quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O Ano Novo é um Violão Doze Cordas



O ano novo é um violão doze cordas
Que somente você pode tocar       
Por pautas musicais nada tortas
Pelo Sol, ou, sob a luz do luar!

Cada mês é uma corda diferente
Que juntas foram a real harmonia
Porque a paixão não fica ausente
Onde a música abraça a poesia!

O ano novo é um violão doze cordas
Seu som abre as mais doces portas
Para o caminho da canção terna da felicidade
Onde a melodia dá forças para a realidade!

O ano novo é um violão doze cordas
Que somente você pode tocar       
Por pautas musicais nada tortas
Pelo Sol, ou, sob a luz do luar.

Luciana do Rocio Mallon

Faltando um luar


A indiferença dela
É diferente.
Parece soda e ácido
Mas não passa:
De um rosto transparente,
Que abandonou os olhos
E o coração,
Ao desconsolo da mente.

Julio Almada, Poemas Mal_Ditos

Cicuta para dois


No fim da maçã: a semente.
Dentro de nós um pouco,
De termos ouvido sempre:
Vociferar um amor louco.
No escuro do quarto: a neblina
Da memória: puxa os lençóis.
Não passem frio: menino e menina.
Retidos na retina ainda: Nós.
A corda do destino: branca,
Nossos pés juntos: cegou.
Hoje nos falta o que restou:
O baile ensurdecedor da lembrança.
O aroma quente do chamado amor.
E o abraço: que a solidão estanca.

Julio Almada, Poemas Mal_Ditos

Observada no metrô


“Um homem nunca sabe aquilo de que é capaz até que o tenta fazer.”
(Charles Dickens)
...o que fazer com os olhos abertos, senão povoar a nave da mente com as imagens rebeldes de qualquer deserto?
Púrpura, roxo, nuances, uma blusa qualquer, linda sim, era a cor massageando suas faces sorridentes.
O alvo da pele e o carmim dos lábios mordiscadores.
A minha solidão enfrenta amiúde, essas doces feras, de recatadas investidas e desejos entorpecedores.
Vê-la foi desnudar minha infelicidade. Tornar gigantes, os dias de mesquinhas insignificâncias. Diante da dádiva vemos nossa falta.
Nos meus olhos, nunca antes houvera, a centelha por ela deixada. Seu olhar era uma perfilada busca do infinito. Imóveis músculos na face tornados guardiões de qualquer desejo escondido. Não a decifraria. Meus dias não seriam suficientes. Assim como palavra nenhuma, trocamos, nosso segredo foi, nenhum. Nos meus olhos nunca antes houvera, a centelha por ela deixada.

Julio Almada, Do livro Caderno de Ontem

POEMA PARA SER BREVE


Amor nunca é veloz
de forma alguma.
É feito de escombros lentos,
forjados inteiros de uma ranhura.
Profundo em rasos tempos,
é tudo: em pouca textura.
Corte na cicatriz vindoura
seca a água que nos sacia.
E quando o olho dilacerado vê
as ruínas já são outras coisas:
Uma flor que não disse primavera;
Um céu onde se pousa;
braços ruidosos como laços;
olhos com a pele de uma lâmpada;
O que era eu: um adeus breve.
O que eras tu: nova mariposa.

Julio Almada

faxina

Ricardo Aleixo


comida quase pronta
vinho branco
"a bad donato" no talo
vontade de escrever

coração leve
Quer realmente um ano novo, novíssimo? Não vista cor assim ou assado. Não queime milhões de velas. Não peregrine até a porta do curral. Vista a cor da ousadia.Queime teu corpo com entusiasmo.Peregrine pulando desordenamente até os lugares que tu não conheces. Atravesse a rua.É. caminhando. E levante a cabeça e veja de longe a caixa aonde estavas.O ponto de observação imóvel ao que estavas condenado. Cumprimente, olhe para o outro, fale algo para ver se ele fala tua língua e se não for assim, quem sabe tu possas algo novo: que existe gente diferente e que sendo diferente todos faremos a diferença. Há quanto tempo não fazes algo novo? É, eu sei. Não se muda o que está dando certo. Aliás, é um ótimo resultado ter stress, dores, viver sempre a procura de um medo novo, só para que todos reconheçam esse é um homem de sucesso:sacrificado e obediente. Se divirta. Não faça o que está aprovado.Rotina não é diversão. Esqueça do conforto do sei que será assim, pois todos dizem e sinta o prazer de descobrir a capacidade de emitir opiniões:de gostar ou não gostar e gostar e não gostar.Eu já comprei a minha passagem para o mundo novo e foi de graça(dinheiro nenhum no mundo compra):graças ao incomodo que sinto ao ver tanta gente vendendo o melhor que tem para ter dinheiro.Quem gera riquezas e o bom uso da natureza e o trabalho do homem. O dinheiro só gera ricos e miseráveis. Gostaria de saber se tu realmente quer um ano novo?


Julio Almada

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Subi as escadas do tempo.
Cheguei às sacadas do nada.
De lá contemplei minha vida.
E vi que era nada.
E o nada era belo.

[olw]

METAFÍSICA


Desisto. Não há explicação.
Ou você faz um verso em que resume tudo
– “minha alma é um sulco aberto no universo” –
ou você enche a cara
e vai dormir na rua.

[olw]

DUAS CANÇÕES DO MARINHEIRO


I. Entre as estrelas
de além-céu
e a centelha
de aquém-mar
esplende a vida
prisioneira.
Morte à vista
– grita o velho marinheiro.
Uma vida toda inteira
é muito pouco
para navegar-me.
II. Se ainda há mares a navegar,
terras a descobrir,
males a debelar,
não sei, não sei.
Sei apenas que faz água
e é tarde para voltar.

Otto Leopoldo Winck

Poemas de Domingos van Erven

O BARCO EM RISCO

aquele barco à deriva—
barco sem tripulação,
do qual tiraram as velas
o mastro e o timão—
é atraído sem o saber
para uma ilha deserta
onde a Torre de Marfim
mantém sempre a porta aberta


ANIVERSÁRIO

“Hoje completo 100 anos”,
pensou.
E começou a estudar mandarim.

O ESPECTADOR
Olhou pela janela mas não viu nada
exceto o que já estava na sua mente.


OBITUÁRIO

--"Eu o conheci", disse. "Era um cara legal..."
E virou a página do jornal.


ALZHEIMER

--Filha, meu almoço!
--Você já comeu, mãe. Há uma hora...
--Mentira sua.


