quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Nadando Contra a Maré

O cotidiano, através da rotina, tem levado as pessoas a procederem sempre da mesma maneira sem atentarem para o que existe ao redor de suas vidas. O mundo caminha para a extinção das relações humanas saudáveis pois o homem só tem olhado para o seu próprio umbigo. A existência humana tornou-se sinônimo de busca desenfreada por riquezas, desigualdades sociais, alienação e a certeza de que só existirão dias melhores em outra vida, onde receberá uma compensação por todo o seu sofrimento nesta vida. Com a presente exposição, pretende-se mostrar que a rotina tem destruído as relações humanas, e levado o Homem à não ter uma visão crítica a respeito de sua existência e da Humanidade.
A busca desenfreada por riquezas, levou o homem na Idade Moderna a lançar-se ao mar e buscar novas terras para a sua conquista e domínio, subjugando povos por ele considerados inferiores e aptos para a escravidão, abrindo assim, mão dos princípios morais e éticos que diziam que todos são iguais perante Deus e perante os homens; e hoje leva o político a roubar a nação que o elegeu, a querer sempre mais e mais, não importa de onde virá a riqueza, desde que venha. Cotidianamente, isso vem acontecendo mas, o homem enquanto indivíduo, acostumou-se a deixar tudo como está, em sua rotina de vida de sair para trabalhar, voltar cansado, dormir pouco e começar tudo do mesmo jeito no dia seguinte, não sobra espaço para reclamar da corrupção, do patrão que explora o empregado (ele mesmo), ou da economia que o sufoca dia a dia. Tudo isso está fora de sua visão de realidade diária, não tem como perceber que tudo é intrínseco a ele.
As riquezas mal distribuídas geram as desigualdades sociais, que este mesmo homem desfruta todos os dias. É tão comum essa pirâmide invertida onde muitos têm pouco e poucos têm muito, que na maioria das vezes, ele chega a acreditar que é normal essa situação, que não há nada a ser feito, que a minoria merece mais que a maioria, que é justo, pois ele é um nada, um ninguém, só mais um entre tantos. O cotidiano juntamente com a rotina impõe ao homem comum que ele nada pode fazer, que é melhor seguir seu caminho rumo à alienação, que um dia ele será feliz e desfrutará de tudo o que deseja a sua alma sofrida em um paraíso prometido aos que sofrem; esse dia, um dia chegará.
Sem saber como agir, este homem permanece alienado, sem tomar conhecimento de seu redor, de sua condição de explorado, de sua rotina miserável de “vida”, não percebe que quase tudo coopera para que ele se dê sempre mal em tudo o que fizer, e o seu explorador sobressaia a tudo e a todos. A monotonia alienante em que está mergulhado, só o deixa perceber que acabou o arroz e o feijão e que ele terá que trabalhar mais trinta dias para comprá-los, e torcer para que o que sobrou de seu salário, dê para comprar um pedaço de carne para ele e seus filhos alienados desde pequenos; esqueça a taxa de juros, a inflação, ele precisa de comida para alimentar o seu corpo, a sua alma faminta, sem forças fica para depois, se sobrar tempo e se ele lembrar-se dela.
E quando chegar ao fim de sua vida, e perceber que a outra vida chegou, e não é nada do que ele pensava, se lembrará de quando teve oportunidade de fazer alguma coisa, e acreditou que não era capaz. Lembrará de quando sonhava com um paraíso, com um céu, e não percebeu que o céu poderia ser aqui se lutasse, mesmo contra a maré, e no fim, mesmo desgastado, teria nas mãos o troféu de sua conquista, teria vencido.
O homem pode ser vencedor do sistema monótono em que está mergulhado, do cotidiano vicioso que destrói a ele e o meio em que vive. Basta atenção para perceber que a riqueza deve ser um meio de conseguir uma vida plena, e não uma obsessão desenfreada de não se satisfazer somente com o que é de sua posse, e tomar o que é dos outros; ele pode lutar para não ser mais um dos mortos pela desigualdade social, que aflige a humanidade; ele pode viver, sofrer, lutar, ultrapassar as expectativas daqueles que torcem a favor de sua ruína e sair da caverna, enxergar a verdadeira luz que brilha para aqueles que abrem os olhos totalmente, deixar de ser um ser alienado que não sabe o que deve fazer, para onde vai, de onde vem, e viver realmente; enfim, criar o seu paraíso particular, mostrar que a sua capacidade de agir ainda opera dentro de si, que é possível mudar de uma favela mental para um Jardim na Zona Sul, e acordar todos os dias e ver sempre um brilho diferente de conquista a raiar no Sol acima dele, o homem pode vencer a rotina do cotidiano injusto que o cerca.

Huliana Ribeiro dos Santos
(Opinião e Informação 28/07/2005 )

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