quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2010

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Mário Quintana

Bhutan


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Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.
Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.
E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.
De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

Patagonia


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‘Frutos’

Frutos, dão-os as árvores que vivem,
Não a iludida mente, que só se orna
Das flores lívidas Do íntimo abismo.
Quantos reinos nos seres e nas cousas
Te não talhaste imaginário!
Quantos,
Com a charrua, Sonhos, cidades!
Ah, não consegues contra o adverso muito

Criar mais que propósitos frustrados!
Abdica e sê Rei de ti mesmo.

Ricardo Reis

Kamchatka


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'Sempre um de nós'

Sempre um de nós
foge. Sombria água
trépida e contínua
água em céu diverso
como diversa eu sou
chão sem flor.

Vã palavra, múltipla
palavra, longínqua
semente entre o arco
e a corda. Nada sara
em meu cego corpo
eu que imagem sou,
não alegoria.

Tremor antigo, árvore
sem fruto, nada resiste
nesta cidade sem casa
- só a garça chega em seu
liso voo porque o tempo
nunca é longo.

Ana Marques Gastão

Nocturnos
Canções com palavras
Gótica
2002

Papua Nova Guiné


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SOLITÁRIA

À linha,
fia o dia.
Quando finda a linha,
foi-se o dia.
Vem, em desalinho,
a noite fria.
Acende o fogo
do cio...
Sozinha chia.
Espera mais linha
pra fiar outro dia.

JULENI ANDRADE
http://www.juleniandrade.blogspot.com

DAS MULETAS

Por um momento,
espalha-se a sídrome da manjedoura...
São lágrimas e sorrisos comovidos
em sintonia com as canções mais ternas.
.
Pra colorir o início de uma nova estação
e, pra acalmar toda comoção...
ao ouro, ao incenso e à mirra,
fazem alusão.
.
A mesa fica farta com iguarias típicas
e, o amor é trocado por presentes do mercado.
A manjedoura é lembrada em algumas
cenas de cera, plástico ou de outra qualquer coisa.
.
Logo, o foguetório chega
trazendo nos braços uma nova aurora...
É ano novo, que beleza!
Renovação de alguma coisa!
.
Atravessa-se um mês inteiro
pra cair na realidade...
mudou um ano por outro
e, a vida segue.
.
Chega o tempo de alimentar-se
com novas fantasias...
Vem as alegorias e enredos
ao som de baterias e folguedos.
.
O aniversariante de dezembro
é lembrado em outro festejo,
onde remememoram sua saga
de morrer e renascer inteiro.
.
Nesse vai e vem, de comovidas festas,
o ano passa corrido...
Da manjedora à cruz
tudo pra festa é motivo.
.
De repente, vejo que as verdades
tomam dimensões diferentes...
Tanta fé derramada,
nada de resolver problemas pendentes.
.
Vivem-se amparados em muletas...
os pobres almas, das crenças cativas.
Não querem as rédeas da vida...
preenchem lacunas com datas comemorativas.

JULENI ANDRADE
http://bandasdegaragem.uol.com.br/hotsite/?id_banda=30359

Pra vida poder passar...

Já cheguei à conclusão que não corri, o tempo é que me atropela, sempre rápido demais, e agora... Fim! Fim de ano, de novo! Fico aqui pensando em toda guerra que fiz, só pra pintar a vida de azul, porque é evidente demais que o meu conformismo diante das intempéries da vida, é nulo, não existe. Sempre cheia de atitudes e tremendo de medo, mas disfarço bem. E agora ... Final de ano. Fecha cortinas, abre cortinas, lava a casa, seca roupa, escova os dentes, e esse congestionamento, agarrado, espremido atrás das janelas, dentro das paredes que temos que atravessar. Essa minha dupla personalidade farta de antecedentes, de carmas, de memórias que tenho que carregar...

(Parte de um texto com o mesmo nome que se encontra no blog da autora , http://www.mara-araujo.blogspot.com)
Mara Araujo

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sentia apertar o sapato, então parou na janela para esconder a meia que cobria o tornozelo. Antes de tirar pensou na existência humana, já que o simbolismo era notório em seu léxico causal. Tornou a volver os olhos sobre si mesma e pensou o porque sofrera tanto a palmatória dos outros, meninos. Alojaria em si tamanha incongruência? Pensaria em gerar no útero a criatura monoaureolada especulada nas fábulas modernas? Tinha auto-compaixão e pensou em não cometer o suicídio, mas ficar em casa para ligar para alguém de sua lista de contatos esotéricos:

-Olá Márcia, está em casa? Gostaria de trocar as figurinhas de sempre. Tem tempo pra mim? Estou me sentindo mal, enjoada. E não estou grávida. Sou eu, a Helena, lembra? Dos tempos de cinema e literatura nas sessões de psicoterapia. Sinto que estou tendo uma recaída. Olho para as paredes e vejo aranhas imensas, como garras demoníacas em odor masculino e homores fétidos e putrefatos. Gostaria que me explicasse como faço para livrar-me a mim e o meu filho - que ainda não tinha - dessas terríveis visões.

- Helena querida, comprei um sapato que estava na feira. Saiu o preço da sacola. Eu tinha que levar o presente para mamãe, então tornei e fugir de mim mesma. Agora estou longe e não entendo como levar o presente para a mamãe. Acho que amanhã ela vai estar em casa e posso conversar. O que acha disso?

-Márcia, você não prestou atenção a meus vaticínios. Acho que estamos entrando em uma nova fase lunar não descrita no calendário. A camisa que uso me aperta e não consigo fugir dela como um vestuário que me foi imposto, masculino, contra o assédio dos homens. Gostaria que me contasse o que devo, fazer um retrato fiel de suas idas na feira não me revela algo de novo sobre mim mesma. O que acha que tenho?

-Helena, já falamos milhares de vezes sobre isso. Sabe que tem que conseguir um namorado. Sair mais de casa e conhecer pessoas interessantes. Anda muito contida em si mesma e não presta atenção no cenário que se arma à sua volta. Amiga, tenho muito o que fazer, por isso não conseguirei fazer com que reflita.

-Márcia, somos só eu e você, como sempre, excluindo você. Então penso que estou sozinha.

-Helena esse é o destino. Chamo pelo seu nome várias vezes porque acho que dá pessoalidade. Se não quer ouvir o que tenho a dizer, vou desligar. Sabe que já falamos sobre esse assunto.

-Gostaria de ter essa sua força. Dentro de mim um turbilhão de idéias, como gotas de mim sendo persuadidas a frasear ininterruptamente sobre a situação dos seus namorados. Estava fugindo dessa opressão e encontrei a confusão do espírito.

-Infortunada me encontro. Vitimada pelo próprio cabelo! Gostaria de me encontrar a sós comigo mesma e estou rodeada de víboras ininteligentes. Que os céus e a terra recolham esse sofrimento na masmorra do pensamento que não se embasa na verdade das palavras, mas no horizonte da alma. Tenho em mim mais do que certeza de o dia findará a dor como anestesia da significação da minha dor. Não vejo mal em sofrer a dor dos anjos pois esses se compadecem da humanidade, ao contrário das serpentes egoístas que me rodeiam. Seu mais aflito gesto de amizade apenas me faz entender o quanto estou só diante destas visões macabras que se travestem em presença e me atormentam os sonhos de beleza.

-Sua continuidade faz eu refletir sobre o cabelo, Helena, tenho que cortar amanhã. Quer ir comigo. Podemos passar no médico.

Sobressaíndo a conversa das duas amigas em colóquio aviltado se transformam as luzes da noite em holofotes do pensamento. Curitiba se torna uma mazela de sofrimento psíquico envolto em possibilidade de carnificina interior. Ter a presença dos entes queridos no enterro é a vontade de esclarecer a angústia acerca da possibilidade da cura. Por demais sofremos neste mundo e por demais as amigas se atormentam com a confusão do espírito que corrobora o assédio dessas forças.
Anderson Carlos Maciel

domingo, 27 de dezembro de 2009

Distorções Sensoriais

Parei hoje em certo momento a estalar os ossos. Estico as pernas, os braços, viro e reviro na cama, pensando na totalidade do ser. Ser total! Como será isso? Eu total! Penso numa explosão. Eu, espalhada no mundo, feito raio. Total impacto! Pensamentos loucos. Sentir, falar, ver, sonhar, agir. Razão e vontade. Consciência da morte. Mistério insondável de mundo, de vida. Parei em uma encruzilhada. Estanquei! Mas, também pra que ficar tentando buscar sentido em tudo. Conjecturas infindáveis. Passo a língua no céu da boca, sinto os dentes, molho os lábios, abro a janela e espalho os pensamentos na rua, no ar... Chega! Últimos dias do ano, preciso arrumar a casa...

