quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Quantas vezes você se arriscou
a traçar o seu destino ?
Quantas vezes você se deslumbrou
pelo caminho
mudou seu rumo
e viveu seu caminho absurdo?
Quantas vezes você se perdeu
neste raio deste caminho absurdo ?
...e quantas vezes você deu
de cara com você mesmo voltando ?
Quantas vezes você se permitiu
viver  e deu um voo para a liberdade?

Cristina Siqueira

Cristal divinatório

Em meio a formas exatas e precisas, lá estava eu. Tão rodeada de mim mesma que não pude deixar de tocá-lo.Tão dura água onde os dedos deixam vestígios,marcas , provas.Ainda pensava em olhá-lo quando fui capturada.Atravessei sua falsa transparência.Procurei Alice. Ouvi segredos e compartilhei dores.Um cristal de adivinhações que conhece todos os meus truques.Sua transparência denuncia meus vícios.Atônita tento ficar sózinha ,mas qual,dentro de um espelho há milhões de nós mesmos .Depois que ultrpassei a barreira desta tão dura água sou o avesso de mim mesma .Abandonei meu reflexo na prata polida  e alguns instantes em retratos maltirados .Agora registro lufadas , bafos de vida .Descubro como sou .O que sou .Vou ficando dentro dessa gruta silenciosa esperando por mim para ,apenas , me olhar .Lembrar como sou .Dentro dos espelhos moram nossas almas , do lado de fora somos apenas reflexos.

Iara Lessa
jornalista

fonte:O que narciso acha feio.Nicolau.ano VII.n52 
por teres ido tão longe
embora sem ter fugido
parece não teres ido

e hoje é como se ontem

como estás fora da vista
a minha imagem de ti
que já está fora de si

segue a tua pista.

Marcos Prado

A face da fonte

De início, nada;na clara superfície,a face refletida é a sua- perfeição, imagem -aequétipo do belo.Mas além dessa que vê, há outra , que a fonte não reflete ,nem muito menos pode ver em seu momento de verdade .Sobre ela, Narciso reflete agora: o belo em que sói gratificar-se é apenas o que vê na face da fonte, ou antes a imagem vista por ela , unidimensional, daguerreótipo das águas . Só ele tem acesso às múltiplas feições ,aos heterônimos íntimos,às cambiantes prismáticas, estroboscópicas, que estão além, por trás da própria face.Se  pudesse , debruçado sobre a fonte , tocando a com a mão ,fender em mil estilhaços líquidos esse retrato estático, e dentro dele ver o que só vê a mente , o belo começaria a desfazer-se: o tempo , a solidão,o aquém do sonho, a pequenez de tudo, essa ânsia insopitada- o feio.

Ivo Barroso
tradutor

fonte:O que narciso acha feio.in Mosaico.Nicolau ano VII.n52

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A flor dentro da árvore 5

“Sinal cifrado para enovelar o divino”



Bárbara Lia

Trinta e dois ventos



da rosa dos ventos



Vinte e um gramas



do peso da alma



Oito países



a comandar a Terra



UM Deus louco



pelas ruas bombardeadas



Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Natal já passou ?

Muita gente acha, ou pensa que sim. Eu digo que "Não". O que passou foi uma festa cristã, que a maioria dos cristãos só se lembra de comemorar no dia 25 de dezembro.




O que comemoram é o aniversário de nascimento de Jesus, inegavelmente, um "Grande Homem".



No entanto, o aniversário é dele, mas, todos dizem uns aos outros, "Feliz Natal", que originalmente quer dizer, "Feliz Nascimento".



Essa já é a uma incoerência. Outra é que amanhã, segunda-feira, os chamados, "Sentimentos Natalinos", já terão desaparecido. As pessoas voltarão aos afazeres normais, sem lembrar o que faziam há apenas, três dias.



Na seqüência ilógica da vida, todos estarão se preocupando com o "Passar De Ano", com o que vestir, (se a coisa da cor tal, representa isso ou aquilo), o que comer, (se a carne tem que ser do bicho tal porque ele faz isso ou aquilo), onde passar, (porque depende de como agir para que o ano novo seja isso ou aquilo).



Enfim, as pessoas continuaram como eram, nada mudou.



A mediocridade espraiada, com ondas às vezes grandes outras, pequenas marolas, entretanto, na média da maré vivente, continuam medíocres.



