sábado, 24 de novembro de 2018

SIMBOLISMO




Recolhi todas as estrelas
nas minhas mãos em concha
e aqui as deponho
como instrumentos
de iniciação.

Com elas desenho um outro céu
num novo firmamento
com duas luas, dezoito sóis
e o cometa dos seus olhos
encabulados.

Neste outro mundo
tudo se corresponde: o eco da sua voz
é o pássaro que me acordou
de madrugada. Suas mãos
no regato
é o tempo que me segreda
mistérios novos.

Recolhi todas as estrelas
e descobri que tudo é símbolo:
cada astro, cada planeta
é o signo de um antiquíssimo alfabeto
que só agora decorei.

Recolhi todas as estrelas
e elas palpitam como peixes vivos
nas minhas mãos
maravilhadas.
E descobri que ser poeta
é saber lê-las
para você.

Otto Leopoldo Winck

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

versos, que são?



 - Para Péricles Cavalcanti

dentro do ver-
so, habita um ser
que a tudo ser-
ve: vem viver...

esse prazer
dentro do ver-
so, deve haver!
o que fazer

dessa ilusão
a se instalar
no coração?

de volta ao lar
- linda emoção -
versos, que são?


 Adriano Nunes        



Tábula




Falo,
minha arte
comunica

Não quero preencher teus olhos
com místicas magas
mitológicas sereias
belas fadas

Nem quero
formular ritos
de um mosto mortal

Dito o escrito
em lama de vulcão
magma sonoro
terra candente
tal o turbilhão de águas primordiais
que anteviu a geração de tudo pela palavra

Venho romper teus tímpanos
vazar teu solo
encontrar o irrequieto centro
de teu desejo
convocar-te à paz nenhuma

Esta lábia
pronuncitada
baboseiras não baba

Pousa bálsamo versado
de um doce nardo

É verbo retado
transgressor de meus acomodados:
– ah! isso não tem jeito,
é sempre assim mesmo!

Eis meu dote
que dôo com graça

Sou nomeado favo monteiro
rico protetor e guerreiro
noviluminário do oeste

E antes que torne a mim:

– Aleijado, até aqui, não rasteje!


 Fabio Freire             


Mudanças estão por vir


Paulo Sabino

             19 de agosto de 2011 15:37

"Mudanças estão por vir". Uma inquietação, certa insegurança. A vida, o imponderável: como? onde? o quê?

"Mudanças estão por vir".

Em momentos como este que vivo, a poesia me acalma, me bota no eixo. Porque a poesia espelha um lado meu de que gosto, e muito. É como se a poesia me devolvesse a mim, é como se a poesia me devolvesse ao que realmente importa em mim. "Mudanças estão por vir".

Quando a vida & sua imprevisibilidade batem à minha porta, "digo" este poema-canção repetidas vezes. Uma espécie de mantra. Pois que, na escuridão da curva, na escuridão daquilo que não se pode prever, na escuridão do porvir, a minha voz, o meu canto (que é a poesia), é o meu grande amparo.

Meu canto: a poesia: aro de luz nascente do dia, ainda que brote na gruta da dor.

Mãe da manhã, vós que sois Mãe do Filho do Pai do "nascer do dia": abençoai minha voz, meu cantar.

Mãe da manhã, a fim de conservar o vosso amor, de tudo eu faria: a cada ano, em vossa homenagem, se preciso fosse, uma romaria, uma oferenda, uma flor. Na escuridão desta nostalgia, no escuro que hoje me acomete, dai-me, mãe da manhã, ao menos, a luz do luar.

Aqui, a canção, com seus versos que me servem de "mantra", de "oração", quando vivo períodos como este, de mudanças imponderáveis, interpretada (magnificamente) por Gal Costa. Esta canção, feita por Gil, foi composta especialmente para a voz de Gal. Tiro certeiro. Hoje, é o que mais ouço em busca de tranqüilidade, de calma, de paz.

(E que tudo seja belo. E que tudo se ilumine. E que tudo dê pé.)

