A terra é a minha cama
e o corpo humilhado da minha mãe, a cabeceira
à noite os bichos
escoram-me do frio e comem outros bichos
que nutrem a minha carne podre
não sei o que é um sorriso
nunca conheci outra vida se não esta
Somos tantos
deitados na mesma cama
já não me levanto
a astenia das minhas pernas
já não seguram o meu corpo
às vezes a minha mãe
mete-me um punhado de farinha na boca
para que a fome não me coma
Não sei se sou criança ou menino
aqui somos todos iguais
não existe idades nem formas
as dores vão deformando
as formas do meu corpo
e o medo assombra-me a sombra
que se cala por baixo de mim
Se pensam que nos matam enganam-se…
…Mutilam-nos
Os ossos desfazem-se lentamente
os dentes cravam a terra
tentam libar água das noites húmidas
Todos os dias adormecem milhares
na boca do inferno
Por mais que os poetas destilem
os cantores clamem
os pintores nos esbocem
jamais alguém conseguirá
abrir as portas da galeria horrenda
e expor o massacre da morte
que nos engole em jejum
Conceição Bernardino
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