terça-feira, 30 de agosto de 2011

sábado, 27 de agosto de 2011

José Saramago

no fim, acho que morrer é justo




vou parar de respirar



assim que acabar de me matar



meus amigos vão viver pra ver



meu funeral vai ser lindo de morrer!



.

Antonio Thadeu Wojciechowski

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

posso querer esquecer, mas se esquece por aí mais facilmente guarda-chuvas que amores. e se esquece infinitamente mais canetas que guarda-chuvas. mas eu não, eu sou o melhor em encontrar canetas para continuar escrevendo sob a chuva. posso querer esquecer, só que escrever é lembrar do futuro.

Luiz Felipe Leprevost



(da série Postais de Espantos)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

pode cortar como faca

ou ferir como espinho
que seja proibido
aos olhos d quem seja
eu quero tudo que sangra
...nem que seja em angra
como energia nuclear
ou passaporte pro futuro
não quero porto seguro
quero morrer no mar.



arturgomes

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um só sorriso seu sorve o vapor ácido da minha noite


e o transforma em algodão doce.
 
A noite ainda está lá cobrindo-me de mortalha
 
 mas minha alma gargalha.
 
Wilson Roberto Nogueira

Armas

-Qual a mais forte das armas,

A mais firme, a mais certeira?

A lança, a espada, a clavina,

...Ou a funda aventureira?

A pistola? O bacamarte?

A espingarda, ou a flecha?

O canhão que em praça forte

Faz em dez minutos brecha?

-Qual a mais firme das armas?-

O terçado, a fisga, o chuço,

O dardo, a maça, o virote?

A faca, o florete, o laço,

O punhal, ou o chifarote?...

A mais tremenda das armas,

Pior que a durindana,

Atendei, meus bons amigos:

Se apelida: - a língua humana!-



Renata Mele

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

domingo, 21 de agosto de 2011

Contraste -

A Pobreza,

Remexe no lixo;

A Riqueza,

...Remexe no Homem;

A Pobreza, A Riqueza

Bicho-Homem.

A Pobreza,

Carência e Fome;

A riqueza,

Demência do Homem.



Julio Urrutiaga Almada, 1982



Destino

 O imã dilacerou,


O dia já partido.

O cabelo me tocou

Ah, peito ferido.



...Dias e dias, ninguém sabe

O não ser igual de cada dia,

Manhã depois do pesadelo

Almoço às doze, alguém diria,

O sol cortante naquela tarde

E nada é o mesmo.



Nem a lâmina no olhar

Ela é quente, ela é fria,

De adoecer, de encantar,

É pronta, é tardia

É o que vemos

É o que vê

Taquicardia.

Julio Urrutiaga Almada

terça-feira, 16 de agosto de 2011

EM CARNE VIVA

Um poeta em carne viva

abriga a terrível pulsação

de um coração-estrela

e um silêncio

encravado nas entranhas

como filho bastardo

que nasce

à revelia do seu canto



Um poeta em carne viva

pisa as pedras

imaginando-as

seda da China



Um poeta em carne viva

é um louco no tribunal

das almas de chumbo:

culpado sempre



Culpado de ser humano da fala ao falo



Bárbara Lia

Tem um pássaro cantando

dentro de mim

2011

ISTO É A TARDE:



LUZ

que um Anjo azul executa

num violoncelo amarelo



CHOQUE

do olfato contra um perfume

lírio gramado eucalipto



FUGA

desta rotina de estudo

ou do afã do trabalho

à carruagem de nuvens

longa



lenta

lilás

Adriano Winter
http://adrianowintter.wordpress.com/

SÍSIFO

tenho pena das belezas sem poetas

que jamais conhecerão a poesia



por isso rolo essa pedra da manhã, da árvore

do jardim e do lago ainda sem verso

neste poema ambicioso, generoso, repleto

(e no entanto – ainda e sempre – incompleto)

forço alma, fêmur, bíceps – ofego!

empurro, literalmente

o globo glorioso

de todo universo

(mais

o que almejo e imagino)

pela encosta vertical, quilométrica

até o cimo

mas lá, força acabada

tão logo ergo minha mão contusa

para enxugar-me das rimas sanguíneas

contemplo a forma cair de seu clímax

ofício nulo, de volta ao nada!

