domingo, 2 de maio de 2010

Hoje me deparei com uma menininha. Ela despertou devagarinho, esticou um braço, depois outro, virou de um lado e bem de mansinho abriu seus olhos amendoados. Tinha um brilho encantador. Carregava dentro do peito um misto de curiosidade e fantasia. Na testa as vezes carregava um coração, outras uma estrela. Pisava mais nas nuvens do que no chão. Fiquei meio assim, hipnotizada por ela. Sei que ela tinha algo para me dizer, só que era estrangeira, não falavamos a mesma língua. Tinha gestos doces e passos rápidos, tinha fome de algo que não era comida. Ela não queria saber sobre a realidade, acreditava que a magia da vida vinha de lá, dos seus sonhos. Acompanhei suas aventuras, ora dentro de um balão, ora com uma lupa na mão, descobrindo novos cantos e espaços, sem pressa. Quando dei por mim, já estavamos conversando naquela língua que eu já nem sabia que sabia mais. Essa lingua não era feita de palavras e nem de letras, mas de uma espécie de pó que mudava de cor conforme o sentimento. Ela desconhecia o medo, como eu conheço. Desconhecia a secura do olhar e a rigidez na nuca. Seu brilho me deu confiança. Quando abri os olhos ela foi embora, deixando um pozinho do qual eu me alimento a cada dia: o pozinho da menininha que fui um dia.
Nanci Kirinus

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