terça-feira, 29 de julho de 2008

Kaddish

A natureza me deu saúde
mas não me deu paz
(Justinus Kerner)

A possibilidade do suicídio torna a vida muitas vezes suportável
(Emil Cioran)

Kadish
à Diego Pader Terry.

Iria começar uma oração
me lembrar um salmo,
iria rezar o pai-nosso
ou um kadisch
volver meus olhos
distar o jamais
aproximar meu passado.

Iria começar uma oração,
louvado seja!
lembrei que
do oitavo andar em Niterói
deus é pedra
a mesma pedra
que iria por em sua cova.

Louvado seja,
a mentira do sagrado,
que,
eu profano nesta hora;
bendito seja o Nome
meu Nome,
teu Nome (leitor)
e o Nome de quem nestas linhas
eu pranteio.

Louvado seja,
quase me esquecí
do intérmino da face
subterrâneo vivo
onde começa o meu olhar

Louvada seja
a Carne
- ossos lascados -
deus das alturas
vai
em queda livre
onde jaz
a carniça do vento.

Bendito seja o inferno,
maldita bendição,
porque malditos são
todos os alados
porque asas pesam,
pesam
a juventude nossa de cada sonho.

Bendito, louvado e maldito
seja o céu...
rasuro tua lápide,
arremessando as letras
seladas
com o cuspe
do amanhã;
santo é
o nome do Horror;
inscrevo-lhe meu salmo
e rasuro tua lápide.

Maldito, louvado, bendito
seja o Nome da Carne
Ossos que espatifam.

Perdoe-me Pedra
venha tu
ao meu reino
que seja feita
em terra
a terra
nos extratos do jamais
e rezo aqui
o cimo daquela hora
no declive desta oração.
Amém.

Tullio Stefano

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