domingo, 13 de dezembro de 2009

DE TODAS AS OBRAS

De todas as obras humanas,

as que mais amo são as que foram usadas:

os recipientes de cobre

com as bordas achatadas e com mossas;

os garfos e facas

cujos cabos de madeira foram gastos por muitas mãos.

Tais formas são para mim as mais nobres.



Assim também as lajes,

polidas por muitos pés,

e entre as quais crescem tufos de grama.

Estas são obras felizes,

admitidas no hábito de muitos.

Com frequência mudadas,

aperfeiçoam seu formato e tornam-se valiosas,

porque delas tantos se valeram.



Mesmo as esculturas quebradas,

com suas mãos decepadas,

me são queridas.

Também elas são vivas para mim.

Deixaram-nas cair,

mas foram carregadas.

Embora acidentadas,

jamais estiveram altas demais.



As construções quase em ruína

têm de novo a aparência de incompletas.

Planejadas generosamente,

suas belas proporções

já podem ser adivinhadas.

Ainda necessitam, porém,

de nossa compreensão.

Por outro lado, elas já serviram,

sim, já foram superadas.



Tudo isso me contenta.

Bertold Brecht
Tradução: Paulo Cesar Lima de Souza
revista viva cidades

Nenhum comentário: