A cultura ocidental, principalmente a americana, máxima adoradora e promotora de prêmios por sucesso material, é uma das que mais distorcem os valores sociais em sério detrimento dos espirituais. A lei é a competição, cujo prêmio, financeiro, profissional ou mesmo pessoal, visa meramente *imitar* o que seria o autêntico sucesso espiritual. A prosperidade material pode sempre ser uma conseqüência do bem estar e do fluir natural da vida, mas também pode tornar-se o objetivo máximo, onde os fins justificam os meios, e onde os meios são ignorados às custas de quem deseja esse tipo de sucesso. Assim, vemos muitos abrindo mão daquilo que verdadeiramente gostariam de realizar em prol de um benefício material que pode trazer uma satisfação temporária, mas com duração inversamente proporcional à profundidade da alma. O crescimento pessoal também é prejudicado quando vemos indivíduos buscando recompensas em títulos que contribuem para sua imagem, mas que jamais alimentam necessidades um pouco mais sutis. Os mesmos indivíduos podem construir relacionamentos que, ao invés de suprir genuinamente o crescimento pessoal, sobrevivem décadas à míngua, sem sentido, a fim de garantir uma fachada de segurança, onde já não há nenhuma satisfação.
O sucesso do Ser está em baixa, ou ainda, é seriamente confundido com sucesso material, e uma pessoa “bem-sucedida” pode seguramente ser a que menos extrai um sentido maior de tudo isso, mesmo que esteja desempenhando as funções sociais com importância ou notoriedade. Não podemos, porém, julgar o que motiva o sucesso de alguém como necessariamente negativo, mas as pessoas orientadas pelo Ser são as que menos se preocupam com o que venha a ser o sucesso socialmente, pois estão mais focadas em satisfações mais sutis, de desenvolvimento. É certamente muito difícil definir precisamente o quanto somos motivados pelo espírito ou pela matéria, mas uma boa pergunta a fazer é se o trabalho que realizamos é mais motivador do que o salário mensal (ou o que quer que obtenhamos no fim).
Infelizmente os valores da cultura ocidental estão tão difundidos que o problema não está mais apenas lá, pois o mundo oriental – outrora tão mais exemplar nesse sentido - também já o incorporou. Seria correto dizer que é preciso primeiramente satisfazer as necessidades materiais e que as mais sutis vêm depois, mas tais necessidades são mais subjetivas do que geralmente se admite, do contrário todos os ricos seriam espiritualistas, e não haveria exemplos de espiritualidade nas classes mais baixas. Mas o que ocorre com muita freqüência é o oposto.
Não precisamos, é claro, e não devemos, fugir às obrigações rotineiras em prol de uma espiritualidade que prejudica ou abstenha outros direta ou indiretamente. Mas quando as necessidades do espírito vêm em primeiro lugar, o resto é geralmente acrescentado, sem que em troca das mesmas o indivíduo precise entregar o que tem de melhor.
Juliana Côrreia
TRANSCENDÊNCIAS REFLEXIVAS
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