A ARTE & A VIDA

há um reino escondido
por trás desta realidade
tudo ali é protegido
contra o mal e a falsidade
ali não sou agredido
não há dor nem frustração
ali também reina a vida
não só sua imitação
nos momentos mais difíceis
eu ali me refugio
e na bela imagem deles
me transformo em ave e rio



SÍLVIO E BELA

“Sílvio”
dizia Bela
(era assim que ele a chamava)
“como tu ficas garboso,
fardado, fumando esse cigarro”:
muito tempo depois, na pia,
seu sangue tingia o escarro
e prenunciava o desfecho
que de qualquer forma viria



O HOMEM E O MAR

um homem contempla o mar
na crise da meia-idade
enquanto um navio vai a pique
e o céu se torna sombrio
conformado
sem um grito
ele contempla o infinito


FILME NA TV

vi um rosto
que me lembrou outro rosto,
conhecido
mas não é que era aquele mesmo rosto,
envelhecido?!


ALGAZARRA

a gurizada de noite
faz algazarra no centro
para abafar o barunho
que vem de dentro


INFÂNCIA

as crianças
ao voltarem da viagem com os pais
buscam
ansiosas
os seus brinquedos usuais
e ficam na sala
entretidas
a viver suas outras vidas


INFÂNCIA EM CURITIBA

o Ale contemplou
as crianças no calçadão
pintando
como ele outrora
e pela primeira vez doeu nele
a infância ter ido embora


OPÇÃO

enquanto eles estão correndo
para chegar em primeiro
prefiro ficar aqui
no meu mosteiro


O MOTIM

quero apenas a rotina
mas a vida
se amotina


SURPRESA

já é noite lá fora:
estudando, nem notei
o dia ir-se embora


BEM- TE- VI

bom te ouvir
bem-te-vi
bom te ver
bem-te-vi
bem te ouço
bem te vejo
bem-te-vi
benfazejo



MINHAS COORDENADAS

só há pouco tomei consciência
de que pertenço à confluência
dos rios Ivo e Belém
por isso, da minha aldeia,
digo a vocês, globalizados:
“better late than never!”
e estamos conversados


RESOLUÇÃO

subirei nos meus próprios ombros
para vencer o medo
e começarei uma nova vida
amanhã bem cedo


O MISTÉRIO DO MUNDO

a ciência ainda não sabe
(com a religião não me iludo),
mas certamente existe
explicação para tudo


NO SEBO

Para o Rodrigo
no sebo da praça
a traça
enquanto se nutria da Divina Comédia
foi esmagada
coitada!
por um volume da Enciclopédia
(e o cliente habitual
começou a passar mal)


NA RODOVIA

a vida está passando todo o dia
como passam as árvores do bosque
quando se viaja
pela rodovia
(cada árvore é um dia)


CENA URBANA

em vez de estarem
jogando bola,
eles passaram
cheirando cola
Domingos van Erven
19 de novembro de 2013 ·



RESOLUÇÃO

subirei nos meus próprios ombros
para vencer o medo
e começarei uma nova vida
amanhã bem cedo


O MISTÉRIO DO MUNDO

a ciência ainda não sabe
(com a religião não me iludo),
mas certamente existe
explicação para tudo


MEU PROJETO

nesta viagem, meu projeto
não é chegar ao destino
mas desfrutar do trajeto

FÉRIAS

fiz uma opção na vida
pelas coisas que não são sérias:
doravante só viverei
como se estivesse em férias

( do livro "Poemas", de Domingos van Erven, que pode ser adquirido em http://www.agbook.com.br/book/139929--POEMAS )


O HOMEM E O MAR


um homem contempla o mar
na crise da meia-idade
enquanto um navio vai a pique
e o céu se torna sombrio
conformado
sem um grito
ele contempla o infinito

Domingos van Erven


( do livro "Poemas", disponível para aquisição em http://www.agbook.com.br/book/139929--POEMAS )

GUARATUBA


sob o sol do meio-dia
belo dia!
o casal elegante
ambos de preto, como sempre
(contraste ao branco de seus cabelos)
recém-chegados na Rodoviária,
de braço dado,
se aproximavam
o garçom ocioso do restaurante ao lado
à espera de clientes
fez um sinal para nós—
crianças sentadas na soleira da porta de
casa, tagarelando—
para que víssemos quem chegava
e de imediato corremos, contentes, ao
encontro deles,
para abraçá-los e beijá-los

(Domingos van Erven)
Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura,
tudo o que duramente passa,
tudo o que passageiramente dura,
tudo, tudo, tudo...

(Paulo Leminski)

Nº DE TELEFONE


naquela publicação de 1936
encontrei o nº de telefone de meu avô Sílvio
e dos que moravam com ele
a avó Arabela
o meu pai Herbert
tia Beatriz, e os filhos dela Fernando e Lourdes,
todos já falecidos
me deu vontade de ligar para o nº 475
e ter notícias de todos eles

(do livro "Poemas", de Domingos van Erven, disponível para aquisição em

http://www.agbook.com.br/book/139929--POEMAS )
As janelas eram diferentes,
E a pintura da sala de estar perfeita.
Os quartos possuíam móveis novos,
E a decoração da sala de jantar ficara ainda mais linda.
Na garagem, dois carros cabiam.
E no escritório muitos livros ainda não lidos.
Mas a sensação de que algo ali morrera,
Era a mesma de anos atrás.


Lasombra Ribeiro

Confessionário


- Padre, preciso me confessar!
- Claro minha filha, venha comigo.
- Cometi diversos crimes contra a humanidade e acho que preciso ser julgada por isso.
- Entendo. Mas que tipo de crime?
- Vou começar pelo principal e que me deixa mais enojada. Matei alguém.
- Sim! E quando foi isso?
- Há muitos anos atrás, quando eu ainda era jovem.
- E como fez isso?
- Bem, comecei aos poucos. Fui matando devagar. Fiz sofrer primeiro.
- E esta pessoa havia feito algo para você?
- Não! Este é o problema. Ela era livre, tinha sonhos e ambições. Mas tive inveja da maneira como ela enxergava a vida e dos planos que fazia.
Comecei a achar que ela precisava ser mais realista e deixar de sonhar. Em determinado momento eu disse coisas horríveis para ela.
- E ela?
- Ela tentou se defender, dizendo que o mundo precisava de mais pessoas como ela e que eu não tinha o direito de interferir.
Disse que gostaria de viver intensamente e que eu precisava de ajuda por ser tão amarga.
- Foi então que a matou?
- Não! Tentei, mas não consegui. Mas com o passar do tempo, conheci muitas pessoas como eu.
Pessoas que não compreendiam o que ela dizia e pensava e acabaram me ajudando a eliminá-la por completo.
- Então você não fez isso sozinha.
- Na verdade fiz. Eu poderia ter sido contra as opiniões das pessoas. Poderia ter entendido o lado dela. Não fiz por que não quis.
- E por que não o fez?
- Ora, se eu fosse contra... eu acabaria como ela.
- Mas você ainda não me disse como fez.
- Matei todos os sonhos dela, todos os planos. Destruí os ideais, as amizades. Ela entrou em depressão profunda.
Não tinha mais vontade de viver. Até que certo dia ela desapareceu. Ninguém mais ouviu falar dela.
Me arrependo pois agora mais velha, percebo que ela estava certa. Eu deveria ser como ela. Queria ter a coragem dela.
- Você disse que ela desapareceu. Como sabe que ela morreu de fato?
- Porque ela era eu.