Da minha parte, desejo do fundo de meu coração, que a cada dia, ao despertar, você perceba que nasceu novamente, (poderia ter morrido durante a noite), ou como dizem, os mais adiantados místicos ou filósofos, "O Sono É Uma Pequena Morte". Então receba de minha parte, reafirmo, o meu "Feliz Natal Pelo Seu Despertar".



Ah.., e sobre "Jesus", viva como ele ensinou, mas, o que ele ensinou sobre a vida, não o que algumas religiões querem que você viva, se sacrificando por outrem, se flagelando, se martirizando. Ele deu demonstrações fantásticas de "Verdade, Integridade, Ética", e porque não dizer, até de "Santidade".



É aquela cara, foi, e continua sendo..., "GRANDE".



No "Ano Novo" escrevo mais sobre a minha maneira de ver como as pessoas se conduzem. Quem quiser que aguarde.

Olinto A Simões

Natal

" e um menino pequeno os guiará"


( Isaías, 11:6 )



As crianças têm o próprio tempo.

O relógio, o calendário não fazem sentido. Se os usam, serão apenas brinquedos.

O olhar delas é puro encantamento.

Enquanto adultos veem obrigações e responsabilidades do tempo, as crianças veem todo o trajeto da vida.

O olhar infantil sobe e desce desvendando misteriosos voos, asas, ruídos, cores, formas e cheiros.

Todos sabemos que a infância é o período mais poético do ser humano, mas a vida adulta insiste em suprimi-la o mais rápido possível.

Apesar de sabermos que para entrar no paraíso deveremos ter um olhar de criança, tornamo-nos cegos.

E as enchemos de brinquedos, cada vez mais virtuais, para que parem de olhar por aí, bisbilhotando mundos inúteis.

Para quem, com olhos infantis, observa o mundo, não esqueça de deixar renascer a criança dentro de si. E, dê-lhe a mão e brinque o Natal.



Deisi Perin

domingo, 26 de dezembro de 2010

Velha da tribo

Para onde vai Dona Olinda ?
Levar a beca no pasto ?
Faz tempo que viajas
sem reclamar com os anos
ou com a partida dos filhos.
Por aqueles que foram
teu coração calado guarda
a emoção sólida sobrevivente
da raíz familiar contente.
De onde viestes ?
a festa aconteceu
e não participaste.
Para onde vai Dona Olinda ?
Chegou a hora de entoar
o canto a todos os pássaros.
A tarde bate em nossa porta.

Batista de Pilar
Mesmo que a vítima
adormeça
a corda enlace o pescoço
a voz se perca no grito
e o circo desapareça...

Ainda haverá espetáculo.

Batista de Pilar
se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que mande o rei à patria
que o pariu

se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao povo
que o rei ainda não sabe
se vai, se fica

se é para o bem de todos
e felicidade geral da nação
diga ao rei
que o povo fica.

Nicolas Behr

O encontro

A beleza de um poema
não está na escrita
na métrica ou na rima.
A beleza da poesia
está dentro de quem a lê.
Descobre e a recria
Revelando o encanto
De saber-se poeta
Na luta do dia-a-dia.
Como a abelha
que beija a flor,
transformando beleza
em doce sabor.

João Bello

natalino sentimento

Natalino sentimento
O nascimento de atividades
Em constante movimento

Beto Xavier

A flor dentro da árvore 4

“A lentidão das palavras do arcanjo ao acordá-la”



O sagrado despe as ilusões



e abraça as árvores mortas



Suas folhas azul esmaecido



qual manto da Virgem de Cambrai



Os ossos das árvores adoeceram



e elas morreram – azuis -



Antes que tornassem brancos



os seus cabelos.




Bárbara Lia

sábado, 25 de dezembro de 2010

O que fez para merecer
a graça de um dia com sol , poucas dores,
e uma caneca de café preto?
Talvez tenha sido
por um jeito de olhar para os outros
e saber que é assim que eles são,
e pronto,
sem exigir
que se abandonem ao que não lhes cabe.

Neuzi Barbarini
Autora de Poesia de uma mulher Comum(Editora Scortecci ).
Diz o catecismo.
cuidado menina
com o que olha, pensa e sente,
come, cheira e deseja.
Cuidado: condenação eterna
para quem não conhece o perigo,
ou conhece,
tão bem que já sente queimar por dentro
chamas do seu inferno particular.
Desejo em brasas
que de tão cuidado
sente demais.

