Uma rua me conduzia até o porto.
E eu era a rua com as suas janelas dilaceradas
e o sol despositado na areia materna.
Eu levava para a beira do mar tudo o que surgia
à minha passagem: portas, rostos, vozes, colônias de cupim
e réstias de cebola que amadureciam na sombra
dos armazéns próvidos. E sacos de açúcar. E as chuvas
que haviam enegrecido os telhados das casas.
Era um dia de dádivas. Nada estava perdido.
As ondas celebravam a beleza do mundo.
A terra ostentava a promessa da vida.
E eu despositava a minha leve carga
nos porões dos navios enferrujados.
© 2000, Lêdo Ivo
From: O rumor da noite
Publisher: Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2000
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