sábado, 28 de março de 2009
Calada da Noite
Ana, anã, Aninha: Seu nome, seu sentimento no mundo, seu apelido. Veio de forma descuidada, sem muita festa e comemoração pela sua existência. Cresceu sentindo-se em deslocamento constante, não fazia parte daquela trama de acontecimentos cotidianos. Fofocas, fingimentos, rancores. Questionava a inteligência humana. Seu cachorro e seu gato pareciam-lhe muito mais sábios. Sentia a vida de outra forma. Ouvir silenciosamente seu coração pulsando era mais importante que gastar a vida com picuinhas presentes na boca dos outros. Tinha ouvidos sensíveis, por isso preferia seus discos e livros ao falatório dos encontros de família. Seu passatempo era sentir o sossego da vida pela janela que apontava a madrugada. Todo sábado, duas da manhã, abria sua janela para compartilhar o nada e trocar pensamentos ao lado de sua gata de olhos amarelados. Gostava do cheiro da rua deserta, dos automóveis ausentes e da vida passando sem pressa.
E foi numa noite sem luar que Ana viu tudo. Naquele dia de lua apagada, presenciou uma vida ir embora pelas mãos de outra vida. Tudo ocorreu sob os quatros olhos daquela janela. Primeiro o som de passos correndo, depois a luz em foco sobre uma cabeça e um som ensurdecedor. Enquanto um corpo caía, outro corpo corria em direção oposta. Era essa a seqüência de acontecimentos que ficou registrada para sempre em sua memória. As luzes ao redor começaram a acender uma por uma, outras janelas se abriram, as vozes em murmurinho aumentavam. Ana, paralisada, sentiu um toque em seu ombro. Era o pai. “Dorme, filha, não quero que veja isto”. Tarde demais. Ana tinha visto tudo. Do início ao fim. Sabia que das duas únicas testemunhas que viram a hora exata do sangue explodir, somente uma poderia falar, contar e descrever para os homens da Lei o ocorrido. Mas Ana não acreditava na Lei dos homens e, desaninhada, foi para cama fingir que dormia, enquanto pensava, enquanto calava.
Nanci Kirinus
in : Miscelâneas em Mim.
http://www.nanciaki.zip.net
E foi numa noite sem luar que Ana viu tudo. Naquele dia de lua apagada, presenciou uma vida ir embora pelas mãos de outra vida. Tudo ocorreu sob os quatros olhos daquela janela. Primeiro o som de passos correndo, depois a luz em foco sobre uma cabeça e um som ensurdecedor. Enquanto um corpo caía, outro corpo corria em direção oposta. Era essa a seqüência de acontecimentos que ficou registrada para sempre em sua memória. As luzes ao redor começaram a acender uma por uma, outras janelas se abriram, as vozes em murmurinho aumentavam. Ana, paralisada, sentiu um toque em seu ombro. Era o pai. “Dorme, filha, não quero que veja isto”. Tarde demais. Ana tinha visto tudo. Do início ao fim. Sabia que das duas únicas testemunhas que viram a hora exata do sangue explodir, somente uma poderia falar, contar e descrever para os homens da Lei o ocorrido. Mas Ana não acreditava na Lei dos homens e, desaninhada, foi para cama fingir que dormia, enquanto pensava, enquanto calava.
Nanci Kirinus
in : Miscelâneas em Mim.
http://www.nanciaki.zip.net
sexta-feira, 27 de março de 2009
sábado, 21 de março de 2009
Moebius
( Dedicado a André Ribas )
Volto tarde pra casa.
Nos ombros, o fardo de mais um dia derrotado.
O semblante caído.
As horas inchadas de coisa nenhuma.
Caminho rumo ao terminal,
Prometendo a mim mesmo,
Nunca mais usar meias encardidas para trabalhar.
Elas formam uma crosta horrível de sujeira nos pés.
Vindo em minha direção, um mendigo.
A tez morena, os olhos vazios de tudo.
A barba grossa a cobrir-lhe o rosto.
Postava-se tal qual um faquir, zeloso de suas fraquezas.
“Senhor, chamo-me Arzach.
(Os lábios flácidos, amarelados e ríspidos).
Venho de um mundo diluído em guache e cores rubras.
(O olhar retraído, atento em meus gestos).
De um sol de carbono e fibras vegetais.
(Sua voz era forte, escarnecida de pústulas e entojo).
Atravessei secreções de enxofre. Os vales verdes de Verlousins.
(As mãos inchadas de mel e alcatrão).
Sacrifiquei exércitos, entalhei palavras de afeto ambíguo em corações mornos.”
(Inibia o fel em sua saliva, como o pranto em sua sombra mortal).
“Rogo humildemente vossa atenção.
Meu mundo encontra-se doente, ressequido.
Nossa memória, diluída num veludo de estrelas anil-fossilizadas.
