No Brasil, é agosto
o mais cruel dos meses.
Apesar do escândalo dos jasmins
e da solar promessa dos ipês,
a tarde virara uma noite de agudas estalactites.
Não ousei virar o rosto para trás,
pois não pode haver passado onde o futuro é um acinte.
As trombetas talvez soem álacres
diante do impropério de estar vivo. Rasguemos
as ilusões: o horizonte agora é outro.
Na esquina, um pedinte exibe as chagas e o sangue é vil e
sujo como a vida. Volto para a casa,
anônimo de mim. Tornei-me enfim adulto.
(Sei que em algum lugar uma criança negra morre
com um tiro na cabeça.)
Não tenho adagas para me rebelar.
E a adega dos poemas está seca. Como os olhos.
Carlos, o tempo ainda não chegou de completa justiça.
O tempo ainda é de fezes, alucinações e golpes sujos.
Otto Leopoldo Winck
(De 'Cosmogonias')
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