terça-feira, 29 de maio de 2012

ENCONTROS COM ESCRITORES NOTÁVEIS II

POE

O vento gelado persistia quando cheguei.
Diante da porta hesitei, não bateria outra vez.
Mais um pouco e me congelaria plantado ali.
O próprio Edgar me convidou para entrar.
O frio aliviou, mas não o sentimento de ser
inoportuno. Entreguei-lhe meu cartão, lembrei
o telefonema. Ele só respondia com Yes, sem ânimo.
Reconheci o lugar, a janela, a estante de livros, a
pequena estátua de mármore. Edgar me pareceu
muito pálido todo de preto. Disse qualquer coisa à
governanta. Vasculhei com os olhos os detalhes.
— Fique à vontade, mister ...
Não pude esconder o espanto ao ver, em uma haste
metálica, as penas pretas retintas, o bico semiaberto,
os olhos opacos, o corvo empalhado.
— Uma xícara de chá, mister...
— Sim, mestre Poe.

José Marins

sábado, 26 de maio de 2012

As vezes... não encontramos nossa sombra por já ter anoitecido"Inogda ... Ne naĭdeno nashi teni kak nastupila nochʹ "em suma, envelhecemos sem saber a que viemos e não cumprimos nosso destino.Acomodamos no cotidiano de sermos "coadjuvantes de nós mesmos" nessa respiração morna dos anos dormimos para não mais acordar.

Wilson Roberto Nogueira.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

metáfora 5

agora que a metáfora

habita teus cinco sentidos

o vento sussurra em teus ouvidos

palavra que não disse ontem

por falta de coragem

e a sagaranagem explode em minhas veias

como mar de Angra nas pedras

procurando areia

entre 0 branco da pele o tecido da saia

e tua língua sedenta lambe

a espuma quente que invadiu a praia



arturgomes

http://www.youtube.com/watch?v=AxI9Ysr8kbY
‎(...) desafiotlux douto vampiririlâmpago: vostra vodka paródica, conviversa em prosa porosa, conta contagiosas fábulas rasas. Se não estou correto, que me corrijam os corretores de plantão. A palavra não é imóvel (...)


Marcelo de Angelis

"kypling

"kypling


o ato sexual é no tempo o que o tigre é no espaço

georges bataille



pernas abertas num ângulo

de asa avulsa de um arcanjo.



no intermeio a pentelheira

cuja flor é licoreira



– o gineceu como um grilo

que, gritinhos por estrídulo,



de corolas dissolvidas,

decanta o néctar-saliva –



que convida ao fundo bosque

onde um triste tigre morre.



Rodrigo Madeira
Penso na sexta-feira. Feira na redondeza da rua Inácia Uchoa, em SP. Dia de Vênus, deusa da beleza e do amor. Sexta-feira é o amigo de Robinson Crusoé, ah, aquela ilha!!! Sexta-feira é dia de faxina na casa dos outros. Dia de regar violetas... Sexta-feira também é viernes, vendradi, venerdi, nas línguas irmãs que conheço. Para mim, sexta-feira é dia de programar a semana que entra, com o sexto sentido. Nada melhor (neste sentido) que o calendário feito de flores pelas crianças francesas...Vai que a sexta que amanheceu nublada começa a primaverar !
Glória Kirinus

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Sobre Ventos e Ausências

Violetas claras abraçam os alpendres das janelas

réstias de um sol tímida dançam cores à cal das paredes

só o vento canto entre molduras de telas antigas e mobílias

... o relógio repousa

o tempo repousa

a ausência em sua plenitude dança no piso de tábuas longas

o mundo repousa

só o vento canta

só o vento

canta



Tonho França

domingo, 20 de maio de 2012

1. Tergiversando sobre o fato de que ninguém é perfeito. Ou da insatisfação:

- olhe, não se pode querer tudo numa pessoa só

ligeiro ele saca

- então por isso que você fica com vários?

Silêncio; ele insiste

- e em você? você não encontra tudo?

responde. ela;

- tudo é sempre muita coisa
Nem vi as orquídeas. O pé de tangerina poncã ficou invisível. - Como você é pequena, vó - gritou a voz da verdade segurando a câmara. Fiquei na ponta dos pés e o mundo ficou pequeno.

