quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A Flauta Invisível

(...)Escrevo-te entre palpitares de alegria e gotas de intimidade.
Escrevo-te em línguas desconhecidas para que só tu, andarilho dos desertos, decifre meus respirares e suspiros, através dos pergaminhos escolhidos, adivinhar na vastidão das areias quentes e do sol, todos os meus mantras e elegias.
Escrevo-te queimando numa febre suspensa de prazer, que devora-me entre as pernas até o arrepio sombrio do meu êxtase ao reviver o orgasmo das orquídeas.
Escrevo-te num gemido abafado e numa suspensa epifania.
Os meus dedos não cessam de escrever para ti, entre o suor da palma e a arritmia.
Só tu, escriba das andanças tardias poderá salvar-me do sonambulismo da existência, quando o nada perpetua meus dias.
Só tu, espírito livre e selvagem poderá despertar os anos da juventude em redemoinhos vigorosos onde a razão não habita.
Escrevo-te perdida e suja, entre papéis de oficios e serviços que não termino.
Escrevo-te na masmorra e no tricotar das horas que esvaem-se para além das floradas que situam o amor como tinta que fixa imagens, ao derramar verdades que não sabíamos existir.

Luciana Brites



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