Éramos uma colônia de Taenias Solium Imaginautas,
Hospedávamos o intestino singular de todo tecido vertebrado.”
“Desditoso, agora venho a ti,
Colhido em vergonha,
Pedir para que devore meu povo.”
Sem delongas,
O estranho homem revira seu casaco
Cioso de seus segredos.
E um aljôfar larval aparece em suas mãos.
“Engula”, ele diz.
“Almejo apenas um fim inflado de emoções,
Carregado de vida, mácula e insensatez.
Um lamento altivo, pleno de coragem e dor,
Que afague a solidão do Mouro, enamorado em algarismos teológicos.”
Sem hesitar, atendo seu pedido.
No instante em que sorvo a ilustre esfera,
Uma luz intensa reluz de meu ventre.
Combinações aleatórias de cores surgem em imagens convexas.
Um brilho imundo decompõe a retina.
Fluidifica o corpo.
Contrações elétricas saturam o ar com cristais de gelo e ozônio.
Sinto a diminuta orbe dilatar,
Consumindo toda carne,
Jeans e excremento que era.
E então...
Nada.
Estou parado rente a uma esquina.
Os olhos bêbados de luminosidade.
Na pastelaria ao lado,
Um velho sábio chinês tenta ensinar física molecular
Ao gato que urina em sua mesa.
Nada era perversamente igual ao que sempre fora.
Uma garoa fina cobre meu rosto.
Sinto a garganta embargar, acho que estou febril.
Meus pés doem,
Odeio essas malditas meias sujas.
Athos Achy Ribas Maia
Volto tarde pra casa.
Nos ombros, o fardo de mais um dia derrotado.
O semblante caído.
As horas inchadas de coisa nenhuma.
Caminho rumo ao terminal,
Prometendo a mim mesmo,
Nunca mais usar meias encardidas para trabalhar.
Elas formam uma crosta horrível de sujeira nos pés.
Vindo em minha direção, um mendigo.
A tez morena, os olhos vazios de tudo.
A barba grossa a cobrir-lhe o rosto.
Postava-se tal qual um faquir, zeloso de suas fraquezas.
“Senhor, chamo-me Arzach.
(Os lábios flácidos, amarelados e ríspidos).
Venho de um mundo diluído em guache e cores rubras.
(O olhar retraído, atento em meus gestos).
De um sol de carbono e fibras vegetais.
(Sua voz era forte, escarnecida de pústulas e entojo).
Atravessei secreções de enxofre. Os vales verdes de Verlousins.
(As mãos inchadas de mel e alcatrão).
Sacrifiquei exércitos, entalhei palavras de afeto ambíguo em corações mornos.”
(Inibia o fel em sua saliva, como o pranto em sua sombra mortal).
“Rogo humildemente vossa atenção.
Meu mundo encontra-se doente, ressequido.
Nossa memória, diluída num veludo de estrelas anil-fossilizadas.
Éramos uma colônia de Taenias Solium Imaginautas,
Hospedávamos o intestino singular de todo tecido vertebrado.”
“Desditoso, agora venho a ti,
Colhido em vergonha,
Pedir para que devore meu povo.”
Sem delongas,
O estranho homem revira seu casaco
Cioso de seus segredos.
E um aljôfar larval aparece em suas mãos.
“Engula”, ele diz.
“Almejo apenas um fim inflado de emoções,
Carregado de vida, mácula e insensatez.
Um lamento altivo, pleno de coragem e dor,
Que afague a solidão do Mouro, enamorado em algarismos teológicos.”
Sem hesitar, atendo seu pedido.
No instante em que sorvo a ilustre esfera,
Uma luz intensa reluz de meu ventre.
Combinações aleatórias de cores surgem em imagens convexas.
Um brilho imundo decompõe a retina.
Fluidifica o corpo.
Contrações elétricas saturam o ar com cristais de gelo e ozônio.
Sinto a diminuta orbe dilatar,
Consumindo toda carne,
Jeans e excremento que era.
E então...
Nada.
Estou parado rente a uma esquina.
Os olhos bêbados de luminosidade.
Na pastelaria ao lado,
Um velho sábio chinês tenta ensinar física molecular
Ao gato que urina em sua mesa.
Nada era perversamente igual ao que sempre fora.
Uma garoa fina cobre meu rosto.
Sinto a garganta embargar, acho que estou febril.
Meus pés doem,
Odeio essas malditas meias sujas.
Athos Achy Ribas Maia
quinta-feira, 19 de março de 2009
Criança! Escolha o lixo menos podre! Diz a mãe entre as larvas da miséria mesmo sabendo que nada alí lhe renderá a possível morte da fome.
Aquele mendigo já foi rei e hoje rasga com as unhas negras da vingança todos os leões capitalistas que usam ternos Armani falsificados mas exibem um glorioso nariz apontado para frente.