Glória Kirinus
Cuando cruzo el puente de los olvidos me acuerdo más. Entonces poetas de mi tierra, casi desconocidos en el Brasil, parece que me visitan con sus voces de catacumbas. Amigos y lectores de esta parte del Brasil que me toca vivir, les presento el poeta universal Cesar Vallejo que dejó algunos ecos de su poesía olvidados, seguramente, en uno de mis tantos bolsillos.

Glória Kirinus
Aprendi a desfilar desde que comecei a caminhar, como toda menina (buena o mala) que viveu em Lima. Sim, "airosa caminaba del puente a la alameda"... Em Curitiba virei equilibrista. Um tropeço aqui, outro lá...As ruas de Curitiba... Ah, as ruas de Curitiba... ai, as ruas de Curitiba. Aprendo a lição pela voz de Guimarães Rosa: tropeçar ajuda a caminhar.

Glória Kirinus

Poesia Não Te Amo Mais



Não te amo mais.

Estarei mentindo dizendo que

Ainda te quero como sempre quis.

Tenho certeza que

Nada foi em vão.

Sinto dentro de mim que

Você não significa nada.

Não poderia dizer jamais que

Alimento um grande amor.

Sinto cada vez mais que

Já te esqueci!

E jamais usarei a frase:

EU TE AMO!

Sinto, mas tenho que dizer a verdade

É tarde demais...

 (Autora: Clarice Lispector)

LUGAR NENHUM PRA CHEGAR

No cais um navio, chegou faz um tempo. A campainha da porta há tempos não toca e o telefone quando toca: desculpe, é engano! Nas esquinas: muita pressa, poucos sonhos, muito medo, pouca conversa e o navio no cais permanece ancorado, quieto, em silêncio.

...

Da janela percebo o outono, mês de março, abandono, pássaros em debandada, prenúncio de chuva, vento varrendo a cidade, trânsito engarrafado, e o sinal demora, quando fechado; ônibus lotado, e aqui em meu quarto: apreensão! No cais o navio, ainda ancorado.



Ligo a televisão e as notícias que chegam já não causam espanto, mas ainda assim doem! Crianças marginalizadas, prostituídas, de arma em punho, soldados indigentes de uma guerra sem escolha, sete corpos encontrados e quatro deles nem tinham quinze anos! E o navio no cais, ancorado, sem sinal de partida, nada que explique a demora.



Aqui em meu peito a dor de saber o quanto somos coniventes, o quanto somos responsáveis por ação ou omissão, por termos permitido que nos pusessem à deriva, por termos aceitado a merda desse navio ancorado, em silêncio, nada que justifique tanta passividade. Resultado: nenhuma novidade no cais!



Anoitece, agora chove, e dos longes mais notícias... Parece que as coisas por lá, também, não andam nada boas. Guerra, fome, desrespeito a natureza, risco de epidemia cada vez mais presente e as pessoas ancoradas, já tem um bom tempo, em silêncio.



Pego um livro de poesia e leio a dor de uma partida: o poeta se fez de louco enclausurado em seu quarto, nostalgia sem tamanho, mazelas de um coração. Quanta beleza ainda encontro nas palavras de um tolo, de um bardo sem consolo que se alimenta da ilusão.



No cais a multidão se aglomera, ora a Deus por um sinal, que o navio parta bem depressa... Mas o navio permanece ancorado, impossibilitado de navegar, já faz tanto tempo, sem comando, não tem rumo, lugar nenhum pra chegar.

naldovelho
Sereia cauda causa cada


Átomo de tudo que é

E deixou de ser

Tudo que me cala

Planta sem jardim

Ramas de peixes

Escama fina flor

Espinho espinha

Fibras de alecrim

Aroma veia amarga

Sangue que há em mim?

Meu pulso jaz

No fluxo atormentado

Que há no fim, ou

Onde os teus olhos olhem

Onde tudo inicia e acaba

Em luz azul

• Angela Gomes 
Meu corpo é o templo da minha arte. Eu exponho-o como altar para adoração da beleza."


(Isadora Duncan)

Cada vez mais lento caminha o vizinho da outra esquina. Cada vez mais desbotado seu chapéu que era um dia amarelo. Fecho a janela para não ver meu futuro próximo. Arrependida, abro portas e contemplo outra cena de domingo: um passarinho pousa nesse ombro que caminha lento e ganha ninho ambulante na cor palha do seu chapéu. Tempos do infinito dispensam conjugações do presente, do passado, do futuro .

Glória Kirinus
Sou rainha do meu tanque,
Sou Pagu indignada no palanque.

