sábado, 1 de outubro de 2011

O VASO DE MURANO




Sobre a velha mesa, na sala de jantar, faísca o vaso de Murano.

Meu pai, orgulhoso da compra, fala do cristal em fusão, do forno em brasa, do sopro, do saber do artesão.

O brilho intenso me fascina. Mantenho meus irmãos à distância. (Tanto medo que quebrassem o vaso da minha infância. Tanto medo que se partisse o encanto.)

No cuidado de menino, soldadinhos de chumbo vigiam e marcham pelo piso de tábua corrida.

Hoje, antiga toalha de linho branco recobre em silêncio a mesa vazia.

Augusto Sérgio Bastos Carioca, escritor, autor de À luz da estante

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