Tudo é umbigo nesse mundo cão e a guerra é só um déficit de corpos e muitas cartas do estado enchendo as caixas postais das viúvas que olham para os seus filhos e clamam por um vinho menos rascante então ASSALTE-ME! ASSALTE-ME!
Leve todos os bens que carrego nos meus bolsos porque eles me fazem mal!
Leve também meus documentos, vista-se de mim e sofra, como eu, o peso de ter um nome e uma identidade fotográfica com muitos números facilitadores do controle dentro desse panóptico mal iluminado.
Porque o homem
É ventríloquo do ego - senta no meu colo e não abra a boca
É marionete automática - não vejo as linhas que me prendem
É a serpente que come e se engasga com o próprio rabo - rabo na garganta.
O limite do homem é a extinção de tudo que o alimenta.
Camila Vardarac
Aquele mendigo já foi rei e hoje rasga com as unhas negras da vingança todos os leões capitalistas que usam ternos Armani falsificados mas exibem um glorioso nariz apontado para frente.
Tudo é umbigo nesse mundo cão e a guerra é só um déficit de corpos e muitas cartas do estado enchendo as caixas postais das viúvas que olham para os seus filhos e clamam por um vinho menos rascante então ASSALTE-ME! ASSALTE-ME!
Leve todos os bens que carrego nos meus bolsos porque eles me fazem mal!
Leve também meus documentos, vista-se de mim e sofra, como eu, o peso de ter um nome e uma identidade fotográfica com muitos números facilitadores do controle dentro desse panóptico mal iluminado.
Porque o homem
É ventríloquo do ego - senta no meu colo e não abra a boca
É marionete automática - não vejo as linhas que me prendem
É a serpente que come e se engasga com o próprio rabo - rabo na garganta.
O limite do homem é a extinção de tudo que o alimenta.
Camila Vardarac
Ginsberg de bolso
Quando teu Ginsberg de bolso
pulou do oitavo andar
para ensinar-te as lições do desapego
você
por desapego à vida (e não ao livro)
pulou também.
Aberto sobre o teu livro aberto
tipologia sanguínea
escorrendo entre os paralelepípedos
lirismos vermelhos surpreendendo
os rostos dos passantes
que arregalavam os olhos
mas tiravam fotos da tua anatomia sincera
teu corpo mais corpo do que nunca.
Se você pudesse ver de fora
não acreditaria na quantidade de sangue
que te irrigava as idéias
que te alimentava
sorriria levando as mãos à boca
depois aos ouvidos
quando chegasse a ambulância de altíssima sirene.
Camila Vardarac
pulou do oitavo andar
para ensinar-te as lições do desapego
você
por desapego à vida (e não ao livro)
pulou também.
Aberto sobre o teu livro aberto
tipologia sanguínea
escorrendo entre os paralelepípedos
lirismos vermelhos surpreendendo
os rostos dos passantes
que arregalavam os olhos
mas tiravam fotos da tua anatomia sincera
teu corpo mais corpo do que nunca.
Se você pudesse ver de fora
não acreditaria na quantidade de sangue
que te irrigava as idéias
que te alimentava
sorriria levando as mãos à boca
depois aos ouvidos
quando chegasse a ambulância de altíssima sirene.
Camila Vardarac
segunda-feira, 16 de março de 2009
Asas dos Sonhos
Asas dos sonhos
Se eu fosse um artista
Queria tingir muitos vôos...
E cada desenho
Um vôo diferente...
Ah! Voar entre as nuvens
Sobre as montanhas na Primavera
Voar sobre as marés na aurora
Sobre as margaridas e azaléias
Voar até você
E te mostrar que a vida é bela
Que dos sonhos levantamos vôos
E da fé, tingimos de realidade
Nossa própria tela.
(Sirlei L. Passolongo )
Se eu fosse um artista
Queria tingir muitos vôos...
E cada desenho
Um vôo diferente...
Ah! Voar entre as nuvens
Sobre as montanhas na Primavera
Voar sobre as marés na aurora
Sobre as margaridas e azaléias
Voar até você
E te mostrar que a vida é bela
Que dos sonhos levantamos vôos
E da fé, tingimos de realidade
Nossa própria tela.
(Sirlei L. Passolongo )
sábado, 14 de março de 2009
La Muerte se Escribe Sola
LA MUERTE SE ESCRIBE SOLA
la muerte se escribe sola
una raya negra es una raya blanca
el sol es un agujero en el cielo
la plenitud del ojo
fatigado cabrío
aprender a ver en el doblez
entresaca espulga trilla
estrella casa alga
madre madera mar
se escriben solos
en el hollín de la almohada
trozo de pan en el zaguán
abre la puerta
baja la escalera
el corazón se deshoja
la pobre niña sigue encerrada
en la torre de granizo
el oro el violeta el azul
enrejados
no se borran
no se borran
no se borran
Blanca Varela(Lima 1926-2009)
la muerte se escribe sola
una raya negra es una raya blanca
el sol es un agujero en el cielo
la plenitud del ojo
fatigado cabrío
aprender a ver en el doblez
entresaca espulga trilla
estrella casa alga
madre madera mar
se escriben solos
en el hollín de la almohada
trozo de pan en el zaguán
abre la puerta
baja la escalera
el corazón se deshoja
la pobre niña sigue encerrada
en la torre de granizo
el oro el violeta el azul
enrejados
no se borran
no se borran
no se borran
Blanca Varela(Lima 1926-2009)
FLICTSando
Acordei com o barulho da academia.
