seus amantes
Quando eles se aproximam ampliam o verde
Encolhem os caules que se enlaçam ofegantes
Como a mulher trança suas pernas sem alarde

Para prolongar o gozo mais silencioso que o ar
As pedras se abrem e voluptuosas expandem
Para acolher aos amantes que fazem tiritar
Seu coração de granito, oco de luz ou sangue

E eu que sou chuva aprendi a ser humana
E te amar com minha molécula de Oxigênio
Para não brigarem entre si com ódio e gana

As minhas outras duas moléculas de Hidrogênio
Cada gota cumpre o acordo tácito com lealdade
Esplendor lírico e líquido nas esparsas tempestades

 BÁRBARA LIA Nasceu em Assaí (PR). Publicou sete livros de poesias e dois romances. Criou a coleção 21 Gramas – inventário poético, registro de sua obra em livros artesanais. Integra, entre outras, a Antologia O que é poesia?, O melhor da festa 3 e Concurso nacional de poesias Helena Kolody.