Hoje, que já beijei minha mãe, beijei e ao menos falei com
outras das minhas muitas mães, pela primeira vez falta uma delas, a minha avó
Amélia, com quem tentei aprender muito da arte do silêncio, da palavra de
corte.
Encantada no último natal, cada filho ficou com uma
orquídea, depois de deixarem flor e talo no caixão. Foi um adeus de beleza,
digno de tudo que ela foi conosco, foi também essa chance de elo material com o
que se perde na perda dela. No dia seguinte, eu plantei algumas daquelas
orquídeas para todos que pediram e não sabiam bem como replantar esse dom,
hesitante se conseguiria vê-las de novo em flor, como sei que não verei a flor
da Amélia.
Assim pensei, mas esta semana floriram algumas daquelas
orquídeas, floriram fora do próprio tempo, porque só costumam dar botão uma vez
ao ano, então só deveriam voltar daqui a seis meses. Vieram antes, em flor, pra
eu ver agora que levo eu também uma flor de Amélia comigo, que sonho medrar
comigo, em mim, fora dos tempos, quando menos espero. Eu fiquei sem a orquídea,
que é dos filhos (a da foto é de Sergio Flores, meu pai e também uma das minhas
mães), mas levo meu florir de neto. Evoé, Amélia, Dona Menininha!
Guilherme Gontijo Flores
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