Bárbara Caramuru

COMO ANJOS


Como nuvens delicadas se aproximam suas mãos,
Como raios de luares os seus olhos me encaram
E me deixo ser levada pela ingênua rendição,
Me entregando a seus impérios nos mistérios que me aguardam.
No seu mundo onde a lua e as estrelas são países,
Onde a noite é de encantos que pretende desvendar,
Onde nasce em seu sorriso meus momentos mais felizes,
Onde eu criei raízes para nunca lhe deixar...

Vanessa Rodrigues.


Tanatologia das relações humanas [2]


1. Diálogo sobre o fato de que ninguém é perfeito. Ou da insatisfação:

- olhe, não se pode querer tudo numa pessoa só

Ligeiro ele saca;

- então por isso que você fica com vários?

Silêncio; ele insiste:

- e em si? você não encontra tudo?

responde, ela;

- tudo é sempre muita coisa
Ricardo Pozzo

EU SEI


Creio que vou morrer,
Por ter crido que viver
Cercada de beleza
Valia mais do que a certeza
De que poderia viver
Sem não mais saber
Como era ser
Linda e bela pra você...

Creio que, se me amou,
Não ousou me reviver.
Deixou-me sozinha a crer
Que tudo era infinito.
O que sou de mais bonito
Em nada foi motivo
Pra deixar em seu sorriso
Algo mais que meu sofrer...

Creio que seja tarde,
Pois nosso amor foi só miragem,
Delírios dessa vontade
Eterna de lhe viver.
Assim, não vai sofrer
Ao saber que eu morri,
Sem pensar no que sofri
Esperando por você...

Vanessa Rodrigues.

http://vanessacabofrio.blogspot.com/

carta maldita a caravaggio

quando manuel desterra seus gados
o rio se entreva
e os montes dizem sim às águas.
o são francisco lhes bebe o escuro, as taras
dos homens, o umbigo das plantas.
sou aquilante e morte.
meus espinhos, puro desvario, submergem
nas lamas que penteio.
sou vassalo de bois.
as terras da memória me pesam a carne.

quantas avós me derrotam na noite?"

Romério Rômulo)

sábado, 19 de maio de 2012


Orra! Deixei minha taça de vinho marcando em cima da mesa enquanto preparava o almoço para o filhotão e o Leozito...quando vejo Tobias lambendo meu vinho...coloquei o vinho no potinho dele...cheirou olhou com uma cara de c# pra mim e foi pegar os míseros raios de sol sobre o tapete da sala...resumindo, sem emoção não tem graça, quando é errado é mais gostoso...this is one more lesson from the my fuckcat...!

Rodrigo Ceccon

Primeiro pensamento ao acordar sozinho de cueca embaixo de um cobertor azul num pequeno quarto: mais fácil apontar uma arma que viver o próprio desejo neste labirinto de culpados. mijo. não tenho fome pela manhã. não há café. ligo o computador e vejo frases de deus, piadas prontas em fast- food circulando pela rede social, panfletarismo de alguns partidos decaídos de esquerda que não limparam a suj...eira de Stálin. o computador avisa que as definições de vírus foram atualizadas, no exato instante meu despertador negro sobre um livro de Mircea Eliade toca seus pequenos sinos rancorosos. estou pronto porque tudo se parece um sonho. não fossem os resquícios de ontem - a bebida, o cheiro de cigarro, um tipo de letargia que impede o curso convencional do pensamento - talves eu pensasse que a vigília não passasse de invenção inevitável. o mundo se constrói a partir da memórias de certos objetos e odores. lá fora alguns minuciosos procuram a morte telescopicamente.
bom dia.
Augusto Meneghin

sábado, 12 de maio de 2012

Um dia um filho decide ir para o Norte e morar longe. Outra filha decide ir para... o Sul, longe também. Ainda outro filho decide morar perto, quase vizinho. Um dia a do Sul vai para o Norte, o do Norte vai para o Sul. O centro-avante permanece como ponto de equilíbrio. Mas outro dia, o do centro vai para o Norte... Quem pode acompanhar a quadrilha que dançam os filhos? Em dias festivos todos procuram o ninho de aconchego e as panelas ficam contentes e os móveis ganham um brilho novo. A casa enorme fica pequena. Os filhos vem chegando e meus olhos de mãe dispensam qualquer colírio.

Bailando en el día de mi boda con mi padre poeta

De: Gloria Kirinus

terça-feira, 8 de maio de 2012

"Um minutinho...