Mara Araújo
http://www.mara-araujo.blogspot.com

sábado, 26 de dezembro de 2009

Aquela menininha...

Hoje me deparei com uma menininha. Ela despertou devagarinho, esticou um braço, depois outro, virou de um lado e beeeem de mansinho abriu seus olhos amendoados. Tinha um brilho encantador, e carregava dentro do peito um misto de curiosidade e fantasia. Na testa as vezes carregava um coração, outras uma estrela. Não pertencia a este mundo, pisava mais nas nuvens do que no chão. Fiquei hipnotizada pela sua imagem, assim, bem na minha frente! Sei que ela tinha algo pra me dizer, mas era estrangeira, não falavamos a mesma língua, ou melhor, desaprendi seu idioma, pois o trator do tempo apagou-o da minha memória. Mas uma incomum habilidade nos fez falar de uma forma que nos entendiamos. Ela tinha gestos doces e passos rápidos, tinha fome, muita fome, de algo que não era comida. Acompanhei seus sonhos, ora dentro de um balão, ora com uma lupa na mão, descobrindo novos cantos e espaços, sem pressa. Ela não queria saber muito sobre a realidade, acreditava que a magia da vida vinha de lá, dos seus sonhos. Quando dei por mim, já estavamos conversando naquela língua que eu já nem sabia que sabia mais. Essa lingua não era feita de palavras e nem de letras, mas de uma espécie de pó que mudava de cor conforme o sentimento. Ela desconhecia o medo, como eu conheço. Desconhecia a secura do olhar e a rigidez na nuca. Seu brilho me deu confiança e de minha parte, tinha muito pouco ou nada para oferecer a ela, mas ela nada me pedia. Quando abri os olhos ela foi embora, deixando um pozinho do qual eu me alimento a cada dia, o pozinho da menininha que fui um dia.

Nanci kirinus
http://www.nanciaki.zip.net

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Cropopoesia

por que é o mesmo o pudor de escrever e defecar?

(joão cabral de melo neto)




quem gosta de poesia “visceral”,

ou seja, porca, preguiçosa, lerda,

que vá ao fundo e seja literal,

pedindo ao poeta, em vez de poemas, merda.

(antonio cicero)




o ânus é sempre o terror e eu não aceito que alguém perca um pedaço de excremento sem dilacerar-se por estar perdendo também a alma.

(antonin artaud)




para glauco mattoso.




Quero escrever

um poema

a partir da incontinência

de escrever

o poema

(triunfante

como uma cagada),

da imundície

de escrever

o poema.




mais que ruim,

poema fétido:

minha camisa aberta,

a peixaria das axilas,

a alegria gratuita




e irresponsável

de escrever

meu nome

nas coisas,

inda que sujando,

com uma fuzilaria

de engulhos.

que, se jogado fora,

não faça falta no

curso geral do dia

nem, de desimportante,

pese em algum

sistema de erros.

mas sobrevenha

num esquema de porcarias,

misturado a meu mijo

e meus pentelhos.




que feda,

que some aos meus

olhos de esgoto

e flua,

mais que um tietê de bolso,

fluente como diarreia.

(o idioma




da merda, seu fedor,

é direto como um murro,

mais sincero e universal

que o olor das flores.)




que este poema

não aperte os olhos

de um míope,

ou levante os óculos

na testa do comentarista.

que, a contrapelo,

lhes entorte a pose,

a um só tempo

com náuseas

e dores de barriga.




que não seja uma canção,

de tão irregular,

nem, de tão pastoso,

geométrico.

sórdido, cínico, laxativo,

mas infinitamente sincero,

que seja




pegajoso como esterco novo,




sob o assédio do sol




e dos vermes.

quero escrever

um poema

a partir da necessidade

fisiológica

de escrever

o poema.

ele será péssimo, mas

terá serventia,

mesmo infensa:

poema pelo prazer

de jogá-lo fora

(e emporcalhar a cidade)

em limpa consciência.




ou a poesia que há

em não dar descarga,

em não lavar as mãos,




digno do imundo




banheiro público.

poema infecto,

câncer de língua,

lixo literário,

febre do amoníaco,

vala aberta na página,

que vou querer

(menos que não quero) suprimir

do livro,

da memória,

da história

de meu corpo.

mas que, antes,

será motivo de vanglória,

quando o mostrar

ao amigo

como quem exibe no vaso

o design inusitado

da própria bosta.




(quem lhe negará ser

húmus possível

da boa poesia,

perfumosa como o milho?




a stink of beauty




is a joy forever.)




poema abjeto,




que cause urticária

nos querubins,

ânsias de vômito

nas musas,

inesquecível de ruim,

pior




que um gole




de água sanitária.




o menos que se diga,

em flatos barulhentos

(como quem afina




um trompete),

é que é ruim, ruim

de dar nojo, de dar gosto,

entre babas de diarremia,

à liquidez da anemia,

escrito na língua

da impureza,

pra que ninguém

o entenda

senão como um nauseante




e pedestre

acerto.




ou vaso a céu aberto,




coprolatria,

muito além de poema:

a latrina feita templo,

guirlandada com

papel higiênico,

sob anjos feios como urubus.

deus (como todo deus, de dentro)

será um fedor insistente,

será filho de meu cu.




e quando eu excretar

esta obra-crime

(agora mesmo),

aureolado de moscas,

me vaie como quem

me eleva,

que eu sairei andando

com a naturalidade

de quem caga e anda,

de quem assina com a tinta




de sua própria merda.


Rodrigo Madeira
po&Teias

domingo, 20 de dezembro de 2009

Estação do samba

para Marko Andrade

procuro melodia no Estácio
sigo o compasso do ócio no cio
caço o amor pelo laço
nessa cidade um abraço
o meu amor pelo Rio
a noite abro a janela
do outro lado a Portela
azul e branco é meu véu
manto sagrado dos deuses
sambistas que moram no céu
quando amanhece é favela
meu coração passarela
se abre nova estação
seja Portela ou Mangueira
Osvaldo Cruz Madureira
o samba se faz comunhão

Estação do samba
Artur Gomes
http://courocrucarneviva.blogspot.com

sábado, 19 de dezembro de 2009

NÃO É VERDADE!

Não é verdade que eu viva no mundo da lua!
E ainda que vez por outra eu ande por lá,
é só de vez em quando, rapidinho volto pra cá.

A maior parte do tempo, eu vivo mesmo, é entre escombros,
sentimentos em carne viva, palavras destrambelhadas,
lembranças empoeiradas, pequenos e nostálgicos objetos,
frases que tenham vocação para versos,
livros espalhados pra todo o lado e cd´s, muitos cd´s!

Gasto um tempo danado fuçando, tentando perceber coisas
que ninguém mais consegue ver.
Gosto também de ficar construindo castelos de areia,
perco um bom tempo nisso,
até que chegue a maré cheia e desmanche meu prazer.

Tem dias que cismo de andar pela cidade,
dobro esquinas, exploro ruas, becos, praças, pessoas,
recantos onde a quietude se estabeleceu por completo,
e fico planando até a inquietude que eu tenho
dizer que já é hora de me recolher.

Outro dia passei a tarde toda mastigando um poema,
e ele tinha um sabor diferente:
lembrava um pouco as amoras que pela vida afora eu colhi.

Gosto de passar minhas horas mastigando palavras,
até ter delas seus significados,
não aqueles que todo mundo vê, mas aqueles outros,
que precisamos saber perceber.

Portanto, não é verdade que eu seja um poeta!
E ainda que vez por outra eu cometa um poema,
sou só alguém que vive de tentar perceber.
NALDOVELHO

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

ROTA DO DESASSOSSEGO

Rota do desassossego,
caminho trilhado em segredo
por ruas estreitas, esquinas desertas,
por noites chuvosas, esperas, insônia.

Na busca de um sonho,
uma janela que teime
em permanecer entreaberta,
um lugar onde eu possa sorrir.

Rota do desassossego,
por passagens camufladas,
estranhas, sombrias...

Num bar chamado desterro
um garçom atende nervoso,
não pergunta se eu quero beber,
vai servindo a mais pura aguardente.
Não pergunta se eu quero comer,
entrega a conta antes que eu possa fugir.