De Gilberto Gil, o poema-canção "Mãe da manhã":

Meu canto na escuridão
Minha voz, meu amparo
Aro de luz nascente do dia
Brota na gruta da dor
Mãe da manhã, de tudo eu faria
Pra conservar vosso amor

A cada ano, uma romaria
Uma oferenda, uma prenda, uma flor
A cada instante, um grão de alegria
Lembranças do vosso amor

Santa Virgem Maria
Vós que sois Mãe do Filho do Pai do Nascer do Dia
Abençoai minha voz, meu cantar
Na escuridão dessa nostalgia
Dai-nos a luz do luar
        GAL COSTA - MÃE DA MANHÃ

Composição: Gilberto Gil Meu canto na escuridão Minha voz meu amparo Aro de luz nascente do dia Brot


Travessia




A Parede da mente
Está quebrada
No conflito da estrada
É reviravolta somente

Á águia está lá
A asa ferida
Sem guarida
Sempre a voar

A água agitada
Tem que passar
Furacão no ar
Força anulada

Na superfície a pisar
O mergulho da morte
É o único suporte
Que espera chegar

Tremulante momento
Uma chuva de vento
A águia a carregar
Rasteja na onda
Como uma lona
O espaço ganhar
A asa dobrada
Tão fatigada
A praia chegar.

Luiz Domingos de Luna



TESTAMENTO DO POETA




Se a vida se complica
e eu não mais acordar
deixo minhas rimas ricas
ao poeta Decimar

E quanto às rimas pobres
eu já avisei a patroa
não valem nenhum cobre
nem rendem poesia boa

Tenho guardadas num cofre
mais de duas mil estrofes
para serem divididas
depois da minha partida

Deixo os versos insones
das noites de vinho e café
à poetisa Ordones
e à dupla de Andrés

E uns versos inacabados
a quem sabe e improvisa
uns motes bem inspirados
à poetisa Marisa

Que fiquem as outras crias
para a Ana e a Luciana
as prosas e as poesias
à comunidade nopeana

Se a coisa ficar preta
e eu for a bola sete
vou lá trocar uma letra
com a poetisa Janete.

Wasil Sacharuk

www.novaordemdapoesia.com

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Habilidade




O sabor do vento
Clareia a simbiose fractal
Aos dicionários da alma

Suave distância do topo
Distante olor do mal

Ele enverga a si, sem cais
Ela voa de quintais em quintais

Meu estruturalismo cognitivo
Menos clichê
Enlevaria você

Leitor

A ler, mais.
ACM

Colônia das bitucas do progresso




Querela entre quireras
Das eras em quimeras
Sem eiras e sem esteiras
Solar, sol e dó.

Dos mais, dos menos,
Dos ingênuos, leais,

Bandeiras, cavernas, refúgios
Adulação, servilismo, no rol
Das máscaras de si, em políticas
Tais.

Quem mais? Quem mais?

Agora que novo mal se aflora
Estatística do caos por ora
Quem mora ao léu mormente
Sente que não porá o seu,
Verbo tão,
Em si, aos sóis dos mundos
Invernais.

Compreendo, que estive,
E estarei calado, mesmo quando
Matraqueio solidão.

As pernas vão, as pernas vão.
E os anos também acompanham.

Celebro o rito do vazio por sobre
Os candelabros da racionalidade

Às luzes de outrora em fel,

Que se sabe Curitibana jactância
Ranço psicológico
Em ser o ser, só.

Vou,

E sou o que vou ser.

Tordesilhas além.
ACM

Pauta




O bobo bobeia babando
O babado bêbado em bodas
Baixas
Bestiais
Betume baldio em baldes e
Baldes
Belos beijos em beliscos
Obeliscos e belíssimas

Capitais.

Beire bistrôs lambendo birras
E "beras" e "brejas" e bestas
Biroscas, bebidas
Beirando bater em bares
Barrigas em bailes

Boreais.
ACM


Amor nos tempos do zica.




Já que queria e quis
Meu querer

Leve, voou o voo dos meus
Amores reais

Noto o sal do livro, em liras
Peremptórias dos ecos das
Bocas mudas

Sem reter ou amar o mar
A solidão trafega lágrimas
Que se espraiam pelas ondas
Lunares

Sonhando?
Despertar.

Ao lado do voo os loucos motivos
De amar.

E sonhos com recheios,
De bar em bar

Batendo à minha porta,
Uma sonata de um ridículo altar.
E ufanar o sol que um sem par
Não iria me dar.

Correndo ao dicionário estiveram
Buscando armas vernáculas.

E encontraram escudos
Da burrice forjada nos corações
Estupidificados
Pelo vazio e dor do amanhã
Análogo.

Houve quem se soltasse
Das amarras.
ACM