terça-feira, 9 de junho de 2020

TO BE OR NOT TO BE (a questão não é essa)



...ultra polarizado, "o país" se divide entre "quem é" e "quem não é", seja comunista, fascista, pacifista, de esquerda, de direita, socialista, neutro, contra, a favor, em cima do muro,gay, homofóbico, sindicalista, vilão, mocinho, honesto, corrupto, querido, amaldiçoado, canalha, pelego, desempregado, etc...
..."o público" e "o privado" não se dividem entre o "civil" e o "militar", uma vez que, ambos, associados ou separados, unificam-se na composição do "Estado", que também possui suas divisões conceituais - no nosso caso, somos uma "República Federativa", sem parlamentarismo e com mais ministros do que ministérios (algumas secretarias tem caráter de ministeriável e, até igrejas também chamam de ministro seus pastores)
...a charada, que podemos atribuir conceitualmente tanto à Kant quanto à Wittgenstein, impõe suas alternativas lógicas a favor do negativismo, quando "a nação" que institui "o Estado" é dividida pelo vetor ideológico simplista em 3 espaços adjacentes, nem sempre radicalmente excludentes (caso dos poderes executivos, judiciários e legislativos)...
...nem sempre consecutivos, embora se proponham colaborativos, esses 3 poderes interagem em questões comuns da "vida pública" que afetem a "vida privada".
...dois desses "poderes" possuem suas subdivisões (o Legislativo tem duas casas e o Judiciário, instâncias hierárquicas definidas no "status" de Tribunais, havendo até um Tribunal exclusivo para casos fora da esfera "civil"), e o Executivo, com a hierarquia do Vice, apesar de sua "unidade vocativa", requer observação rígida sobre seus atos, é passível de interpelação pelos outros poderes que o sustentam à luz e orientação dos artigos constitucionais...
...a charada torna-se complexa e inexpugnável quando os poderes concentrados no "Estado" não se complementam em relação às demandas oferecidas pelas questões "públicas" nem se suplementam na ordenação, disciplinar ou regulatória, das questões "privadas"; sendo que, em ambos os casos, os posicionamentos autoritários, nem sempre passíveis de serem carimbados com o selo de "ditadura", não beneficiam nem resolvem as questões que são próprios ao funcionamento de uma sociedade livre e acabam por gerar conflitos com consequências imprevisíveis, sendo que as mais prováveis são a ruptura harmônica do bem-estar social, separando "o estado" da "Nação", e a indiferenciação do "Estado" e do "País", cujos resultados são o "caos institucional" e a precipitação de medidas de exceção que podem ser "revolucionárias" ou "reformistas"...
...ao cidadão, seja ele chamado de "comum" ou não (teoricamente, todos o são ou deveriam ser), as charadas políticas oferecem insegurança em todos os níveis, quando suas soluções promovem paradoxos, cuja latência é capaz de provocar paradoxos, como o que estamos a vivenciar, tanto no Brasil quanto no resto do mundo: a eclosão de um  anarquismo de extrema-direita!
...a intromissão da pandemia do Corona Virus nos estatutos consuetudinários da civilização veio a desestabilizar o conjunto, não só no território dedicado às políticas públicas; como também, nos ambientes domésticos da vida privada.
...cada "país", de acordo com o modus operandi de seu "Estado", tem oferecido o suporte que lhe é possível à "Nação"; assim como cada "Nação", tem demandado à seus "Estados", atenção e medidas públicas que mantenham "o País" controlado, diante dos desafios que um "gene virótico" invisível e impiedoso.
...voltamos à charada inicial, instalamos seu "é o não é?" (uma variação "axiológica" do hamletiano "to be or not to be") no perímetro do "país" chamado de Brasil e observamos que, em seu potencial ideológico, a "Nação" que hospeda, de forma inequivocamente democrática, o "Estado" que a governa, ao invés de estar sendo exposta a uma solução, tem que lidar com um paradoxo excessivamente complexo para sua capacidade de compreender a questão e, com método e participação voluntária, colaborar para uma resposta eficaz do problema ... fora o fato de que o modelo "nacional" oferecido, discorda e vai n contramão de todas as orientações "internacionais", oferecidas por um organismo suprapartidário que, imagina-se, formado por pessoas com excelente nível técnico.
...nossa charada, não é de hoje, tem se tornado um paradoxo que desafia tanto à ciência quanto à religião:
- quanto à polaridade, você é alguma coisa, desde que identifica que outra pessoa seja outra, o que inverte o sentido "ético" da oferta, posto que você depende que o "outro" seja alguma coisa que você "não é, para você ser o que "é"..
...o resultado desta posição narcisista é que você não oferece ao "outro" a escolha de aceitá-lo como você "é"; mas insere uma identidade negativa no "outro" para tornar afirmativa a sua própria identidade - o que, mais cedo ou mais tarde, comprometerá sua saúde mental de modo tão irreversível que nem a tríplice ferramenta "moral" da "culpa-arrependimento-perdão" que norteia a justiça...
...o paradoxo político deste anárquico jogo, em que "escravos de Jó não jogam mais caxangá", mas um "pique-esconde", em que todos se escondem ao procurarem qualquer um, possui uma equação matemática que demanda conhecimentos de álgebra linear (tabuada aritmética não consegue fechar a conta) e profundo conhecimento de algoritmos trigonométricos:
- aqui "quem é" e "quem não é", seja o que for ou deva ser, tem como regra pétrea o trato coletivo de que os "que são o que são" ou acreditam ser, dependem dos que "não são" continuarem a "ser o que "são" ... ou seja, você só "é quem você é" se existirem outros que "não sejam como você é" e a sua vontade deve permanecer num nível superior e inquestionável, cada vez que você proceder a identificação do "outro".
...tudo isso fica cada vez mais impraticável quando você perceber que você identifica que "você é" alguém (que tem outro nome, outra vida e outros afazeres que não são para o seu bico) que outra pessoa "não é" e que existam outras pessoas que "são" como você "é" - não para espantar a solidão, mas para saber que as pessoas que "são" como você acredita que "é", são outras pessoas, que "devem ser" diferentes daquelas que você determinou que não "são" e, para fechar a "prova dos nove", também devem acreditar que "são coo você" quando identificam outras pessoas que "não são"
...era uma vez, um "país" em que o verbo SER foi tirado da língua que a "nação" inteira falava ... um "país" em que ninguém escolhia quem seria o presidente, enquanto chefe do "Estado".
...neste "país" imaginário e tão distópico como uma utopia sem metafísica e sem dialética, a "nação" escolhia o "Estado" que o presidente deveria governar.
...há quem diga que este "país" era democrático e quem dissesse que, apesar disto, a "nação" não era...
...até hoje, não se sabe se, durante as eleições deste "país", ao darem seu voto, os eleitores continuavam a ter propriedade sobre ele
...como diria William Shakespeare, na primeira fala da peça "A Noite dos Reis", cujo título original em inglês era "Twelfth Night, Or What You Will" e ainda precisa de uma melhor tradução Thereza Rocque da Motta e Antonio Thadeu Wojciechowski (copiada por Francelino Pereira e Renato Russo) e onde tudo que era poderia não ser:
"– Que país é esse?"

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