Enquanto dormia,
Silenciava-me o trânsito e a fila
Do pão e leite da padaria.
E de tantas que seguirão
Até que eu finde, e não o dia.
Enquanto eu dormia,
Silenciava-me o custa da vida,
Meus encargos para o Estado.
Não importava se havia saldo,
Se estava livre ou não do assalto,
Do crediário, do bandido, do estelionatário.
Se paguei o dízimo,
Ou dei o conto do vigário.
Não importava ter picado em tiras
O jornal do emprego, para ter sossego,
Por ter gasto a vida
E todo o tempo
Saboreando o vento do pastel,
Aprendendo o que não serve
Para a tributação fiscal,
O departamento pessoal,
A gestão empresarial,
O call center,
O malabarismo de sinal.
Não importava o poema desenhado.
E, se o sonho mastigado ficou indigesto.
Se o mundo acabaria
Num colapso de ganância caos concreto.
Se ainda me restaria energia.
Não importava,
Papelão colchão, tecido puído, amálgama gelada.
E se o riso era cortante frio na alma.
Angela Gomes
Enquanto dormia,
Silenciava-me o trânsito e a fila
Do pão e leite da padaria.
E de tantas que seguirão
Até que eu finde, e não o dia.
Enquanto eu dormia,
Silenciava-me o custa da vida,
Meus encargos para o Estado.
Não importava se havia saldo,
Se estava livre ou não do assalto,
Do crediário, do bandido, do estelionatário.
Se paguei o dízimo,
Ou dei o conto do vigário.
Não importava ter picado em tiras
O jornal do emprego, para ter sossego,
Por ter gasto a vida
E todo o tempo
Saboreando o vento do pastel,
Aprendendo o que não serve
Para a tributação fiscal,
O departamento pessoal,
A gestão empresarial,
O call center,
O malabarismo de sinal.
Não importava o poema desenhado.
E, se o sonho mastigado ficou indigesto.
Se o mundo acabaria
Num colapso de ganância caos concreto.
Se ainda me restaria energia.
Não importava,
Papelão colchão, tecido puído, amálgama gelada.
E se o riso era cortante frio na alma.
Angela Gomes
à Sumida Musa
À SUMIDA MUSA
...moça!!!
saudade tua já está moça
Mas não tem jeito...
Continua mamando
no meu peito...
Altair de Oliveira
- In: O Lento Alento
...moça!!!
saudade tua já está moça
Mas não tem jeito...
Continua mamando
no meu peito...
Altair de Oliveira
- In: O Lento Alento
"Un día yo pregunté mi padre dónde está Dios
mi padre bajó los ojos y nada me respondió
mi padre vive en el monte y no conoce una flor
sudor malaria y serpiente es la vida del leñador
y que "naiden" le pregunte si sabe donde está Dios
por su casa no "ay" pasado tan importante señor
Que Dios vela por los pobres, talves si o talves no
lo seguro es que el almuerza en la mesa del Patrón"
Atahualpa Yupanqui
mi padre bajó los ojos y nada me respondió
mi padre vive en el monte y no conoce una flor
sudor malaria y serpiente es la vida del leñador
y que "naiden" le pregunte si sabe donde está Dios
por su casa no "ay" pasado tan importante señor
Que Dios vela por los pobres, talves si o talves no
lo seguro es que el almuerza en la mesa del Patrón"
Atahualpa Yupanqui
é a solidão
que me carrega
no dorso da palavra
até a beirada do obscuro
onde me atiro
porque me assoma
desde sempre a vertigem
e me assombra mais o medo
do que acabar
e é na queda
que o hálito do abismo
aviventa minhas asas
de inventora do impossível
é a solidão
que empilha silêncios
até emparedar meu grito
e eu, simbionte,
tomo sempre num hausto
o ultimo fôlego
e cavo frestas
a lápis e caneta
até eclodir o verso
onde respiro
Iriene Borges
que me carrega
no dorso da palavra
até a beirada do obscuro
onde me atiro
porque me assoma
desde sempre a vertigem
e me assombra mais o medo
do que acabar
e é na queda
que o hálito do abismo
aviventa minhas asas
de inventora do impossível
é a solidão
que empilha silêncios
até emparedar meu grito
e eu, simbionte,
tomo sempre num hausto
o ultimo fôlego
e cavo frestas
a lápis e caneta
até eclodir o verso
onde respiro
Iriene Borges
Poemas de Tigres
01
As garras são meus olhos,
Esses que eram de qualquer outro,
E na ousadia de minha madrugada
Os instalei de súbito em meu corpo.
