O pouco que eu sabia me bastava,
meu sonho era maior do que o universo.
Eu, guri, com olhos jaboticaba,
pela janela, perseguia um verso.
As estrelas, ligando o pisca-pisca,
iam além da casa dorminhoca
e eu, como um frango, no quintal, que cisca
à cata de buracos de minhoca,
riscava o céu de coração aberto.
A via láctea acesa me dizia
em letras garrafais: VOCÊ ESTÁ CERTO!
No sonho, o que eu criava acontecia.
Foi do céu que meu coração caiu,
como uma bomba no meio do peito.
Nem sei como essa luz me consumiu,
eu, simples verbo sem nenhum sujeito.
Bem mais velho aprendi, eu era humano,
vinha de um cemitério de farsantes,
onde um coveiro-deus ia empilhando
as sobras dos meus sonhos delirantes.
Contra o silêncio cúmplice da raça,
eu quis gritar meu desespero eterno.
Botei a humanidade na carcaça
e, juntos, fomos todos para o inferno!
antonio thadeu wojciechowski
Nenhum comentário:
Postar um comentário