quinta-feira, 13 de agosto de 2020

TEU NOME

 


 

Teu nome poderia ser Suzana

se não houvesse tantas

neuzas, solanges, beatrizes

santas

ou não-santas.

 

Teu nome poderia ser Silêncio,

se não doesse tanto.

 

Mas dói e no entanto eu canto e rimo

sono,

sino,

carne.

E rimos sem querer,

porque o instante existe e a canção é tudo e derramamos vinho no tapete.

 

Teu nome poderia não ser nada,

uma palavra que o vento esqueceu

de madrugada,

em algum velho banco de praça,

velho canto de bar

(lugar-comum, não é?).

 

Espelho, por que me olhas com meus olhos?

Infiel! Enquanto eu viro, tu me trais e envelheces.

Teu nome poderia ser... sei lá!

Ser, simplesmente ser.

Mas dói

e é triste acordar todos os dias

com a saudade de não-sei-o-quê.

 

(Olha, enquanto falávamos

a porta bateu com o vento

e o tempo passou

e passamos também.)

 

Teu nome poderia ser Saudade

porque este sol morreu

e em seu lugar

o luar não veio

e ficou em meus dedos somente

a leve sugestão de um seio.

 

Porém,

perdido vou me refazendo no caminho

e buscando aflito

a sina,

o sinal,

e o sentido

do teu nome.

 

Otto Leopoldo Winck

 

(Do "Flor de barro".)

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