Olhos renascidos de não morrer
Onde a morte lhes visita a gravidade.
02
Instantâneos e profundos como a saudade:
Noturna matinal arenosa e incômoda.
Lobos aves folhas e olhar de um poço,
Labirinto circular de meus passos felinos.
O tigre dos gritos do meu corpo
Arrasto e não ouvem. Desfolho
Sem saber, o intento no meu rosto.
O Meu Sorriso não tem dizer.
03
Tigres de vôos não vistos,
Não há como ver a altura do imprevisto;
Nem como fugir a fuga dos que tem sina;
Nem como ser luz do que perdeu a vista,
Sem ser brilhar e entorpecer.
Os designados nunca são inteiros
Carregam em seus passos, pés dilacerados:
As pernas e os fatos e as dores.
04
Não há destino exato para a semente no deserto.
Para implacável incerteza desperta.
Para o doer de tigres que desperto.
No tigre dói a não investida,
E assim o tempo cria em mim suas dores.
05
Se persigo veloz tudo que quero:
O fel tenho do não ter e das vontades;
Se passeio ronda a fera como fera,
A vontade que era grande me dilacera.
Sedento da fonte que não seca,
Faminto nas raízes da terra.
06
Quebro a armadilha do labirinto:
Inimigo do transitar das presas,
A prisão do desejo me encarcera.
Os gemidos solitários do secar das ervas:
São explosões inimagináveis do que se queima,
Fogo: angústia nas garras – olhos,
Captura a dor e a corrida do que vejo.
07
Não chamarei de tristes as afiadas unhas,
Nem de solitárias as vítimas da caçada.
08
Há os que praguejam seu destino.
Há os que o destino afaga e cala.
Há no círculo de luz a funda vala
Da fogueira extasiada de algo haver faltado:
Dois dias dois sábados dois olhos,
Ou a mágoa não ter evaporado,
Ou a viagem interceptada de lábios
Que queimariam a febre da fogueira.
09
Quebro nesta tarde com meu correr de tigre:
O braço da sina que me abraça.
Deixem-me por entre flores negras,
Por entre minhas não suavidades:
O tigre que sou – Só garras.
O homem que sou – Só olhos.
Julio Almada, Do Livro Hora Tenaz
As garras são meus olhos,
Esses que eram de qualquer outro,
E na ousadia de minha madrugada
Os instalei de súbito em meu corpo.
Olhos renascidos de não morrer
Onde a morte lhes visita a gravidade.
02
Instantâneos e profundos como a saudade:
Noturna matinal arenosa e incômoda.
Lobos aves folhas e olhar de um poço,
Labirinto circular de meus passos felinos.
O tigre dos gritos do meu corpo
Arrasto e não ouvem. Desfolho
Sem saber, o intento no meu rosto.
O Meu Sorriso não tem dizer.
03
Tigres de vôos não vistos,
Não há como ver a altura do imprevisto;
Nem como fugir a fuga dos que tem sina;
Nem como ser luz do que perdeu a vista,
Sem ser brilhar e entorpecer.
Os designados nunca são inteiros
Carregam em seus passos, pés dilacerados:
As pernas e os fatos e as dores.
04
Não há destino exato para a semente no deserto.
Para implacável incerteza desperta.
Para o doer de tigres que desperto.
No tigre dói a não investida,
E assim o tempo cria em mim suas dores.
05
Se persigo veloz tudo que quero:
O fel tenho do não ter e das vontades;
Se passeio ronda a fera como fera,
A vontade que era grande me dilacera.
Sedento da fonte que não seca,
Faminto nas raízes da terra.
06
Quebro a armadilha do labirinto:
Inimigo do transitar das presas,
A prisão do desejo me encarcera.
Os gemidos solitários do secar das ervas:
São explosões inimagináveis do que se queima,
Fogo: angústia nas garras – olhos,
Captura a dor e a corrida do que vejo.
07
Não chamarei de tristes as afiadas unhas,
Nem de solitárias as vítimas da caçada.
08
Há os que praguejam seu destino.
Há os que o destino afaga e cala.
Há no círculo de luz a funda vala
Da fogueira extasiada de algo haver faltado:
Dois dias dois sábados dois olhos,
Ou a mágoa não ter evaporado,
Ou a viagem interceptada de lábios
Que queimariam a febre da fogueira.
09
Quebro nesta tarde com meu correr de tigre:
O braço da sina que me abraça.
Deixem-me por entre flores negras,
Por entre minhas não suavidades:
O tigre que sou – Só garras.
