sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sobre a Maneira de Construir Obras Duradouras

Bertolt Brecht

Tradução: Paulo Cesar Lima de Souza


I


1


Quanto tempo

Duram as obras? Tanto quanto

Ainda não estão completadas.

Pois enquanto exigem trabalho

Não entram em decadência.



Convidando ao trabalho

Retribuindo a participação

Sua existência dura tanto quanto

Convidam e retribuem.



As úteis

Requerem gente

As artísticas

Têm lugar para a arte

As sábias

Requerem sabedoria

As duradouras

Estão sempre para ruir

As planejadas com grandeza

São incompletas.



Ainda imperfeitas

Como o muro que espera pela hera

(Ele foi incompleto

Há muito, antes de vir a hera, nu!)

Ainda pouco sólida

Como a máquina que é utilizada

Mas não satisfaz

Mas é promessa de uma melhor

Assim deve ser construída

A obra para durar

Como a máquina cheia de defeitos.



2


Assim também os jogos que inventamos

São incompletos, esperamos;

E os objetos que servem para jogar

O que são eles sem as marcas

De muitos dedos, aqueles lugares aparentemente danificados

Que produzem a nobreza da forma;

E também as palavras cujo sentido

Muitas vezes mudou

Com os que as usaram.



3


Nunca ir adiante sem primeiro

Voltar para checar a direção!

Os que perguntam são aqueles

A quem darás resposta, mas

Os que te ouvirão são aqueles

Que farão as perguntas.



Quem falará?

O que ainda não falou.

Quem entrará?

O que ainda não entrou.

Aqueles cuja posição parece insignificante

Quando se olha para eles



Estes são

Os poderosos de amanhã

Os que necessitam de ti, esses

Deverão ser o poder.



Quem dará duração às obras?

Os que viverão no tempo delas.

Quem escolher como construtores?

Os ainda não nascidos.



Não deves perguntar: como serão eles? Mas sim

Determinar.



II


Se deve ser dito algo que não será compreendido imediatamente

Se for dado um conselho cuja aplicação toma tempo

Se a fraqueza dos homens é temida

A perseverança dos inimigos, as catástrofes que tudo destroem

Então deve-se dar às obras uma longa duração.



III


O desejo de fazer obras de longa duração

Nem sempre deve ser saudado.

Quem se dirige aos não-nascidos

Muitas vezes nada faz pelo nascimento.

Não luta, e no entanto quer a vitória.

Não vê inimigo

A não ser o esquecimento.



Por que deveria todo vento durar eternamente?

Uma boa sentença pode ser lembrada

Enquanto retornar a ocasião

Em que foi boa.

Certas experiências, transmitidas em forma perfeita

Enriquecem a humanidade

Mas a riqueza pode se tornar demasiada

Não só as experiências

Também as lembranças envelhecem.



Por isso o desejo de emprestar duração às obras

Nem sempre deve ser saudado.


© ViverCidades 2001–2006.

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