Rota do desassossego:
a loucura, o vazio, o desejo,
e no fundo do bar um bolero,
um sussurro, um quero não quero,
um sorriso amarelo e indecente,
e o veneno escorrendo dos lábios,
uma porta, o perfume, um atalho,
um lugar onde eu possa mentir.

Rota do desassossego,
amanhecer de maio, é outono,
inquietude, incerteza e abandono.

Pago a conta e saio às pressas,
chorando a dor que em mim é confessa,
dor de escolhas ainda latentes,
brotam em versos pesados, dispersos.
Vou pra casa e tento dormir.
NALDOVELHO

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

O SENTIDO DOS MEUS VERSOS

Quando aprendi a escrever versos,
comecei a fazê-los em silêncio,
imperceptíveis se olhados por fora,
claros se percebidos por dentro.

Aprendi a falar sobre o tempo
do amor que trago em meus olhos,
e por mais que me olhassem por horas,
nunca perceberam-me o intento.

Quando me vi no umbigo em clausura,
comecei a olhar os de fora
e vi que a dor que se sente
não é entre nós diferente.

Aprendi a falar sobre o engano,
como quem fatia o corpo em postas,
e que a vida é feita de perdas,
que ensinam a abrir novas portas.

Quando recebi alvará de soltura,
fiz do verso a amplitude da loucura,
viajei por enredos estranhos,
todos eles em desalinho.

Aprendi que anjos são eternos,
e que a colheita se faz nos caminhos,
sementes de poesia em versos
que alguém por aqui nos deixou.

Quando resolvi ser poeta,
sabia da solidão a que me impunha,
quis ser anjo, ser sonho, ser terno,
semente a ser colhida ao seu tempo.

Aprendi que o sentido do verso,
é ser parte da existência, no alicerce,
ainda que nem saibam o meu nome,
e as minhas palavras se percam depois.
NALDOVELHO

PENÚLTIMA CASA A DIREITA

Casa branca, assobradada,
muro de pedras, gradeado,
penúltima casa, segundo quarteirão,
lado direito, sentido de quem desce.
Na janela, meninas bonitas sorriem pra mim.

Águas, riachos, quintais, frutas tenras,
manga rosa carnuda e gostosa,
jambo, sapoti, peitos,
algumas pêras, fartos melões!
Colos encharcados, coxas quentes,
cerejas presas entre as dentes,
morangos molhados entre as pernas,
suor, pele, e um tipo de orvalho,
aquele cheiro, cabelos, pêlos, fiapos, que diacho!
Fiquei todo lambuzado, baba de moça e caqui.

Amanheço sem alarde, meio bêbado, meio louco...
O poeta gosta de se atolar até o pescoço!
Ou então, de ser seduzido por canto doído de sereia,
de sentir presas cravadas em suas veias
e unhas lascadas, espetadas em suas costas.
Mania de tecer teias, alimento de aranha.
O poeta gosta de areia movediça.

Na esquina, encruzilhada, bar aberto,
manhã cedo, café bem quente, chega de aguardente!
Casa ao lado, muro de pedras, gradeado,
já não correm águas de um riacho,
e as meninas dormem um sono justo,
cadeado no portão, cães ferozes de vigília.
Rua das Professorinhas, número cinqüenta e quatro,
penúltima casa, à direita, ao lado do Bar Solidão.
NALDOVELHO

LONGE DE VOCÊ

Longe de você
todos os dias serão nublados,
as manhãs cinzentas,
as tardes sonolentas
e as noites chuvosas
com madrugadas barulhentas
que é para não se conciliar
a insônia com o sono,
e ao amanhecer com olheiras
ficar patente o abandono
que o poeta costuma viver.

Longe de você a fumaça do cigarro
se mistura com a poluição do ambiente
e o pulmão reclama doente
por conta de um respirar afrontado
e do bater de um coração acelerado
que só faz viver desanimado
por não querer mais sofrer.

Longe de você
todo o amanhã será passado
e passará assim tão calado
que não dará a perceber
aquilo que eu tinha pra viver.

Longe de você
o que como não saboreio,
o que bebo se faz amargo,
e o que cheiro, rejeito enjoado,
e me dá um fastio danado,
coisas de um apaixonado,
desses que dá dó de se ver.

Longe de você
o violão se cala desafinado,
a poesia perde o encanto e a magia
do novo, do surreal, do inusitado
e o que se vê é só lamento, é solidão,
é desentranhamento,
de viver tentando um remédio,
uma vacina, um antídoto
para o tédio de viver sem você.

Longe de você
já não quero saber de outra dança,
se alguém convida, eu recuso!
Digo que estou cansado,
peço licença e saio apressado,
volto para o meu quarto tão frio,
e deito, assim solitário,
pedindo a Deus para parar de doer.
NALDOVELHO

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

De Esquina

1. o travesti

meu amor, ouça!
a vida é um pai
de cinco metros
que tentou me

banir de mim,
que me deu banho
de arruda e socos
e esconjurou.

tem que ser macho
pra abrir o armário
em busca de

seus sutiãs.
tem que ser fêmea
pra entrar nos carros

2. o traficante

cada semana
um tênis novo,
novo relógio,
novo boné.

não fala, mas
vive cercado
por seus apóstolos,
um nimbo de

fumaça suja
sobre a cabeça.
quando morrer

(sempre amanhã)
reviverá
inda mais jovem.

Rodrigo Madeira
Po&Teias

Poligamia.

Vai e vem de estesias.
Esfera de dores prejudicadas como holofotes
que se embasam em canções dos gemidos.
Sente-se o espasmo e volta a solidão.

Não consegui entender nada.

Parece que suas conclusões são abstrações da falácia.
Juntam as crazes com desejos de ser e outras judicações.
Seus sermões como auto-flagelo da ajuda.
Muda tua conduta é um tanto "in'condo [?]" anagramas de palavras.

Safra de martírios da palavra para vocês e para ele.
Sou psicanalista evitando o ridículo pré-programado.
Meu amor não é pra ser velado, tampouco embasado em baixo erotismo.
Meu amor é mais que o tempo e o momento é a companhia nas horas agonizantes.
Antes fosse qual o intento que dantes.
Semblante
De ter teus os meus argumentos.
Vá adiante.
Não reconheço o mérito, não adjuco a desfaçatez.
Vocação para a solidão enredar-se em significações de beira de estrada.
Na noite rodando bolsinha qual o populacho que espera
A somatização da retórica e da verborragia,
contra a orgia com a natureza.
Princeza do espetáculo da grandeza,
caminha como cereja no seu ser
de percevejo:

_Odeio todos e não te vejo.

Como senhor dos holofotes benfazejos me liberte,
Me dê um beijo e me liberte em escândalo da moral.
Antecipo teus idos como coisa natural na natureza flutuante
do costume sossobrante de escapar ao assédio, ao ataque, ao estupro.

Canções eternas de amor por aqui, como ninar o ente amado,
Em retardo do entendimento no julgar estético que portento.
No vento meus cuidados em apologia do momento natureza dupla.
Céu e inferno. Apogeu e carne. Teu olhar de superioridade
para os meus já superiores desse mal apaziguados.

Seremos como pai e filho quando clichê se fizer idílio.
Seremos amantes quando a natureza abortar o transplantes.
Seremos amigos quando deixarmos o autocentrismo em diamante.
Ser tal qual holofote de prazer nas horas instantes.

Reconheço que agoniza em dores apaixonadas.
Em relação à própria vida. Transferência projetada.
Pai e filho, sendo eu o culpado.
Não sou médico, sou amigo, a praia, a natureza intocada.
O café, a moda, os costumes, as ciências.
Transferência entrecortada em sedimentação do afeto.
Sentir o teto do sonhos somatizar a liberdade.
Pra dizer a verdade não tenho sentimento.
Sou todo razão. Me segure pela mão.
Me leve adiante,
Ao seu aposento.
Me ensine a gramática do teu pensamento.
Existiremos como senhores da filia calida,
como vôo do beija flor nossa dor transportada.
De flor em flor.

Dessa maneira não sentimos nada.
Anderson Carlos Maciel

domingo, 13 de dezembro de 2009

Viver e Sonhar

Vivo intensamente cada sonho,
Vôo na brisa leve que me leva,
Livre nos sonhos,
Meus pensamentos são pássaros,
E canoros os meus desejos.

O Sol toca meu corpo,
Assim como a chuva,
Mas, permaneço aberto,
Nada me sela, nem um beijo.

No oceano de amor, navego,
Espero o amanhã,
Como..., mais um sonho,
Não para recomeçar, porém...,
Para continuar...,

Olinto Simões
http://www.prazerliterario.blogspot.com

Eu Posso !

