terça-feira, 21 de abril de 2009
Próxima Arte
próxima arte
A próxima arte
envolve peruca, cor e óculos
ninguém saberá ao certo.
Uma longa idade.
Uma nova vida.
O breve já foi
O longe virou breve
E muito... muito breve
eu de nova idade.
Deisi Perin
A próxima arte
envolve peruca, cor e óculos
ninguém saberá ao certo.
Uma longa idade.
Uma nova vida.
O breve já foi
O longe virou breve
E muito... muito breve
eu de nova idade.
Deisi Perin
Diário Helvético
frio
Também gosto, mas aqui estou completamente desacompanhada. Nem Ítalo, nem Borges. Alguns Hans, Erichs, Ludwigs e Alexanders. Mas defitivamente não entendo esses homens. Para mim o que eles escrevem é grego. Não pego nem a essência.
Tento beber a cultura, mas só me servem vinho.
Tinto é claro.
Viramundo, viracabeca, vira eu e tu.
Segunda sem mim,
mim sem voces.
Voces com calor.
Eu com frio.
Vou querer me aquecer em seus bracos ( de cada um).
Pode ser?
Não li nada, mas vou de qualquer maneira.
Bebi todas, mas não dei bandeira.
Meus pensamentos andam pela beira.
Meus medos são grandes como aroeiras.
E podam me e esperam na Segunda-feira.
Não pulei nada, nem ninguém. Só bebi Ítalo, finalmente, mas não o que eu queria, mas é sempre assim; acho o que não procuro, sinto o oposto. Não largo mais o papel e a caneta, e isso já está me atrapalhando as vistas, olho para onde não ando, e ando para onde não vejo. Segunda sóbria, sobrando idéias, faltando tempo que nem existe. Somos nós mesmos, ou projetos para o futuro?
Deisi Perin
Também gosto, mas aqui estou completamente desacompanhada. Nem Ítalo, nem Borges. Alguns Hans, Erichs, Ludwigs e Alexanders. Mas defitivamente não entendo esses homens. Para mim o que eles escrevem é grego. Não pego nem a essência.
Tento beber a cultura, mas só me servem vinho.
Tinto é claro.
Viramundo, viracabeca, vira eu e tu.
Segunda sem mim,
mim sem voces.
Voces com calor.
Eu com frio.
Vou querer me aquecer em seus bracos ( de cada um).
Pode ser?
Não li nada, mas vou de qualquer maneira.
Bebi todas, mas não dei bandeira.
Meus pensamentos andam pela beira.
Meus medos são grandes como aroeiras.
E podam me e esperam na Segunda-feira.
Não pulei nada, nem ninguém. Só bebi Ítalo, finalmente, mas não o que eu queria, mas é sempre assim; acho o que não procuro, sinto o oposto. Não largo mais o papel e a caneta, e isso já está me atrapalhando as vistas, olho para onde não ando, e ando para onde não vejo. Segunda sóbria, sobrando idéias, faltando tempo que nem existe. Somos nós mesmos, ou projetos para o futuro?
Deisi Perin
Viagem
Para Deisi Giacomazzi da Silva
O tempo não leva embora
o que ficou marcado
no fundo da memória
é emboscada
é maciez
é algo inesperado
estremece prateleiras e adegas
desenha palavras raras
na trama do dia-a-dia
O tempo é o que contem
e o que se esconde na ânima
É feito névoa seca no horizonte
com seus acordes dramáticos
sensibiliza o paladar
nos caminhos do imaginário
A saudade, ora a saudade
chega como tempestade
mas tem sabor de chocolate.
Andréa Motta
31/01/2007
O tempo não leva embora
o que ficou marcado
no fundo da memória
é emboscada
é maciez
é algo inesperado
estremece prateleiras e adegas
desenha palavras raras
na trama do dia-a-dia
O tempo é o que contem
e o que se esconde na ânima
É feito névoa seca no horizonte
com seus acordes dramáticos
sensibiliza o paladar
nos caminhos do imaginário
A saudade, ora a saudade
chega como tempestade
mas tem sabor de chocolate.
Andréa Motta
31/01/2007
Loucura,Inspiração ou Bebedeira
loucura, inspiracao ou bebedeira
Ausencia costurada
parece remendo
Arremedo daqui e dali.
Ih talo Calvo, ericado cabelo na Pessoa de Fernando.