O homem que sou – Só olhos.
Julio Almada, Do Livro Hora Tenaz
Múltiplo Desencanto
Não era você nem amor nem hora
Nem sei se era eu nem sei se adeus
Muito menos se agora.
O tempo do meu tempo
É um não lento veneno
Dos meus anos.
E não posso tudo que na poça
Do medo dos outros mora;
Meu medo é poça seca.
Nem o desespero me conforma
Luz nenhuma ofuscante despenteia
O desalinho da vidraça
O meu tempo é um veio de um rio
Que é fim é tudo e nada
E tranca e cava e afoga.
Julio Almada, Do livro Hora Tenaz
http://www.beira-do-caminho.blogspot.com
Nem sei se era eu nem sei se adeus
Muito menos se agora.
O tempo do meu tempo
É um não lento veneno
Dos meus anos.
E não posso tudo que na poça
Do medo dos outros mora;
Meu medo é poça seca.
Nem o desespero me conforma
Luz nenhuma ofuscante despenteia
O desalinho da vidraça
O meu tempo é um veio de um rio
Que é fim é tudo e nada
E tranca e cava e afoga.
Julio Almada, Do livro Hora Tenaz
http://www.beira-do-caminho.blogspot.com
L'assiette au Beurre, june 27, 1901
the factory owners at the disaster
La catastrophe d'Issy
special Collections library, University of Michigan
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arte de theophile-alexandre steinlen
quarta-feira, 11 de março de 2009
a substância propulsora da fome
atrai o trovão
e sacia dois polos
com uma mesma eletricidade cáustica
carcomendo o fruto metálico
e liberando no chão sementes de zinco
nutrientes para as aves caídas
que deixam à mostra pequenas línguas vorazes
quando bebem da água batizada
com os gritos das rapinas negras
como se o eco reverberado
fosse o céu que ansiamos nos dias de chuva.
Camila Vardarac
atrai o trovão
e sacia dois polos
com uma mesma eletricidade cáustica
carcomendo o fruto metálico
e liberando no chão sementes de zinco
nutrientes para as aves caídas
que deixam à mostra pequenas línguas vorazes
quando bebem da água batizada
com os gritos das rapinas negras
como se o eco reverberado
fosse o céu que ansiamos nos dias de chuva.
Camila Vardarac
o asfalto é um céu negro cravejado de brilhantes
o guardião das ruas anda em círculos com a sua bicicleta
a noite lhe desperta memórias
e as sombras são devaneios sobre rodas
o ranger das correntes
sinfonia harmônica
quase imperceptível
e por isso hipnotizante
vaga pelos ouvidos
com o mesmo movimento sistemático
da euforia contida
dosada em cada pedalada
enquanto a aura na garupa
é uma criança tímida
sorrisos no canto da boca
leve ar de boaventura.
Camila Vardarac
http://www.vaga-lumens.blogspot.com
o guardião das ruas anda em círculos com a sua bicicleta
a noite lhe desperta memórias
e as sombras são devaneios sobre rodas
o ranger das correntes
sinfonia harmônica
quase imperceptível
e por isso hipnotizante
vaga pelos ouvidos
com o mesmo movimento sistemático
da euforia contida
dosada em cada pedalada
enquanto a aura na garupa
é uma criança tímida
sorrisos no canto da boca
leve ar de boaventura.
Camila Vardarac
http://www.vaga-lumens.blogspot.com
sexta-feira, 6 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
O Irmão que Voltou
Eu e meu irmão gêmeo, fomos muito amigos e unidos. Ele acorbertava minhas travessuras e eu as dele. Quando nós tínhamos uns 14 anos e como meu pai, meus tios e uma tia solteirona fumavam, resolvemos também experimentar, pois víamos com que satisfação e elegância eles degustavam o tal cigarro.
Então falei para meu irmão: — olha, vamos no armazém do seu Otto comprar “no caderno” um maço de mistura-fina, que é o cigarro que o papai fuma e sempre nos pede para ir lá buscar. — E o papai nem vai perceber, completa meu irmão, lembrando também dos fósforos.
Foram os 11 segundos (e não os 11 minutos) mais vibrantes da minha vida. Num local isolado do sítio onde morávamos, meu irmão, tal como um cavalheiro, após acender o seu cigarro, gentilmente me ofereceu um. Foi muita emoção, pegá-lo, colocá-lo na boca, acendê-lo e dar a minha primeira baforada. Uma das poucas, pois, não adquiri e não tenho o hábito de fumar.
Depois daquela emoção toda, veio a pergunta: como voltaremos para casa com cigarro e fósforo ? Escondemos tudo num oco de uma árvore perto dali. Evidente que não comentaríamos com ninguém aquela nossa ousadia. Se nossa mãe ou nosso pai soubessem daquilo, um castigo severo, ardido e doído viria com certeza.