Séculos e séc...ulos apertados e comprimidos em...

Um minutinho de História.



A rua São Francisco, antiga rua do Fogo, ali no Setor Histórico de Curitiba, na quadra situada entre Riachuelo e Barão do Serro Azul, está passando por reformas, orientadas pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano, Ippuc.
O plano de reforma da São Francisco naquele trecho é criar uma espécie de rua gastronômica , o que vem ao encontro de reivindicações do comércio local. Ouve-se dizer que as calçadas serão ampliadas e a pista de automóveis diminuída, de modo a não mais se estacionarem carros. Muito bem.
Duas preocupações, no entanto, devem ser anotadas, e o redator deste programa faz a título pessoal, isentando a terceiros de qualquer responsabilidade por estar observações.
Primeiro, o velho calçamento do lado esquerdo daquela quadra da rua São Francisco, mais do que centenário, e feito a base de “matações”, grandes pedras de basalto negro justapostas com esmero e arte, acaba de ser desmanchado para a reforma das tubulações subterrâneas, destinadas ao escoamento das águas, sem qualquer indicação de que as peças serão recolocadas no lugar – o que já significa a destruição de um patrimônio histórico inestimável, que aliás não está nas pedras mas na arte com que foram colocadas.
Existisse a preocupação de reconstituir ou mesmo de preservar esta calçada representativa da Curitiba antiga, e as pedras receberiam números, de maneira a se refazer exatamente o seu quebra-cabeças. Uma pena que o Ippuc não tenha ouvido historiadores da cidade, e especialistas na velha arte da cantaria curitibana, antes de começar os seus trabalhos.
O segundo ponto é o seguinte: um pequeno sinal remanescente do tempo em que se andava a cavalo pela São Francisco, uma solitária argola de prender animais, sobrevivente de outros tempos, até hoje está presa ao meio-fio da mesma calçada de velhos matações. Fica na rua São Francisco, quase em frente ao número 171. Será que a argolinha vai sobreviver às reformas? Os moradores daquela rua já se mobilizam em sua defesa, e estão dispostos a lutar por ela. Será a batalha da Argolinha...


Aqui você não perde tempo e ainda ganha... um minutinho de História."



(Jaques Brandt)



sábado, 5 de maio de 2012

Vida

A luz não se apagou,

anoiteceu.
Somos todos mitos
de irrealidade mútua
Diferentes, iguais,
pouco importa


Encontros escassos,
quase casuais
a vida não é,
nem nunca será
planejada,
ela acontece
tão simples e pacífica
que nem a compreendemos.



O dia amanhece novamente
e eu digo:

Bom dia, vida!





Deisi Perin
A televisão decidiu prestar uma homenagem ao silêncio.

Ouçamos seu pungente discurso na tela negra dos sonhos.
A greve da imagem é um tributo à dor de pensar.
Estiva no porto árido a espera de novos desembarques.
No horizonte da imagem a promessa irrealizada do arco-íris,
não haverá nenhum pote de ouro submerso. É só imagem
vertigem do delírio ao som das cores que velam
na miragem ,a morte iminente de um célebro sedento a beira

da morte.


Wilson Roberto Nogueira

Ao cair da tarde

Agora nada mais.Tudo silêncio. Tudo,
Esses claros jardins com flores de giesta,
Esse parque real, esse palácio em festa,
Dormindo à sombra de um silêncio surdo e mudo...

 Nem rosas, nem luar,nem damas...Não me iludo.
A mocidade aí vem, que ruge e que protesta,
Invasora brutal. E a nós que mais nos resta,
Senão ceder- lhe  a espada e o manto de veludo?

Sim, que nos resta mais? já não fulge e não arde
O Sol! E no covil negro deste abandono,
Eu sinto o coração tremer como um covarde!

Para que mais viver, folhas tristes do outono?
Cerra-me os olhos, pois, Senhor.É muito tarde.
São horas de dormir o derradeiro sono.

1920.

Emiliano Perneta.
Ilusão & Outros Poemas, p. 170

O poeta armado

DRUMMOND E O TRABALHO POÉTICO



“Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseje por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Até os poetas se armam, e um poeta desarmado é, mesmo, um ser à mercê de inspirações fáceis, dócil às modas e compromissos. Infelizmente, exige-se pouco do nosso poeta; menos do que se reclama ao pintor, ao músico, ao romancista…”



Carlos Drummond de Andrade

em “Autobiografia para uma revista”,

no livro Confissões de Minas (1944).