Desdobro-me do corpo prisão,
E invisível e transparente não matéria,
Me transporto.

Chego até você,
E justamente...,
Pela imaterialidade a envolvo.

Somatizo o abraço dado,
O sabor dos doces beijos,
O aroma dos feromônios,
E faço ungir sua pele em mel.

Eu posso com certeza,
Chegar até você,
E assim me sentir...,
Como se nas estrelas.

O resto..., é sonho,
O futuro é sonho,
Mas aqui ou aí,
In corpore..., ou não,
Contudo sempre no presente,
Eu posso!

Olinto Simões
http://www.prazerliterario.blogspot.com

http://cempalavras.wordpress.com.

DE TODAS AS OBRAS

De todas as obras humanas,

as que mais amo são as que foram usadas:

os recipientes de cobre

com as bordas achatadas e com mossas;

os garfos e facas

cujos cabos de madeira foram gastos por muitas mãos.

Tais formas são para mim as mais nobres.



Assim também as lajes,

polidas por muitos pés,

e entre as quais crescem tufos de grama.

Estas são obras felizes,

admitidas no hábito de muitos.

Com frequência mudadas,

aperfeiçoam seu formato e tornam-se valiosas,

porque delas tantos se valeram.



Mesmo as esculturas quebradas,

com suas mãos decepadas,

me são queridas.

Também elas são vivas para mim.

Deixaram-nas cair,

mas foram carregadas.

Embora acidentadas,

jamais estiveram altas demais.



As construções quase em ruína

têm de novo a aparência de incompletas.

Planejadas generosamente,

suas belas proporções

já podem ser adivinhadas.

Ainda necessitam, porém,

de nossa compreensão.

Por outro lado, elas já serviram,

sim, já foram superadas.



Tudo isso me contenta.

Bertold Brecht
Tradução: Paulo Cesar Lima de Souza
revista viva cidades

IN A SILENT WAY

para Miles Davis.



Folhas soltas

idéias-folhas

poucas



nessa sala

a fumaça

vaza



embaça

a vidraça

dessa quase manhã



um silêncio

se instala

na casa vazia



na varanda

só a mais solta

idéia de vazio



(concha onde

pérola alguma

se esconde)



ao invés

dias e dias se passam

sem nenhuma



mais completa



idéia de vazio:



um sol pousa

desliza, rebrilha

em cada folha

Rodrigo Garcia Lopes
revista viver cidades

ZONAS SOMBRIAS DA CIDADE

Lâmina afiada separa em pedaços
partes corrompidas expondo feridas
em crianças desnutridas, sorrisos indigentes,
de triste olhar, carentes,
gente excluída, sociedade infanticida,
zonas sombrias da cidade,
violência à mão armada,
soldados meliantes, fuzil engatilhado,
já não estão mais tão distantes.

Um tiro, uma rajada, e as pessoas na calada
escondem-se assustadas, não querem nem saber.
A fome, a dor, o grito, um corpo na calçada,
um menino, uma criança, escolheu a via errada,
a morte tem seu nome gravado em sua espada.

As minhas mãos suadas, o meu olhar cansado
em busca de um remédio, ferida inflamada,
é o nome desta vida que escorre pelo esgoto
da cidade sitiada pelo medo e o desamor.

É só um triste pedaço exposto na calçada,
algumas velas acesas e as pessoas apavoradas...
Não tinha quinze anos, não sabia quase nada!
É o preço que se paga por tanta omissão.
É o preço que se paga por se olhar os excluídos
como se não fossem nossos irmãos.

NALDOVELHO

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Eternidade

Essa é
a sina
do infinito:
calar a dor
de um calado
grito.

Julio Almada
Em um Mapa Sem Cachorros

Informes Aedos

OLAM EIN SOF (SP) EM CURITIBA COM O VIOLINISTA COLOMBIANO PABLO VILLEGAS, FUNDADOR DO GRUPO LA MONTAÑA GRIS

Mais uma apresentação de música celta. SIIIIIIMMMMM maaaais uma... e haverão mais e mais e mais, porém para isso acontecer contamos com a presença de todos nestes eventos dos dias 19 e 20 de Dezembro.
Banda de abertura: Vevila Veldicca (Curitiba)

Dia: 19
Horário: 17:00h R$10,00
Local: Centro Cultural Solar do Barão. Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533 - Centro - Curitiba, PR. Tel: (41) 3322-1525 (41) 3322-1525 e 3321-3367


Dia: 20
Horário: 18:00h R$07,00
Local: Café Parangolé. Rua Benjamin Constant, 400 (próximo a Reitoria da UFPR) - Curitiba, PR. Tel: (41) 3092-1171 (41) 3092-1171
Mais informações em nossa comunidade:
http://www.orkut.com.br/Main#Community?rl=cpp&cmm=96599899
Se puderem repassar a informação será melhor ainda. ^^
Abraços!

Medieval

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Nada novo, de novo

"...os belos serão os bélicos

elmos no lugar de cérebros..."

Homem de Ferro; Marcos Prado




A tensa ordem da primeira fila

no front abarrotado

de almas esfaceladas

ao primeiro toque

da trombeta




Ausência de sono,

ausência de fome;

cão que ladra morre




Aguarda-se o segundo toque

a qualquer momento,

os tiros já foram de festim




É erro a insistência da coragem

desprovida de medo.

Averiguar a equipagem

mesmo sabendo que ela

nada garante.




O segundo toque! Avante!




Ricardo Pozzo
po&teias

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

domingo, 6 de dezembro de 2009

Rima

Ida partida sentida erguida
memória querida garrida da "Cida".
particípia incípia caprígia parábola
alitera de "era" que era sin-cera.

Teus esconderijos são rijos como cinjo
teus destinos com frígio atino. Menino
pra dentro teu pé já fala que era leitura.
Usura da palavra nas paredes da memória.

Inglória a culpa que fala para multidões.
Sermões da montanha significam.
Estamos todos mais que intelectuais:
Somos sensuais de beira de estrada.

Triste morada apalpada em seio seco.
Em becos de estética pós-moderna,
teus filhos esperam por lágrimas de redenção.
Não hão de se fartar, orar, na igreja.

Se veja sobeja cereja qual teu sonho
doce de ser cantado em versos
ou "cantada" em prosa.
A rosa dos nossos ventos.

Teus conselhos sobraram em ensinamentos,
que são deuses das palavras.
Ao contrário não funcionava.

Nem fucionaria, no solo edificara
ara escala de notas frias.
Teus desígneos ígneos de saber
aestesia mimética dos trópicos.

Fotópticos como referência que não se fazia.
Há tua pessoa vazia como a bacia do tempo.

Empoçando dores que não sentia rima vazia
Pra ser nobre rima pobre na seara rima rara.

Não há quem não tenha a "tara" no teu
discernimento.

Anderson Carlos Maciel

POEMA QUE VENTA À BERTA

Eu na lenta taberna agüento a menta

Tento o quatro, tonto de aguardente...

E na porta sebenta adentra a Berta

Que incerta se senta PERNABERTA

E pela benta saia DESCOBERTA

O meu olhar aperta, mira e entra.


Altair de oliveira

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ESQUÁLIDO

.
Há coisas que só acontecem
Porque foram esquecidas
Nos instantes que parecem
Não estar em nossas vidas.
.
São detalhes que a gente
Simplesmente não os via,
Ou de os ver eternamente
Se esqueceu do que sabia.
.
Porém quando tudo passa,
Quando a vida anoitece,
É que então se vê a graça
Numa coisa que acontece,
.
O.T.Velho

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ainda cabe.

Coloca quem sabe, ainda há espaço
se faço teu braço lá longe, onde
tenho cadarço e a mordaça se desfaz.

Aliás.

Allez Alla hellios olomorfo se porco
gordo no natal, temos tanto que de repente
sobrando gente nos encontremos a sós.

Hoje.