Rascunho é o que nao me falta
Palavras nascem de noites agitadas
regadas com vinho tinto,
da cor do meu sangue
da cor do meu time
Campeao Inter
Internacional to eu aqui,
tirando fotos, fazendo mímica,
lendo Castro Alves e Casimiro de Abreu.
Oh que saudades das coisas belas,
que saudades de agora
que o tempo levará embora.
Deisi Perin
Ausencia costurada
parece remendo
Arremedo daqui e dali.
Ih talo Calvo, ericado cabelo na Pessoa de Fernando.
Rascunho é o que nao me falta
Palavras nascem de noites agitadas
regadas com vinho tinto,
da cor do meu sangue
da cor do meu time
Campeao Inter
Internacional to eu aqui,
tirando fotos, fazendo mímica,
lendo Castro Alves e Casimiro de Abreu.
Oh que saudades das coisas belas,
que saudades de agora
que o tempo levará embora.
Deisi Perin
Escrever Sempre
Ainda bem que de vez em quando alguém se atreve
e de veneta ou com tinteiro
alguma coisa escreve
sem ser para o ano inteiro
Não deixemos espaços mortos
ainda sem muita verve,
mesmo sendo poetas tortos.
Não disse que qualquer coisa serve?
Deisi Perin
e de veneta ou com tinteiro
alguma coisa escreve
sem ser para o ano inteiro
Não deixemos espaços mortos
ainda sem muita verve,
mesmo sendo poetas tortos.
Não disse que qualquer coisa serve?
Deisi Perin
Charada de Ônibus
O ônibus quase vazio permitia aquele momento de tagarelice entre eles. Sentei-me estrategicamente próxima aos dois. Os gestos exagerados do cobrador e a expressividade do rosto do motorista, mostradas por meio do espelho retrovisor, davam-me a sensação de assistir a um filme, ou melhor, a uma peça teatral. Cenas da vida real. A conversa girava em torno do futebol, da doença de um tal Batista, da mulher de João Pedro, do calor, da Prefeitura... Confesso que minha atenção oscilou várias vezes entre o trânsito lá fora e aquela conversa ora monótona, ora interessante. Mas foi uma frase do motorista que me trouxe definitivamente para aqueles dois personagens:
- Você gosta de charadas?
O cobrador olhou um pouco assustado com o ar infantil da pergunta, mas logo entrou no jogo:
- Ah, sempre fui muito bom nisso!! Manda aí!!
O Motorista nem parou pra pensar e já foi soltando:
- O que é o que é, que TODOS têm dois, VOCÊ tem só um e EU não tenho nenhum?
Pela primeira vez, desde que subi naquele ônibus, senti um silêncio no ambiente. A resposta eu já sabia, mas como a conversa não era comigo, fiquei aguardando ansiosamente a reação do cobrador. Ele colocou a mão no queixo, abaixou a cabeça e, enquanto isso, o motorista dava seu meio sorriso pelo espelho retrovisor. O silêncio se estendeu por mais ou menos umas duas paradas de ônibus, até que o cobrador levantou a cabeça e meio titubeante perguntou:
- O amor?!
O motorista na sua exagerada expressividade, levantou as sobrancelhas bem levantadas e deu um pulo para trás:
- Como assim?
O cobrador, agora vermelho, juntou toda a sua lógica e tentou explicar da forma mais segura que pôde:
- Bom, TODOS meus amigos tem dois amores, VOCÊ tem só uma e EU não tenho nenhum amor.
O motorista fez cara de que não gostou, balançou a cabeça negativamente:
- Você é louco!!! Não, não é isso!!! Pense mais um pouco! Olha presta atenção, de novo: TO-DOS tem dois, VO-CÊ tem um só, e EU... Entendeu?... EUUU não tem nenhum.
Mais uma vez o silêncio reinava no ambiente. O pobre do cobrador ficou pensativo por mais umas três paradas e o motorista mostrava um quê de decepção pelo companheiro de prosa. Enfim, o cobrador se entrega:
- Ah, essa é difícil, fala aí o que é!
O motorista, aliviado, desabafa:
- É o Ó!
O cobrador, num gesto de indignação solta uma ecoante interrogação pelo ar:
- O que?
- Oras, a letra Ó! TO-DOS tem dois, VO-CÊ tem um e EU não tem nenhum!
O cobrador, encolheu-se em seu banco, mostrava a agonia do pensamento querendo chegar a um entendimento, mas não conseguia e pediu ajuda novamente:
- Mas... Fala, então, o significado disso aí! O que é que tem o Ó?
