sábado, 17 de setembro de 2011

pós os ismos tudo é pós


na pele ou nas aranhas

na carne ou nos lençóis

no palco ou no cinema

... a palavra que procuro

é clara quando não é gema



Arturgomes

http://mania-de-saude.blogspot.com/2011/09/boca-do-inferno.html

domingo, 11 de setembro de 2011

Os homens são relidos
por esponjosos vermes
no arquivo não há comentários
O corpo vira memória.
Toda revolta, na bruma é abafada.
Ai, orfeu, vem tirar-me a vida !

Cacaso

gente simplesmente gente

Não existe solidão
quando a gente
pode ver o brilho
do sol, das estrelas
o tête a tête da vida
a beleza das flores
O sorriso de uma criança
O olhar matreiro de um amigo
Ou do ser humano
Existe felicidade maior
Quando ligamos com coisas
E gostamos de gente
Isso é ser feliz.

Zil, de Curitiba

Macao

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Usina

usina


mói a cana

o caldo e o bagaço

usina

mói o braço

... a carne o osso

usina

mói o sangue

a fruta e o caroço

tritura suga torce

dos pés até o pescoço



e do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

: o saldo e o lucro



arturgomes

http://mania-de-saude.blogspot.com/2011/09/e-por-falar-em-trabalho-escravo.html

HOJE, DOMINGO


Vasta e resistente, a mesa é a espinha dorsal da família. Sete lugares vazios que posso usar da maneira que quiser. Cada dia em uma das cadeiras. Hoje, domingo, sento Afonso. Daqui posso enxergar as pequenas rachaduras (algo como finíssimas varizes) na nesga de piso descoberta entre o tapete e a cristaleira.

Sobre a mesa apenas o diário, um lápis com a ponta grossa, uma xícara vazia e migalhas de pão. Algumas tingidas pelo preto do café que, caído na toalha branca (última peça do enxoval), formou a imagem de um feto. Ao perceber isso, apalpo meu ventre despovoado, um aborto na minha idade, já pensou? Com o lápis começo a cutucar o feto. Tudo que consigo é furar a toalha sem tirar gota de sangue. Sentada Afonso, fico ao lado do lugar de Maria Augusta. Ingrata, não veio nem para o velório do pai, alegando que Rondônia é muito longe. Logo a filha de quem Afonso mais gostava.

Daqui também posso enxergar a foto sobre a cristaleira. Emoldurada de pó, a família dialoga longos silêncios.

Hoje, domingo. Meu almoço, café e torrada. A casa vai continuar em desordem até terça, dia da faxineira.

Uma das paredes, toda de vidro, me prende e me comunica com a paisagem da ruazinha de casas de quintais apertados. Deste segundo piso, posso acompanhar o movimento externo. A vizinha, com seus braços longos, lava as calçadas. Seus filhos brincam no pátio com um cão doméstico. Mas chegará o dia em que aprenderão a brincar com os pássaros.

Capricho na letrinha redonda, com a qual preenchi inumeráveis cadernos de caligrafia durante a infância. Para que tanto cuidado se ninguém vai ler estes diários? Mera terapia. Assentar pacientemente no papel o que te inquieta, me aconselhou o médico.

O diabo é que nada acontece. Tudo tão parado. Nem mesmo venta. Morto, o galho do chorão (derradeira companhia) não roça mais a vidraça.

Tudo que possuo, meu Deus: sete lugares vazios e a necessidade de preencher as horas, os meses, os anos.

Caqui verde, madurado à força, quem me provou ficou com o travo amarrento na língua. Por isso lançada num canto qualquer?

Nem fome tenho, vou agora me levantar, colocar cuidadosamente a cadeira sob a mesa e alisar os cabelos despenteados. E depois voltar para o quarto lembrando que amanhã, segunda, sentarei Maria Augusta.








MIGUEL SANCHES NETO


Miguel Sanches Neto nasceu em Bela Vista do Paraíso, interior do Paraná, em 1965. Doutor em teoria literária pela Unicamp (1998), é professor da Universidade Estadual de Ponta Grossa, colunista da Gazeta do Povo (Curitiba) e colaborador da revista Carta Capital. Autor, entre outros, de: Inscrições a giz (FCC, 1991 – Prêmio Nacional Luís Delfino), Venho de um país obscuro (Travessa dos Editores, 2000), Chove sobre minha infância (Record, 2000 – traduzido para o espanhol pela Poliedro em 2004) e Hóspede secreto (Record, 2003 – Prêmio Nacional Cruz e Sousa de 2002).

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Parte Arrancada


O ódio bebo de dentro pra fora.

O medo bebo de fora pra dentro.

De noite não é o olho que chora:

... É o estouro da represa do tempo.



meus monstros ainda os vejo;

Eles ainda me apagam sempre;

Mas agora só olho o presente,

me achando de novo no espelho.



nunca deixei de ser muitos:

aqueles muitos que eu não era:

os espanco onde antes houvera:



mortes sem vida sem primavera:

delirios e pesadelos abruptos.

E renasço da flor de meus lutos.


Julio .  U.  Almada,
Do Livro Poemas Mal_Ditos

domingo, 4 de setembro de 2011

Tempo!

Tempo!


Inverno de 2011
O tempo é sujeito

É categórico

Oculto nas horas alegres

Explicito nos ensejos mortais



Ladrão que se furta - nos roubando

Larapio do que?

De si mesmo.



Desonesto!

Sempre a sussurrar, qual amante em pleno gozo

- Você tem muito tempo!



Assim, segue-se

O Amor fica para amanhã

O declarar-se, para depois

O Sorriso, retardado

O abraço, na espera



O maior simulacro do tempo

Fazer-se presente a todo momento

No presente, o passado sutil

No futuro, o presente se entende



Longos cabelos loucos o do tempo

Envolve-nos

, nos fascina


Para que depois

Descubramos

O tempo?

Se foi!



Prof. Dr. Wlaumir Doniseti de Souza


Graduado em Filosofia e Pedagogia

Mestre em História

Doutor em Sociologia


"Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar

além" (LEMINSK, Paulo. Distraído Venceremos. São Paulo: Brasiliense, 1987)


Espiar

Angústia, palavra fácil

Qualquer um pode dizê-la

Tão democrática,

Até o analfabeto lhe tem direito

Qual exército da OTAN

Oferece-se.

Exibida em praça pública!



Difícil é senti-la.

De onde veio?

A que motivo?

Terá razões ou é volúvel inconseqüente

Na praça todos a assente



Queria a dona quimera compreendê-la

Deitá-la

E qual espelho refletido

Lado alado

Acariciar com o olhar

Lacrimoso, pois em febre

E perguntar-lhe



Diga caleidoscópio

Por que te mereço?

Wlaumir Doniseti de Souza