terça-feira, 17 de setembro de 2013

VERSOS ÍNCUBOS



Vem dar no meu verso, vem.
Meu verso está suspenso
onde podes achá-lo, é certo.

Meu verso está na tua casa,
senta-se à mesa.
Espia por trás da cortina
e vê quando passas, na madrugada
íntima, com olhos vampiros.

Meu verso é um intruso discreto,
é filho da noite, e te ronda.
Coa estaca entre as mãos, curiosa,
vais relê-lo, conferi-lo,
sorver seu feitiço, meigo e liquórico.

Teu corpo lunar sabe tantas curvas.
E meu verso é capaz de tocá-las
como poucos até hoje o fizeram:
estranho poder o da palavra nua.

Meu verso te faz rir alto e te mata
de raiva sincera,
te deixa puta, te deixa louca,
te deixa rouca, mas não esquece em ti.

Por que o lês, neste momento?...
E por que há brasa nas tuas faces?

Meu verso está nos teus ouvidos,
na tua memória, dorme ao teu lado
entre lençóis, coxas,
travesseiros e lumes.
Meu verso se mistura a teu sangue,
reverte em hormônio, calor, pudor
conflito suave: nada demais:
suor na nuca, cabelos presos
na meia-noite insone e lenta.

Engano-me?
Minto?... Não me respondas.

Não mintas tu
ao meu verso, ao teu corpo e reverso:
meu verso está nas tuas veias,
na tua roupa, mistura-se
aos teus perfumes, flutua-te em torno
transborda-te, resume-nos
e nos une numa con-
versão* efêmera, mas terna e amiga.

Quem sabe algum dia...
Quem sabe.

Mas o meu verso não pede
a tua pele algum dia;
sabe tocá-la agora, neste
instante, sabe beijar teu mamilo,
roçar sobre ele a pálpebra febril,
e tem o dom de pressenti-la.

Ai, se queres esganá-lo!
cobri-lo de insultos! então, o faz.
Mas se queres guardá-lo no seio,
ninguém o saberá: meu verso
é segredo, tal como o céu,
que todos vêem.

E, no fim das contas,
teu corpo e meu verso
talvez se conheçam,
há muitos mundos...
Ele apenas rouba a tua atenção:
como um velho amigo.

Igor Buys
27 de abril de 2011

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*Aurélio: Psiq. Processo em virtude do qual emoções se convertem em manifestações físicas.

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