O motorista, inconformado com a ignorância do amigo, explicou de forma irritada mais uma vez:
- Nossa!! Não acredito que você não entendeu! Olha só, TODOS tem dois “o”, VOCÊ tem um só e EUUUU não tem nenhum! Entendeu?
O cobrador, sem afirmar nada, balbuciou:
- Mas... Que estranho...
Novamente, silêncio no ônibus. Ele seguia pensando na resposta e sentir sua agonizante ignorância apertava-me o peito. Sua expressão de angústia profunda contagiou o ambiente. O coitado colocava as duas mãos na cabeça, olhava pra cima, olhava pros lados, abaixava-se, e seu olhar era de interrogação constante. Não se conformava em não compreender a maldita charada. Faltavam três paradas para eu desembarcar, e a agonia de descer sem saber se ele ia entender causava-me rebuliços no estômago. Fitei-o por algum tempo para ver se olhava pra mim, a fim de eu puxar uma conversa e retomar o tema da charada e, enfim, explicar-lhe melhor o sentido da resposta. Mas não olhava, parecia compenetrado em si mesmo, e em seu rosto percebia-se cada vez mais a amargura em não conseguir atingir o raciocínio correto. Não agüentei. Rascunhei didaticamente em uma folha de papel a explicação da resposta, sublinhando e enumerando os “os” de cada palavra. Estava tudo planejado: assim que chegasse a minha vez de descer, entregaria o papel dobrado para o cobrador. Bom, o momento chegou, levantei-me solenemente e, como se tivesse uma grande missão a cumprir, olhei firmemente para o mísero cobrador, que assim que me viu, enrubesceu de repente e baixou os olhos de uma tal forma que me fez desistir daquilo tudo. Parada final, charada sem fim... Coloquei o papel no bolso e desci daquele ônibus com mil interrogações dentro de mim...
NOTINHA DE RODAPÉ
Nanci A.KI
(Miscelâneas em Mim )
- Você gosta de charadas?
O cobrador olhou um pouco assustado com o ar infantil da pergunta, mas logo entrou no jogo:
- Ah, sempre fui muito bom nisso!! Manda aí!!
O Motorista nem parou pra pensar e já foi soltando:
- O que é o que é, que TODOS têm dois, VOCÊ tem só um e EU não tenho nenhum?
Pela primeira vez, desde que subi naquele ônibus, senti um silêncio no ambiente. A resposta eu já sabia, mas como a conversa não era comigo, fiquei aguardando ansiosamente a reação do cobrador. Ele colocou a mão no queixo, abaixou a cabeça e, enquanto isso, o motorista dava seu meio sorriso pelo espelho retrovisor. O silêncio se estendeu por mais ou menos umas duas paradas de ônibus, até que o cobrador levantou a cabeça e meio titubeante perguntou:
- O amor?!
O motorista na sua exagerada expressividade, levantou as sobrancelhas bem levantadas e deu um pulo para trás:
- Como assim?
O cobrador, agora vermelho, juntou toda a sua lógica e tentou explicar da forma mais segura que pôde:
- Bom, TODOS meus amigos tem dois amores, VOCÊ tem só uma e EU não tenho nenhum amor.
O motorista fez cara de que não gostou, balançou a cabeça negativamente:
- Você é louco!!! Não, não é isso!!! Pense mais um pouco! Olha presta atenção, de novo: TO-DOS tem dois, VO-CÊ tem um só, e EU... Entendeu?... EUUU não tem nenhum.
Mais uma vez o silêncio reinava no ambiente. O pobre do cobrador ficou pensativo por mais umas três paradas e o motorista mostrava um quê de decepção pelo companheiro de prosa. Enfim, o cobrador se entrega:
- Ah, essa é difícil, fala aí o que é!
O motorista, aliviado, desabafa:
- É o Ó!
O cobrador, num gesto de indignação solta uma ecoante interrogação pelo ar:
- O que?
- Oras, a letra Ó! TO-DOS tem dois, VO-CÊ tem um e EU não tem nenhum!
O cobrador, encolheu-se em seu banco, mostrava a agonia do pensamento querendo chegar a um entendimento, mas não conseguia e pediu ajuda novamente:
- Mas... Fala, então, o significado disso aí! O que é que tem o Ó?
O motorista, inconformado com a ignorância do amigo, explicou de forma irritada mais uma vez:
- Nossa!! Não acredito que você não entendeu! Olha só, TODOS tem dois “o”, VOCÊ tem um só e EUUUU não tem nenhum! Entendeu?