Tentei te encontar xadrez na cor como sempre
então inventei o duplo sentido originário.
Havia soldados no teu ego e refleti a solidão
póstuma. Sempre tenho pedras na mão para aquelas que me antecipa.
Não há o que dizer senão a opacidade. Tua profundidade me é lugar-comum.
Teus sonhos de estrelas me são as noites de angústia libertada em pássaro de cobre.
Descobre se nobre no pobre opere haveres teus desígneos igneos de mártir da causa
do ego, na luta da solidão, como com a mão abarcar o mundo em sonho onírico
de ser mais forte na psicologia orgia rejeitada.
Não temos esperanças, já antecipo, estamos minando as angústias em maquiagens francesas.
Sobre a mesa nosso passado de luzes foscas de deuses blasfemados e cortes ingleses.
Não temos outra relação que não a palavra e significação libertária, cuja "facção criminosa"
sou eu em furtar a liberdade ao direito de viver e existir.
Tua psicologia não é velada, logo tenho um catálogo de ações e reações que desato como
martírio dos dias. Não entendo tua verborragia, não lhe tenho amor.
Tenho-te amor labor da pedra lapidada, desencontrada e incrustada de brilhantes somados
das tardes inventadas de das noites não passadas. Ainda farei o relatório meritório da palavra
dessa safra feijão carmim.
Dentro de mim os poros de saber coagulado, costurado e devolvido em animo de viver.
Não tenho a infelicidade que procuras a não ser dentro de você.

Portanto não me infiras, nem induza, sou todo dedução e prolifero qual nação contra nação
na tua mão olhares de fraqueza suaveza do paladar igualar à nobreza que não compartilhas
tua ilha, devoção e frieza em relação
à teu coração que em ode meritória
carpina com os dentes a tua solidão
toda canção em labor célero remédio
ao tédio de não existir.
Estava justamente tentando mostrar que sou perfeito, portanto não me atrapalhe.
Entalhe sua estátua em outra pedra, pois esta existente são as dores dos meus amantes
enlouquecidos de literatura verborrágica e inteligente portentosa filosófica qual sangue
doente em dores de remédio música que uso em costume e hábito ritual oral da palavra
econômica dos meus.

Hoje ainda quero te ver sorrir, perene dos meus estudos. Foram anos de dedicação
e trabalho para conceber a obra. Inconsciente coletivo refletido nas paredes da memória.
Linguagem imagética estética de formação simbólica eólica tal qual aquilo que não quer
"morrer" em ser significado de um para todos em interpretação única púnica tal qual
a justiça que não se faz na acepção dos trabalhos forjada na publicação das etiquetas.
Na janela espío o Templo de Athena paradigma estético das pérolas aos porcos
que me narraram. Então reescrevo a história com esmero de quem narcisismo é apenas
um mito entre tantos outros da áurea Grécia.

Tua pressa nos leva longe, ao calvário das amizades, que nem começo.
Aproveite que estão todos aqui, do lado de lá estará vazio, então.

Anderson Carlos maciel

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Informes Aedos

Curumin em "Japan Pop Show"
DIA 04-12- SEXTA!
Abertura com Real Coletivo Dub
Local: Jonh Bull Music Hall!
Rua Engenheiro Rebouças, 1645
Info: 3026-5050!
www.myspace.com/curumin
http://www.youtube.com/watch?v=iv5jwvCTo48

Curitiba-Paraná
Bina Zanetti

Nem um nem outro.

Hoje haveria haveres houver
erínia Homero erótica [?] afótica.
Himen erige ergonomia habil.
Ali há "eine" karrusselpolitik.

zu des manner monh yrammata
praymata ilhada em não ser.
Recebemos de fora a vontade de morrer.

Quam sofiam natura esti prima opere.
Praymata ayore sthv xardia hllixoida.
A xomma "eleutherefonázasthprotomorfoatoma"

Curitiba respira entendimento em português.
Os porquês do fingimento unguento substantivo de vocês.
Estamos mais que obras que não lemos polemos
normas separatistas para os helenos.

Se há beleza que se faça.
A graça os amigos que não vejo.
Sobejo tremem na base do meu desejo
Com a razão de ser "antropos"

Zu des manner etsi praymato schuller
Von des "gutten tag" yia panta morfi.
Svenska dialexsa yia morfa prima

Onde não pensaram em recuperar a cultura
toda pura espetáculo de raridade
engarrafada em compotas e vendida na feira
Bom dia e boa tarde gente hospitaleira
sem eira nem beira aporta na tua
salgueira primeira [vez] himem
complascente pra essa gente tão carente
de te ver fronteira.

No embalo da música, que usa um pedido
pro inteligente menino neto que eu tenho.
Cacofona a variação estilística do meu sofrimento?
Se veste de ridículo tudo aquilo que sou?
Qual deus é poderoso a esse ponto, final,
que sou imposto, meu rosto coberto,
já de tanto fustigo.
Te ligo e encontro o senhor dos dias e pergunto a ele:

Everything is good when you have peace of mind
without no heart to love no one. You can translate my conversation
Without find no piece of imperfection because we are able to "live".

Espera encontrar o outro atraz do livro pra perguntar o porque de Shakespeare.
E quem guia até o outro lado do rio? Que esplica o frio na rima, quando não mais houver.
Poesia dentro de mim poio skotoso stokero svensko oligarxa palavra como cascata.
Vertente impertinente à tua carcaça, estamos à distância, comtemplamos o mar.

Aqui chegamos e traduzimos a história para democratizá-la através da purificação dos anseios.
Não temos pretensão a não ser a de que parem com a guerra
Para que não nos envergonhemos da inteligência da besta fera.
Quimera para hoje o ruminar do rebanho, ódio primeiro dissolvido libido
cansado por teus panfletos indicados e ainda não explicados.

Gostaria que entendesse o que eu escrevo.

Anderson Carlos Maciel

domingo, 29 de novembro de 2009

YRAMATAV APOLOV STHV YEA

YRAMATAV APOLOV STHV YEA

Oles i morfis proti fori xai egw olomorfo
giornno den exw opws ta einai mouse apo to 0éw.
Éros xai éyes ta hllenixa ep-opwéa sth yéa mou
Palu apo to dromo xai ono leyes mou.

LE£IXO OLO DEN LEYO TOU DROMOU SOU.
XAI OLES STH MORFIS AESTESIS ONOS
OPW XRONOV ETSI TSIGARO
ABARO ANALOYIA ANAYRAMA PRÁYMA


Águia com cabeça de leão desvende de minha mão o teu destino.
Espere a última aurora chegar e recomece a contar com o menino
pequenino que nino dentro de você.
Hoje terá mais o que fazer pois é impossível aos mortais a paz
a não ser no findar dos dias.
Dentro espia, tua sorte, rumo norte rima forte prima dona que era.
Sincera, aumenta significada complexa tal qual teu corpo que espera
a mão que balança o berço.

Na verdade sou bem melhor que isso, e os deuses não existem.


PRAYMA etsi epi to 0éw xai oles i morfis sth yea Curitiba
esxriba den leyeis yinh exzo tais gramais edoneis mou
ta loyia. Loyiav etsi epi to 0éw.


LOYIAV ETSI EPI TO 0EW...
OLES I MORFI "MORFEU" HI''PNE TO FORO.

Anderson Carlos Maciel

sábado, 28 de novembro de 2009

Sibilas

Sibilas no interior dos antros hirtos
Totalmente sem amor e cegas.
Alimentando o vazio como um fogo
Enquanto a sombra dissolve a noite e o dia
Na mesma luz de horror desencarnada.

Trazer para fora o monstruoso orvalho
Das noites interiores, o suor
Das forças amarradas a si mesmas
Quando as palavras batem contra os muros
Em grandes voos cegos de aves presas
E agudamente o horror de ter as asas
Soa como um relógio no vazio.




© 1990, Sophia de Mello Breyner Andersen
From: Obra Poética I
Publisher: Caminho, Lisboa.

PIW-Por

Poemas de Bandeira Tribuzi

Fragmento: Ó MINHA CIDADE, DEIXA-ME VIVER,

Liberta-me das grades da miséria,
Afasta a sombra negra da injustiça.
Deixa que a alma do teu povo simples
Vagueie em paz por tuas ruas tortas.
Que os pés não sangrem ao pisar descalços
As pedras seculares do teu chão,
Que as mãos se juntem em prece nos teus templos
E peçam a Deus o pão que alimente
A fome de justiça de tua gente.


QUE EU QUERO APRENDER TUA POESIA,

Que está nos teus sobrados e azulejos,
Que transpira em tuas noites de verão,
Onde uma lua langorosa e doce
Banha de prata o casario antigo.
Poesia que está nos púmbleos mares
Que beijam tuas praiasfascinantes,
E está na graça morena das mulheres,
Na brejeirice e no sortilégio
Dos olhares ariscos, feiticeiros.
Que está nas fontes, nos rios, nos regatos
E no verde telúrico das matas.

[Contribuição da professora Maria Aparecida Klohn]
Bandeira Tribuzi
A resistência à teoria
Eu ficarei à espera de que as uvas
das minhas videiras
amadureçam
à luminosidade da palavra
dia
DANIEL JONAS
PIW-Por

haikais

Noite do espanto
Fui baixar um arquivo
baixou-me um santo
*
Noitada boa
a dentadura do velho
ri à toa
*
Uma Boca Maldita
espalhou por toda a XV
que o Bondinho apita
*
Noite de inverno
Um chopinho bem gelado
é servido no inferno
*
Coral de monge
o apito do trem
que vem lá de longe
*
Brisa da manhã
O olhar é mais lento
que o carro de boi

Alvaro Posselt
Simultaneidades

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Nocturno

La noche nos inventa. Sus amantes,
somos sus preferidos
amantes. Oye cómo
crece su inmenso pulso derramado.
Aprisiona su informe aroma.

¿Duermes?

Soñamos juntos al labio del abismo.

La noche nos inventa. Yo te tengo,
ámbar toda. Tú cortas de mi sangre
las amapolas más lejanas. Bajo
la apasionada luna de tus sienes
advierto que. la noche entra en nosotros,
se enardece lo mismo que yo.

¿Sueñas?

Despiertos, sobre el mundo navegamos.
La noche nos inventa. Va naciendo
de este extremado limbo compartido
una rosa que embriaga como el jugo
difuso de la muerte. ¡Acude! ¡Sálvame!
Salva este eterno instante, de las sombras
detén este latido final.

¿Vives?

Muertos de amor, un lirio nos conduce.

JUAN REJANO ( España, 1903 - 1976 )

Ah! Os Relógios

Amigos, não consultem os relógios
Quando um dia eu me for de vossas vidas
Em seus fúteis problemas tão perdidas
Que até parecem mais uns necrológios.. .


Porque o tempo é uma invenção da morte:
Não o conhece a vida - a verdadeira -
Em que basta um momento de poesia
Para nos dar a eternidade inteira.


Inteira, sim, porque essa vida eterna
Somente por si mesma é dividida:
Não cabe, a cada qual, uma porção.


E os Anjos entreolham-se espantados
Quando alguém - ao voltar a si da vida -
Acaso lhes indaga que horas são...


Mario Quintana
(1906 1994)


(do livro: A Cor do Invisível)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Informes Aedos

MEDIEVAL:

Olá, os convido para mais uma apresentação de música medieval.

TABERNA FOLK - Cosmópolis, Sp
(Música Medieval)

Abertura com:
Vevila Veldicca - Curitiba, Pr
(Música Celta)

Dia 28/11/2009 - 19:00h - Centro Paranaense Feminino de Cultura R$10,00
(Rua Visconte de Rio Branco, n° 1717 - Centro - Curitiba/Paraná - Fone: 3232-8123)

Ingressos antecipados à venda para o dia 28: De Kroeg Bar (Av. Jaime Reis, 320 - São Franciso - Curitiba)
Em frente ao estacionamento do Ópera 1.
Também pelos fones: Henrique: 9914-5547 / Robson: 9608-8721 / Eduardo: 9671-1923
ou pelo e-mail: folkloricstorm@gmail.com

Ingressos no local APENAS na hora do evento.

Dia 29/11/2009 - 18:00h - Café Parangolé R$07,00
(Rua Benjamin Constant, 400) - Fone: 3092-1171(próximo a Reitoria da UFPR)

HAVERÃO
Camisetas e cds a venda nas datas das apresentações

lúcia Gönczy

sábado, 21 de novembro de 2009

Patriarca de Constantinopla

Destilação da Mesquinhez

Não me ilude a opulência, repique insultante
Babando o travo, a sânie e as fezes da ruindade
Negais e destruis por velha fealdade,
Para desafogar a fobia asfixiante
Consumidos por egoismo e inveja cancerante
Pretendei-vos contundir a sensibilidade,
Porque lhes bastam a esmola na falsa piedade
A inssosa babaquice e a crença rastejante.
Visando o "original" e a míngua de pujança
Esfacelados por embustes do exotismo na pança,
Tudo é atascamento da arte à estupidez
Esfalfai-vos a toa em assomos inúteis
Grunhe a vileza nos gáudios de fúteis!
Expectorar! dos que arrotam a mesquinhez.

Tullio Stefano
po&teias
Mergulho no utópico mar e desconstruo horizontes
de cores marcadas
Rasgo a tela, quebro a moldura, atravesso
o quadro
E pinto as ruas do meu mundo com a cor do riso
dos palhaços e o gozo da poesia das noites
vagabundas...

Élida Maria Aragão.
São luís /Maranhão

Cantos Gregorianos

décima 1







poetemos o PT:

se quando ética existia,

sarney era uma rapina,

vigarices da mercê,

agora força esquecer.

lula na verdade é polvo,

sépia nos olhos do povo,

espreguiçando os tentáculos

por onde lautos repastos:

remessas, repasses, soldos.




décima 2




só se relaxando o esfíncter,

leva-se no magro cu

da boa-fé – norte a sul –

fala-falo/em-falso-em-riste.

alma e virtudes de pinscher,

ocultando ossos no armário,

cagando mole no erário:

à Postiça Social,

mau-caráter carnaval,

só com surra de caralhos.




décima 3


ou se com boa boquinha

de chupeteira na teta,

uniforme de estafeta

onde a Estrela Boazinha,

anjos co´asas de galinha;

só com sangue de chacal,

rigor de débil mental,

no refeitório das ONGs

prum miojo com mensonge,

pra concluir: “menos mal".


Rodrigo Madeira
pó&teias

Informes Aedos

- aos amantes da poesia:


"Um novo projeto que visa colocar em evidência
a poética curitibana, incentivando a produção
literária e a narração da poesia"

O evento será quinzenal. Estarei lá com minhas poesias ao lado do poeta Edson Falcão, nesta primeira edição.
- Edson Falcão publicou dois livros de poesia:
- As musas do Canal Belém
- O Ossário de um Ferreiro.
Prepara seu terceiro livro para breve.

Café, Leite Quente e Poesia
O Sublime x O Pitoresco
Edson Falcão e Bárbara Lia
dia 21/11
16h
Café do Paço - Paço da Liberdade
Praça Generoso Marques, 189
Curitiba - PR -

Bárbara Lia

O que será?

Resta hoje tudo.
É sempre um ponto de partida
quando amanheço

Pensando bem...
estou em estado de alerta
na estação, esperando um trem

Deixei em stand by
qualquer ruído presente.
E vão altos os ventos

adivinhar tua boca.
Se na minha vier,
serei eu tua busca.


Ivone fs

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Jura Secreta 89

a face oculta da maçã
duas partes que se abrem pêssego
campo de girassóis teus pêlos
alvoroçados sob o sol de Amsterdã
enquanto isso em teus mamilos penso
o que ainda não comi desta maçã

Artur Gomes

Informes Aedos

sexta,20 de novembro, 20 horas- Bardo Batata
rua Bela Cintra, 1333 - Jardins- SAMPA
NENO MIRANDA apresenta sua MPB Neo
Contemporãnea
realizaçao Dora e Lúcia - Proyecto Cultural Sur Paulista e Poetas Del Mundo

SM

Há momentos para a delicadeza das rendas.
Mas não hoje: corpete de couro, correntes.
É noite de algemas e vendas.
E ninguém tem nada com isso,
A não ser a gente.

Você se rende, se entrega,
Se dá ao luxo da confiança cega
No carrasco que elegeu.
Em pé à beira do leito, o tal eleito, eu,
Faço de você meu brinquedo e deleite.

Te quero dada de corpo e mente,
Te quero em bondage, amada, afoita,
Te quero em estro, miando, felina,
Te ouvir gemer meu nome entre dentes.
A cada meu toque de afago-açoite
E cada beijo quente da parafina.

Se quiser, depois a gente troca,
Você senhora, eu submisso.
Danem-se vizinhos e fofocas!
Ninguém tem nada com isso.
Há muitas e várias formas de gozo
E titio Sade ficaria orgulhoso.
(set '09)

Allan Vidigal

terça-feira, 17 de novembro de 2009

ANDREI RUBLEV

Cronologia

Está online? O fonema marketing
darling
temístocles morreu de crítica.
Temos o papel na mão que já abdicamos
foram anos esquiando
pra aprender a ser superficialidade
na tua idade eu diria.

Dentro solidão enquanto isso.
Mas que solidão? Se for aquela do si[ai]te
eu não quero. O problema é que eu pouco
importo mesmo. Então você vá lá.
Até onde eu já conheço.

Com a corda no pescoço
de óscars cacofônicos estrondosos
volte até mim, que sou todo puro
no alto do monte na Índia
pensando que no retorno
o povo morno
não me esquece ainda.

