quinta-feira, 29 de março de 2018


há o martelo da morte
sobre mim.
há o martelo.

quando eu encontro a vida
e sua noite?"
RR

Eu sempre gostei mais



dos poetas sem nome. Aquela senhora que passa, para em descanso e fala, sobre o tempo do céu e o clima da vida. Aquele senhor que nem para, gesticulando de longe e falando bom dia, à tarde, em alto e bom som. Aquelas crianças que buscam na escola e, sem que as mães vejam, me cumprimentam acenando tímidas, diariamente.
Eu sempre gostei mais, dos poetas sem nome. Desses que identificam nossas fomes e sem perceber, nos alimentam de coração.

Joakim Antonio

(sendo bem alimentado)

LACRE 12




Minha asa está ferida
pelo sopro da noite,
pela respiração dos chacais.

Não quero rugir
com os insanos, mas
cingiram-me às suas cosmogonias.

Milênios sangram em mim
os mortos que assassinaram
anteontem;

e os atavios da fé
em meu coração de pólvora.

Insulado de enigmas,
ergo na sombra um amanhã
de estilhaços.

Voa, poesia,
antes que um tiro te alcance.

Salgado Maranhão
(ópera de nãos)

terça-feira, 27 de março de 2018


Autor Edilberto José Soares
( Beto Poeta do Mangue)

Eu precisava ouvir sua voz
a melodia da sua alma
pois andava sem ter paz
falava só de madrugada

pensei que tinha enlouquecido
por você ter esquecido
todas as declarações de amor
em cada gesto, cada fala

falava só a minha alma
pensando falar com você
fazendo declarações ao vento
pedindo pra o vento levar

levar o meu pensamento
revelar meus sentimentos
eu precisava ouvir sua voz
a melodia da sua alma


... A FOICE ...




Peguei a Foice da Dona Morte emprestada, sem Ela saber é claro!!!.
Peguei para passar manteiga no pão... Descascar batatas... E apontar meus Lápis de Cor... E tirar sujeira de debaixo das Unhas.
Quan-do ela dês-co-briu!!!
Muito melindrosa... Desatou a chorar!!!
“Sniff!!! Sniff!!! Olha só oque Você fez... Está imprestável... Não tem mais fio... Como vou trabalhar??? Eu nunca falhei... Estou arruinada”
(DRA-MA-TI-CAAAA)
“Que vou fazer agora de minha Vida... Oop’s quero dizer Morte... Minha morte não tem mais Sentido!!! Vou ser castigada com a Vida... E Eu, que sou tão jovem... Somente trocêntos e cinqüenta e onze pintilhões de anos!!! Um Bebê Eu sou!!! Mal comecei à Morrer!!!”
“Quer saber??? Vou me trancar no meu quarto... Me entupir de Lithium e Rivotril enquanto ouça músicas EMO!!!”
Por quatro dias ninguém morreu... O Caos tomou conta do mundo!!!
Fiquei envergonhado e com remorso... Peguei a Foice... Limpei-a... Depois a afiei... Peguei um tronco de Carvalho e talhei um cabo todo estilizado e personalizado.
Quando tudo ficou pronto... Todo Orgulhoso procurei a Dona Morte... E lhe devolvi a Foice.
“Oh!!! Que coisa mais linda!!! Você fez tudo sozinho??? É mais bonita que a antiga!!! É!!! Você conseguiu se redimir!!! Agora tenho que voltar à trabalhar... E por falar em trabalho... Sabe aquele Cigarrinho de Artista que Você tanto gosta... Pois é... Estica o Pescocinho que você vai ter um AVC fulminante em... Três... Dois... Um...
ZZAPTT!!!
“E não é que Ele deixou bem Afiadinha mesmo”
“Lá-rá-li-rá-lá... Eu tenho uma Foice novaaaa!!!

