sábado, 3 de outubro de 2009

Mais uma Noite sem Sono

É estranho estar acordado na escuridão. É como estar consciente sem saber do quê. A lâmpada fluorescente é como se fosse a lua, e o interruptor a primeira estrela no céu. Dizem que, quando vemos uma estrela no céu, às vezes ela não está lá. É que ela fica tão longe, mas tão longe, que a luz leva alguns milhares de anos pra chegar aqui. Se todas as pessoas, quando ficassem deprimidas, pensassem que as estrelas podem nos pregar esta peça, talvez deixassem escapar um sorriso, nem que fosse o riso frio dos que riem só pra mostrar que entenderam o raciocínio, mas ririam assim pra si mesmas, como quem raciocina sozinho, ao ler um texto, por exemplo. Ler um texto é sempre muito solitário, sobretudo quando se vê, pelo reflexo da janela no seu monitor, que constroem muros do outro lado da rua. Mas, cá entre nós, que sabem eles das estrelas? É uma questão de lembrar que uma estrela existe, mesmo que esteja bem longe, e que ela pode brilhar, mesmo que não exista. Sim, porque as estrelas têm o humor que só os suicidas sabem ter, os suicidas que deixam sobre a mesa apenas um bilhete engordurado dizendo "fui", talvez "adeus" e quem sabe até "I love you, I love you, I love you". E o leitor que não ria: sofresse da insônia que eu sofro, também transformaria seu quarto num planetário, onde há apenas a lua e uma estrela, que não existe. Mesmo que descobrisse depois, num artigo de Astronomia, que era tudo mentira. Afinal, que sabem os astrônomos das estrelas? Talvez eu ainda possa contar esta história num desses muitos momentos da vida em que nos falta assunto. Quero dizer, não quando se está conversando e a conversa esfria, digo quando nos falta assunto a nós mesmos, quando se está sozinho no escuro, às três da manhã, e não há mais nada pra pensar. O telefone está cortado, ninguém irá ligar e dizer: "eu sabia que você estava acordado, eu também estava..." Não, o telefone já não pode inspirar mais esperança que uma lâmpada fluorescente. Logo mais, às quatro horas, o jornaleiro virá de moto e eu ouvirei o som do jornal caindo no chão, e o barulho da moto irá diminuindo, diminuindo, até sumir. E eu finalmente fecharei os olhos, devagar, e pegarei carona com o jornaleiro. E iremos, então, até o infinito.


OTÁVIO KAJEVSKI JR.
postado primeiramente no Pó&Teias

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