quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Odalisca Cativa



Flamingos engolem peixes prateados
A odalisca depena tiês-sangue machos
Costura um vestido hemorrágico
Sacoleja sua anca amálgama
A bacia e os fêmures recrudescem
Esquerda, direita, esquerda, direita
Nádegas voluptuosas sibilam
Átimo feérico
Ressuscitam os mortos de Antares
Em polvorosa decompõem-se no palco
Aplaudem putrefatos
Atiram jóias à odalisca
Bodes defecam nas coxias
A carência devora um abacaxi prosélito
Faz arruaça no Beco das Paixões
O retrato de Josephine Baker alimenta
a língua de fogo da vela de sete dias
Vênus de Ébano
A odalisca flameja a púbis de longos pelos
oxalá desconhecem lâminas
Dança, rebola, cabrocha
Ela comprime e estufa o órgão do ventre
Abrigo de um feto bastardo
Ele enrola o cordão umbilical no pescocinho
and dies blue

 Priscila Merizzio


(Do livro Minimoabismo. São Paulo: Patuá, 2014)

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