Gutemberg de Moura

Vãs Filosofias




...Hoje sei, que toda Filosofia é vã.
Pois todas as Filosofias são criações de Homens.
E como tal, o fim de todas é tão somente validar a Existência de seu criador.
E o que é pior, todas tem como base as Crises.
As crises existenciais... crises emocionais...crises intelectuais.
Mas, a pior de todas, são as Crises Espirituais.
Deus? Quem é Deus?
Não sei dizer.
Deus? O que é Deus?
Não sei dizer.
Deus? Como é Deus?
Não sei dizer.
Mas, sei dizer quem Ele não é...
...Sei dizer o que Ele não é...
...sei dizer como Ele não é.
Por isso que hoje sei que toda Filosofia é vã.
Meu Espírito Inquieto e Questionador fizeram-me.
De quase tudo ver... De quase tudo sentir.
Minha mente ágil... E uma busca incansável.
Fizeram com que Eu entendesse.
Quase tudo que vi...Quase tudo que senti.
Dons? O que são Dons?
Não sei, ou saiba, mas não tenha digerido ainda.
O que sei é que nasci com Um ao menos.
O Dom do Discernimento, ainda não sei usar direito.
Mas já descobri que contrariá-lo é “Dor de estômago”.
E que repreende-lo é “Dor de dente”.
Por isso a dificuldade.
Consigo saber facilmente tudo o que está errado.
Porém fazer tudo correto é outra História.
Erro... Errei... E Errante vou “Doendo”.
Todavia entendi que há Terceiros.
E como tal alheios a “Mim”.
Portanto admito... Sim admito.
Minha Filosofia também é Vã.

Gutemberg de Moura

Os filhos do Corno de África




A terra é a minha cama
e o corpo humilhado da minha mãe, a cabeceira
à noite os bichos
escoram-me do frio e comem outros bichos
que nutrem a minha carne podre
não sei o que é um sorriso
nunca conheci outra vida se não esta

Somos tantos
deitados na mesma cama
já não me levanto
a astenia das minhas pernas
já não seguram o meu corpo
às vezes a minha mãe
mete-me um punhado de farinha na boca
para que a fome não me coma

Não sei se sou criança ou menino
aqui somos todos iguais
não existe idades nem formas
as dores vão deformando
as formas do meu corpo
e o medo assombra-me a sombra
que se cala por baixo de mim

Se pensam que nos matam enganam-se…
…Mutilam-nos

Os ossos desfazem-se lentamente
os dentes cravam a terra
tentam libar água das noites húmidas

Todos os dias adormecem milhares
na boca do inferno

Por mais que os poetas destilem
os cantores clamem
os pintores nos esbocem
jamais alguém conseguirá
abrir as portas da galeria horrenda
e expor o massacre da morte
que nos engole em jejum

Conceição Bernardino


Memorando de PE



Autor: Esdras Lee.

Pernambuco Joga todo seu sabor para fora
Ninguém o esquece quando vai embora
Pernambuco minha região
Que mexe com o meu coração

De muitas cores e transformações
Anda lotado de emoções
O estado que respira o maracatu
Ensina artes para mim e para tu

Pernambuco se encontra nas alturas
Com todos esses tipos de figuras

Rechiado de manguezais
Rodeado de praias naturais
Que criou poetas imortais
Encostado em mares e cais

Sua fama é internacional
Sua cultura é a mais atual
Pernambuco imortal, imortal
Imortal, imortal, imortal...



Sou da terra de Guimarães Rosa
boa de garfo/ingenua esperta
Sou da época do fim do mundo
boa no repente/sadica masoquista
Sou partidária da boa cama
dos tempos gastos no poema
Alisto-me agora e eternamente
no quixotesco exército de la mancha.

cristina ohana

COVARDIA TEM FARDA




Homens de farda escura
caminham pelas ruas a procura
de uma vítima,uma cobaia humana.

Não tem piedade por quem quer
que seja,se criança ou cidadão
de bem.

Não faz o bem sem ver a quem,
esquecem que veio da terra de
quem a tirou um grão,para lhe
dar o pão.

Vestem a farda,se acham e ficam
atirando pra todos os lados...

E as balas perdidas perfuram o
peito dos inocentes que nada
tem a ver com os festins.

Emanuel Carvalho

Amazônia ...onde está?


Amazônia ...onde está?



Onde …onde… é que está.
Amazônia suspiro de respirar!