Neuzi Barbarini

Quaderna

Quatro pontos cardeais
Quatro estações do ano
Quatro cantos num cubo
Quatro linhas de um campo

Quatro trevos que descubro
Quatro lados da moldura
Quatro elementos na natura
Quatro pontas de uma estrela

Quatro balas de alcaçus
Quatro tempos num compasso
Quatro horas da manhã
Quatro rodas num carro

Quatro sementes de romã
Quatro sinais da cruz
Quatro mundos por segundo
Quatro quartos numa casa

Quatro pernas de uma mesa
Quatro pessoas numa mesma
Quatro pássaros sem asas
Quatro brilhos nasta espuma

Mas só uma vida, só uma.

Rodrigo Garcia Lopes.
Autor de Nômada(Lamparina,2004)

"o peso da mágoa"

para começar um blues no violão
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição

para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão

a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito

para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito

um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração

Fernando Koproski
Autor de Nunca Seremos Tão Felizes como Agora (7Letras,2009)
Atirou na mesa a vida(um
saco de feijão) espalhando as
mãos em palmas de um
público particular.Não
pensou em temperos antes da
escolha dos grãos.Excluiu
simplesmente os carunchos
porque não servem à fome.
Transbordou junto à água os
aplausos.Escorreu, junto ao
pó,bastidores.Não tombou
no azulejo em deslize porque
raízes nos pés sempre em
broto...Regulou da panela a
pressão (o tempo que se
demora em fervura, trajetos
lentamente macios).

Lindsey Rocha
Autora do livro Nervuras do Silêncio (7Letras).

Àquela a Quem Eu Nunca Tinha Escrito

Àquela que rolou sobre meu parco limite de poeta,
e nunca revelou qualquer vontade sua, secreta,
de ser musa daquele que mal sobrou por aqui:
a quem meus pedaços são obras completas,
a ela , a que ainda vê gume nessas cegas setas,
vai o lapso do melhor verso que eu jamais escrevi.

Ivan Justen Santana
http://www.ossurtado.blogspot.com/
As palavras se sujam de nós na viagem
Mas desembarcam no poema escorreitas :
como que filtradas
e livres das tripas do nosso espírito.

Manoel de Barros. in Comparamento.

A flor dentro da árvore 2

“Até que os serafins acenem com seus chapéus brancos”



Bárbara Lia

Não nasci para resfriar o mundo



Neste lerdo cortejo de omissões



Estas palavras interditas



Suspensas



Não vim quebrar as pernas do sol



Silenciar cada bemol



Não vim para arrebentar o anzol



Do velho de Hemingway



Sou mar e trovão no coração



Nasci para amar sem lastro



Para dançar no pátio



It is my way



Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor

A flor dentro da árvore 3

“Doce como o massacre de sóis”





Bárbara Lia

Oito canhões na praça de guerra

Apontam para o peixe

Que traz a paz nas guelras



Quatro gaivotas suicidas

Lambem o babado azulado

Do triste mar-flamenco



Lembro um filme de Babenco:



Ana e o vôo

Mariposas no quarto lúgubre

Suas mãos em concha

A esmagar a eternidade insalubre



Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

'A pena é a língua da alma "

Cervantes
Nesse mundo absurdo e escuro
quanta dor ainda pode ser ouvida
quando almas entre morte e vida
claman entre oprimidos por trás de muros.

Vejo nascer desses olhos desatentos
a dor. lúgubres e sem esperança ,
daquele que se desespera e não alcança
e que já dorme sem alento

Deixando-se afligir-se a cada intento
de legar ao homem em sua história
o sangue derramado de cada vitória
quase obscurecido pelo tempo não lento

Que leva de nós esta mórbida lembrança
que de exemplo ao infortúnio desta lida
nos encurrá-la como em beco sem saída
e do futuro entecipa o furto da nossa esperança.

Luciane Girardi
"O poeta é verdadeiramente quem roubou o fogo.
É ele que define a quantidade do desconhecido
que deve despertas em seu tempo a alma universal . "
                                                      A. Rimbaud
e quanta ilusão que nasce
lá dentro do coração,
quando o amor vem, aparece,
mesmo em contramão !
Cyroba Braga O Ritzmann

NO JARDIM DE VÊNUS

SÉPIA

Bárbara Lia

Minha luxúria é sépia



Habita estúdios de 1930



Estouro de purpurina



A cada flash do tesão



Minha luxúria – Polaróide antiga



Imprime postais esmaecidos



Sorrisos de conta-gotas



Minha luxúria lacrou



O livro do amor



- utopia dos desgarrados –



(Adeus suspiros de Monalisa



Carícias de carpideira



Despedidas na soleira)



Minha luxúria é parto à revelia



Quando chegas com fórceps



Quando chegas com toques



Quando tocas meu clitóris



Quando roças meus mamilos



Quando afogas o amor



No mar dos improváveis



E ressuscitas O DESEJO



Retirando-me das entranhas de Eros



Pra me batizar com teu sêmen



Abençoado sêmen



Amém



Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.



Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.



Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.



Obra

O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)
O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)
A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)
Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)
Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010

A flor dentro da árvore

DO LIVRO INÉDITO



‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’



BÁRBARA LIA

“Dentro da minha flor me escondo…”









Baile das harpias



Em árvores carbonizadas



Rindo do fim



Fumaça sangra



Nosso jardim



A alma do éden



Adoentada.



Nota – as poesias do livro ‘A FLOR DENTRO DA ÁRVORE’ é um diálogo com Emily Dickinson, cada poesia tem como título um verso da poeta Emily – Ela, árvore; Eu, flor

fonte:blog leituras favre

NO JARDIM DE VÊNUS II

Nunca direi – Te amo!







Bárbara Lia

Nunca direi – Te amo! Posto que é desejo santo



E traz teu rosto – Miragem que pousa na retina



Basta! A primavera garante que elas acabaram



: É o fim das lágrimas. Líquidos apenas outros -



Nosso Gozo. Ainda que embaçado pelas folhas



Do outono que vivemos – É vermelha flor que



Rola na alameda e é vermelho o telefone que



Traz este mar sonoro – Alma ancorada em voz



E quando suplicas que eu te consagre em rito



Eu me banho incensada em orquídeas, jasmins



E quando amanhece e meu ser desperta – Eis:



A primeira miragem – teu rosto dentro de mim



Tu que estás dentro de mim, tu que estás aqui



Dentro de mim. Teu sopro corpo palavra e pau



Dentro de mim. Teu olhar – vidro que parte as



Paredes e me invade. Logo ali a garota sonha -



Tolices ancestrais: Amor eterno casar ser feliz



A pássara que rega com sua aura o raio da lua



Morre de pena da garota que crê – Amor esta



Utopia Mor. O teu grito é o eco do meu – Nós



Cremos sim é no desejo insano inaugurando o



Sol ardente de Eros e a Lua escandalosa dela –



Poderosa Afrodite – Neste intercâmbio voraz:



Tua sutileza que abre minha vulva sem tocar;



Minha loucura: A endurecer teu pau e eriçar



Pelos – Nós nos buscamos na manhã – Neste



Tudo de amar. E quando despes meu vestido



Nada acima da pele. Nada no ar. A não ser a



Canção. Nada a passear no chão – E o mundo



Não sabe que ali – naquela janela – É o Éden



A coberta da cama agora é nuvem. Soro vivo



– teu sêmen que me lava poro a poro. Sim!



A consagração da vida em coito puro a curar



Todo o cansaço, agonia, dores, temores gris



:: O desejo saciado é o céu que nos visita ::



:: O desejo saciado é o amor envelhecido ::



O desejo é um velho sábio, que sacode o ar



E segue sua trilha morto de pena do amor -



Este impostor – Que há séculos e séculos e



Séculos amém nubla esconde a dádiva mor



– Eu te desejo – Tu me desejas



Utopia não nos sacia. Só o desejo -



Só o desejo que chegou sem aviso



Registro, AR – telegrama onírico à



Nossa frente – A nos gritar para não adiar



Teu desejo – Meu desejo – Murmuramos:



Que Eros nos Proteja! Nos Proteja! AMÉM



Bárbara Lia (Assaí, 24 de agosto) é uma escritora brasileira.

Nasceu em Assaí, norte do Paraná. Publicou poemas em jornais literários como Rascunho, Garatuja, Mulheres Emergentes, Revista Etcetera, Revista Coyote, Ontem choveu no futuro. Na Internet, tem textos publicados na Zunái, Cronópios, Blocosonline, Editora Ala de Cuervo, entre outros.