O cobrador, sem afirmar nada, balbuciou:
- Mas... Que estranho...
Novamente, silêncio no ônibus. Ele seguia pensando na resposta e sentir sua agonizante ignorância apertava-me o peito. Sua expressão de angústia profunda contagiou o ambiente. O coitado colocava as duas mãos na cabeça, olhava pra cima, olhava pros lados, abaixava-se, e seu olhar era de interrogação constante. Não se conformava em não compreender a maldita charada. Faltavam três paradas para eu desembarcar, e a agonia de descer sem saber se ele ia entender causava-me rebuliços no estômago. Fitei-o por algum tempo para ver se olhava pra mim, a fim de eu puxar uma conversa e retomar o tema da charada e, enfim, explicar-lhe melhor o sentido da resposta. Mas não olhava, parecia compenetrado em si mesmo, e em seu rosto percebia-se cada vez mais a amargura em não conseguir atingir o raciocínio correto. Não agüentei. Rascunhei didaticamente em uma folha de papel a explicação da resposta, sublinhando e enumerando os “os” de cada palavra. Estava tudo planejado: assim que chegasse a minha vez de descer, entregaria o papel dobrado para o cobrador. Bom, o momento chegou, levantei-me solenemente e, como se tivesse uma grande missão a cumprir, olhei firmemente para o mísero cobrador, que assim que me viu, enrubesceu de repente e baixou os olhos de uma tal forma que me fez desistir daquilo tudo. Parada final, charada sem fim... Coloquei o papel no bolso e desci daquele ônibus com mil interrogações dentro de mim...
NOTINHA DE RODAPÉ
Nanci A.KI
(Miscelâneas em Mim )
Cacuva
Era dia de mercado. Com sua fome de leão aguardava ansiosamente os pais chegarem das compras. Ao primeiro sinal do motor do carro na garagem, foi logo receber as sacolas recheadas de novas guloseimas em forma de potes e pacotes. Sentia prazer em abrir as coisas recém saídas das prateleiras do mercado. O pacote de bolacha recheada foi a primeira vítima. A bandeja de presunto fresquinho foi aberta com o cuidado e delicadeza de um cirurgião plástico, estica dali, corta daqui e desliza suavemente para o prato de frios. A geléia de uva foi a escolhida por ele naquele dia. No entanto, poucos segundos antes de concretizar o movimento giratório de quem tenta abrir um vidro de geléia ainda virgem, a mãe dá um grito:
- NÃO!
O leão, digo, o menino olha assustado para a mãe.
- Não ouse abrir isto antes de terminar a geléia de cacau que está há mais de uma semana na geladeira!
- Mas... Mamãe! Por quê? A de uva é mais gostosa!
- Bem por isso. Daí ninguém mais come a que está na geladeira e eu me nego a jogar comida fora nesta casa. Vamos comer primeiro a de cacau.
Ele aprendeu que não adiantava discutir com a mãe essas coisas. Ela era espanhola e tinha um senso de economia herdado de seus antepassados maltratados pela Guerra. Colocou a geléia de cacau na mesa, e lamentou silenciosamente o fato do vidro ser grande e ainda estar cheio. Depois do ocorrido, o desânimo tomou conta daquele lanche da tarde. Comeu em silêncio com o pensamento na outra geléia. Estava tão cabisbaixo que o pai estranhou:
- Nossa! Milagre! Nosso leãozinho esta comendo moderadamente hoje! Está fazendo regime?
Olhou com ódio para o sorriso cúmplice que o pai e a mãe se deram ao falar dele. Ficou quieto para não estragar mais ainda aquele momento sagrado diante da mesa. Mas o pai, estimulado pelo sorriso da mãe, cutucava mais ainda:
- Não precisa fazer regime. A gente gosta de criança fofa.
Engoliu seco a frase do pai, esperou o fim daquela sessão família e na hora do noticiário da televisão foi direto para o quarto. Mas não foi sozinho. Levou consigo um copo de leite, a geléia de cacau, oito pães e algumas bolachas. Trancou a porta do quarto e preparou-se para um ritual de prazer e deleite: em primeiro lugar, reuniu as almofadas e o cobertor. Depois, juntou os livros preferidos, alguns joguinhos e mais alguns gibis e... Pronto! Todas as coisas que gostava de fazer comendo estavam ali, ao seu redor, prontos para serem acionados. Os pais estranharam o sumiço tão repentino do filho para o quarto, mas julgaram ser coisa de criança com birra e não o incomodaram mais.