Lasombra Ribeiro 

Lenda da Missa do Galo



Reza a lenda que quando Maria estava grávida de Jesus, na sua última semana de gestação, ela ficou hospedada num estábulo, onde dormiam animais como: boi, vaca, cavalo e galo.
Então Deus pediu para que um anjo ficasse de vigia lá e tocasse a trombeta quando o menino Jesus nascesse.
O problema é que o anjo dormiu. Mas o galo ao ver o parto cantou tão alto que este som chegou ao céu. Assim Deus tornou-se furioso com o anjo que não cumpriu sua função. Porém ficou feliz com o galo e disse ao animal:
- Como você anunciou, com alto e bom som o nascimento do menino, ganhará uma celebração chamada A Missa do Galo quando o cristianismo for reconhecido.

Luciana do Rocio Mallon

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Lenda da Loira do Corcel Preto


                                                            
Em Curitiba , no final dos anos 70 e começo dos anos 80, uma mulher assombrava maternidades e escolas: a Loira do Corcel Preto. Reza a lenda que ela tinha o apelido de Letinha e costumava roubar recém-nascidos de maternidades. Mas seu método era este: ela se vestia de enfermeira para entrar no hospital. Depois trocava os recém-nascidos por crianças já mortas. Deste jeito os funcionários, da maternidade, falavam para a mãe que seu filho tinha falecido. Mas, no fundo, Letinha sempre vendia estes bebês para o exterior.
O problema era quando apareciam encomendas de crianças com mais de dois anos de idade para Letinha. Para isto ela pegava o seu Corcel preto, ficava de tocaia em escolas, oferecia balas às crianças que estavam sozinhas e as empurrava para dentro do seu automóvel. Muitas vezes estes meninos maiores não eram sequestrados para a adoção, e, sim encomendados para rituais de magia negra ou tráfico de órgãos.
Por causa de suas aparições, sempre com o mesmo carro, Letinha ficou conhecida como a Loira do Corcel Preto.
Uma vez meu amigo Ricardo Souza, tinha seis anos de idade, e foi abordado por uma moça branca, em frente ao jardim-de-infância, falando que tinha balas dentro do seu carro. Assim, o menino estava indo em direção ao automóvel. Quando, de repente, uma garota começou a gritar na esquina:
- Não entre neste carro!                                                                
- Pois é o carro da bruxa do Corcel preto!
Ao ouvir estas palavras, Ricardo saiu correndo.
Apesar de tudo, Letinha continuou roubando bebês em maternidades, até que um dia policiais disfarçados de enfermeiros pegaram a moça no fraga tentando dar mais um golpe. Deste jeito, ela foi presa.
Reza a lenda que, hoje, Letinha já foi solta e mora no litoral de Santa Catarina, onde trabalha como cartomante e não suporta a presença de crianças ao seu redor.

Luciana do Rocio Mallon

SONETO DE NATAL

 - Machado de Assis

Um homem, — era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço no Nazareno, —
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,
Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.
Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:

"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Lendas do Papai-Noel Assassino de São Paulo



Na fantasia, a figura do Papai-Noel é vista como um bom velhinho que dá presente às crianças. Mas, na realidade, muitos marginais vestem roupas deste personagem parar praticar crimes, muitas vezes de pedofilia e assassinato. Leremos uma lenda abaixo sobre isto abaixo:
Em dezembro de 2001 um empresário apelidado de Tigrão resolveu assassinar a sua enteada para ficar com a herança da esposa falecida somente para ele.
Reza a lenda que este homem frequentava uma seita satânica e lá ele conheceu Marcelo, um ex-presidiário que odiava o Natal e por isto matou algumas pessoas nesta época do ano. Marcelo vivia dizendo:
- Eu odeio o Natal porque, quando eu era criança, um Papai-Noel me violentou e tentou me estrangular dentro da garagem de um shopping.
Deste jeito, Tigrão resolveu contratar este rapaz traumatizado para matar a sua enteada vestido de Papai-Noel.
Um certo dia quando a vítima estava parada num sinaleiro, de uma rua de São Paulo, Marcelo, vestido de Papai-Noel apareceu de surpresa, deu três tiros na jovem e saiu correndo.
Num bairro próximo, o mesmo homem tentou distribuir caixas de bom-bom para um grupo de crianças carentes na rua, que estavam empurrando um carrinho de papel. Mas o cachorro de estimação delas não parava de latir. Então a mais velha jogou um chocolate para o cão, que comeu e morreu na hora. Assim as crianças assustadas olharam para o Papai-Noel, jogaram os doces no chão e saíram correndo.
Reza a lenda que Marcelo foi assassinado por um traficante sete anos depois. Mas que seu fantasma, vestido de Papai-Noel continua distribuindo doces envenenados, em dezembro, pelas ruas.

Luciana do Rocio Mallon      

NATAL

Manuel Bandeira


Penso em Natal. No teu Natal. Para a bondade
A minh'alma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade... A voz dos sinos... A cadência
Do rio... E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho... Evoco-te... Componho
O ambiente cuja luz os teus cabelos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida...
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas, na paz divina do Natal...
Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minh'alma a teus pés humilhada de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos...
Ampara a minha fronte, e que a minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana, — pura
Como aquela fervente e benfazeja luz

Que Madalena viu nos olhos de Jesus...

A Atéia e o Natal


                                  
Ela é atéia, mas tem coração de mulher
O Natal, para ela, é apenas um dia qualquer
Ela não reclama e nem faz ironia
O Natal é somente um simples dia

Ela não enfeitou árvores coloridas
Mesmo assim crianças carentes
Com suas almas sapecas e atrevidas
Bateram à sua porta, todas inocentes
Pedindo comidas, surpresas e presentes!