Bárbara foi por duas vezes finalista do Prêmio Sesc de Literatura: em 2004 com o romance Cereja & Blues (inédito em livro) e, em 2005, com o romance Solidão Calcinada (publicado em 2008 pela Secretária de Estado da Cultura). Terceira Colocada no Concurso de Poesias Helena Kolody – 2006, Menção Honrosa no mesmo concurso em 2007. Menção Honrosa no Conc. Nacional de Contos Newton Sampaio/2009. Premiada no Concurso de Contos Grotescos – Prêmio Edgar Alan Poe/2009 e PrêmioUfes Literatura/2009. Entre outros importantes poetas da atualidade, faz parte do livro de ensaios O que é poesia? (Ed. Confraria do Vento), organizada por Edson Cruz.

Obra

O sorriso de Leonardo (Poesia, Edições Kafka – 2.004)

O sal das rosas (Poesia, Lumme editor – 2.007)

A última chuva (Poesia, ME – ed. alternativas – MG – 2.007)

Solidão Calcinada (Romance, Secretaria da Cultura / Imprensa Oficial do Paraná – 2008)

Constelação de Ossos (Romance, Vidráguas/2010)
 
Fonte:blog leituras favre

A torneira e a água

 Uma das imagens mais antigas da minha vida foi uma torneira velha, rosqueada num pedaço de cano enferrujado, que encontrei em alguma rua da minha infância. Estava com um vizinho da mesma idade que, afinal, foi testemunha do meu projeto de engenharia. “Se a gente espetar esse cano na terra e esperar um pouco, é só abrir a torneira e vai jorrar água”. As palavras, reinvento-as agora, mas a ideia era essa. Uma lógica afinal irretocável, fruto da atenta observação de muitas torneiras em muitos quintais, brotando da terra como apoio de um cano – todas funcionando. Por que a minha não funcionaria?
Era preciso escolher bem o lugar, de terra mais fofa, para facilitar a implantação daquele breve aparelho, e de tanto procurar acabei voltando para casa, com a assessoria do vizinho, tão ansioso quanto eu para comprovar a tese. Era mesmo uma euforia – uma torneira pessoal, com água à vontade, para criar uma usina particular, encher baldes de plástico, fazer lama, barro e – diriam as mães – emporcalhar o mundo.
Nos fundos de casa, o melhor ponto, decidi, seria próximo da parede para que ninguém tropeçasse na torneira. A terra seca ali – inútil tentar abrir um buraco com as unhas, mas tentamos.
– Tem de enterrar muito fundo? – o vizinho perguntou, olhando as unhas sujas.
– Assim assim – expliquei com um gesto vago das mãos para manter o comando técnico da operação. Mas também percebi que, com os dedos, o trabalho seria difícil. Em dois minutos encontrei uma faca velha e me pus a cavoucar o buraco, sob o olhar atento do vizinho aprendiz. Hoje divago se a atenção se devia à dúvida de que a torneira funcionasse ou se pela ansiedade de um milagre próximo, simples, funcional e lógico.
Buraco pronto e razoavelmente profundo, espetei o cano com capricho. O vizinho encheu a folga com terra e pressionou-a bem em torno do cano para deixar a obra firme e segura. Era hora de abrir a torneira, o que fiz com parcimônia e certa solenidade, talvez preocupado com os respingos do jorro d’água.
Nada. Ficamos contemplando a torneira aberta e cheia de vento durante alguns segundos, cabecinhas fervendo atrás de uma boa explicação. Senti a condescendência generosa do vizinho diante do fracasso que, agora, era inteiramente meu: “Talvez precise esperar um pouco para a água subir”. Desconfiei de que ele sorria. Fechei e abri de novo a torneira, mas não pensava mais na água – apenas na profunda injustiça de que eu estava sendo vítima.
Mais de meio século depois, relembro o episódio para me assegurar de que, de fato, nunca fui precoce. Tento lembrar em que momento da infância Jean Piaget localiza o estalo abstrato capaz de entender a relação entre a água e a torneira, só para saber se meu atraso era grande. Não importa – passei o resto da vida espetando canos na terra para ver se jorrava água. Dizem que às vezes dá certo.

Cristovão Tezza.
Gazeta do Povo21/12/2010 |

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

sábado, 18 de dezembro de 2010

Maré

Quando a renúncia nos torna vazios,
a maré do absoluto nos invade
plenamente.

Helena Kolody

exposicao inquietações e contradições

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Borboletas, 2007.Parque Nacional do Juruena, MT

RÉQUIEM

E meu poema tornou-se sangue

Tornou-se vinho, fel, paixão...