No dia seguinte, ajudou a arrumar a mesa do café da manhã. Colocou os pratos, os pães, o leite, a manteiga e, também, o pote novinho da geléia de uva. A mãe olhou de soslaio, mas não queria discutir naquele dia, estava com dor de cabeça, somente falou calmamente:
- Pega a geléia de cacau, semana que vem a gente abre a de uva.
O garoto, com voz triunfal, falou:
- A geléia de cacau terminou, mamãe.
Ela olhou pra ele desconfiada, duvidando do que ouviu. Mas o menino nem deixou ela falar e já completou, mostrando o vidro vazio:
- Olha aqui. Acabou ontem mesmo, não lembra?
A mãe estava indisposta demais para questionar o filho. Apesar de se sentir triunfante, o garoto sentou-se a mesa sem fome nenhuma, pelo contrário, estava com uma forte sensação de abdômen estufado pela proeza realizada na noite anterior. Mas não podia se render, pegou a geléia de uva com um sorriso nos olhos, olhou para a mãe, e deu a primeira mordida bem lentamente, mastigou mais lentamente ainda e foi ficando branco:
- Filho, filhote, o que você tem? Filho...
- Uuuuuug... Blaaaaargth... Uuuuuuug.... Plaaaaaaft.
Surge, então, uma geléia de cacuva sobre a mesa.
Nanci A.KI
(Miscelâneas em Mim )
- NÃO!
O leão, digo, o menino olha assustado para a mãe.
- Não ouse abrir isto antes de terminar a geléia de cacau que está há mais de uma semana na geladeira!
- Mas... Mamãe! Por quê? A de uva é mais gostosa!
- Bem por isso. Daí ninguém mais come a que está na geladeira e eu me nego a jogar comida fora nesta casa. Vamos comer primeiro a de cacau.
Ele aprendeu que não adiantava discutir com a mãe essas coisas. Ela era espanhola e tinha um senso de economia herdado de seus antepassados maltratados pela Guerra. Colocou a geléia de cacau na mesa, e lamentou silenciosamente o fato do vidro ser grande e ainda estar cheio. Depois do ocorrido, o desânimo tomou conta daquele lanche da tarde. Comeu em silêncio com o pensamento na outra geléia. Estava tão cabisbaixo que o pai estranhou:
- Nossa! Milagre! Nosso leãozinho esta comendo moderadamente hoje! Está fazendo regime?
Olhou com ódio para o sorriso cúmplice que o pai e a mãe se deram ao falar dele. Ficou quieto para não estragar mais ainda aquele momento sagrado diante da mesa. Mas o pai, estimulado pelo sorriso da mãe, cutucava mais ainda:
- Não precisa fazer regime. A gente gosta de criança fofa.
Engoliu seco a frase do pai, esperou o fim daquela sessão família e na hora do noticiário da televisão foi direto para o quarto. Mas não foi sozinho. Levou consigo um copo de leite, a geléia de cacau, oito pães e algumas bolachas. Trancou a porta do quarto e preparou-se para um ritual de prazer e deleite: em primeiro lugar, reuniu as almofadas e o cobertor. Depois, juntou os livros preferidos, alguns joguinhos e mais alguns gibis e... Pronto! Todas as coisas que gostava de fazer comendo estavam ali, ao seu redor, prontos para serem acionados. Os pais estranharam o sumiço tão repentino do filho para o quarto, mas julgaram ser coisa de criança com birra e não o incomodaram mais.
No dia seguinte, ajudou a arrumar a mesa do café da manhã. Colocou os pratos, os pães, o leite, a manteiga e, também, o pote novinho da geléia de uva. A mãe olhou de soslaio, mas não queria discutir naquele dia, estava com dor de cabeça, somente falou calmamente:
- Pega a geléia de cacau, semana que vem a gente abre a de uva.
O garoto, com voz triunfal, falou:
- A geléia de cacau terminou, mamãe.
Ela olhou pra ele desconfiada, duvidando do que ouviu. Mas o menino nem deixou ela falar e já completou, mostrando o vidro vazio:
- Olha aqui. Acabou ontem mesmo, não lembra?
