sábado, 1 de outubro de 2011

SÍSIFO

tenho pena das belezas sem poetas

que jamais conhecerão a poesia



por isso rolo essa pedra da manhã, da árvore

do jardim e do lago ainda sem verso

neste poema ambicioso, generoso, repleto

(e no entanto – ainda e sempre – incompleto)

forço alma, fêmur, bíceps – ofego!

empurro, literalmente

o globo glorioso

de todo universo

(mais

o que almejo e imagino)

pela encosta vertical, quilométrica

até o cimo

mas lá, força acabada

tão logo ergo minha mão contusa

para enxugar-me das rimas sanguíneas

contemplo a forma cair de seu clímax

ofício nulo, de volta ao nada!

volto: e na planície

novamente comovido

retomo meu estético destino


Adriano Wintter
fonte: Alias

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