Foi água presa, aurora e mangue,

Mas não nasceu da inspiração.

.

E o meu poema teve as dores

De um texto pobre declamado,

Teve desilusões e teve amores,

Porém não fora inspirado.

.

E o meu poema teve alegrias,

Foi tão pequeno e infinito

Com pretensões tolas, tardias,

E só morreu por ser escrito.

.

O.T.Velho

Pico do Paraná, 2006.Serra do Mar

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

TREJEITOS E GESTOS

E o meu poema fez-se velho

Surgiu, um dia, amarrotado

Me fez lembrar um evangelho

Que tinha algo anotado.

.

E o meu poema fez-se carne

De condição inconsistente

Já não podia mais deixar-me

Era meu corpo ali presente.

.

E o meu poema fez-se tudo

Numa sequencia interminável

Parou um dia, fez-se mudo

E assim tornou-se inacabável.

.

O.T.Velho

Macaco barrigudo

MINHAS PRECATÓRIAS

Eu não sou o que pareço,

Sou o lugar onde me ponho

Mas eu dele só conheço

Que faz parte de um sonho.



A outra parte em mim é algo

Que suporta minha crença

Tem trejeitos de um fidalgo

Nada diz, não dorme ou pensa.

.

Uma tem em seus enganos

Os que a outra cometeu

Pois fizeram os mesmos planos

Pra não serem como eu.

.

O.T.Velho

Pelourinho,1954.Bahia

OLHOS DA COR DO MAR

Não tira teus olhos dos meus

Pois desta mescla esparsa

Resulta em ver-me nos teus

O que nos meus se disfarça.

.

Pois um olhar tanto exclama

E quando fala de si

É como o brilho ou a chama

Do meu olhar visto em ti.

.

É assim que os olhos se vêem

Numa intenção de dizer

Que toda a visão que contém

Vem de um outro os ver.

.

O.T.Velho

REENTRÂNCIAS

A vida por meus olhos passa

Sem que eu perceba exatamente;

Sou a vidraça que se embaça

E a nada vê tão claramente.

.

E ainda assim não sei notá-la

Ou distinguir a intenção

Da mesma imagem que se cala

Quando me escapa da visão.

.

Somente sei reconhecê-la

Até onde posso arguir;

Se o céu existe numa estrela

Eu fiz-me dela ao existir.

.

O.T.Velho

NA ESTRADA PRA CURIAPEBA

O pneu velho na estrada

que sabe ele de ser?

Não teve a vida começada,

E bem pouco a pode ter.

.

Nada foi do que não acha,

Se perdeu no segmento,

Com seu corpo de borracha

Na estrada em movimento.

.

Se mais nada lhe ocorreu,

Não importa ter morrido,

Foi somente um pneu,

No bem pouco a ser sabido.

.

O.T.Velho

AS TARDES DA RUA XV

Eu não conheço um dia calmo,

Tudo que sei ou que conheço,

Fica à distância de um palmo

Da simetria que obedeço.

.

Também não tenho a inspiração

Que justifique o mero ato

De me enredar na produção

Deste rabisco ou relato.

.

Pois nada penso que entabule,

Na idéia tola e associada,

Algum escrito que se anule

Na dissertação mal começada.

.

O.T.Velho

http://velhopoema.blogspot.com/

fonte :Conservatório Íntimo

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

PLETORA PLANETÁRIO

Na terra, a vida errante

Em marte, a arte

A arte da guerra

rima na terra

Os marcianos

sem oceano, rio

sem mar, sem mãe

Na terra, Netuno

Os terráqueos

vêem Vênus

multiplicada

vespertina e no

crepúsculo da tarde

Vênus que arde, que brilha

Estrela do amor

Na terra, planta planeta

que nasce ao Sol

Tempo soturno

devora os frutos da terra

à base de urânio

e,suporte,

lá se vão os anéis

ficando dedos

mais úteis e necessários

que luas exageradamente dispostas

ao redor de alguma redondeza sem vida

Há muito a descrever

e por descobrir,

desdobrar,

transcender,

inventar,

escavar,

exprimir,

prosa!

Maria José de Menezes

In Questão

7 setembro latino

desfile de brigadas

povo assiste a isso

sob forte pressão solar

independência ou morte

o tanque avança

o toque de recolher

as bandeirinhas se agitam

venceu o campeonato

o adversário sucumbe

na praça da paz celestial .

Maria José de Menezes

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010