sábado, 3 de março de 2012

Paisagem de chuva para Bernardo Soares



Há qualquer coisa do meu desassossego no gota a gota, na bátega a bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra.

Bernardo Soares

As árvores fogosas escolhem seus amantes
Quando eles se aproximam ampliam o verde
Encolhem os caules que se enlaçam ofegantes
Como a mulher trança suas pernas sem alarde

Para prolongar o gozo mais silencioso que o ar
As pedras se abrem e voluptuosas expandem
Para acolher aos amantes que fazem tiritar
Seu coração de granito, oco de luz ou sangue

E eu que sou chuva aprendi a ser humana
E te amar com minha molécula de Oxigênio
Para não brigarem entre si com ódio e gana

As minhas outras duas moléculas de Hidrogênio
Cada gota cumpre o acordo tácito com lealdade
Esplendor lírico e líquido nas esparsas tempestades

 BÁRBARA LIA Nasceu em Assaí (PR). Publicou sete livros de poesias e dois romances. Criou a coleção 21 Gramas – inventário poético, registro de sua obra em livros artesanais. Integra, entre outras, a Antologia O que é poesia?, O melhor da festa 3 e Concurso nacional de poesias Helena Kolody.

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