"Sempre procurei cativar"
é estranho para quer a liberdade,
também
por um vintém eu te libero
da cronologia.
Um café, dois curitibanos:

Oi como vai tudo bem?
Estava esperando desligarem
pra te ver.
Nem eu nem você, e aí o que mais?
Na psicanálise a guestalt,
Na concepção estética a direita.
Na política o inconsciente
e nos teus mandos o meu amor
polimorfo
ao contrário da dualidade.

Na tua cidade, esperando você.
Cortar esse cabelo, fazer a barba
tomar o remedinho e mostra a língua,
que não precisava e fizeram de você
superficial,
álcool, cigarro, loucura
e outros rótulos de garrafas prontas
que te vendemos como vacina [antídoto? eu caio nessa]
Não quero, volte amanhã,
tenho senso crítico,
quem sabe,
tire mão de mim então, e temos o mesmo problema

Na verdade estou bastante famoso
salvando o mundo do ridículo,
em verdade, em verdade.

The Heart – From ‘Stalker’

"Teus passos somem
Onde começam as armadilhas.
Curvo-me sobre a treva que me espia.

Ninguém ali. Nem humanos, nem feras.
De escuro e terra tua moradia?

Pegadas finas
Feitas a fogo e espinho.
Teu passo queima se me aproximo.

Então me deito sobre as roseiras.
Hei de saber o amor à tua maneira.

Me queimo em sonhos, tocando estrelas."


Hilda Hilst, "Poemas malditos, gozosos e devotos

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Crepúsculo.

Apresentei dia desses a um camarada meu de Curitiba, algumas das famosas praias do Rio de Janeiro: Flamengo, Urca, Leblon e Arpoador, interessante, pois já me sentia pouco à vontade ou desacostumado com vários aspectos bem próprio dos litorâneos, inda mais dos cariocas e fluminenses, meus conterrâneos, as vezes cidadinos tão soberbos de seu litoral, cuja fama e beleza é proporcional a desfiguração da cidade, mascarada para o mundo de Globo e Olimpíada. Contudo, aqui existem pedras e existem orlas, praias onde não fiz castelos de areia, mas, caminhei sobre os avatares do horizonte; a mais de seis anos não subo os mirantes que dão ornamento as encostas e quebra-mares, que, para mim sempre foi a parte mais fascinante de um litoral, assim como a marisia da noite; ironicamente nem mesmo os meus pés se equilibram naquelas pedras com a mesma flexibilidade de antes, me esqueci até o simples hábito de lavar o chinelo no mar e tirar a areia enquanto se anda descalço no calçadão, ex-carioca mesmo; revisitar um lugar, parece uma nova permissão, a distância nos veta a presença física, regressos, somos licenciados da distância, no entanto agora, apesar da licença, sinto-me embargado no estranho deslocamento da memória. Por fim, tivemos o brinde amargo do calor e um sol anátema, dizem os metereologistas que estamos sob um pico extraordinário de calor, provavelmente dirão o mesmo ano que vem. Ah o sol, causticamente desolador, implacável tal qual o amanhecer que te chama para o cotidiano e não para o mar, esse mesmo sol gerador do calor que de tão quente morrerá como o escorpião suicida quando cercado pelo fogo; sossegados, isso é para daqui a dez bilhões de anos, ele se transformará em carbono e tudo será uma senescente estrela anã branca.


Tullio Stefano.
Pó&Teias

Estou fonema.

Estou fonema.

Estou como "vermeio"
no fino seio
se semeio mais que a sede de "mamar".

Aqui dentro existe lógica,
mesmo que mero fracasso
estou prosópica que fonema,
que sou letra iracema.

Tiara de ouro,
caminhando no touro lá vou eu,
passo plebeu, passo patrício
quem é que comeu?
Junto os pedaços
sou eu me desfaço.
Fidalgo, no dicionário
do teu armário
de ter
se quer ser
igual ao teu destino
libertino no parecer
funcionário público.

Quero dialética
mas sou quimera
pacote
de significações.

Falar é teu estigma
e minha glória
inglória.

A lógica é a psicologia dos teus pais
dos teus sais de falsidade daquilo
tranquilo que não vem a ser.
Estou aqui esperando para guerrear
aniquilar tuas fontes, teu passado
e teu jeito de ser.
Sou sincero pois não me importo
queria mesmo era a transmutação
dos valores na perfeição estética
tua mediocridade é pouca comparada
à de outros que me pagam muito razoavelmente,
o pente da inflação.

Ainda vou rever os pontos "onde sou eu estive".
Tenho dentro deles a liberdade de "sou mais".
Os preteridos "já fui" são sangue coagulado
ou hemorragia eterna, fruto e cisterna
sempiterna filologica que eu sou
neogrega, germana, dinamarquesa
abastada de dinheiro "te amamos".

Bom dia, boa tarde, boa noite,
é bom de vez em quando
pra enxugar o teu pranto
"sem saída" navalha.

Vénus et l’Amour attendant Mars

Borboleta

Eu me pergunto
quantas vezes
quis eternizar
os parques da infância
e imortalizar a tarde
por saber que os deveres
me fariam engolir a maioridade?

Quantas vezes
quis guardar sua inocência
por não querer em mim
qualquer maldade?

Todas as vezes
que deixei a porta aberta
foi p'ra você sair e entrar
sempre de bem com a liberdade

Você pode voar, se quiser,
pode escolher seu ar
Mas não se diga livre
por deixar partir
o que mais lhe diz respeito

Você pode partir, se quiser
Mas só que não verá
o meu melhor sorriso:
aquele que guardei p'ro dia
em que tudo fosse eterno.

César Magalhães Borges
in Canto Bélico

sábado, 14 de novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Asterix e Obelix completam 50 anos

Deutsche Welle.29/10/09

Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Albert Uderzo mantém a tradição dos anti-heróis gaulesesAs aventuras dos anti-heróis gauleses têm fascinado gerações e ocupado até mesmo cientistas políticos. "Asterix e os godos" é uma importante contribuição para o estudo das relações franco-alemãs no início de 1960.

Em 1959, o milagre econômico dominava a Europa. Os heróis protagonizavam histórias de amor, salvavam moças e se apaixonavam. Ninguém se interessava por aventuras de romanos ou gauleses. Mesmo assim, em 2009 Asterix celebra 50 anos.

Nascidos em uma noite

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Coautor René Goscinny em 1971
Na realidade, Asterix, Obelix e companhia não eram para existir. O plano original era criar uma série de histórias em quadrinhos sobre o clássico Le roman de Renard para o lançamento da revista francesa Pilote.

Os cartunistas encarregados de adaptar as aventuras da ladina raposa medieval eram René Goscinny e Albert Uderzo. Porém, após escrever e desenhar a primeira página, descobriram que outro autor de HQ já se ocupava do mesmo material. E, pressionados pelo tempo, criaram os anti-heróis Asterix e Obelix em uma noite.

Assim nascia um sucesso internacional e uma mina de ouro para seus criadores: 50 anos depois, os quadrinhos já venderam 300 milhões de exemplares, foram lançados 12 filmes baseados neles. As aventuras dos gauleses já foram traduzidas em 100 idiomas, na Alemanha também nos dialetos bávaro, saxônio e suábio.

Tipicamente francês

As personagens de Goscinny e Uderzo são também a alegria de historiadores e filólogos. Docentes de grego antigo e latim usam os diálogos nos balões para explicar conjugações e declinações. Já se publicou literatura científica de acompanhamento sobre Asterix, e até mesmo cientistas políticos têm se ocupado de suas aventuras.

Uma chave desse sucesso é o fato de a publicação apresentar uma imagem oposta ao mundo dos heróis dos filmes e quadrinhos estadunidenses, "algo tipicamente francês", como explica Uderzo. E assim, os gauleses tomaram o lugar dos índios.

"Eu queria um anti-herói, um baixinho", lembrou Goscinny certa vez, numa entrevista. "A ideia era Asterix ser um nanico, tão perceptível quanto um sinal de pontuação. Para mim era importante que fosse uma figura engraçada por si."

Além disso, os protagonistas têm humor e senso de observação, são rebeldes simpáticos e justos, cujas histórias já se tornaram parte do patrimônio educativo. Asterix é adorado tanto pelos escolares e crianças quanto por pais e professores: ele une as gerações.