Então, a atéia sem nenhum tipo de medo,
De uma maneira muito verdadeira,
Pegou um antigo e bem conservado brinquedo
E toda a comida que havia na geladeira

Assim distribuiu para toda a criançada
Que brincou durante a madrugada
O Natal da atéia foi um dia bonito
Pois seu espírito fez um ato infinito

Não precisa ser religioso para fazer caridade
Basta ter consciência e humildade
Não precisa esperar um feriado para ser bom
Basta ajudar sem sair do leve tom.

Luciana do Rocio Mallon

Natal

... Na província neva.
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!


Fernando Pessoa
reminiscência
minhas mãos
recusam o toque
as pernas
recuam dos passos
mesmo que eu tente
lembrar
que uma memória é uma memória
e isso apenas
que uma palavra é uma palavra
e isso apenas
um cinto um quarto
não guardam os mortos
e nas sombras não se esconde
o que quero
não ver

Luciano R Mendes 

Lenda do Amor Entre o Defunto Queimado e a Alma Afogada


No século dezenove, em Curitiba, existia um rapaz de sono muito pesado chamado Paulo, que tinha herdado uma enorme fortuna.
Uma certa noite, os parentes gananciosos dele, colocaram barricadas nas portas, janelas e deste jeito atearam fogo na casa com o objetivo de ficarem com a herança. Então Paulo acordou no meio das chamas, mas mesmo assim morreu queimado. Após isto, o pobre foi enterrado no Cemitério Municipal São Francisco de Paula. Porém como ele não era tão ruim para ir para o Inferno e nem tão bom para merecer o céu, este moço voltou para a matéria e por isto sua alma tinha a impressão de que seu corpo estava sendo queimado o tempo inteiro.
Dias depois Antônio, um adolescente sensitivo, foi entregar flores ao túmulo de sua avó. Quando, de repente, viu o espírito de Paulo exclamar:
- Morri num incêndio e por isto quero que joguem água em meu túmulo!
Após escutar isto, Antônio foi buscar um balde da água e jogou na cripta do fantasma.
A partir daquele instante, este garoto passou a visitar o campo-santo todos os dias para derrubar água no túmulo de Paulo.
Um certo dia, este fantasma disse ao garoto:
- Estou ardendo, mas é de solidão.
Desta forma, Antônio orou para que Paulo saísse da solitude.
Naquele mesmo dia, uma moça chamada Violeta resolveu tomar banho nas águas de um rio sem saber nadar. O problema é que ela foi muito para o fundo e acabou se afogando. Horas mais tarde, um pescador achou seu corpo boiando e a jovem foi enterrada, em frente ao túmulo de Paulo.
Naquela mesma tarde após Antônio jogar um balde da água, na cripta de seu amigo, escutou uma alma gritar em sua frente:
- Meu nome é Violeta, morri afogada e preciso de velas para me aquecer!
Deste jeito, o jovem comprou velas e acendeu no túmulo da donzela, que disse:
- Obrigada!
- Mas, agora o frio que sinto é o gelo da solidão.
Então, Antônio teve uma idéia, bateu na porta da cripta de Paulo e exclamou:
- Paulo, acorde!
- Quero lhe apresentar a uma nova amiga!
O fantasma do rapaz saiu da tumba e ao ver espírito de Violeta apaixonou-se por esta donzela. Desta maneira as almas se abraçaram. Naquele mesmo instante as águas do espírito da moça acabaram com as chamas da alma do homem e as faíscas do espírito dele iluminaram a alma da donzela.
Reza a lenda que, nas noites de Lua Cheia, é possível ver estes dois fantasmas passeando de mãos dadas pelo Cemitério São Francisco de Paula.

Luciana do Rocio Mallon
esta história
de que quem ama espera
é balela
o amor tem pressa
troca a eternidade toda
por esta hora
eu e você
nesta cama
agora

[olw]

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Usar Sombrinha em Curitiba Num Dia de Sol



Em Curitiba, raramente, faz Sol
Isto acontece no verão, ou, na primavera
Este astro é um excelente farol
Que acaricia o povo desta terra

Mas, muitas pessoas usam guarda-chuva
Quando aparece o magnífico astro rei
A luz do Sol deixa a vista delas turvas
Por isto, proteger-se é a nobre lei!

Estes seres são, injustamente, criticados
Pois, muitos têm a pele bastante sensível
Mesmo assim eles são ridicularizados
Andando de sombrinha sob o Sol incrível

Uma dama com sombrinha na luz
Sempre encanta, marca e seduz
Pois, parece uma dama antiga
Com sua alma doce e amiga!

Andar de sombrinha debaixo do Sol
Na capital mais fria de todo o Brasil
É transformar o sabiá em rouxinol
Para voar no céu suave e anil.

Luciana do Rocio Mallon

Emprimaverecer



No final de setembro, um anjo desce
Assim tudo na cidade emprimaverece
Emprimaverecer é deixar a alma florir
No extrato básico do mágico elixir!

A Lua veste tranças prateadas
Quando, em setembro, anoitece
As madrugas ficam mais iluminadas
Enquanto a musa envelhece
Mas a sua alma emprimaverece!

Uma fada joga estrelas no jardim
Pois assim ele fica mais florido
Há um segredo entre a rosa e o jasmim
Onde há um tesouro escondido!

Emprimaverecer é transformar lágrimas
Em divinas e cristalinas cachoeiras
Que se evaporam em céus de lástimas
Transformando as gotas em brisas faceiras!

Emprimaverecer é quebrar o gelo de cristal
Com um sorriso que reflete o arco-íris
Livrando todo o ser inocente do mal
Através da luz de qualquer íris.

Luciana do Rocio Mallon

Um Pote de Água, Na Rua, Para um Bicho Abandonado



O verão vem depois da primavera
Trazendo emoção e muito calor
Mas, a ave ainda procura a quirela
E uma água para beber com louvor!

Por favor, deixe um pote de água na rua
Para um abandonado e sedento animal
Mas, recolha o pote quando chegar a Lua
Porque o mosquito da dengue não é legal

Um cansado cão com a língua de fora
Quando vê um pote de água na esquina
Realmente, bebe litros antes de ir embora
E seu anjo agradece à boa e gentil menina!

Um gato pode até ter sete vidas
Mas sente sede de qualquer jeito!
Quem coloca potes de água nas esquinas
Com certeza, é um excelente sujeito!

Por favor, deixe um pote de água na rua
Para um animal abandonado e carente
Mas, recolha o pote quando entrar a Lua
Para evitar o esperto mosquito da dengue.