Onde …onde… é que está
Amazônia pulmão da humanidade.





Os homens ,as crianças por oxigênio na vida a procurar
As árvores ,quase não balançam
Vejo crianças agitadas em balões.Esperam ar puro
Por vida clamam,enquanto sobrevoam por todo espaço.
Deus estende a mão para aliviar ar pesado
despejados em atmosfera vindos de toda esfera.
Os homens não cantam.
Serras não param de cortar e o fogo faz fumaça chamuscar.





Num momento ví alguns pássaros
Sobrevoavam entre nuvens, vôos em círculo.
Não queria acreditar.
Seus ninhos não estavam nas árvores.
Os macacos já não faziam suas acrobacias.
Não acredito…
Onde estão as onças para tela enfeitar
Choro se faz pelo Universo.
enquanto poeta chora em forma de versos.





Onde …onde… é que está.
Amazônia suspiro de respirar!





Onde …onde… é que está
Amazônia pulmão da humanidade.







Queria… muitas de novo plantar.Uma nova tela deslumbrante
ressurgirá …para nosso Planeta renascer.
Venha…venha ajudar.Nova semente e um pouco de amor
é só o se que precisa. Venha , os peixes querem borbulhar
por planície de maior oceano de água doce.
Doces momentos irá se configurar ,flores abrirão.
Nosso corações entoarão o maior hino da Terra
e os sinos bem alto pelo mundo tocarão.





Onde …onde… é que está.
Amazônia suspiro de respirar!





Onde …onde… é que está
Amazônia pulmão da humanidade.

regina ferreirinha 02-06-2011


quinta-feira, 15 de março de 2018


Saio de duas clínicas psiquiátricas
para um mundo cheio de loucos...
Envenenam-se as relações diplomáticas
e as sociedades apodrecem aos poucos...

Sem reticência que exprima,
sem sequer o arrimo da rima,
é hora de fazer poesia diária
é o minuto de usar a própria irracionalidade
a favor, ficou impossível
a impassibilidade da lógica.

Tantas perdas no meio do caminho:
sentimento agudo e mesquinho
de existirem muitos que mesmo ao redor
são os que te deixam mais sozinho.

IJS


quarta-feira, 14 de março de 2018

Avaro


Avaro,
conto as palavras
com que pretendo dizer
algo
-- quase nada --
do tudo que quisera.

(Raras, as palavras
não vingaram na primavera.)

Zero é um número que não vale nada.
Mas quando adicionado
aos outros números,
é como um mundo que se cria.

Avaro,
conto as palavras...
Vai vir o dia
em que não direi nada,
não serei nada:
partícula abismada no tudo.
Aí tudo estará bem.
Ou nada.

Avaro,
me calo
ante o mistério do nada.

(Nada
é
tudo.
Tudo
é
nada.)

Otto Leopoldo Winck


poesia


poesia
te queria calma
palavra impressa na alvura da página
oásis no Saara
portal do paraíso
no entanto és chaga
que me corrói a pele
e me inflama a noite
em espirais insones
poesia
te queria lírica, épica
até dramática
mas não assim
insana

