sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Passei a noite em claro. Não dormi um segundo. Não disse aos meus filhos antes que saíssem para mais um dia de trabalho de uma estranha taquicardia inédita assim que o dia nasceu. Nunca antes meu coração ficou tão desgovernado, acelerado, durou alguns minutos. Deitei-me de costas, qual me ensinou um anjo _ deite de costas e tente sentir sua respiração. O coração voltou ao normal. Isto nunca antes em mim, nem mesmo nas horas mais graves dos meus embates com as questões de saúde nestes últimos três anos. Nunca senti o coração como se ele estivesse morrendo. Há pouco li que morreu Sildemar. Irmão de uma colega de escola. Ele era mais jovem, e estudei alguns anos com sua irmã. Fui madrinha de casamento de meu irmão ao lado dele. Nunca mais o vi pessoalmente. A vida é mesmo estranha. Vi morrer pai, mãe, amigos, companheiros de trabalho. E na manhã que morre este homem que só vi no passado, esta proximidade. Havia um elo, desconhecido, não sei. Quando minha tia Oneida morreu eu entrei em pânico. Não pensava nela quando senti o sopro da morte em um fim de tarde só na sala do meu apartamento. Meu filho estava em Santa Catarina com o pai e eu disse _ Quando chegar lá telefone. Ele passou a noite e não telefonou. No dia seguinte eu fiquei angustiada. E achava que era ele que estava enviando aquela certeza de algo estranho, de morte, aquela agonia. Na tarde quando ele ligou, eu relaxei. Só mais tarde soube do enterro da tia. Sofri aquela angústia pelo esquecimento dos primos e de todo mundo. Gostava dela, de falar sobre a vida. E havia um elo entre nós. Acho que não sabemos quem realmente está ligado a nós, a não ser quando eles morrem. Eu afogo esta sensibilidade, canalizo para a Poesia. Mas, sempre naufrago em instantes estranhos e fico à espera de coisas duras. Já recebi avisos, já interpretei errado. Não sei lidar com nada disto. Tenho medo de colocar a mão através da cortina que ultrapassa este mundo. Uma vez eu senti um abraço de tão real estremeci. E um perfume intenso de rosas. Até hoje não sei se era minha mãe, ou mãe de uma amiga a quem dei atenção quando sofreu um acidente e perdeu a mãe. Eu acreditava que era a mãe dela em agradecimento. Minha mãe me visita em sonhos. E estas coisas podem parecer estranhas para quem só crê naquilo que vê. Espero que a paz os abrace. Espero não ter medo de olhar um pouco além e entender. A vida é mistério... (sou a garota de verde e negro, no casamento do meu irmão Flávio... estou com dezoito anos ali e o Sildemar galã é o menino alto e sorridente... éramos felizes, não dá para esconder isto)

Bárbara Lia 

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