Foram mais duas ou três tentativas para tornarmo-nos fumantes. Desistimos da idéia, pois não compensava o mal estar causado e a tensão de um flagra. Gosto e cheiro ficavam na boca, o que poderia denunciar-nos. Balas de hortelã que eram mais gostosas e mais baratas que cigarro, completavam nosso ritual fumígero.
Meu irmão Dirceu, viria a falecer 3 anos depois, num acidente de caminhão, o que em mim provocaria um forte impacto. Forte a ponto de, com freqüência, ele aparecer-me em visões e quase que diariamente em sonhos. Por anos, evitei os lugares no sítio onde brincávamos, tampouco passei por perto daquela árvore, onde num oco, escondíamos o cigarro e mantínhamos nosso segredo.
Certamente ninguém soube da nossa aventura tabagista, pois jamais ouvimos comentários ou insinuações sobre nos virem ou ouvirem que fumávamos escondido.
Eu casei, minhas irmãs casaram, meus irmãos também casaram. A minha irmã caçula, Dulcinete, foi a última a casar-se. Quando o filho dela João Dirceu (uma homenagem ao nosso irmão falecido) tinha cinco anos, numa ocasião em que eu e ele estávamos sózinhos, inesperadamente, falou-me: — lembra tia, quando nóis tinha quatorze anos e guardava o cigarro na árvore ?
Naquele momento me voltaram lembranças do meu irmão morto há quase 30 anos.
Voltei a sentir o gosto e o cheiro daqueles poucos cigarros fumados.
Aquele episódio, que já tinha me esquecido, nunca o revelei a ninguém. E tenho certeza de que meu irmão Dirceu também nada daquela história dos cigarros, houve contado ou comentado com alguém. Era um segredo nosso. Ninguém poderia ter relatado aquilo para meu sobrinho João Dirceu.
E nas vésperas do nascimento dele, meu irmão falecido me apareceu dizendo que estava preparando-se para voltar. E considerando, não só o comentário do pequeno João Dirceu, sobre os cigarros e muitas outras semelhaças e coincidências, de temperamento, comportamento e atitudes, meu sobrinho é a reencarnação do meu irmão Dirceu.
Osiris Duarte de Curityba
Publicado no Recanto das Letras em 22/09/2008
Código do texto: T1191321
Então falei para meu irmão: — olha, vamos no armazém do seu Otto comprar “no caderno” um maço de mistura-fina, que é o cigarro que o papai fuma e sempre nos pede para ir lá buscar. — E o papai nem vai perceber, completa meu irmão, lembrando também dos fósforos.
Foram os 11 segundos (e não os 11 minutos) mais vibrantes da minha vida. Num local isolado do sítio onde morávamos, meu irmão, tal como um cavalheiro, após acender o seu cigarro, gentilmente me ofereceu um. Foi muita emoção, pegá-lo, colocá-lo na boca, acendê-lo e dar a minha primeira baforada. Uma das poucas, pois, não adquiri e não tenho o hábito de fumar.
Depois daquela emoção toda, veio a pergunta: como voltaremos para casa com cigarro e fósforo ? Escondemos tudo num oco de uma árvore perto dali. Evidente que não comentaríamos com ninguém aquela nossa ousadia. Se nossa mãe ou nosso pai soubessem daquilo, um castigo severo, ardido e doído viria com certeza.
Foram mais duas ou três tentativas para tornarmo-nos fumantes. Desistimos da idéia, pois não compensava o mal estar causado e a tensão de um flagra. Gosto e cheiro ficavam na boca, o que poderia denunciar-nos. Balas de hortelã que eram mais gostosas e mais baratas que cigarro, completavam nosso ritual fumígero.
Meu irmão Dirceu, viria a falecer 3 anos depois, num acidente de caminhão, o que em mim provocaria um forte impacto. Forte a ponto de, com freqüência, ele aparecer-me em visões e quase que diariamente em sonhos. Por anos, evitei os lugares no sítio onde brincávamos, tampouco passei por perto daquela árvore, onde num oco, escondíamos o cigarro e mantínhamos nosso segredo.
Certamente ninguém soube da nossa aventura tabagista, pois jamais ouvimos comentários ou insinuações sobre nos virem ou ouvirem que fumávamos escondido.
Eu casei, minhas irmãs casaram, meus irmãos também casaram. A minha irmã caçula, Dulcinete, foi a última a casar-se. Quando o filho dela João Dirceu (uma homenagem ao nosso irmão falecido) tinha cinco anos, numa ocasião em que eu e ele estávamos sózinhos, inesperadamente, falou-me: — lembra tia, quando nóis tinha quatorze anos e guardava o cigarro na árvore ?
Naquele momento me voltaram lembranças do meu irmão morto há quase 30 anos.
Voltei a sentir o gosto e o cheiro daqueles poucos cigarros fumados.