Luciana do Rocio Mallon
Se a única coisa que temos
é o agora -- este agora que passa
e vira memória e depois cinzas
que o tempo ao vento espalha --
então, vem: me abraça sem demora,
antes que a noite, esta impassível senhora,
nos feche definitivamente os olhos.
Me abraça, sem pudor, sem blusa, sem máscaras.
Já não bastam as máscaras que usamos lá fora?
Que hoje, aqui, nesta tarde, nos amemos
sem medo, pois só o amor pode tirar o travor
do agora que passa e lhe transmitir, quem sabe,
ainda que de leve, um quê de eterno.
Me ama, que a única coisa que temos é este agora
em que nada somos e tudo temos, nus de enfeites e de vínculos,
um diante do outro, condenados um ao outro neste cárcere do eu
que somos cada um. Me ama
e que este agora resplandeça
para sempre.


OlW

Alma Andarilha


Walking Around

Sucede que me canso de ser hombre.
Sucede que entro en las sastrerías y en los cines
marchito, impenetrable, como un cisne de fieltro
Navegando en un agua de origen y ceniza.
Pablo Neruda
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Os saciados forjam na fonte:
O riso rasgado dos dias meio-vividos.
A cor sangra luz no asfalto vazio
E tombam os muros esmurrados há anos.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
E a dor para doer fala
Um idioma estranho.
Já não sei nada do que falta.
Já me falta saber tudo.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Ponteiros pontuam: Eu: há semanas:
A corda desossa os barcos e reclamo:
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Há uma falta serena de cor
Do que foge.
Há uma falta na flor que consome.
Meus olhos. Meu sangue. Meu nome.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
E um amor de visita preso na garganta.
Um balde de sangue jorrando um brilho
E um homem cinza dizendo:
Há uma meia-tinta na palidez hoje.
Um poeta pregando dedos na cruz
Ao percorrer sua VIA dizendo o que sente.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um teatro de sombras;
Um Espantalho de Flores;
Um armário trancado;
Um arcabouço de raízes.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um Franco-atirador voltando para casa;
Um homem dizendo não por vez primeira;
Uma lua afogada na falta de memória;
Um Títere e seus panos de medo.
Eu que não sei ser pálido.
Eu que não sei ser cinza.
Eu que não sei ser tíbio.
Eu que não sei ser brisa.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um Grito de Loucos na noite
V a z i a
Há um susto no sol;
Há uma flama de amor
Mastigada no suor
De um sangue em bemol.
Há uma meia-tinta na palidez hoje:
Um arcado anjo
Na tempestade.
Um calar de voz suada.
Um flanco aberto às 6 da tarde.
Há uma meia-tinta na palidez hoje.
Um desdizer e um arfar.
Um precipício sem pontes.
Areia lambendo o mar:
Um voltar sem “ondes”.
Há uma meia-tinta na palidez hoje;
Há um meio-dizer no que digo que ouço;
Há um pálido tom no gostar de meu gosto.
E minha vida feita vidraça ao longe.


Julio Almada
In Em um Mapa sem Cachorros

Mas o segredo que Miguel descobriu nem para o tatuzinho ele quis contar. Ficou deitado, bem quietinho, percorrendo os dedos por dentro da caixa, e sentindo as lágrimas rolando nas têmporas feito estrelas cadentes. Não era só tristeza o que estava sentindo. Eram os sonhos de menino que nasciam de novo nos olhos e iam adormecer nos ouvidos. Como se os sonhos saíssem e voltassem, fizessem a volta no rosto, mas não conseguissem escapar de si mesmo, ou do seu velho pedaço de papelão. E talvez por isso ele nunca via a Lucinha do outro lado da cerca.

Rita Apoena 

VERSOS DE NATAL

 - Manuel Bandeira


Espelho, amigo verdadeiro,
Tu refletes as minhas rugas,
Os meus cabelos brancos,
Os meus olhos míopes e cansados.
Espelho , amigo verdadeiro,
Mestre do realismo exato e minucioso,
Obrigado, obrigado!
Mas se fosses mágico,
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
Descobririas o menino que sustenta esse homem,
O menino que não quer morrer,
Que não morrerá senão comigo,
O menino que todos os anos na véspera de Natal
Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

1939


Do livro Lira dos Cinquent'anos

sábado, 20 de dezembro de 2014

Luiz Felipe Leprevost


devo de ser alguém saído da porta que dá para as contradições, em que acabo de entrar
é só um pretexto, né. casal comprando pipoca na praça. pombas se atracando umas às outras. o casal indo, mãos dadas, perdidos um do outro. sabe o quê? venta e dói. vou colocar chumbo no lugar, diz ela. não me importo com sua ingenuidade, eles beiram os quarenta. hoje levantaram da cama já que não estão derrotados. amanhã, do que o gosto amargo? mudo o nome do amor, chamo o amor de fora de contexto. e aqui todos os pássaros de calçada comem o milho que sobra. como escreveu Pessoa, me sinto um cão tolerado pela gerência. embora não precisasse de nada disso e pudesse dançar. afinal, não sou o cara que dança? tem muito bacon nisto. e o poema é daqueles dois

Luiz Felipe Leprevost

a vida só pode ser fictícia, um filme de Spilberg
as pessoas queimam antes mesmo de entrar nas trevas
estão ali, porém ausentes
explodem antes de emergir o trauma
e a paz não se traduz mais como silêncio
é como ir ao centro da terra destroçando nervos, crostas
músculos, placas tectônicas
ali zeram todas as sortes
a memória deste tempo puxa o gatilho
sentiria os refugiados dentro de mim
caso eu estivesse vivo no refúgio?
mas sou vivo
tanto quanto as tripas e seus olhos saltados
as crianças continuam bonitas, vermelhas
vermelhas, vermelhas
uma cobra naja põe o leão a correr: guerra
não é lugar para vivos
quem volta do inferno traz o inferno
...
*fragmento do meu livro Ode Mundana, de 2006


Luiz Felipe Leprevost

SERPENSAR




.......... ser
.......... pensar
.......... sentir
.......... o vento
.......... repentino
.......... : ar
.......... em movimento
serpente
.......... ar
.......... o sentido
do momento



