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Ele nasceu com todas as pré-condições para dar errado na
vida, para não ser nada na vida, para não ser notado, não ser visto nem
admirado na vida.
Imagine alguém nascido assim: preto; pobre; descendente de
escravos; pai preto e pobre, pintor de paredes; mãe lavadeira; morador de
morro; com problemas nervosos; gago; epiléptico; sem estudo...
Imagine que a morte não o levou criança e ele “escapou” com vida ao duro período ali do
primeiro aos cinco anos.
Mas, como desgraça pouca é bobagem e atrás do pobre corre um
bicho, sem contar que além da queda vem o coice, aos seis anos, a mãe morre.
Depois, morre a irmã.
Aos doze anos, morre o pai.
A madrasta e viúva, pobre, torna-se doceira em uma escola.
E o menino, órfão de mãe e pai, torna-se vendedor de doces na
escola.
Nas “folgas”, o pequeno vendedor de doces, para ter alguma
“educação”, espia as aulas ministradas para os estudantes.
Não fez curso superior.
Com tudo isso “contra”, essa pessoa escreve. Torna-se
fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Escreve muito. Escreve bem. Escreve excepcionalmente bem.
Escreve em qualquer gênero. Contista, cronista, crítico literário, dramaturgo,
folhetinista, jornalista, poeta e, sobretudo, romancista, romancista dos
melhores -- senão o melhor -- do Brasil. E o maior escritor negro de todos
os tempos, na opinião mais do que abalizada de Harold Bloom (1930-2019),
historiador literário, escritor, professor, crítico literário e jornalista
norte-americano, dos mais respeitados do mundo.
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de
1839. Nasceu hoje e renasce sempre, a todo instante, com estudos nacionais e
internacionais sobre sua obra. Com publicação e republicação de seus livros no
Brasil e no estrangeiro. Com citação de suas frases nas redes sociais, nos
grupos digitais.
Falecido em 29 de setembro de 1908, na mesma cidade em que
nasceu, Rio de Janeiro (RJ), Machado de Assis tornou-se exemplo de qualidade
como escritor e de superação como pessoa.
Já escreveram, e continuam escrevendo, quase tudo sobre ele.
Viraram de ponta-cabeça ele, seus livros e seus personagens.
Com menos de 70 anos de idade deixou uma vida que não
morre...
...e uma morte que não se esquece...
Viva Machado de Assis.
EDMILSON SANCHES
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