quarta-feira, 31 de janeiro de 2018


Interessante, o Zeitgeist. Como algumas datas iconizam mudanças de fundo. Por exemplo: 1956, ano de lançamento de Grande sertão: veredas é o mesmo ano da I Exposição Nacional de Arte Concreta, marco inicial do concretismo. E também é o ano de On the road, de Jack Kerouac (Howl, de Ginsberg viria à lume no ano seguinte). Embora, aparentemente, não haja nada que una a poesia concreta, a escritura de Rosa e a prosa beat, todas elas são sinais de uma radical viragem estética. 1922: ano de Ulisses, de Joyce, e de Waste land, de Eliot, culminância, respectivamente, da prosa e da poesia modernista. E também, por sinal, o ano da Semana de Arte Moderna. E recuando ao século XIX temos 1857, ano de lançamento de As flores do mal e Madame Bovary (em livro, pois em folhetim fora publicada no ano anterior), ápices do romance e da poesia modernos. Não consta que Baudelaire e Flaubert, embora conhecidos mas sem intimidade, tenham combinado lançar seus livros no mesmo ano – e serem objetos, ambos, de ações judiciais, sinal de que a modernidade não iria encontrar facilidade da parte dos poderes constituídos. Aliás, 1857 é o ano também de O Guarani, de José de Alencar. Mas isso só comprova o delay que havia entre o centro e a periferia do capitalismo. Aqui, um dos marcos romanescos do romantismo. Lá, o epitáfio do escola romântica. Interessante, este Zeitgeist.

OLW

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