volto: e na planície

novamente comovido

retomo meu estético destino

Adriano Winter

Nasceu e reside em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foi um dos vencedores do Festival de Música, Poesia e Conto de Paranavaí (Femup 2010), com o poema "Os átilas". Permanece inédito em livro. Edita o blogue Ars Poetica - AW (http://adrianowintter.wordpress.com



Silo


I
ceifo safras


de pássaros

guardo voos

no silo

depois lavo

na arte

e nos versos

afio

a famélica

e ágil

foice lírica

da íris

II

planam sempre

que abro

(tristes tempos

de estio)

esse silo

fantástico

onde fomes

sacio
 
Adriano Winter
Fonte :Eutomia

Poética

III
a beleza tem leis


que o poeta ignora

apesar de contê-las

na extensão de sua obra

linha a linha reflete

harmonias herméticas

de suas luzes simétricas

que jamais entrevê

mas cintilam no avesso

do céu negro que versa

lê de luas ilógicas

raios presos nas letras

tão sutis que velozes

somem quando aparecem

lê de estrelas o eco

sob as trevas fonéticas

e por todo poema

em discurso de eclipse

lê o zênite líquido

do vocábulo impresso

mas em língua ilegível

- um dialeto do nada -

que reflete o invisível

escrevendo o que apaga

lê a lei do silêncio

no limite da lauda:

a poesia começa

onde o verbo acaba
 
Adriano Winter
Fonte :Eutomia

Poética


 II
a beleza tem leis


que o poeta obedece

feito cego refém

de suas normas secretas

as safiras da forma

ele pensa que amolda

que lapida, que pole

ou colares concebe

mas as pedras precisas

são geradas por ela

ruge azul e se insere

no momento que escolhe

e no molde que elege

pressionando sua mente

a cingir cada verso

da maneira que pede

advém do inconsciente

que antecede a palavra

e em riquezas excede

as jazidas da fala

um silêncio que ao léxico

alimenta e revela

hermetiza e esclarece

ou destrói, desespera

luta eterna do ser

contra o som e o alfabeto

contra a arte que o diz

sem contudo expressá-lo.

Adriano Winter
Fonte : Eutomia







POÉTICA

I


a beleza tem leis

que as palavras apagam

quando grafam seu gênesis

no princípio da página

e revelam que o belo

surge brusco e sozinho

como sonho ou delírio

nas pupilas da linha

(não há luz que construa

nem engenho que gere

sua flor na brancura

insondável do cérebro

onde pétalas lusas

ditam versos inéditos)

ela anula a estrutura

cinde a lira do logos

parte o fêmur do número

ri do rosto de Apolo

e na mão do arquiteto

crava o da(r)do do acaso

quando quer, como quer

tudo - a si - submete

tem um trono no caos

outro sólio na ordem

reino (em branco) do arcano

onde incógnita impera

às vogais, consoantes

dando timbre e mistério

Adriano Winter
Fonte: Eutomia

PALAVRACASO

(re)começa incógnita

no branco infinito



mistério sem fórmula

de fim imprevisto



pondo o ser em prova

sempre mais difícil



que por cálculo inóspito

(antiluz e antidígito)



resolve-se ilógica

no vocábulo inscrito


Adriano Winter
Fonte : Aliás


METAFÍSICOS

enquanto fetos

viram flores

e homens murcham

e morrem

nós tentamos deter

o movimento veloz

e violento da vida

criando histórias de amor

obras de arte e

tratados

de filosofia

Adriano Winter
Fonte:Revista Germina

DESPERTAR

o brinde

da vida

aflora em festa



já borbulha

na borda

da manhã que começa



tim-tim, minha carne:

reacorda!



tim-tim, minha alma:

fica ébria!


Adriano Winter
 
Fonte :Revista Germina

sábado, 13 de agosto de 2011

Estátua de pedra.
O movimento da brisa
nas penas do pombo.

Sérgio Francisco Pichorim.
Fonte:Zachi

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Hoje é um bom dia para morrer

Não está calor

e o frio está na dúvida

A chuva transformou-se em garoa

olhei ao redor com cara de

Por quê?

Em meio a inúmeros desconhecidos

deletei-me do orkut.

Deixei de aceitar estranhos no facebook.

Limpei e-mails inúteis

doei roupas e livros

separei todo lixo.

desfiz-me do International Herald Tribune

e revistas em inglês

que provavam meu conhecimento e viagens.

