Logo agora que a chuva parou, que voltamos a ter vinis na
estante. Agora, bem agora que não queremos mais ter tudo, pois estamos de
folga, que não precisamos calçar sapatos, que a lua de mel mora no sofá de
veludo. Bem agora.
Estava chovendo antes de ser hoje. Antes de ser este cabelo
ruivo secando com o vento, antes de ser vida acontecendo a partir das dez da
amanhã. Mas dormir é sonho que também é noite. Bem agora que dormir é sonho, eu
escuto esses gritos lá fora e corro pra ver a morte, o ardor, a bomba. Bem
agora, bombas. Explosões que não são coloridas e a gente querendo um banho
morno seguido de pijama, cama pra dois, nossa comida. Bem agora que acabou a
comida, que o sapato aperta, que a gente desaprendeu a dançar, já não temos
cabelos nem sono nem os sonhos.
O que é que a gente vai fazer quando a guerra acabar?
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