Marcelo de Angelis
1
abro uma cerveja tomo penso na vida. o animal em cativeiro amansa come dorme sofre ama perde a esperança desespera prepara o dia da vingança. este é meu cárcere ou meu escudo? estou em guerra e vencendo pela via do afeto. basta-nos uns passos para sairmos de nossa casa e nem tantos para sairmos da vida
2
a carne indaga o tempo: angu de angústias. nos grandes palácios de vácuos o rebanho está ouvindo com atenção. é como cortar a água do mar para tentar definir territórios é como tomar pastilhas de plenitude. existimos? a resposta pode que seja: prótese. e gagueja-se que: tudo já foi gaguejado. insegurança... eis. nem mesmo a tristeza é suficiente – joelheiras para os penitentes. nem mesmo a doença é o bastante – o trágico quer menos segundos. só o vivo pode fazer seu luto. as formas vivas atrapalham o infinito
3
o sol a pino dos saberes se querem claros mas outra vez o entardecer nublado. a verdade não está aqui. baba imaginária reveste o prego da realidade. onde foi que você sentiu tantas palavras para chegar ao seu delírio? e a extração da pedra da loucura. meu olhar é tarde. tudo o que lembro, invento. as formas vivas garantem o infinito. mando a mensagem ela bate no outro e volta pra mim mensagem que eu mesmo mando pra mim. ah as composições cúmplices ah chaga narcísica. embaixo a vida é mais barata. deveria descrevê-la? a verdade não está aqui
4
um chapéu? não, um quati na cabeça
5
um homem concerta (com C porque no sentido musical) portas. o ranger o encaixe seu toque faz mágica. às vezes precisa martelar com força
6
ela coloca três seis sete treze vinte beijos dentro de mim coloco cinco sete quarenta e três beijos dentro dela – não se traduz o que diz a gosma. canto e aí a minha vida inteira aos pés de seu ouvido. o amor é uma praia que igualmente tem o nascer do sol no mar e o pôr do sol no mesmo lado no mar, conforme passam a demonstrar as ondas
7
escrevo – um contínuo dizer que não se diz. escrevo e ativo o presente ativo o presente escrevo e o presente já está ausente. uso não explico o uso – contínuo dizer que não se diz. eu sou tudo menos um contador de histórias – e assim conto uma história
8
estou sentado nos conceitos chutam o pé da cadeira. ah pego as perguntas todas faço um porre com elas e me divirto. abro mais uma e mais e mais uma cerveja tomo penso na vida e vou dormir

luíz Felipe Leprevost


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Não quero usar uma camisa com etiqueta de marca, quero que tenha um selo de qualidade de trabalho; não falo simplesmente na feitura, no acabamento, mas na garantia de que essas mãos que confeccionaram a vestimenta não sejam escravizadas pelo capital e pela ambição humana. Não me venham com o papo do país de origem da roupa, essa analise é simplória e preguiçosa demais. Não vamos jogar toda a responsabilidade para a china, temos em nosso país mãos escravizadas de estrangeiros e do nosso próprio povo. Muitas das nossas vestimentas têm como adorno o sofrimento humano. Quero vestir uma camisa que me caia bem e me deixe confortável, que tenha um selo de qualidade de vida. JD

DESCAMINHOS


Sozinho – e sem nenhum itinerário –
vou pelas ruas.
A lua grita no silêncio das vidraças,
tangendo a noite sem leme.
Já perdido de mim, sigo em busca de meus passos
e, em meio a tantos muros,
me vasculho inutilmente e insatisfeito traço
o caminho
que desfaço.
Sozinho – e sem nenhum itinerário –
sou meu rastro. E me contemplo
– Narciso morto – nas poças que a chuva deixou
entre o asfalto
e a sarjeta.

Otto Leopoldo Winck
Marilia Kubota

tantos querem vender
um livro ou um nome
mas poesia é pra quem
tem fome tem
fome de palavras
irreais e irrequietas
que criam mais
que permitem
as paredes
do estômago
e as cercas
do logRo :
mundo outro
além
de nomes

enorme

TODOS OS NOMES DE DEUS


Descalço
as sandálias. Prostro-me.
Murmuro: Adonai, El-Shaday, Oxalá, eu já vou.
Insisto: Braman, Eu-Tu, Meu Amado.
Continuo, em êxtase: Paradigma, Origami, Escabelo. Exulto,
estulto. Choro. Bebo minhas lágrimas.
Visto-me de saco, cubro-me
de cinzas.
Não posso.
Quem sou? Menos
que nada. E este fascínio me devora.
Não me decifro. Sou uma cifra? Um pano de chão? Pouco
mais que louco.
Ousei dizer-te, pronunciando-me, mudo. O sol que vejo
sou eu. A lua a meus pés, arrasto
as estrelas. Todas as eras, as margaridas esmigalhadas, as ilusões adquiridas
são minhas.
Descalço
as sandálias. Bebo, como.
Gargalho, vomito, danço.
Danço, danço, danço...
Sou todas as coisas: o mito, o nada, o tudo.
Imobilizo-me na areia,
vergado, prostrado,
em cruz.
Nu como vim ao mundo.
Nu como partirei um dia,

locupletado de memórias.

Otto Leopoldo Winck

IDADE DO OURO


Não aprendi nada com a vida.
Troco nomes, troco as pernas.
Me atrapalho com as etiquetas
e é com extrema dificuldade
que troco lâmpadas (portanto,
não vá querer agora que eu conserte esse chuveiro elétrico).
Mas ainda me fascino com as palavras
como se elas fossem coisas, bichos, pedras preciosas.
Ser poeta para mim não é destino
mas simplesmente continuar criança
em meio a uma multidão atarefada.
Não aprendi nada com a vida.
Mas, se você quiser, posso te ensinar
tudo aquilo que eu não sei.

Otto Leopoldo Winck

Somos incompletos. Se uma mulher esconde o sangue e a lágrima e se até mesmo o sorriso acaba por ser flor rara no deserto de sal, é por saber que nada no mundo é inteiro: Nem o homem, nem os anjos, nem a flor.
Bárbara Lia

(de um livro em construção)
Depois de tudo, pergunto: valeu a pena? Não sei, não sei. Às vezes nada vale a pena. Às vezes é esta pergunta que está mal colocada: por que algo tem que valer a pena? Não dá para encarar algo em que a pena seja maior que o prêmio, o dano maior que o ganho? E o que eu ganho com isso? – ouço sempre esta pergunta. Oh, meu Deus, por que temos que ganhar sempre? Às vezes é melhor perder, perder tudo, honra, nome, prestígio, só para gozar da extrema liberdade que a sociedade nega aos vencedores. [olw]