In Prosa Seleta, Nova Aguilar, 2003
olha para si como para uma tela em que se entra. dentro do frio faz frio, dentro da dor, dor. o instinto não é uma casa, é uma selva. o instinto, carnaval do sangue, festa da fera. olha para si, entra e fica. exala, morde, o instinto e sua falta de bom-senso. o corpo não escolhe, não é no humano o que se confessar. o corpo não sabe que o amor se chama amor, que a culpa responde por tal conceito. o... caos clama, a violência clama. a paixão tem os pés invertidos e funcionam assim: caminha-se numa direção, chega-se em sua negativa. olha para si qual em alguém entrasse: escuridões que mordem, bisturis da bruma o pensamento. o medo é por aqui ao encontro do instinto e não ser possível ir mais rápido que as próprias pernas. nem mesmo profundo, superfície apenas, e que nada espelha. vem, senta, do dentro talvez fora, assiste o que você é e não é.



Luiz Fernando Leprevost

terça-feira, 1 de maio de 2012

SELF MADE MAN

Pressa do

Café expresso

Gastrite

Taquicardia

Mãos lavadas

No transtorno

Sempre

No mesmo ponto

obsessivo

compulsivo

Self-made man



Desde jovem

lutando na vida

fazendo

o que deve

a job is a job

vestibulando

trainee

graduando

ganhando

tres mil

contos por mês

Ambev

Deloitt

GM e

IBM

contabilidade

oportunidade

visibilidade

Desde cedo

self-made



Self-made man

Fezes retidas

Penser

serpen

le penser est ta serpen

Self made man

A cobra morde o próprio rabo

E a hemorróida corrói o vosso rabo



Self-made man

Cabelos curtos, barba feita

Olheiras saudáveis

Camisa dentro da calça

Agressividade

Contas

na ponta

do lápis



I-pad

I-pod

Você pode

acreditar

que vai dar

certo

sucesso

self made

Felipe Spack

VITÓRIA RÉGIA NO CIBERESPAÇO

GLÓRIA KIRINUS



A LUA É A MESMA

DE ANTIGAMENTE.

É O MESMO, O PRÓPRIO SOL.

E AINDA É O MESMO

O MENINO QUE ATIRAVA PEDRAS

NA LAGOA

SURPREENDENDO

ESTRELAS

*

AS ONDAS DO MAR

AINDA RECEBEM

A VISITA

DOS RIOS

E A MENINA AINDA PERSEGUE

PARA SER PERSEGUIDA

COMO LENDÁRIA

NAIA

ENCANTADA POR JACI





*

O TEMPO,

NÓS SABEMOS,

É MESTRE INQUIETO,

QUE SEMPRE

INVENTA

SEUS PRÓPRIOS CURSOS

VIRANDO O JÁ VIVIDO

PELO AVESSO







NAS JANELAS DO VERSO.





*



PIRILAMPOS E BEM-TE-VIS

DIVERTEM-SE

COM NOSSA PERPLEXIDADE

DO LONGE QUE FICOU

PERTO

E DA VIRTUDE VIRTUAL

EMBALANDO A REDE

DO CONHECIMENTO.

*

RADARES INDISCRETOS

INVADEM

CIRCUITOS FECHADOS

COMO CATAVENTOS

EM TEMPOS DE FESTA

PROCURANDO

NOVOS RECANTOS

DO PENSAMENTO

*

EMARANHADO DE FIOS

ELEVAM RAÍZES

AÉREAS

NA ESTRATOSFERA

E ACORDAM

NAS ENTRETELAS DA NOITE

SOMBRAS PARABÓLICAS E

ARTÉRIAS

DO SENTIMENTO.

*

QUE REALIDADE É ESTA

QUE ME CONFUNDE?



FAÍSCAS OUSADAS

REACENDEM

A FOGUEIRA MILENAR

ENTRE ASSOMBROS DE CABOS

E CÉLULAS SEM FIO

*



E A PALAVRA

DO QUADRO NEGRO

APRENDEU A NAVEGAR

REINVENTADA

MULTIPLICANDO LUAS

COM ARES

DE VITÓRIA RÉGIA



NUMA TELA



DE CRISTAL.



(Poema publicado originalmente no livro: Curso Normal Superior com Mídias Interativas – Um projeto inovador para a formação de professores. Organizado

por Célia Finck Brandt e outros. Editora UEPG



Poema publicado na Revista Mediação 2008