Desisti do maravilhoso texto The Raven de Poe

traduzido para o alemão

para quando eu dominasse a língua.

Textos e livros em português, italiano, espanhol

para um dia talvez.

Esvaziei a sapateira e a mente

Enxerguei com clareza

o conforto do corpo

a solidão da alma.

Sem adereços eu vi

que hoje é um bom dia para partir.



Deisi Perin

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A minha noite se aproxima e a morte começa a querer algo mais sério comigo do que apenas um flerte. Não me sinto poeta ,nem torto ou direito sou apenas andarilho das palavras, tropego bebendo quem sou para algum bueiro ,seja gaveta dos meus escritos ou no eter da infovia. Eu mais minhas contingencias, ideologias e todas as roupas mais , embora prefira andar como vim ao mundo, procuro encontrar a nudes da alma essa afogou-se sob o calor de tantas roupas que encrustadas tornaram-se couraçãs do burgues metido a comunista de cujo espelho embassado me vejo.



Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Jovem

Suporta o peso do mundo.
E resiste.
protesta na praça.
Contesta.
Explode em aplausos.

Escreve recados
nos muros do tempo.
E assina.

Compete no jogo incerto da vida.

Existe.

Helena Kolody
in: Infinito Presente

domingo, 7 de agosto de 2011

Sorriso

Embora teu sorriso se aproxime do filete
de algodão, que adoça os lábios de Buda,
brincas, aos vivos dos ventos,
nos telhados de ardosia . Tua carne
é faísca de quem te criou
Dela deriva a esperança, que te faz,
na medula do amor sonhar com outro abraço
o dos bichos perfumados pela chuva.

Armindo Trevisan

Minifesto

Ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes
morra a calma desta tarde
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera
viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo
nele tudo foi e , se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era.

Paulo Leminski

sábado, 6 de agosto de 2011

3 Postais

ali

naquele trecho da calçada
agora à noite
alguns se deitam, cobrem-se
com sacos de estopa

e dissimulam
piras
funerárias.

Marcelo Sandmann
Somente a Arte , esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas , torna água
todo o fogo telúrico profundo
E reduz , sem que , entretanto, a desintegre,
À  condição de uma planície alegre
a aspereza ortográfica do mundo.

Mário Bortolotto.

RESPOSTA AO TEMPO - NANA CAYMMI

Por teres ido tão longe
embora sem ter fugido
parece não teres ido

e longe é como ontem

como estás fora da vista
a minha imagem de ti
que já está fora de si

Segue a tua pista.

Marcos Prado

Poética Negativa

Não quero a palavra enrijecida :
pedra circunspecta
impermeável a vida .

Não quero a palavra mutilada ;
autópsia incisiva ,
vísceras reviradas.

Não quero a palavra intransponível:
ponte que pende
no vão do invisível

Não quero a palavra imaculada:
área rarefeita
avesso a ser contada.

Marcelo Sandmann
Lírico Renitente

Provocações: Abujamra declama Carpinejar

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

"Escrever é coçar uma urticária: intervalo entre a dor e o alívio . "
M . S . Neto
- Vó, se amanhã nevar, você me acorda? - Acordo! Nem neve, nem geada. Nem sol e nem azul. Meu neto aquece seu quarto e todos os recantos da casa. Claras em ponto de neve para o café da manhã...

Glória Kirinus

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Parecem mais verdes as árvores da minha rua. E os velhos vizinhos que arrastam bengalas,bem mais jovens ainda. A lente é outra o sol desponta.

Glória Kirinus
Pensando ! Estou chovendo...pego a vida  camaleonicamente !

Glória Kirinus

Aurea mediocritas. 2

Deve haver um ponto médio
onde o fazer de quem escreve

não custe a dor de quem o lê

(Mas se for dor
o que ele escreve,
que nossa dor haja prazer. )

Marcelo Sandmann

Contaminação

Tudo que o homem toca ele contamina,
desde a fonte de água cristalina
até a prostituta que a sociedade discrimina.
Depois ele se orgulha em dizer :
"Em homem não pega sujeira porque,
se comparada com o homem
até a sujeira é coisa fina. "

Cida Magalhães
Lamb, lamb,lamb...


