Bertolt Brecht
Tradução: Paulo Cesar Lima de Souza
I
1
Quanto tempo
Duram as obras? Tanto quanto
Ainda não estão completadas.
Pois enquanto exigem trabalho
Não entram em decadência.
Convidando ao trabalho
Retribuindo a participação
Sua existência dura tanto quanto
Convidam e retribuem.
As úteis
Requerem gente
As artísticas
Têm lugar para a arte
As sábias
Requerem sabedoria
As duradouras
Estão sempre para ruir
As planejadas com grandeza
São incompletas.
Ainda imperfeitas
Como o muro que espera pela hera
(Ele foi incompleto
Há muito, antes de vir a hera, nu!)
Ainda pouco sólida
Como a máquina que é utilizada
Mas não satisfaz
Mas é promessa de uma melhor
Assim deve ser construída
A obra para durar
Como a máquina cheia de defeitos.
2
Assim também os jogos que inventamos
São incompletos, esperamos;
E os objetos que servem para jogar
O que são eles sem as marcas
De muitos dedos, aqueles lugares aparentemente danificados
Que produzem a nobreza da forma;
E também as palavras cujo sentido
Muitas vezes mudou
Com os que as usaram.
3
Nunca ir adiante sem primeiro
Voltar para checar a direção!
Os que perguntam são aqueles
A quem darás resposta, mas
Os que te ouvirão são aqueles
Que farão as perguntas.
Quem falará?
O que ainda não falou.
Quem entrará?
O que ainda não entrou.
Aqueles cuja posição parece insignificante
Quando se olha para eles
Estes são
Os poderosos de amanhã
Os que necessitam de ti, esses
Deverão ser o poder.
Quem dará duração às obras?
Os que viverão no tempo delas.
Quem escolher como construtores?
Os ainda não nascidos.
Não deves perguntar: como serão eles? Mas sim
Determinar.
II
Se deve ser dito algo que não será compreendido imediatamente
Se for dado um conselho cuja aplicação toma tempo
Se a fraqueza dos homens é temida
A perseverança dos inimigos, as catástrofes que tudo destroem
Então deve-se dar às obras uma longa duração.
III
O desejo de fazer obras de longa duração
Nem sempre deve ser saudado.
Quem se dirige aos não-nascidos
Muitas vezes nada faz pelo nascimento.
Não luta, e no entanto quer a vitória.
Não vê inimigo
A não ser o esquecimento.
Por que deveria todo vento durar eternamente?
Uma boa sentença pode ser lembrada
Enquanto retornar a ocasião
Em que foi boa.
Certas experiências, transmitidas em forma perfeita
Enriquecem a humanidade
Mas a riqueza pode se tornar demasiada
Não só as experiências
Também as lembranças envelhecem.
Por isso o desejo de emprestar duração às obras
Nem sempre deve ser saudado.
© ViverCidades 2001–2006.
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