Deixar de falar em inglês, para começar, por uma semana, nem
a palavra wifi que soletrarei como pífia ao não bem fluturar num ar de pífanos
Transformando-a em português oxigenado, num átimo, em
vivificação
Comer muitas bananas muito loucamente, ananizar
Me espanejar de bananas
Me untar, melar-me o pau de bananas amassadas, unguento,
lambuzando de melancia celeste o resto do corpo
Mergulhar com a cara num explodido abacaxi
Com as próprias mãos de comer de enfiar nas frutas
Não usar mais talher
Comer com as mãos e a boca de mar ostras imensas na mais
distante vila caiçara do litoral de são Paulo
Mergulhado nos sabores e tremores dos tensos frutos densos
da Serra do mar
Em sabores novos com leite de torvelinho novinho não mais me
envenenar
Nem gritar palavras dos outros, das águas dos cocos beber
sem final
Com a língua saborear canção dos sabores sem fim
Com goiabas me ajuntar na areia da praia com todos os
abacates
Numa festa de entonações comportamentais inesperadas
E comer sem parar as jabuticabas ancestrais já dentro do mar
e mergulhando para me refrescar da pimenta brava mais doce, de alturas cósmicas
desconhecidas, depois cantar na praia uma novíssima canção guarani com gosto de
fruta ainda mais nova e superpostamente
Ainda mais tenazmente, viva
Só falar tupinambá
Tupi estelar, sementes iluminadas transsilabares
Com vozes da África
Do céu noturno sideral
Cintilando em meus colares
Suas luzes frugíveras
Seu mel inconquistável
Imelginação?
A partir dessa semana só luz,
noites estreladas
Nunca mais vou falar qualquer palavra inglesa, encheu,
enjoou, impregnou, nada agora fora do nheengatu
Vou me esborrachar em mamões como um gato maracajá
Voltando a ser o pajé de uma aldeia remota
Depois de numa clareira sombreada me refestelar no carnaval
pastoso de todas as frutas
Me alisar com a polpa doce dos melões, untar-me com a
completa mente-bruma de sucos do ambiente
Vou me irmanar com as atas, me lambuzar delas, para fugir
das palavras em inglês
Com milho para mastigar nas praias da montanha do mar
Em festivais de fogueiras alegres
E nômades viagens pelo mar em flautas-canoas à ilha coberta
de matas com olhos de cachoeira do sol-com-atabaques saindo do nevoeiro
Mandiocas voadoras em caçarolas de argilas primevas loucas
Flutuando intergalácticas sobre o mar da floresta atlântica
Girando cada vez mais ultrarrápidas girando até o fulgor.
Tapiocarei, frugívoro, para esquecer para sempre William
Shakespeare
Num marítimo pomar nu esporrando sucos de eternos frutos
tropicais
Poema de Carlos Emílio Corrêa Lima
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