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Que perda

você vem tentar fingir ser uma flor
daquelas azuis com lilás se quiser
pode até pintar de rosa, aí fica
igual aos outros diferentes de você
você tenta despedaçar a espada feita
cortar ela ao meio mas esquece que
uma espada ruim está sem paciência
para morrer, e para desbainhar
suas lágrimas não irão enferrujar
o que já está materializado aos seus olhos huohuohuouo
eu sou o que eu quiser
ajo da forma que quiser
sem prejudicar a próxima
é assim e tá acabado
suas lágrimas não irão enferrujar
o que já está desmaterializado
aos seus olhos sem vida
que só querem ditar letras, células
suas lágrimas não irão enferrujar
o que já está materializado aos seus olhos huohuohuouo

João Grabois

Desilusão



Versos de inspiração tardia,
pobres na forma e no conceito,
jamais merecerão, nem simpatia
nem público respeito.
Vão foi o intento
de um verso inesquecível,
indestrutível,
perene monumento
a todo o amor do mundo
e toda a Poesia.
Nenhum conceito límpido e profundo:
somente a forma simples e vazia.
E uma quadra da vida
também se encerra;
e além de alguma lágrima sentida

mais nada deixarei na terra...

Edmundo Schwab

A FREGUESIA

Poesia sobre a criação da Freguesia de Ponta Grossa.

Mas para conseguir autonomia
afim de resolver qualquer pendência
aqui mesmo, no bairro, havia urgência
que se tomasse ao menos Freguesia.
E assim pensando aqueles fazendeiros
reuniram seus esforços nessa luta
que iria amenizar sua labuta
e dar tranquilidade a seus herdeiros...
E, finalmente, em auspicioso dia
de um quinze de setembro, caro evento,
foi assinado o régio documento
da criação da nossa freguesia.
E alegre comitiva então formada
recebeu o Alvará, em mãos trazido,
e comprovava que foi conseguido
o mais difícil passo da jornada.
E para festejar condignamente
essa notícia tão alvissareira
pensou-se em construir, incontinente,
a nova Igreja em honra à Padroeira.
E o conhecido e hoje lendário fato
aconteceu; por não haver consenso
para determinar desse pretenso
monumento o lugar perfeito e exato.
Foi então resolvido que caberia
a dois pombinhos resolver o impasse
e onde pousasse se considerasse
o lugar que em que o Templo se ergueria.
Surpresos com a festa matutina
alçaram voo, céleres no espaço,
para pousar, mostrando já cansaço,
em frondosa figueira, na colina.
Mas, mesmo embora rica e progressista
a freguesia continuou sujeita
três décadas ainda, insatisfeita,
antes do evento da final conquista.
Foi num sete de abril de alegre dia
assinada por fim Lei que criava
a nossa Vila, a etapa que faltava
para atingir a almejada autonomia...
A luta, sem descanso, prosseguia
e num evento histórico e feliz
foi instalada a Câmara de Edis,
o poder que nos dava autonomia.

Edmundo Schwab

O BAIRRO

Poesia em homenagem a Ponta Grossa.

Os caminhos das tropas dos muares
que lá de Viamão eram trazidos
para serem expostos e vendidos
em Sorocaba, em feiras regulares,
encontravam aqui o pouso amigo,
onde havia água límpida e abundante,
o pasto era perene e verdejante
e a mata fornecia sombra e abrigo.
Era habitada há muitos anos antes
por ricos fazendeiros que sonhavam
em ver este rincão onde moravam
dar segurança e paz aos habitantes.
Assim foi prosperando sempre a nossa
Povoação, uma pousada bela,
há muito conhecida como aquela

junto ao pinhal como uma “ponta grossa”.

Edmundo Schwab

as coisas, todas as coisas grudam em mim
que nem chiclete. e eu me desprendo delas
--da materialidade delas, da forma, da cor,
do peso. ou da leveza insustentável: pluma
de ganso no inverno. mas não consigo me livrar
do ressoar do sino, nem da minha sina de guardar

minha alma é um galpão lotado de ausências!

Rubens Jardim

UM VERSO DE BANDEIRA

Segue comigo pela vida afora
Uma dor tão grande, tanta tristura,
Que sempre temo nunca vá embora,
Transformando-se em perene amargura.
Lembra-me, então, um verso de Bandeira:
“Só a dor enobrece e é grande e é pura,”
O que parece colossal asneira
Do bardo sempre ao pé da sepultura.
Por que vamos amar um mal sem cura,
Se o mundo não tolera choradeira,
Antes sendo feliz que sofredor?
Quem pensa seja, pois, esse Bandeira:
Um simples vate da fama à procura,
Ou de Cristo na terra sucessor?

Alcir Pimenta


(Rio de Janeiro)

POEMAS VENCEDORES DO PRÊMIO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE ( FEUC) DE LITERATURA 2014 
1º LUGAR – CATEGORIA ÂMBITO NACIONAL

EJACULE!


Você não suporta
Quando eu abro a porta
Da sua devassidão
Quando eu tiro a máscara
Que cobre a sua pele áspera
E repleta de simulação
Você me julga
Você me culpa
Mas nunca soube responder
A razão da sua ira
O motivo de eu estar na mira
Da sua constante necessidade de ofender
Mas nada disso realmente importa
Já que eu ainda não estou morta
E sou peça principal nessa perturbação
Porém, por favor, não se anule
Respire fundo e ejacule
A dor de toda essa frustração.

Manoela Frances


(Pernambuco)
2º LUGAR – CATEGORIA ÂMBITO NACIONAL
POEMAS VENCEDORES DO PRÊMIO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE ( FEUC) DE LITERATURA 2014 

Do luto das pequenas coisas


Visto preto
em
funerais de pequenas coisas.
Perco um poema e me entristeço
por uma semana
e alguns versos.
Assassinei, distraído, uma formiga.
Taciturnei-me
minúsculo
por grandes instantes.
Quando descompassei numa dança
deixei
desequilibrado
o sorriso.
Agora mesmo
valoro o ínfimo
por colossais importâncias.
E lagrimo
de mínimas gotas
todas
enchentes
de risos.
Weslley Moreira de Almeida

(Bahia)

3º LUGAR – CATEGORIA ÂMBITO NACIONAL
POEMAS VENCEDORES DO PRÊMIO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE ( FEUC) DE LITERATURA 2014 

QUASE UMA LAMENTAÇÃO


Desta vez você não escapa
Nem pela porta da palavra
Nem pelo alfabeto represado
E não adianta revolver a terra
Nem abandonar o prato feito
As águas e os sôbolos rios
Já passaram por Babilônia
E os poemas que ficaram
Enterrados em mim
Não são os mesmos que
Ficaram enterrados em ti.
E não adianta perguntar
Se aqui é Babilônia, Sião
Ou qualquer outro lugar.
Vejo-me diante de fevereiro
O mais curto dos meses
Desconcertado de ventura.
Minha pena não é o desterro
Mas o discreto esquecimento
Dos caminhos percorridos.
A impermanência de tudo
Mostra que a vida é um jogo
De azar.
E minha alma é pequena,
Tão pequena
Que não cabem nela
Nem a Vila Itambé
Nem a minha mãe desfigurada
E nunca vai caber o mundo,
O vasto mundo

Essa imundície capetalista!