Otto Leopoldo Winck

UM CONTO




– Oi.
– Oi.
– Não me viu?
– Desculpa, tenho andado distraído.
– Você vive distraído – ela riu.
– É verdade. Eu já nasci distraído. Meus olhos muitas vezes estão voltados para dentro.
– E o que você vê quando olha para dentro?
Agora foi ele que riu. Na verdade um sorriso. Um sorriso tímido de quem olha muito para dentro.
– Eu vejo uma grande escuridão. E algumas luzes.
– Você é engraçado. Fala como se fosse personagem.
– Às vezes eu acho que sou um personagem.
– E o que acontece no seu livro?
– Nada. Quase nada.
– Que pena. Se eu entrasse no seu livro podia acontecer alguma coisa.
– O que, por exemplo?
– Ah, a gente podia tomar um sorvete.
– Sabe que é uma boa ideia?
– Tomar um sorvete?
– Sim, mas sobretudo entrar na minha história.
– E o que eu faria na sua história? – ela perguntou.
– Você podia ser uma luz. Uma dessas luzes que brilham na minha escuridão interior.
– Ah, não quero.
– Não quer?
– Não, não quero ser apenas mais uma luz.
– Garanto que você seria uma das estrelas mais brilhantes.
– Não basta.
– O que você quer ser então?
– Quero ser teu sol. E brilhar tão forte que as outras estrelas apaguem.
– O sol da minha noite?
– Sim, o sol da tua noite.
– E se apagar um dia? Os sóis sempre apagam.
– Não importa. O que importa é que enquanto brilham não há necessidade de outras luzes.
– Bonito o que você disse. Vou botar na minha história.
Ela riu de novo.
– Quando que você vai sair do seu livro imaginário?
– Nunca. Agora que você entrou não vou sair nunca.
– Há, há. Mas a história termina bem?
– Não sei. Se for história de amor acaba mal. Como todas as histórias de amor.
– Por quê? E o “foram felizes para sempre”?
– Olha, sempre que você ler num livro “foram felizes para sempre” na verdade quer dizer “ficaram entediados para sempre”.
Riram.
– É, o que importa é o brilho do momento – disse ela. – Mas então, termina mal esta história em que estou entrando?
– Não sei. Pode ser que sim, pode ser que não. Saber o final tira a graça.
– É verdade. Vamos curtir então enquanto brilha o sol da meia noite...
– Quanto mais profunda é a noite, mais bonita é a luz.
– Estou dizendo: você fala que nem personagem.
Ele riu.
– Bom, em que parte da história estamos agora? – tornou ela.
– Ainda no começo. Na parte em que ela convida ele pra tomar um sorvete.
– E ele aceita?
– Ele já aceitou. Que sabor você quer?

Otto Leopoldo Winck




enterrem-me com minha kalashnikov
na curva do rio
na beira da estrada
no fundo do vale
onde caíram os homens, as mulheres, as crianças
na noite mais funda
na hora mais dura
no tempo mais sujo
e cujo sangue é este
que no céu estrelado
já avermelha a aurora

Otto Leopoldo Winck

UM CONTO - II




– Oi.
– Oi.
– Adorei aquele dia o sorvete com você – ela disse e ele reparou que ela estava linda.
– Eu também. Mas sobretudo a companhia.
– Oh, obrigada.
Riram. Timidamente. Todas as histórias de amor – reais ou fictícias – começam assim: com “ois” e tímidos sorrisos. E, ai, como são bestas! Se não fossem bestas, não seriam histórias de amor. (Fernando Pessoa disse algo assim. Mas dane-se Fernando Pessoa.) Se os apaixonados soubessem, não passariam disso. Depois vêm as dúvidas, os medos, os ciúmes, as brigas, as reconciliações dramáticas e, se o amor sobreviver a todas essas provas, o longo e melancólico definhamento do tédio a dois.
– Bem, agora que eu entrei na sua história – ela prosseguiu –, qual é o próximo capítulo?
– O próximo capítulo? Não pensei ainda. Mas acho que é assim: eles se encontram dois dias depois no mesmo corredor da universidade. Aí ela diz que gostou muito do sorvete com ele e pergunta sobre o próximo capítulo.
– Acho que você está improvisando essa história...
– Às vezes o escritor sabe o que está escrevendo, outras vezes não. Como na vida, tem horas que é melhor seguir a intuição.
– E o que a tua intuição diz?
– Diz que ele deve convidar ela para um café agora.
– Aprovado. Está muito frio para um sorvete hoje.
Meu Deus, como é dura a vida de narrador... Narrador sabe tudo. Sabe que depois deste café inocente haverá outro, menos inocente, e depois será uma cerveja, e numa noite mais fria ainda um vinho tinto e doce (porque ela só toma vinho doce). E haverá um cinema, uma peça de teatro, o lançamento de um livro, longas horas de conversa nas redes sociais madrugada adentro, e um hotel no centro da cidade, e dúvidas, e medos, e ciúmes, e brigas, e reconciliações dramáticas e, se o amor sobreviver a tudo isso, o longo e melancólico definhamento do tédio compartido. Ou então – por que não? – haverá um rompimento. E eles ficarão anos sem se ver. Então um belo dia eles se cruzam numa festa, numa recepção, num encontro de trabalho. Eles estão separados (de outros, porque não casaram entre si), recasados e com filhos já grandes. Depois do reconhecimento, novamente a insegurança (“ela vai me achar velho”, “ele vai me achar gorda”), mas as conversa, movida a um excelente Bordeaux, evolui de insignificâncias (“fiz doutorado na França”, “meu marido é engenheiro”) a confissões (“nunca te esqueci”, “você foi o amor da minha vida”).
– Me lembro de como você era distraído...
– Me lembro daquele sorvete...
– E daquele café...
– E de como você tinha medo na primeira noite...
– E de como você estava linda...
– Agora está tudo caído.
– Que nada, você está ótima.
– Você também.
– Bondade sua.
Riram. Um riso tímido como vinte anos atrás. No entanto, nada acontece. Cada um volta para sua casa ou seu hotel. Trocam algumas mensagens. Depois perdem novamente o contato. O tempo de os dois serem felizes tinha passado. Fora naqueles dias de sorvete e café e o primeiro beijo e o primeiro suspiro de saudade. Mas agora eles ainda estão no café. O tempo não transcorreu ainda. E eles não sabem de nada do que vai acontecer. Não sabem das dúvidas, dos medos, dos ciúmes, das lágrimas vertidas no travesseiro à noite, das reconciliações dramáticas e do rompimento final. Não sabem também do reencontro vinte anos depois. Não sabem da dor imensa que vão sentir, depois desse reencontro, ao voltarem para os seus quartos sozinhos e constatarem que o tempo de serem felizes passou e eles o desperdiçaram por causa de um orgulho idiota. Não, não sabem de nada. E é bom que não saibam. Deixemo-los então tomando um café expresso e trocando tolos sorrisos. Ah, como é dura a vida de um narrador onisciente!

