sábado, 1 de outubro de 2011

VOCAÇÃO

Sou o mago das coisas mínimas, rasteiras,

Tão dóceis e lindas em sua aparência inútil,

Como os restos sem valor ou função, besteiras,

– A real ligação do aparente inconsútil –.

Como o mistério do musgo à sombra entre os tacos,

Como as minúcias de algarismos e de letras,

Desvendo luz no que é considerado opaco,

Enxergo o que revela o lixo, o gueto, as gretas,

Herdo, solidário, o abandono a elas votado,

Cumpro a solitária função de me importar

Com as sobras, o que não deve ser amado

Porque seja sujo, feio, fraco ou sem lar.

Busco, suicida, o sublime no desprezado

Pois creio na ubiquidade do verbo amar.

Eduardo Tornaghi

Carioca, ator, autor de Matéria de rascunho.

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