Hoje me deparei com uma menininha. Ela despertou devagarinho, esticou um braço, depois outro, virou de um lado e beeeem de mansinho abriu seus olhos amendoados. Tinha um brilho encantador, e carregava dentro do peito um misto de curiosidade e fantasia. Na testa as vezes carregava um coração, outras uma estrela. Não pertencia a este mundo, pisava mais nas nuvens do que no chão. Fiquei hipnotizada pela sua imagem, assim, bem na minha frente! Sei que ela tinha algo pra me dizer, mas era estrangeira, não falavamos a mesma língua, ou melhor, desaprendi seu idioma, pois o trator do tempo apagou-o da minha memória. Mas uma incomum habilidade nos fez falar de uma forma que nos entendiamos. Ela tinha gestos doces e passos rápidos, tinha fome, muita fome, de algo que não era comida. Acompanhei seus sonhos, ora dentro de um balão, ora com uma lupa na mão, descobrindo novos cantos e espaços, sem pressa. Ela não queria saber muito sobre a realidade, acreditava que a magia da vida vinha de lá, dos seus sonhos. Quando dei por mim, já estavamos conversando naquela língua que eu já nem sabia que sabia mais. Essa lingua não era feita de palavras e nem de letras, mas de uma espécie de pó que mudava de cor conforme o sentimento. Ela desconhecia o medo, como eu conheço. Desconhecia a secura do olhar e a rigidez na nuca. Seu brilho me deu confiança e de minha parte, tinha muito pouco ou nada para oferecer a ela, mas ela nada me pedia. Quando abri os olhos ela foi embora, deixando um pozinho do qual eu me alimento a cada dia, o pozinho da menininha que fui um dia.
Nanci kirinus
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