Otto Leopoldo Winck


Acho que estou meio com medo de morrer


Acho que estou meio com medo de morrer
porque o céu é azul
e todas as coisas de repente estão belas.
No mais, tudo segue o seu rumo: rumores de carros,
latidos de cães, vozes distantes.
Viver é saber se deslocar na vida
com o mínimo de ruído e atrito.
O céu é azul mas poderia não sê-lo. Poderia ser lilás, ou roxo, ou vermelho -- como no dia do juízo final.
Mas não: não haverá juízo. O céu é azul e os anjos morreram sufocados no ar porque o amor foi perfuro.
Uma criança chora.
Uma criança chora e todas as coisas seguem no seu ritmo: carros, cães, pessoas.
Há pássaros invisíveis nas árvores.
Não os vejo mas os ouço.
Acho que estou meio com medo de escrever um poema
e ele soar idiota
porque o céu é azul e todas as coisas seguem o seu destino.
Há pássaros nas árvores. O céu é azul.
As coisas seguem o seu caminho
e todos os poemas são idiotas.
Se há algum sentido, o sentido está fora das coisas.
De repente não há. O sentido é este: o céu é azul e todas as coisas estão belas. (A beleza dói como chaga.)
Há pássaros. Azul é o céu. Um cão late. Uma criança chora, meu Deus, e viver é saber
se deslocar no espaço feito um anjo
com o mínimo de ruído e atrito.

Otto Leopoldo Winck



uns lençóis baratos recobrem meu silêncio.
um ananás do passado mostra a lucidez do meu corpo.
não vim ser anjo,
vim ser estardalhaço."
RR

A caça e o caçador




À beira do abismo, a caça;
encurralando-a, o caçador.
A caça sabe que está frita,
o caçador já conta as favas.
Ele aponta pra ela sua arma,
ela treme, os olhos inquietos.
Quando o caçador vai atirar,
a caça se lança no abismo,
os olhos a sorrirem, certa
de que, se não ganhou, fez
o caçador perder também.

*** Tuca Zamagna



os poetas rasgam olhos
limpam línguas, cospem putidão.
os poetas sinistrados
de paixão."
RR