Asterix e os bárbaros

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Panoramix discute em saxônio na versão alemã
O tema das relações franco-alemãs foi abordado no terceiro número da "série clássica", Asterix e os godos, de 1963. Esse está longe dos simpáticos e levemente provocadores clichês humorísticos das outras aventuras. Os alemães são bárbaros, são líderes e carrascos com obsessão militar. E nesse número, Asterix não ajuda a ninguém.

Isso reflete as experiências pessoais dos autores. O politólogo Alfred Grosser, um dos mais destacados teóricos da reconciliação franco-alemã, chega a classificar esse número como uma importante obra política, por retratar o estado das relações binacionais no início da década de 1960.

Mas a primeira fase do lançamento de Asterix na Alemanha tampouco foi fácil. Em 1965, Rolf Kauka, editor das história com os personagens Fix e Foxi, comprou os direitos de publicação. Porém, ao invés de deixar as figuras em sua ambientação original, ele as germanizou. Asterix virou Siggi, Obelix tornou-se Barbarras. Numa tentativa de refletir a situação política então atual, os gauleses foram transformados em germanos ocidentais, os romanos viraram norte-americanos mascadores de chiclete. A graça se perdeu, o lançamento estava fadado ao fracasso.

Porém Goscinny e Uderzo salvaram sua criação, retirando os direitos concedidos a Kauka. Nove anos após a primeira edição francesa, era lançada uma tradução adequada na Alemanha: Asterix der Gallier. Os alemães, que até então não eram grandes apreciadores de HQ, tornaram-se fãs ardorosos.

A força do mais magro

Em 1977, soou a hora mais triste na história de Asterix e Obelix. René Goscinny foi ao médico para exames de coração e circulação sanguínea. Durante o teste de esforço, ele morreu diante dos olhos dos médicos. Uderzo teve que continuar a obra sozinho.

No início, em 1959, os dois assumiam ambas as funções, tanto de desenhista como de autor. Mas logo optaram por uma divisão: Goscinny assumiu os textos, e Uderzo passou a se encarregar do traço. Mas depois da morte de seu parceiro, ele voltou a exercer as duas atividades.

Bildunterschrift: De carne e osso: Chatotorix (Franck Dubosc), Obelix (Gérard Depardieu) e Asterix (Clovis Cornillac)
Desde então, os críticos apontam uma queda de qualidade nas histórias. Além disso, há as brigas entre o autor e sua filha, que originalmente deveria levar o trabalho adiante. Querelas com as editoras também afetam o rendimento de Albert Uderzo. As últimas duas edições acumulam poeira nas prateleiras das livrarias.

Ainda assim, mesmo 50 anos depois, a popularidade de Asterix e Obelix é indiscutível. O cientista políticoAlfred Grosser disse certa vez: "Na França impera uma hostilidade contra o esporte profundamente arraigada. Sabido é quem é magrinho, burro quem é forte". O par de anti-heróis confirma essa observação: o que o brutamontes Obelix não consegue, o nanico Asterix alcança pelos meios da esperteza. O segredo do sucesso não é o mainstream – é ser diferente.

Autor: Carol Lupu (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer

"A Europa não tem direitos autorais sobre o Esclarecimento"

Cultura | 14.12.2008
Deutsche Welle

Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Hans-Magnus EnzensbergerO escritor Hans-Magnus Enzensberger ressalta em entrevista a relevância do intercâmbio entre as culturas e lembra a civilização muçulmano-judaico-cristã na Andaluzia do passado como exemplo de convivência pacífica.

Presente em um encontro intitulado "Diálogo Cultural Teuto-Árabe", em Dubai, o escritor Hans-Magnus Enzensberger alfineta a Europa pela arrogância ao reclamar para si "os direitos autorais sobre o Esclarecimento" e adverte que uma cultura "pode morrer de sede ao se isolar". Leia abaixo a íntegra da entrevista com o escritor:

DW-WORLD.DE: O senhor afirmou que a postura dos europeus de reclamarem para si a autoria do Esclarecimento seria uma meia-verdade. O que o senhor quis dizer exatamente com isso?

Enzensberger: Como se pode verificar a partir de uma leitura das diversas designações do Esclarecimento, estamos diante de um fenômeno muito complexo, com diferentes nuances e parâmetros, dependendo do país e do idioma. O Esclarecimento é uma obra da humanindade, que carrega consigo todas as contradições e todos os paradoxos inerentes a ela.

No meu discurso, quis despertar a consciência das pessoas em relação ao fato de que os europeus não possuem o copyright sobre o Esclarecimento, mesmo que muita gente no Ocidente remeta ao exemplo da Grécia antiga como modelo. As diversas tentativas de muitos europeus de reclamarem para si a autoria do Esclarecimento levam, na melhor das hipóteses, a meias-verdades.

Minha intenção é lembrar que o chamado Ocidente tende a esquecer o fato de que, por muitos séculos, antes que David Hume, John Locke, Diderot e Immanuel Kant escrevessem suas obras antológicas, a civilização islâmica vivia seus tempos áureos na Andaluzia árabe.

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Bíblia, Alcorão e Torá: tradições das três grandes religiões monoteístas conviviam pacificamente na Andaluzia do passadoA Andaluzia árabe foi, por dois séculos, um inesquecível centro de pesquisa em Filosofia e Ciências Naturais. Ali, muçulmanos, judeus e cristãos levaram a cabo debates críticos a respeito de todas as questões possíveis. E não receavam controvérsias religiosas. Sem isso, a tradição aristotélica teria muito provavelmente se extinguido.

Dante e Nicolau de Cusa, Giordano Bruno e Espinosa criaram suas obras graças a seus mestres islâmicos, da mesma forma que a astronomia moderna, a lógica, a ótica, a matemática, a medicina e também a poesia se desenvolveram graças à herança destes mestres. Como todos nós sabemos, esse período áureo não durou muito.

Não se pode evitar a pergunta: diante da imagem triste que a cultura islâmica passa hoje, há necessidade de um novo Esclarecimento no sentido europeu do termo?


No que diz respeito ao atraso nas regiões islâmico-árabes, estamos diante de verdades amargas, principalmente no âmbito da educação. O número de traduções para o árabe ilustra esse estado: desde os dias do califa Al-Mamun, ou seja, no decorrer de 1.200 anos, tivemos, até há pouco tempo, muito poucos livros traduzidos para o árabe. Tão poucos quanto são publicados num único ano na Espanha hoje.

Diante desta miséria evidente, perguntar se o mundo árabe ou até o mundo islâmico precisam de um novo Esclarecimento é, sem dúvida, de extrema importância. Esta pergunta, porém, não pode ser respondida por alguém de fora. São os pensadores, poetas e artistas árabes que devem decidir a respeito. Na minha opinião, cada cultura deveria seguir seu próprio caminho em direção à Modernidade. A diversidade dos caminhos rumo à Modernidade iria enriquecer a humanidade de forma geral.

Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Adolf MuschgO escritor suíço Adolf Muschg acentuou, numa conferência pelo diálogo teuto-árabe em Dubai, o papel da cultura, no contexto das relações internacionais, acima de tudo como instrumento de aproximação e compreensão entre os povos. Pois a cultura, segundo ele, detém um "potencial revolucionário". O senhor concorda com esse ponto de vista?


O fato de que aqui se encontram escritores e formadores de opinião de renome, alemães e árabes, num "diálogo cultural teuto-árabe" – a fim de conversar uns com os outros sobre o que têm em comum, mas também defender, com uma abertura rara, posições distintas – mostra que os mentores da cultura podem mover alguma coisa para além dos âmbitos da política e da economia.

Podemos, nestes encontros, aprender muito uns com os outros, desmascarando dualismos simplistas e caricaturas. Autores alemães conhecem aqui autores árabes significativos e ficam sabendo, por exemplo, através do autor marroquino Mohammed Abed Al-Jabri, como é difícil, na maioria dos países árabes, tratar publicamente de temas críticos de maneira controversa, porque a tradição e a razão do Estado proíbem [tais discussões].

O que o senhor acha do intercâmbio cultural como forma de promover a paz, no sentido da visão de uma sociedade ancorada num saber global?



Esta pergunta é de extrema importância nos dias atuais. Vou me resguardar de tirar qualquer conclusão aqui a esse respeito. Uma coisa pode-se dizer, porém, com certeza: encontros deste tipo podem promover a compreensão mútua e, com isso, incentivar uma convivência pacífica. No que diz respeito ao intercâmbio cultural, tomo a liberdade de apontar um fato: qualquer cultura morre de sede, com o tempo, quando se isola e rejeita o livre intercâmbio de pensamento.



Loay Mudhoon / Qantara.de (sv)

Hans- Magnus Enzensberger