De início, nada;na clara superfície,a face refletida é a sua- perfeição, imagem -aequétipo do belo.Mas além dessa que vê, há outra , que a fonte não reflete ,nem muito menos pode ver em seu momento de verdade .Sobre ela, Narciso reflete agora: o belo em que sói gratificar-se é apenas o que vê na face da fonte, ou antes a imagem vista por ela , unidimensional, daguerreótipo das águas . Só ele tem acesso às múltiplas feições ,aos heterônimos íntimos,às cambiantes prismáticas, estroboscópicas, que estão além, por trás da própria face.Se pudesse , debruçado sobre a fonte , tocando a com a mão ,fender em mil estilhaços líquidos esse retrato estático, e dentro dele ver o que só vê a mente , o belo começaria a desfazer-se: o tempo , a solidão,o aquém do sonho, a pequenez de tudo, essa ânsia insopitada- o feio.
Ivo Barroso
tradutor
fonte:O que narciso acha feio.in Mosaico.Nicolau ano VII.n52
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