Aquele episódio, que já tinha me esquecido, nunca o revelei a ninguém. E tenho certeza de que meu irmão Dirceu também nada daquela história dos cigarros, houve contado ou comentado com alguém. Era um segredo nosso. Ninguém poderia ter relatado aquilo para meu sobrinho João Dirceu.
E nas vésperas do nascimento dele, meu irmão falecido me apareceu dizendo que estava preparando-se para voltar. E considerando, não só o comentário do pequeno João Dirceu, sobre os cigarros e muitas outras semelhaças e coincidências, de temperamento, comportamento e atitudes, meu sobrinho é a reencarnação do meu irmão Dirceu.
Osiris Duarte de Curityba
Publicado no Recanto das Letras em 22/09/2008
Código do texto: T1191321
quarta-feira, 4 de março de 2009
a turquinha Istambouli
ele ria quando chorava
para ela poder chorar de rir
era só um rio que cruzou com a pedra
na idéia flutuante da natureza.
a pedra molhada enxugava o suor da água
gotejava sal moura ria no mosaico bizantino
ruínas despoderosas olhando a lua no fundo do mar
apaixonados pois distantes tortura acariciante
na sombra da mesquita ora um grego gago entre ouros
na despalavrada metalaria a prata manchada de especiarias.
correm véus sorridentes a bailar com gaivotas
todos os dias narguilé com tabaco turco e muito café
Ele ria quando chorava sua velha Istambouli era para sempre azul menina.
Wilson Roberto Nogueira
para ela poder chorar de rir
era só um rio que cruzou com a pedra
na idéia flutuante da natureza.
a pedra molhada enxugava o suor da água
gotejava sal moura ria no mosaico bizantino
ruínas despoderosas olhando a lua no fundo do mar
apaixonados pois distantes tortura acariciante
na sombra da mesquita ora um grego gago entre ouros
na despalavrada metalaria a prata manchada de especiarias.
correm véus sorridentes a bailar com gaivotas
todos os dias narguilé com tabaco turco e muito café
Ele ria quando chorava sua velha Istambouli era para sempre azul menina.
Wilson Roberto Nogueira
Só o suspiro da chuva alivia a manhã.
O sol só sabe da sua presença ,aranha,
quando melada sobre o suspiro ,arranha
a sombra no desespero para desteiar-se
da solidão.Comeu o macho azêdo e agora
se adoçura para outro na voluvel volupia
do instinto.Cevada de si acaba se comendo.
O macho demorou.
Wilson Roberto Nogueira
O sol só sabe da sua presença ,aranha,
quando melada sobre o suspiro ,arranha
a sombra no desespero para desteiar-se
da solidão.Comeu o macho azêdo e agora
se adoçura para outro na voluvel volupia
do instinto.Cevada de si acaba se comendo.
O macho demorou.
Wilson Roberto Nogueira
segunda-feira, 2 de março de 2009
Sereia de Andersen
Atenção!
Este lado para cima!
Perdestes mais
do que a vida!
A ressaca da mentira
é o distanciamento
nos olhos
de quem mente!
Não sentes?
O coração trancafiado
no oceano,
quanto foi vão
o teu plano?
Angústia em tudo que és
Renúncia nos trágicos pés
Ricardo Pozzo
Este lado para cima!
Perdestes mais
do que a vida!
A ressaca da mentira
é o distanciamento
nos olhos
de quem mente!
Não sentes?
O coração trancafiado
no oceano,
quanto foi vão
o teu plano?
Angústia em tudo que és
Renúncia nos trágicos pés
Ricardo Pozzo
domingo, 1 de março de 2009
Despoema
Vim saber onde mora o mar
e para onde me levam essas ondas
cheias de águas, cheias de pompas, cheias de mim.
Acordo molhado em altos mares
quando o sonho navega sobre meu corpo alisando-o,
já quase corpo, já quase morto, já quase náufrago.
Do mar vejo o céu,
quando o horizonte me olha finito
como se as águas que eu visse fossem vivas
e este poema em que acredito
pudesse ser declamado.
Vou-me embora para o deserto
e de lá saber que destes versos
saem-me mares distintos
como se me fosse absíntico
o cheiro formal dos meus inversos.
Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 01/03/2009
e para onde me levam essas ondas
cheias de águas, cheias de pompas, cheias de mim.
Acordo molhado em altos mares
quando o sonho navega sobre meu corpo alisando-o,
já quase corpo, já quase morto, já quase náufrago.
Do mar vejo o céu,
quando o horizonte me olha finito
como se as águas que eu visse fossem vivas
e este poema em que acredito
pudesse ser declamado.
Vou-me embora para o deserto
e de lá saber que destes versos
saem-me mares distintos
como se me fosse absíntico
o cheiro formal dos meus inversos.
Paulino Vergetti Neto
Publicado no Recanto das Letras em 01/03/2009
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