Rubens jardim 

SUPER-HERÓI EM QUADRINHOS


Reconto os azulejos do banheiro
Perco a conta das gotas
que nascem da torneira prateada
Minhas ideias se confundem
com as idas e vindas das formigas negras
que esbarram nos meus pés
A toalha esticada sobre o basculante
o sabonete amarelo
o papel higiênico
o chuveiro elétrico
Sou a única peça estranha
no quadrado pintado de salmão
A porta não está trancada
mas tenho medo de girar a maçaneta
Deito no chão frio
Abraço o vazio
Beijo a pedra marrom
Sou flor só na pintura
Sou eu só por dentro
Sou super-herói só em quadrinhos.

Júlio Correia


(Pós-Graduação em Literatura)

1º LUGAR – CATEGORIA ALUNO DA FEUC
POEMAS VENCEDORES DO PRÊMIO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE ( FEUC) DE LITERATURA 2014

Fonte : Rubens Jardim

Radiografia


Bicho-homem, difuso, re-cheio de desejos.
Olho-te de fora como se eu fosse uma estrela.
Olho-te por dentro como se eu fosse uma veia.
Bicho, homem repleto de certezas e ilusões.
Olho-te para além dos olhos com compaixão.
Atravesso membranas, egos, ecos, elos, ímã.
Bicho, homem, triste, gente, carne da alegria.
Bicho-homem, eu vim te ver. Conhecer-te. Amar-te!
Vim como você, nu!
Quase sem limites. Como tu. Sem tirar nem pôr. Vim assim.
Sem temor! Sem morte! Sem sentir nada. Frio. Seco.
Bicho da terra, homem do barro, de eternos brados.
Vim ver-te. Verter meu dom. Vasculhar-te profundo.
Enraizar minhas próprias dores.
Conhecer-te, sendo tu. De carne e osso...
De mil amores, vim “ser-te” agora, hoje, sempre!
Exatamente igual, seu pai, seu filho.
Vim roubar-te o espírito e mostrá-lo às aves.
Vim amar-te e pousar sob o teu coração, tocar-lhe a mão.
Pegar os pesos dos sonhos, os sons de instrumentos.
Dizer-te palavras e desnudar-te a alma.
Vim ser poeta.
Inventar almas, vivas e mortas.
Reinventar a vida numa rima explícita.
Fazer coloridos, criar lágrimas e dar alegrias.
Vim ser artista com acento agudo.
Vim ser apenas uma radiografia que revela o cálcio,
Mas deixa passar o espírito!
Helton Tinoco

(Pedagogia)

2º LUGAR – CATEGORIA ALUNO DA FEUC
POEMAS VENCEDORES DO PRÊMIO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE ( FEUC) DE LITERATURA 2014

É

É
Entre o desespero e o grito
Convivem em afinado desacordo
O mudo discurso caduco,
A eloquência do destempero
E um rosilho que escoiceia
Entre as lâminas de dois punhais.
Certa vez me contaram
Que os duelos sangrentos se dão
No caminho sem curvas,
Entre a pele e o coração.
Hoje eu sei.
Gui Soarrê


(Letras)

POEMAS VENCEDORES DO PRÊMIO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL UNIFICADA CAMPOGRANDENSE ( FEUC) DE LITERATURA 2014
3º LUGAR – CATEGORIA ALUNO DA FEUC

Fonte : Rubens Jardim
Ao meu lado vive alguém que defende os curitibanos todos os dias...eu não sou curitibana, sou caiçara. Paranaguá é meio um lugar fora do mundo, o paraná nasceu lá e quando subiu a serra desapareceu na geada de Curitiba. se a capital do paraná fosse Paranaguá, seríamos uma espécie de rio de janeiro.

Marilia Kubota

Asas e Cordas


                               
Asas leves e suaves podem trazer a liberdade
Mas somente as cordas dão o amor de verdade!
As asas das volúveis mariposas e borboletas
São coloridas,  espertas, alegres e xeretas
                                                                
Mas só conhecem a aventura
E não sabem da real ternura!
Se você der corda em uma travessa boneca
Ela fica obediente e deixa de ser sapeca

Tem pessoas que confundem cordas com correntes
Cordas são amorosas e correntes são ardentes!
Cordas podem ser desamarradas com um beijo
Mas, correntes só se quebram com um lampejo

As pessoas sonham com asas de vários matizes
Porém, só as cordas criam as fortes raízes
De um amor verdadeiro
Que dura o tempo inteiro
Combatendo o ciúme traiçoeiro!

A cada asa que se vai, uma paixão acorda
Por isto a palavra coração veio de corda!
A brisa amarrada nas cordas do pensamento
Entregou-se à promessa do mágico vento

As asas protegem, já as cordas formam um porto-seguro
Iluminando o seu caminho mais escuro e obscuro
As cordas do piano, da harpa, do violão e da lira
Prendem na música, a dama que suspira.

Luciana do Rocio Mallon

Calopsita Ao Espelho

                             

Era uma vez um dedicado professor
Que adotou um casal de calopsitas
Num dia repleto de esplendor
Nas feiras mais doces e floridas!

Este casal brincava o tempo inteiro
De um jeito divertido e verdadeiro
Mas, um dia o macho tornou-se diferente
Porque ficou frágil, fraco e doente

Assim, num dia de breu
Esta ave faleceu
E no meio do nada
Sua leve namorada
Ficou desesperada

Então a pobre sentiu-se vazia
Não comia e muito menos dormia
Por isto, seu dono orou de joelhos
Assim teve a idéia dos espelhos

Colocou um espelho em frente à gaiola
A calopsita viu o reflexo da sua imagem
Seu dono pegou logo na viola
A ave animou-se na paisagem

Porque pensou de um jeito faceiro
Que o seu reflexo era seu companheiro
Todos nós procuramos uma pessoa
Boa, porém nada à toa

Que seja o reflexo da gente
Num amor puro e inocente.

Luciana do Rocio Mallon e Ives Vietro