Foi pensando em despertar o sentimento maternal na minha gata, que ficava muito tempo sozinha, que adotei a segunda gatinha, a Miona, para fazer companhia para Guida.

O problema é que Guida viu-se ameaçada, com o território invadido e nada de sentimento maternal: só guerra! Recebeu-a com chiados e rosnados. Detestava a filhotinha que parecia não entender de onde surgia tanto mal humor. Miona rapidamente encontrou um esconderijo pra lá de criativo. Entrou pela fresta do armário da cozinha, onde tem o aramado dos panos de prato e passou por debaixo do fogão embutido, deslizando para dentro da última gaveta, da bancada, de onde tirei as ferramentas e forrei com pano macio, para ela se aninhar. É um esconderijo inatingível pela Guida.

Passados quase dois anos, Guida consegue relacionar-se melhor com a Miona, mas ainda assim, enxota-a com chiados ferozes quando sente-se ameaçada vendo a pequena aproximar-se de onde estou.

Já presenciei a Guida descendo do sofá, passando pela Miona e desferindo uma patada na cara dela, como quem diz: "Como ousa estar aqui!?"

Miona, que é uma graça, parece tirar de letra os desagravos da mais velha. Agora que está maior, devolve patadas e pula alto, escapando. E consegue ser lindinha, desfilando pela casa. Mas é arisca. Se chega visita, corre para o seu esconderijo. Qualquer barulho indefenido é motivo de sumiço.

Mas há um espaço de paz aos pés da cama, onde o sol entra de manhã e Guida finalmente lambe Miona, como se fosse sua filhote.

Marilza Conceição
Na palma da mão,
nenhuma escrita
de caligrafia elíptica.

Na palma da mão,
nenhum resquício
de mistério e sacrifício.

Na palma da mão,
somente as certezas da pele: nada
na palma da mão.

Marcelo Sandmann

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Flâneur de uma cidade sem úbere agonizando de agruras para ontem.
Matem minha vontade de morrer nesta cidade de pó e carniça.
Em toda praça sorri banguela a desdita miséria
untada de lodo e urina de ratos sob as bençãos da geada mortalhando gelada dança .
sorve meta merda na alma dissolvida nas vísceras do  pesadelo empedrado no fogo .
gosma de vida que se arrasta de precipício em precipício de vertigens no inferno
saboreando a morte tateando desespero lambendo a laje da vida que foge.

Passo impassível sem moedas a dar nem cumprimento a paisagem horrenda da urbe.
cobertores sobre peles podres sob ossos quebradiços , baratas .

No submundo da humana voracidade mais um careca icinera de ódio mais um subumano desengano.
Cruzes são caras de mais , covas rasas secas de Deus plantam mais um horizonte que não brotou.

"A manhã tem mais". "Prefiro a televisão ,o locutor é um artista " "Escorre sangue em cada letra que vomita de sua fala vulturina " "Um acidente de carro... " Amanhã estarei ocupado fala o Diabo, assistirei a matinê ao lado de Nero massacre de cristãos


Wilson Roberto Nogueira

Poesias de Marcos Prado

leminski - poesia

Leminski Falando Sobre Grafite

Haja Hoje Para Tanto Ontem

Paulo Leminski recita coração de poeta

A menina ao pai divorciado


-Pai. Me diga , pai

-Sim, filhinha.

-Você tem namorada ?

-Sabe, pai...

-O que é

-...a minha mãe está livre



Dalton Trevisan
Faltara o samba flertando dor com esperança


e a lâmina cega do blues cortando a encruzilhada

da alma bebada de olho no precípicio que brada:

“A morte será sua herança” . Cobiça-te desde criança

Quando descia o morro rindo da bala que traçava o céu

Rasgando a noite calando no peito do dia mais uma colheita de desenganos.

Faltara o samba que bateu em retirada quando a luz que dançava nos olhos teus

Quedaram nos seus passos o silencio da tua esperança.

Sonha o céu mais estrelas dos anjos nascidos das bastardas balas perdidas.

Enquanto marejada de ácido corre fantasma a alma do blues

Queimando as cordas dos meus nervos que cantam

O silêncio das crianças que clamam por socorro

na encruzilhada dançam o samba com o blues

numa só alma negra e profunda.

Ecoando escravidão ,dignidade e luta.

E ainda nas vielas da canção sonhando paz , amor e união.

Wilson Roberto Nogueira