A mãe estava indisposta demais para questionar o filho. Apesar de se sentir triunfante, o garoto sentou-se a mesa sem fome nenhuma, pelo contrário, estava com uma forte sensação de abdômen estufado pela proeza realizada na noite anterior. Mas não podia se render, pegou a geléia de uva com um sorriso nos olhos, olhou para a mãe, e deu a primeira mordida bem lentamente, mastigou mais lentamente ainda e foi ficando branco:
- Filho, filhote, o que você tem? Filho...
- Uuuuuug... Blaaaaargth... Uuuuuuug.... Plaaaaaaft.
Surge, então, uma geléia de cacuva sobre a mesa.
Nanci A.KI
(Miscelâneas em Mim )
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Versos Desfiados
Perdoe-me se te desfaço
Como quem puxa o fio
De tecido delicado
Quando teci tua imagem
Com a fibra do meu sonho
Pensei tê-la eternizado
Mas esse véu de insensatez
A encobrir meu discernimento
Precisa ser desmanchado
Na ânsia de sobreviver
Rasgo-me e destruo a arte
Do meu olhar apaixonado
Iriene Borges
(publicado originariamente no Bar do escritor )
Como quem puxa o fio
De tecido delicado
Quando teci tua imagem
Com a fibra do meu sonho
Pensei tê-la eternizado
Mas esse véu de insensatez
A encobrir meu discernimento
Precisa ser desmanchado
Na ânsia de sobreviver
Rasgo-me e destruo a arte
Do meu olhar apaixonado
Iriene Borges
(publicado originariamente no Bar do escritor )
sexta-feira, 10 de abril de 2009
No Castelo do Depurtado Edmar
No castelo do deputado Edmar ...
Há monstros de arrepiar !
O dragão da inflação está na lagoa ...
Soltando fogos de uma notícia nada boa !
A Rapunzel tem as tranças da crise mundial ...
Penduradas na torre deste castelo do mal !
A sujeira foi colocada debaixo do tapete voador ,
Que voa como um fantasma pelo palácio ,que horror !
O Conde Drácula voa pelas janelas ...
Atrás de inocentes e virgens donzelas !
Pois o sangue do povo cansado ...
Já foi todo sugado !
A fada da honestidade está num calabouço ...
Vigiada por um algoz pervertido e moço !
A Ismália não se encanta mais com o mar ,
Que ela tenta ver do castelo do deputado Edmar ...
Na piscina da corrupção ela irá se jogar !
A Alice entra no castelo toda veloz ...
E vê que não é o palácio do Mágico de Oz !
Ela está no Brasil das Maravilhas ...
Onde um castelo vira mil ilhas !
No castelo do deputado Edmar ...
Há monstros de arrepiar !
Os empregados deste esperto deputado ...
Não foram recompensados e nem pagos !
Agora eles querem invadir este castelo ...
Como gostaria de ver este dia tão belo !
Onde bárbaros com toda a valentia ...
Invadirão com poesia e alegria ...
O castelo do cruel senhor feudal ,
Que roubou o dinheiro do povo para o mal !
No castelo do deputado Edmar ...
Há monstros de arrepiar .
Luciana do Rocio Mallon
Há monstros de arrepiar !
O dragão da inflação está na lagoa ...
Soltando fogos de uma notícia nada boa !
A Rapunzel tem as tranças da crise mundial ...
Penduradas na torre deste castelo do mal !
A sujeira foi colocada debaixo do tapete voador ,
Que voa como um fantasma pelo palácio ,que horror !
O Conde Drácula voa pelas janelas ...
Atrás de inocentes e virgens donzelas !
Pois o sangue do povo cansado ...
Já foi todo sugado !
A fada da honestidade está num calabouço ...
Vigiada por um algoz pervertido e moço !
A Ismália não se encanta mais com o mar ,
Que ela tenta ver do castelo do deputado Edmar ...
Na piscina da corrupção ela irá se jogar !
A Alice entra no castelo toda veloz ...
E vê que não é o palácio do Mágico de Oz !
Ela está no Brasil das Maravilhas ...
Onde um castelo vira mil ilhas !
No castelo do deputado Edmar ...
Há monstros de arrepiar !
Os empregados deste esperto deputado ...
Não foram recompensados e nem pagos !
Agora eles querem invadir este castelo ...
Como gostaria de ver este dia tão belo !
Onde bárbaros com toda a valentia ...
Invadirão com poesia e alegria ...
O castelo do cruel senhor feudal ,
Que roubou o dinheiro do povo para o mal !
No castelo do deputado Edmar ...
Há monstros de arrepiar .
Luciana do Rocio Mallon
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